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Bruce Dickinson - breve percurso pela discografia da carreira solo do artista

Por Marcelo R.
Postado em 30 de junho de 2024

Uni, recentemente, o útil ao agradável.

Pelo saudosismo de uma época que não vivi, adquiri, há algumas semanas, uma picape de alta qualidade para rodar meus discos de vinil, que tanto aprecio. Ótima oportunidade – pretexto? – para iniciar uma nova coleção.

Pois bem...

Há pouco mais de um mês, estive no show do Bruce Dickinson, artista que, inegavelmente, mais admiro. Escrevi uma longa – e, creio, bastante emocionada – resenha sobre a sua apresentação, que tanto me impressionou.

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Depois do show, decidi, convicto, completar a coleção do artista, em discos de vinil.

Alcancei, satisfeito, esse obstinado objetivo, há alguns dias.

Foto: Midiorama
Foto: Midiorama

Com uma discografia relativamente enxuta, composta por 7 álbuns de estúdio, formei rapidamente a coleção de vinis do artista. Há poucos dias, chegou-me o último item que faltava: The Chemical Wedding.

Aproveitando o ensejo dessa alegria e dessa satisfação pessoal, que aqui compartilho, resolvi, então, escrever um breve texto, percorrendo a discografia do Bruce Dickinson.

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A ideia, aqui, não é esmiuçar, analiticamente, uma resenha para cada álbum. O objetivo é, apenas, revisitar a discografia solo do Bruce Dickinson, lançando breves comentários, sem rigores formais, sobre cada lançamento de estúdio. Algo mais próximo a um depoimento pessoal da relação íntima com cada um desses trabalhos.

Às impressões.

1. Tattooed Millionaire (1990).

Bruce Dickinson inaugurou carreira solo em grande estilo, debutando com o excelente Tattooed Millionaire, lançado em 1990.

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Aqui, o artista demonstrou faceta interessantíssima, bastante distinta da verve musical que orientava, e orienta, o som praticado pelo Iron Maiden, banda de que é vocalista.

Em Tattooed Millionaire, Bruce Dickinson explorou influências diretas de hard rock, gênero que formou a base desse trabalho.

Com grandes doses de elementos mais vibrantes, o peso não está, no geral, presente. Cedeu espaço à alegre vivacidade, típica do gênero aqui adotado.

As canções não são complexas. Ao contrário, a estrutura de Tattooed Millionaire é, no geral, bastante simples e direta. Justamente por isso, o artista alcançou o resultado a que se predispôs: entregou um álbum easy listening, pouco ambicioso, cuja audição é, para os seus declarados propósitos, bastante agradável.

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Ótima estreia.

Destaco especialmente a faixa-título, Tattooed Millionaire.

2. Balls to Picasso (1994).

Esse é, talvez, o patinho feio da discografia do Bruce Dickinson, pelo que percebo. Afirmo "talvez", porque, para alguns, o álbum indigesto é justamente o seu sucessor, Skunkworks. Ao abordá-lo no próximo tópico, voltarei a esse assunto.

Já fui mais crítico ao Balls to Picasso. Nas primeiras audições, há alguns anos, não compreendi a proposta. Pareceu-me um álbum sem direcionamento e, no geral, sem muita inspiração.

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Revisitando-o anos depois, a minha percepção mudou ligeiramente, porém.

O álbum é experimental. Exige, assim, audição com mente e coração abertos.

Balls to Picasso é um trabalho de difícil categorização em gêneros. Ainda que calcado em bases e estruturas do metal, há canções que transitam pelo hard rock (Hell No), pop (Change of Heart) e, inclusive, por influências industriais (é a impressão que tenho ao ouvir, exemplificativamente, a faixa de abertura, Cyclops).

O principal elemento de Balls to Picasso é a experimentação. Aqui, Bruce Dickinson explorou diversas influências, visitando campos estranhos ao metal e ao estilo de composição que lhe era, até então, habitual e peculiar (especialmente comparando-se com o Iron Maiden, fonte da qual Balls to Picasso não guarda a mais ligeira e remota semelhança).

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A numerosa quantidade de influências – muitas delas, ineditamente exploradas pelo artista – pode causar ar de estranhamento. De todo modo, a liberdade artística, ilimitada e naturalmente avessa à estagnação e ao comodismo, torna compreensível a visitação a campos novos. E, sob essa perspectiva, é possível identificar elementos apreciáveis em Balls to Picasso, sem comparações com o (até então) passado do artista.

Destaco, a propósito, a já citada longa e pesada canção de abertura, Cyclops, com sua atmosfera de suspense.

Change of Heart é também belíssima.

Por fim, o álbum encerra-se com o maior estrondo comercial do artista, Tears of the Dragon, unanimidade em termos de recepção e qualidade.

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Embora não seja meu álbum favorito do artista, vale a audição. Faça-o com mente aberta.

3. Skunkworks (1996).

Skunkworks é aquele típico álbum polêmico da discografia de um artista.

Assim como o Balls to Picasso, confesso que já fui mais crítico ao Skunkworks.

Diferentemente, porém, de Balls to Picasso (trabalho cujos méritos reconheço, sem, porém, apreciar tanto), do Skunkworks eu realmente gosto muito.

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A questão, aqui, é que o artista abandonou completamente as influências de metal e de hard rock. Explorou campo que lhe era completamente inédito na carreira musical: o grunge.

Não é possível ouvir Skunkworks como um álbum de metal. Não é o seu objetivo. E, uma vez ciente dessa premissa, é perfeitamente possível apreciar os bons méritos desse trabalho.

Dreamstate é minha canção favorita do álbum. Com certo aspecto psicodélico, Dreamstate possui ar soturno. É ritmada com uma introdução climática, sequenciada por explosões sonoras e fragmentada com quebras de tempo, que lhe conferem dinamismo apesar da relativa simplicidade de sua estrutura.

Outros destaques incluem Space Race, Back from the Edge e Inertia.

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Ouça Skunkworks com mente aberta. Aprecie-o como um álbum de grunge. E, sem comparações com outros trabalhos do artista, anteriores ou posteriores, deixe-se impressionar com essa experiência sonora.

4. Accident of Birth (1997).

A partir de Accident of Birth, Bruce Dickinson retornou ao universo do metal tradicional, reexplorando campos que tradicionalmente lhe identificaram musicalmente. O artista reaproximou-se do estilo musical do Iron Maiden, embora, aqui, com doses muito maiores de peso.

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Contando com um time respeitável na formação – com Adrian Smith e Roy Z nas guitarras –, Accident of Birth é indisputável em termos de qualidade. As canções são extremamente inspiradas, bem compostas e bem gravadas.

Accident of Birth alterna-se entre faixas mais diretas (como Freak e Road to Hell, além da própria canção-título Accident of Birth) ao lado de outras mais longas e climáticas, como Darkside of Aquarius.

Há, também, composições atmosféricas e imersivas, como Man of Sorrows, com a sua ambiência melancólica, e a balada Arc of Space, com seus belíssimos arranjos de música latina.

A propósito, Arc of Space é minha canção favorita do álbum. Essa faixa prova que a beleza está, por vezes, justamente na simplicidade.

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5. The Chemical Wedding (1998).

The Chemical Wedding nivela-se a Accident of Birth, em termos de qualidade. Ambos seguem o mesmo direcionamento, embora The Chemical Wedding seja ainda mais denso, pesado, cadenciado e obscuro.

Baseado liricamente na poesia William Blake, The Chemical Wedding proporciona profunda, longa e imersiva viagem sonora, conduzindo o ouvinte por variadas e complexas paisagens musicais.

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Com climas que se alternam, The Chemical Wedding possui matizes dramáticos, de suspense, de romance e de melancolia, além de momentos mais vivazes, aguçando múltiplos aspectos sensoriais no ouvinte atento.

Jerusalem e The Alchemist se destacam em meio ao desfile de clássicos que compõem The Chemical Wedding.

6. Tyranny of Souls (2005).

Tyranny of Souls é menos popular que Accident of Birth e The Chemical Wedding. Apesar disso, é o meu álbum favorito da carreira solo de Bruce Dickinson.

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Tyranny of Souls seguiu o mesmo direcionamento dos álbuns anteriores. Assim, as considerações que registrei sobre Accident of Birth e The Chemical Wedding são perfeitamente adequadas e aplicáveis aqui, em Tyranny of Souls.

Tyranny of Souls é talvez um pouco menos pesado em comparação com os dois álbuns anteriores. As canções são menos complexas e menos densas, prevalecendo uma aura mais atmosférica, com algumas notas sutis de introspecção e melancolia. Essas características, que se aproximam aos elementos que mais aprecio na linguagem musical, talvez expliquem a minha ligeira preferência por Tyranny of Souls no catálogo dos lançamentos do artista.

Como destaquei na resenha que escrevi sobre o show do Bruce Dickinson em São Paulo, Navigate the Seas of the Sun, presente em Tyranny of Souls, é uma das minhas canções favoritas de Bruce Dickinson.

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A faixa é bela e sentimental. Possui leve toque melancólico e alguns arranjos acústicos que lhe conferem certa verve romântica.

Navigate the Seas of the Sun, em sua emocional ambiência, movimenta diversos aspectos sensoriais no ouvinte. Presenciá-la ao vivo, a poucos metros de distância do seu mentor em pessoa, foi, talvez, um dos momentos mais felizes, memoráveis e marcantes que vivi até hoje, musicalmente falando (e a linguagem musical ocupa, inegavelmente, espaço importantíssimo na minha vida).

Álbum altamente recomendável.

7. The Mandrake Project (2024).

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Sobre The Mandrake Project, reporto-me à resenha que escrevi, acessível por meio do seguinte link.

Destaco o seguinte trecho:

"The Mandrake Project não é álbum ruim, mas está bastante longe da categoria de memorável (embora não lhe tenha faltado tempo à maturação).

As canções soam, no geral, meros padrões do estilo, com algumas exceções de excertos/recortes específicos encontrados por garimpagem durante a audição.

Sem clímax, sem um grande hino e sem desenvolvimento mais cuidadoso de algumas das boas ideias/premissas encontráveis, aqui e acolá, em momentos específicos, The Mandrake Project, embora não envergonhe — longe disso! –, certamente não marcará a memória dos apreciadores do trabalho do Bruce Dickinson, tão pródigo em clássicos.

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The Mandrake Project é um álbum mediano, morno, com pouca inspiração ou criatividade, mas que, claro, proporciona alguns bons momentos. Vale, de todo modo, a audição. Faça-o, porém, precavido(a), sem grandes expectativas".

Como sugestões, recomendo as faixas Shadow of the Gods, Resurrection Men e Fingers in the Wounds.

É isso.

Espero que tenham gostado dessa viagem no tempo e dessa breve revisitação à discografia do Bruce Dickinson.

Até mais!

Originalmente publicado no Medium.

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Sobre Marcelo R.

"Marcelo R. é natural de Itu. Da fama de sua cidade, herdou alguns exageros, como o gosto pela música e pela literatura. Ávido leitor e aficionado por uma imensa gama de subgêneros do rock, possui especial paixão pelo metal nacional, do qual é incansável apoiador. É colecionador de discos, já tendo completado algumas discografias, como a do Katatonia e a do Bruce Dickinson. Nas horas vagas, é um despretensioso escritor, aventurando-se especialmente em resenhas de livros e de música. Colabora com a página Rock Show, sediada no site Medium. É formado em Direito."
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