Ghost: Abraçando o pop que sempre teve e decepcionando alguns fãs
Resenha - Popestar - Ghost
Por Rafael Marques
Postado em 22 de setembro de 2016
Nota: 7
Que o Ghost é uma banda controversa, isso não é novidade para ninguém. Suas letras com temática obscura, sonoridade calcada no pop e temática teatral são as responsáveis pela enxurrada de críticas que a banda vem recebendo desde sua gênese, se intensificando aqui no Brasil durante o Rock In Rio em 2013. Não seria surpresa escutar de alguém que Ghost não é uma banda de Rock no sentido clássico da coisa.
Mas, mesmo com todas essas qualidades "negativas", Ghost ainda consegue uma sonoridade única e ao mesmo tempo retrô que, na opinião desse singelo resenhista, nenhuma banda da atualidade consegue desenvolver. E, apesar dos evidentes deslizes, não foi diferente em seu segundo EP da sua jovem e promissora carreira.
O disco foi lançado em 16 de Setembro de 2016 juntamente com o single "Square Hammer", acompanhado de um videoclipe. A música se saiu muito bem na avaliação do Youtube e traz consigo um divertido videoclipe, mostrando o empenho da banda em emplacar a temática teatral e os personagens criados pela banda.
O próprio nome do do trabalho já indicava o que esperaríamos dele. O disco contém apenas uma música autoral, "Square Hammer", seguido de diversos covers de outros artistas de diferentes estilos. A capa é um show a parte, uma obra gótica e barroca que sempre remete a clássica arquitetura católica da idade média, assim como Meliora.
O disco tem 23 minutos de duração, tempo semelhante ao "If you have Ghosts" lançado em 2013. Porém, a impressão que fica é que o disco é muito menor que o EP antecessor pelas razões que indicarei na resenha. Então vamos a ela!
1º Square Hammer - 3:59 - Nota 9
A faixa mais animada e rápida do disco. Um grande riff, com bons versos e um bom refrão. Fica claro nessa faixa a influência de bandas como Blue Oyester Cult na composição do Ghosts.
De prontidão, se percebe que a voz de Emeritus está cada vez mais entrosada com a musicalidade da banda. Tanto é verdade que efeitos clássicos do Ghost como os "vocais dobrados" estão bem tímidos nesse disco.
2º Nocturnal Me (Echo & the Bunnymen cover) - 5:13 - Nota 8,5
A segunda faixa traz um cover da banda de Echo & the Bunnymen, banda de pos-punk surgida em meados da década de 80. A música reapareceu novamente na recente série "Stranger Things" que teve relativo sucesso entre as mídias sociais. Então este era um bom momento para realizar um cover já que a canção se encontrava em alta.
Musicalmente falando, Ghost criou uma ambientação muito mais macabra e obscura que a faixa original. A bateria abusando dos tons e simulando uma espécie de perseguição, o sintetizador e uma guitarra pesada ajuda nessa experiência. O melhor cover do disco e melhor que a versão original na minha opinião
O único defeito é a duração, já que a música é desprovida de solo e tem apenas um verso e um refrão. Aliás, a duração excessiva das faixas é um problema que faz o disco parecer pouco profundo, já que tem apenas 23 minutos.
3º I Believe (Simian Mobile Disco cover) - 4:06 - Nota 6
Com uma introdução de quase 1 minuto, "I Believe" se apresenta como um cover desnecessário ao disco. Se existe uma linha tênue entre o Pop e o Rock, nessa faixa com certeza o Ghost a ultrapassou.
Não que o Ghost não possa ser uma banda de sonoridade flexível, não só pode como deve. E já se mostrou competente para realizar covers excelentes de músicas pop como "Waiting for the Night" e "I'm a Marionette" do EP anterior. Mas desvincular seu estilo para tentar algo completamente novo é demasiado arriscado para uma banda que ainda está no início da carreira e pode soar um pouco pretensioso demais.
4º Missionary Man (Eurythmics cover) - 3:40 - Nota: 8
Cover da consagrada dupla pop dos anos 80, detentora de clássicos inigualáveis como Sweet Dreams. Ghost cumpre bem e faz um cover competente, que talvez até necessite de algumas audições a mais para enteder a proposta.
Porém a voz nasal de Emeritus acabou não encaixando muito bem neste cover. Emeritus tem uma voz que se encaixa muito bem em músicas pop, mas quando o assunto são músicas mais graves e impostação vocal, o mesmo acaba em desvantagem. Eu fico imaginando como seria interessante esse mesmo instrumental com a voz barítona de Alex Turner (Artic Monkeys)
No mais, cover competente e muito bem feito instrumentalmente falando.
5º Bible (Imperiet cover) - 6:39 - Nota: 6
Apesar de ser muito bem feito, é mais um cover que não cai bem e é um terreno demasiado pop para o Ghost. De um EP com 20 minutos, metade dele ser músicas COMPLETAMENTE pop é um pouco decepcionante para quem estava esperando aquela junção Pop/Rock interessantíssima do If You Have Ghosts.
A música tem 6 minutos, não tem solo, tem apenas um verso e um refrão que, apesar de ser bonito e épico, cansa e você acaba o EP com a sensação que você não ouviu exatamente o que queria ouvir durante esses 20 minutos.
Conclusão Final:
"Popestar" apresenta um Ghost competente, mas aparentemente perdido ou experimental demais. A faixa single empolga, Nocturnal Me e Missionary Man cumprem seu papel razoavelmente bem - apesar de não baterem "I'm a Marionette" e "Waiting for the Night" do EP anterior - mas não seria justo terminar a resenha sem criticar Bible e I Believe, que pegaram muitos fãs da banda de surpresa.
Não defendo um Ghost "mais do mesmo", aliás, sempre defendi que bandas tenham uma sonoridade variada em seus álbuns. Mas arriscar isso em quase metade de um EP, num terreno completamente novo, me soa pretensioso demais da parte desses talentosos e criativos músicos. Outra questão é porque não fazer pelo um cover de algo no que tenha sido feito no Rock? Black Sabbath? Uriah Heep? The Who? Deep Purple? E que tal se aventurar no progressivo, semelhante ao que fizeram em "Spirit"? Ideias não faltam.
Apesar das preocupações, é provável que a banda nos entregue algo mais palpável no próximo álbum e deixe os EPs apenas para trabalhos experimentais. A ideia é ruim? Não. Mas fica aquela estranha desconfiança de que, num piscar de olhos, podemos perder uma das bandas mais promissoras da geração para o impiedoso mundo do pop. E, como sabemos, ele é um ceifador de bandas mais implacável do que o próprio diabo que a banda invoca em suas músicas.
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