Journey: com novo vocalista e sem identidade
Resenha - Revelation - Journey
Por Diego Winger
Fonte: Metal Mojo
Postado em 27 de setembro de 2008
Após a demissão de Steve Augeri, a permanência mais curta que coice de porco de Jeff Scott Soto e o bafafá em cima de uma suposta volta de Steve Perry, o JOURNEY ressurge com um vocalista desconhecido. Arnel Pineda foi encontrado pelo guitarrista e líder da banda Neal Schon através do YouTube. Nascido nas Filipinas, com uma infância miserável, o cantor imediatamente foi com a banda ao estúdio sem saber que logo viveria uma estória de Cinderela. Ao lado do produtor africano Kevin Shirley (Iron Maiden, Dream Theater, Rush), Pineda, Schon, Jonathan Cain (teclados), Ross Valory (baixista; junto a Schon, único remanescente da formação original) e Deen Castronovo (bateria e vocal) soltam o triplo "Revelation".
No que tange à parte gráfica, há que se dizer, um trabalho explêndido. Feito de material ecológico de muito bom gosto, a arte remete ao JOURNEY clássico. Entretanto, ao ler as letras no encarte, há um sentimento de que tudo foi feito às pressas, pois não houve revisão de texto, sobrando versos e mais alguns erros de grafia. Este sentimento se estende, em parte, à música da banda. A começar pela escolha do novo vocalista, mesmo tendo alcance e potência, falta-lhe o principal: identidade. Tal se limita a reproduzir os trejeitos de Steve Perry… Porém, bem provável que esta tenha sido uma imposição da dupla Schon/Cain.
Foi dado início a esta estratégia quando o seriado Os Sopranos utilizou a canção "Don’t Stop Believin’" (1981) em seu último episódio. A repercussão foi tamanha que somente com um clone de Perry a banda poderia arriscar repetir o sucesso de outrora, uma vez que aquele se recusa a voltar aos holofotes. Até o momento este ato tem dado certo, pois as vendas nunca foram tão bem desde "Trial By Fire" (1996). Além disso, a distribuição de Revelation nos EUA está a cargo da cadeia de lojas Wal-Mart, ou seja, este álbum pode ser comprado por um módico preço em qualquer esquina. Supõe-se que o público do JOURNEY seja - em sua maioria - freqüentador dessa loja, algo que estaria se tornando diferente com Jeff Scott Soto. Este, em seu breve périplo, deixou a impressão de ser um grande frontman, mais sedutor e com um forte apelo ao hard rock/heavy metal, angariando uma nova e heterogênea gama de fãs em detrimento dos habituais, fato que teria contrariado Cain e Schon.
Sobre a música. No primeiro disco, a faixa de abertura "Never Walk Away" nada mais é do que um repeteco de "Be Good To Yourself" do "Raised On Radio" (1986). "Like A Sunshower" é uma boa balada, poderiam tê-la deixado mais pro final, mas, felizmente "Change For The Better" traz o estilo JOURNEY mais tradicional e com um belo refrão (fica-se imaginando como ficaria na voz de Soto), na linha do ótimo "Arrival" (2001). A banda não perde o pique em "Wildest Dream", com aquele piano "marretado" de Cain. A próxima é a regravação de "Faith In The Heartland" do "Generations" (2005). Não sei se é má vontade, mas a versão de Steve Augeri era mais autêntica, pois aqui parece que foi gravada com o intuito de "como soaria se Steve Perry a tivesse gravado?".
"After All These Years" é outra balada, muito na linha de "Open Arms" (1982). "Where Did I Lose Your Love" traz aquela temática de amor perdido, tão explorada em "I’ll Be Alright Without You" (1986) ou "Signs Of Life" (2001). Apesar do clichê lírico, não faz feio. "What I Needed" é outra balada, mais dramática. "What It Takes To Win" é uma grata surpresa. Pesada e densa, é nesta em que Pineda apresenta melhor sua personalidade, deixando sutilmente de lado a personificação de Perry. "Turn Down The World Tonight" é outra balada, com um solo mais simples de Schon. A faixa que encerra o disco 1 é a instrumental "The Journey (Revelation)", com destaque para o referido guitarrista.
Agora vem o controverso disco 2… Hoje tem se tornado hábito as bandas que romperam seus contratos com suas gravadoras (donas das fitas-master) regravarem seus clássicos para quando licenciados em comerciais, filmes ou jogos de vídeo-game (como a atual febre do Playstation, Guitar Hero), receberem a bufunfa de forma integral. Com o JOURNEY não foi diferente… Questiona-se: seria este o verdadeiro álibi por trás da escolha de Arnel Pineda? A banda reproduz fidedignamente nota por nota aquilo que fora consolidado como atemporal. Porém, é nítida a dificuldade de Pineda no agudo final de "Separate Ways" (esqueceram o "Worlds Apart" no encarte!), pérola de 1983. "Wheel In The Sky" (1978) tem um fim alternativo, diferente da original. "Be Good To Yourself" traz finalmente Ross Valory no baixo, pois fora demitido à época. "Stone In Love" (1982) ficou bem legal. Vale ressaltar que Deen Castronovo deu uma incrementada nas viradas de Steve Smith e Aynsley Dunbar. As outras canções não fazem feio mas, cá pra nós, que utilidade têm? Voltemos ao Greatest Hits lançado em 88!
O terceiro disco é um DVD gravado em Las Vegas (EUA). É aqui que a banda se sai melhor de todo o pacote. Em que pese alguns aparentes overdubs, Pineda se demonstra mais solto no palco, ao contrário da sua timidez no show do Chile transmitido em janeiro deste ano pela TV a cabo. Schon esbanja feeling em seus solos e Cain - grande compositor - domina seu piano; a cozinha de Valory e Castronovo dão a técnica e o peso necessários às canções. Os destaques são as clássicas "Don’t Stop Believin’", "Any Way You Want It" (1980), "Faithfully" (de 1983, onde os casaizinhos se derretem), a nova "Never Walk Away" e "Mother, Father" (1981), onde Deen Castronovo assume o vocal principal e se revela outro grande imitador de Perry! Em suma, uma grande banda ao vivo que também comete grandes equívocos (comercialmente, um golpe de mestre, diga-se). É impressionante o impacto que a presença e a ausência (!) de Steve Perry causam ao grupo e seu legado…
CD 1: Nota 7.
CD 2: Nota 4.
DVD: Nota 8.
Média: Nota 6,3.
CD1: Never Walk Away, Like A Sunshower, Change For The Better, Wildest Dream, Faith In The Heartland, After All These Years, Where Did I Lose Your Love, What I Needed, What It Takes To Win, Turn Down The World Tonight, The Journey (Revelation);
CD2: Only The Young, Don’t Stop Believin’, Wheel In The Sky, Faithfully, Any Way You Want It, Who’s Crying Now, Separate Ways (Worlds Apart), Lights, Open Arms, Be Good To Yourself, Stone In Love;
DVD: Sky Light, Any Way You Want It, Wheel In The Sky, Lights, After All These Years, Never Walk Away, Open Arms (Prelude), Open Arms, Mother Father, Wildest Dream, Separate Ways (Worlds Apart), Faithfully, Don’t Stop Believin’, Be Good To Yourself.
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