Scorpions: A balada "Wind of Change" foi composta pela CIA?
Por André Stanley
Postado em 22 de outubro de 2021
Estava eu garimpando alguns podcast em um serviço de streaming que tenho conta e eis que dou de cara com um, chamado Wind of Change. Fiquei obviamente curioso para saber do que se tratava, afinal para um fã de SCORPIONS como eu, não tem como um título como esse passar em branco.
Descobri então que era focado em algo bem específico sobre a história que envolve a composição dessa música. Temos aqui oito capítulos de cerca de 45 minutos cada um, e mais vários bônus, tratando daquela história bem esquisita que diz que essa canção foi feita pela CIA como uma forma de propaganda do novo mundo que se estabeleceria com a queda do muro de Berlim.
É sabido que essa balada do SCORPIONS é considerada um dos hinos daquele evento histórico que mudaria para sempre a relação entre ocidente e oriente. A música em questão foi lançada no disco Crazy World de 1990 e se tornou um dos maiores hits do grupo e um dos maiores hits de Hard Rock da história.
O responsável pelo podcast é o jornalista investigativo americano Patrick Radden Keefe que demonstra ter um vasto material sobre o assunto e não economizou em buscar as fontes orais espalhadas ao redor do mundo que deram início a essa teoria conspirativa com elementos fantásticos. Não me estranharia se isso virasse filme um dia, ou um documentário da Netflix.
Parece que Keefe se dedicou verdadeiramente a essa pesquisa. Conversou com muita gente importante, desde antigos agentes da CIA, até o próprio Klaus Meine, o célebre vocalista a quem é creditada a composição da música. A questão é que dificilmente conseguimos colocar a teoria em pé e mesmo que Keefe se esforce bastante para dar liga a essa história mirabolante – e ele é muito eficiente em fazer isso – não temos uma história que se sustente. Primeiro, todas as evidências são rasas e o enunciador zero, ou seja, aquele que teria presenciado a elaboração da história, não é alcançado, temos sempre alguém que disse a alguém que ouviu de outro alguém.
Eu levanto duas hipóteses sobre essa empreitada de Keefe. Ou ele recebeu uma boa grana que permitiu que ele colocasse sua reputação em jogo para fazer esse trampo, ou ele realmente comprou a ideia e decidiu ir atrás de elementos que provassem o que ele já acreditava de antemão. Ou poderia ser um pouco dos dois, alguém investiu uma grana para ele investigar algo que já acreditava.
Ouvi todos os episódios em uma única semana quando fazia minhas caminhadas de manhã e já sabia de antemão que aquela história não me levaria a lugar nenhum, mas não vou desmerecer o trabalho de Keefe. O cara consegue cativar o ouvinte com sua narrativa fácil com muitos elementos de storytelling que nos mantém curiosos para saber o que ocorrerá no próximo capítulo. O podcast também tem o mérito de servir de registro histórico que trata não somente da história do Rock, como também de alguns eventos muito interessantes da história do século XX, como a Guerra Fria, a Cortina de Ferro, a união das duas Alemanhas e o papel da música pop no estabelecimento de uma cultura hegemônica em um mundo agora realmente globalizado.
Há alguns episódios que contam histórias fascinantes ocorridas em um festival que aconteceu na União Soviética em 1989, um ano antes do lançamento de Wind of Change. O "Moscow Music Peace Festival" que além do SCORPIONS, contou com OZZY OSBOURNE, BON JOVI, MÖTLEY CRÜE, CIDERELLA e SKID ROW. O Festival que ficou conhecido como o "Woodstock Soviético", teve nos bastidores a atuação do produtor e empresário de todas essas bandas citadas, o folclórico Doc McGhee que é também conhecido por ter trabalhado com o KISS. Nesta narrativa, outras histórias envolvendo McGhee são mencionadas. Como os rumores de que o empresário ajudou a organizar o festival para fugir de uma investigação que o ligava ao tráfico de drogas internacional.
Mas afinal, Wind of Change foi composta pela CIA?" Alerta de spoiler.
O podcast não pretende te dar uma resposta conclusiva a essa pergunta. Mas podemos considerar essa premissa como um bom clickbait para nos atrair para uma bela narrativa sobre uma época em que o Rock chegou ao topo da cultura pop e ajudou a demolir os últimos resquícios da Cortina de Ferro.
O que temos aqui é uma teoria conspirativa que mesmo que provada verdadeira, não traria nada de relevante para ninguém, pois já sabemos que a CIA e o serviço secreto americano atuaram de forma implícita na propaganda da "vitória" do mundo ocidental, como forma de elevar os EUA ao status de cultura hegemônica. Mas nada tão pontual assim faria sentido, por que não uma banda americana? Havia tantas. Imagina o BON JOVI ou o até mesmo o KISS, cantando essa música.
Por outro lado, esse podcast não é para ser desprezado, há uma boa dose de histórias legais e entrevistas com diversos profissionais além de uma boa conversa descontraída com Klaus Meine, que se surpreendeu com o fato de um jornalista de Nova York ter viajado para a Alemanha só para fazer algumas perguntas sobre uma música que ele havia escrito há trinta anos. Vale a pena ouvir se você entende inglês e gosta de explorar teorias rocambolescas sobre a Guerra Fria envolvendo bandas de Rock.
André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor do blog (Blog do André Stanley). Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys.
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