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Cirith Ungol: a (melhor) pior banda do mundo

Por Ivison Poleto dos Santos
Postado em 01 de novembro de 2016

O Cirith Ungol existe desde 1972 formada por amigos como um projeto de banda do colegial como muitas outras. Essa fundação nos anos 1970 explica algumas das referências sonoras incluídas nas músicas. Bastante cultuada hoje, é uma daquelas bandas que foram sem nunca terem sido.

Para quem viveu os anos 1980 no Brasil, a banda teve uma fama de "pior banda de heavy metal do mundo". Isso porque o Livro negro do Rock ou a Enciclopédia do Rock de A a Z (não consigo lembrar com certeza qual delas), mas não há como verificar isso agora porque estes materiais há muito se foram. Pelo que andei apurando, a revista Kerrang! Foi quem iniciou isso com a crítica ao primeiro álbum dos caras.

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O som do Cirith Ungol era antes de tudo muito pessoal. Uma das causas do insucesso comercial foi o seu som esquisito, sincero, inédito até então. A banda soava diferente não somente pelas texturas melódicas formadas pelos seus músicos, pelas suas estruturas musicais retiradas da música clássica. Vejam bem, isso é muito comum hoje, mas no mundo do metal de 1980 não era tão comum assim. Mas não era somente isso, a banda soava muito diferente pelas escolhas de timbres realizadas. Tudo lá soava diferente, exceto a bateria. O vocalista Tim Baker é dono de uma das vozes mais pessoais do mundo metal. Não há meios termos para ela; ou se ama ou odeia. E muitos a odeiam. Até hoje pode-se ler nos comentários dos Youtubes da vida críticas à sua voz. Deve-se dizer em sua defesa que isso era comum na época. O tipo de voz que predominava no rock pesado e no heavy metal eram vozes pessoais. Um cenário muito diferente do atual onde só existem dois vocais permitidos: o Bruce Dickinsoniano e o gutural. O vocalista dava uma puxada na voz para que ela ficasse mais rouca, mais grave e, por consequência, mais agressiva. Só que no caso dele, o rouco ficava mais agudo, muito próximo do desafinado.

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Quanto às guitarras pode-se dizer que se a banda tivesse dado certo, Jerry Fogle seria considerado um gênio! Ele foi um dos introdutores de escalas e técnicas clássicas no mundo das guitarras, como por exemplo, a técnica de dobrar as notas no solo para se dar a impressão de tocar mais rápido. O problema estava mais uma vez nos timbres. Ele usava muita distorção, só que por alguma razão, ou por gosto, ela ficava muito abafada, tirando do brilho dos acordes. Por outro lado deixava a música mais pesada, mais soturna. Outra razão do timbre diferentão era uma outra novidade que ele utilizava: o pedal de efeitos conhecido como Digital Delay que dava um timbre mais viajandão, às vezes quase parecendo um teclado em conjunto com um Chorus. Estes efeitos deixavam os solos mais cortantes, mais nítidos, porém a sonoridade ficava incomum.

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Ao contrário de muitas bandas, o som do baixo no Cirith Ungol era bastante reconhecível. Ele estava lá não só para marcar a pulsação, mas também para dar uma roupagem diferente na música, funcionava muito mais como um adorno que como uma simples marcação de tempo. Como a banda possuía apenas uma guitarra, no momento dos solos, o baixo tinha que "encher" o som para dar mais peso e consistência às músicas. O problema novamente estava nos timbres. Michael Flint utilizava um baixo Rickenbaker, o que já garantia uma sonoridade diferente, mas ele também adorava um pedal de efeitos, sendo o Chorus o seu preferido. Ele era um baixista com técnicas setentistas fazendo metal nos anos 1980, pois não se contentava em somente tocar o famoso e comum tom e sobretom.

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Em seis anos a banda lançou três álbuns: Frost And Fire de 1980; King of the Dead de 1984 e One Foot In Hell de 1986. Porém, com a saída de Jerry Fogle e Michael Flint, a banda deu tempo de 5 anos até encontrar uma outra formação e gravar em 1991 Paradise Lost, que é uma grande virada no som da banda e, particularmente, é o que eu mais gosto. Neste álbum a banda soa mais "normal", as timbragens não são esquisitas e a voz de Tim Baker se encaixa melhor. Porém, a bolacha encontrou grandes problemas desde a gravação até sua distribuição e nunca foi o sucesso que a banda esperava. Rola um vídeo na rede de um show da banda na época de Paradise Lost onde há apenas 27 pessoas no show. Dá até para contá-las. Assim, dramaticamente, a banda encerrou suas atividades.

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Na verdade, as coisas nunca foram fáceis para o Ungol, mesmo morando próximo a Los Angeles, um dos grandes centros metálicos. A banda pagou o preço da sua coragem, da sua ousadia, do seu pioneirismo e até mesmo da sua teimosia em não moldar a sua arte de acordo com os interesses comerciais. Por exemplo, a distribuição do álbum Paradise Lost foi entravada porque a gravadora o achou datado.

Porém, os deuses do metal resolveram em uma reunião embaixo de um carvalho e após quantidades obscenas de cerveja que a banda teria uma nova chance! Em 8 de outubro deste ano, a banda finalmente retornou às atividades. Já existem uns vídeos do show rolando na net (com som bem ruim por sinal). E a lenda continua!

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Sobre Ivison Poleto dos Santos

Veterano das guerras metálicas. Pesquisador, escritor, resenhista, músico frustrado (por isso tudo o anterior). Ao contrário da opinião comum, acho que o melhor do Metal ainda está por vir e que existem grandes bandas novas por aí. Só procurar. No meu caso elas vêm até mim.
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