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Resenha - Ring of Fire - Legend of Johnny Cash

Por Fernão Silveira
Postado em 23 de março de 2007

Antes que você se pergunte "por que raios este doido está escrevendo sobre Johnny Cash no Whiplash!?", posso dizer que já tenho a resposta principal: enxergar Mr.Cash apenas como "um cantor de música country" é uma limitação que não cabe aos leitores de um site tão qualificado quanto este. Pois o Homem de Preto é um ícone da boa música, independente de estilos e/ou preferências. E mais: Johnny Cash é heavy.

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"Ring of Fire - The Legend of Johnny Cash", lançado em 2005, é um dos mais interessantes e ecléticos compêndios da extensa (e brilhante) obra desse inigualável cantor e compositor, que fez parte, nos anos 50, do seletíssimo cast da gravadora Sun Records - que apresentou ao mundo gênios como Jerry Lee Lewis, Roy Orbison, Carl Perkins e um tal Elvis Presley.

Como não poderia deixar de ser, o álbum traz clássicos que tornaram Mr.Cash uma referência em country music, como "Ring of Fire" (composta por sua musa e eterna companheira, June Carter), "I Walk the Line" (escrita após uma bronca furiosa de June por causa de seu péssimo comportamento), "Folsom Prison Blues" (música que o transformou numa espécie de porta-voz informal - e maior ídolo - de todos os presidiários da América), "Cry! Cry! Cry!" e "Hey Porter".

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Mas o setlist não deixa faltar composições da fase mais moderna de Johnny Cash, a partir dos anos 90, quando ele descobriu e foi descoberto pelo rock. De seu namoro com o U2, destacam-se duas canções: "The Wanderer" e o clássico "One", lançado pelo quarteto irlandês no álbum "Achtung Baby", de 1991, e regravado por Cash para o disco "American III: Solitary Man", de 2000.

Outras três releituras modernas de Johnny Cash fazem de "Ring of Fire" um item obrigatório na coleção de qualquer fã do bom rock n'roll: "Rusty Cage", composta por Chris Cornell e gravada pelo SOUNDGARDEN no álbum "Badmotorfinger"; "Personal Jesus", do DEPECHE MODE (lançada no álbum "Violator", de 1990); e "Hurt", do NINE INCH NAILS (do álbum "The Downward Spiral").

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A fase roqueira de Johnny Cash, muito bem representada em "Ring of Fire", traz o toque de midas do produtor Rick Rubin, que tem em seu currículo trabalhos de sucesso para bandas como SLAYER, SYSTEM OF A DOWN, AUDIOSLAVE, RED HOT CHILI PEPPERS, DANZIG, BEASTIE BOYS, AEROSMITH, SLIPKNOT e muitas outras.

Rick Rubin, aliás, foi o homem que devolveu Johnny Cash ao seu devido lugar nos anos que antecederam sua morte, ocorrida em 2003, tirando-o de uma fase de ostracismo e insucessos. Além de "ensinar" o velho ídolo country a fazer rock n'roll de peso e qualidade, Rubin garantiu a Cash um epitáfio perfeito: "Hurt", cuja letra parece ter sido escrita por Trent Reznor sob medida para o Homem de Preto.

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Não seria exagero dizer que Rick Rubin foi quase tão importante para a carreira de Johnny Cash quanto Sam Phillips, o produtor que, nos anos 50, o fez desabrochar para o sucesso lançando o seguinte desafio: "Imagine que você foi atropelado por um caminhão e só tem uma música para dar o seu último recado ao mundo..." – foi depois disso que Cash, no teste para ser aceito no cast da Sun Records, deixou para trás os covers de gospel para disparar um petardo chamado "Folsom Prison Blues".

"Ring of Fire", enfim, é uma amostra completa de todas as nuances do talento múltiplo de Johnny Cash: um compositor extremamente criativo, ácido e reflexivo, capaz de buscar inspiração nos momentos mais banais e insuspeitos (vide as letras de "Get Rhythm", "A Boy Named Sue", "Hey Porter" e "Man in Black"); um cantor totalmente fora das convenções, que atingiu o sucesso pleno mesmo com uma voz grave e um tom sombrio demais para um artista country; um homem determinado, que só não sucumbiu de vez aos vícios e às armadilhas da vida graças a uma devoção profunda a dois grandes amores: a música e June Carter.

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Sim, meus caros leitores, Johnny Cash é heavy. Mas se você mantém seus preconceitos, aceite o meu desafio: ouça "Ring of Fire – The Legend of Johnny Cash". Tenho certeza que seu próximo passo será a conversão.

Tracklist:
1. Ring of Fire
2. I Walk the Line
3. Jackson
4. Folsom Prison Blues
5. A Boy Name Sue (live)
6. Big River
7. Get Rhythm
8. Cry! Cry! Cry!
9. Hey Porter
10. A Thing Called Love
11. Guess Things Happen That Way
12. San Quentin (live)
13. Man in Black
14. Highwayman
15. The Wanderer
16. I´ve Been Everywhere
17. Rusty Cage
18. Personal Jesus
19. Give My Love to Rose
20. One
21. Hurt

Gravadora: Universal

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Sobre Fernão Silveira

Paulistano, são-paulino, nascido nos "loucos anos 70" (1979 ainda é década de 70, certo?) e jornalista. Sua profissão já o levou a cobrir momentos antológicos da história da humanidade, como o título paulista do São Caetano, a conquista da Copa do Brasil pelo Santo André, a visita de Paris Hilton a São Paulo e shows de bandas como Judas Priest, Whitesnake, W.A.S.P., Megadeth, Slayer, Scorpions, Slipknot, Sepultura e por aí vai. Ainda tem muito gás para o nobre ofício jornalístico, mas acha que não vai muito mais longe depois de ter entrevistado Blackie Lawless, Glenn Tipton, Rogério Ceni e, claro, Paris Hilton.
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