Kiss: filme de 1978 é bizarro, engraçado, apaixonante e heróico
Resenha - Kiss Meets The Phantom of the Park - Kiss
Por Ronaldo Celoto
Postado em 20 de novembro de 2013
Nota: 10
Era o mês de junho, numa tarde de terça-feira, e os poucos seres humanos que presenciaram o anúncio da noite anterior em plenos comerciais da novela das oito, resolveram faltar da escola e até mesmo do trabalho (de acordo com a idade e os compromissos de cada um) para ver se tudo aquilo era verdade: - Sim, a famosa "Sessão da Tarde", conhecida por exibir filmes como "Goonies", "Conta Comigo", "A Fortaleza", "Superman", "Os Saltimbancos Trapalhões", "Os Trapalhões e a Guerra dos Planaltos", "Simbad e o Olho do Tigre", "Curtindo a Vida Adoidado", "O Último Guerreiro Estelar", "Te Pego Lá Fora", "A Vingança dos Nerds", "O Clube dos Cinco", "Loucademia de Polícia", entre tantos outros, iria passar o então inédito "Kiss Contra O Fantasma Das Trevas", tradução mal feita para o fantástico "Kiss Meets The Phantom of the Park" (1978).
Deixando de lado a sensação épica que tive, como menino e fã (que não cabe aqui ser descrita), eu resolvi apenas comentar este mítico DVD, que posteriormente, também foi lançado junto ao segundo dos boxes da trilogia "Kissology" sob a alcunha que ficou conhecido na sua segunda exibição (no verso do box), que era "Kiss in Attack of the Phantoms", também podendo ser encontrada em países de língua espanhola como "Kiss Contra Los Fantasmas". Pois bem. Na trama, os quatro músicos da banda mais famosa do mundo até então, tornavam-se super-heróis e desafiavam os planos do enlouquecido cientista ABNER DEVERAUX, criador de um parque de diversões que viu suas crias serem engolidas pelo consumo maciço de produtos e ideologias associadas ao KISS.
Revoltado, ele criaria quatro humanóides idênticos ao grupo (sim, naquela época, já se falou em clones num filme que poderia ser trash, mas tornou-se clássico) para destruir a imagem de bonzinhos dos músicos e transformar o parque numa casa de horrores, sequestrando os fãs e inserindo-lhes chips para criar um exército de pessoas sob seu controle.
Apesar da aventura extremamente exagerada e até mesmo engraçada, algumas pérolas podem ser extraídas do filme (mas que para mim, como fã, são mágicas e provam que eles eram sim, a maior banda de rock do mundo e, ainda estão entre as maiores): a atuação dos músicos como atores, os raios disparados de seus olhos, a sua capacidade estranha de lutar (como se tivessem treinado UFC a vida toda – o que para fãs como eu era algo simplesmente espetacular), a versão acústica da linda canção "Beth" (nunca gravada até a época da exibição do filme), a transformação da letra de "Hotther Than Hell", que tornou-se "Rip And Destroy", e, a própria versão ao vivo para "I Stole Your Love", uma das grandes canções do grupo em toda a sua história, apresentada ao vivo por eles no filme.
A primeira aparição é clássica. Não a dos letreiros iniciais, mas a que marca o surgimento de PAUL STANLEY e seu alter-ego "Starchild", hipnotizando uma das fãs e fazendo com que a mesma revele seus segredos a ele por meio do simples pensamento, para que ele lhe prometa em seguida que irá salvar o seu noivo das garras do mal, enquanto conversava lentamente, de forma andrógina e totalmente apolônica, diante das câmeras. Era a eterna arte do conhecido "Dr. Love" entrar em cena, o que para muitos, rendeu risos intermináveis, mas para a maioria de fãs como eu, causou uma vontade incomensurável de comprar guitarras, kits de maquiagens e tentar montar suas próprias bandas de rock.
Muitos críticos podem chamar o filme de lixo do luxo, mas o fato é que entre os fãs ele tornou-se cultuado, e, entre os próprios amantes dos filmes conhecidos como "trash", como "A Noiva do Átomo" e "Plano 9 do Espaço Sideral", ambos de ED WOOD, além do bizarro e engraçado "O Ataque dos Tomates Assassinos", ele é visto como clássico. Obviamente, o filme também é a demonstração (e isto deve ficar registrado na grande bíblia da história da música) de como uma banda tornou-se, em apenas quatro anos após o lançamento do primeiro disco (até a época do lançamento do filme nos cinemas), a mais popular de todo o Planeta Terra, e, conseguiu não só ultrapassar a marca dos 100 milhões de discos como ter mais de 3.000 produtos sob sua marca, algo que nem ELVIS, nem os BEATLES, nem ninguém, conseguiu fazer.
Não discuto o KISS pela sonoridade. Adoro a banda. Não discuto também, todo este merchandising em torno deles, porque acho que hoje a banda divide seus afazeres entre tocar ao vivo (algo que eles gostam de fazer) e viver do mainstream. Talvez isto desagrade leitores mais fanáticos, mas o fato é que este mainstream foi responsável por muitos equívocos na carreira da banda, e, muitas disputas pela propriedade do logotipo, do nome e da própria titularidade empresarial do KISS. Mas, como fã que também sou, creio que eu e todos os milhões espalhados pelo mundo perdoaremos estes equívocos.
Enfim, sob quaisquer que sejam as óticas, o filme é bizarro, engraçado, apaixonante, delirante, cativante e heróico. Sim, heróico, pois, enquanto o filme "Febre de Juventude" colocava os BEATLES a fugirem das fãs pelos quartos de hotéis, e, os filmes de ELVIS colocam-no como um "Seresteiro de Acapulco" que salvava donzelas de namorados machistas, o filme do KISS coloca os quatro cavaleiros sob a figura de semideuses, contra uma espécie de mal que pode destruir todo o mundo.
Fica aqui a dica para quem ainda não viu (o que acho difícil, em se tratando de fãs do KISS). E voltando ao início do texto, para finalizar com a mesma sensação de antes e depois daquela maravilhosa tarde de junho em plena "Sessão da Tarde", termino por dizer que, certamente, todo o país parou para ver o filme. Alguns trabalhadores perderam seus empregos, outros conseguiram atestados médicos. Alguns alunos perderam provas de matemática, outros apenas perderam uma tarde entediante na escola. Mas a experiência trazida naquele dia, cujo ano não vou revelar (para deixar mais curiosos alguns fãs), foi única.
Afinal: - You wanted the best...You got the best !!!...
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