André Forastieri: Ele prefere arame farpado no ouvido a Bob Marley
Por Claudinei José de Oliveira
Fonte: R7
Postado em 10 de dezembro de 2015
O reggae jamaicano há muito marca forte presença na música brasileira. Porém, mais que, meramente, um ritmo musical, o reggae, principalmente após o desenvolvimento da obra de seu ícone-mor, Bob Marley, tornou-se doutrina filosófico-religiosa, o famigerado rastafarianismo que, em suma, é uma leitura afro-americana de partes do Antigo Testamento.
Algumas "sumidades" da caquética MPB foram moldadas pela estética sonora que fez do "rastaman" acima mencionado o mito que é. O infelizmente onipresente Caetano Veloso, em sua "obra" "Verdade Tropical", afirma que seu chapa Gilberto Gil pensou em abandonar a música após travar contato com a obra de Marley, por julgar não ter mais nada a dizer. Infelizmente, pra nós, o baiano não levou a cabo seu intento.
Itamar Assumpção, Titãs, Raimundos, Skank, Cidade Negra e muitos, muitos outros releram o ritmo jamaicano para os ouvidos nacionais e, juntamente com Ramones, Racionais MC's e Iron Maiden, Bob Marley é unanimidade entre camisetas estampadas com músicos, observadas pelas ruas, País afora.
O polêmico jornalista André Forastieri que, muitas vezes, para chamar atenção de leitores, desafina do coro dos contentes e "profana" unanimidades, como já fez com Ronnie James Dio e Metallica, por exemplo, tem um texto, dos idos de 1995, onde problematiza o reggae como doutrina e, mesmo, como gênero musical. Por trás do título chamativo, há, porém, argumentos estruturados sensatamente.
Sobre a releitura rastafári do Antigo Testamento, onde o africano escravizado é identificado com o povo hebreu, podemos ler:
"Não posso nem ver esses 'reggaemen' falando de Jah e chorando as pitangas pela repressão do homem branco em cima deles.
Para começar, o negócio todo é filosoficamente equivocado. Criado para ser música de resistência contra 'o sistema', soa como uma choradeira de quem não tem proteína e nem calorias para resistir nem a uma brisa. Não foi à toa que todos os 'superstars' do reggae assinaram rapidinho com as gravadoras da 'Babilônia'. E não é à toa que reggae virou um pastichão que só serve para atrair turista para a Jamaica."
Aqueles que possuem relativo conhecimento das religiões baseadas no "monoteísmo semita", a saber, o judaísmo e, por consequência, o cristianismo, além do islamismo sabe serem elas fundamentadas na misoginia. Sendo o rastafarianismo estreitamente vinculado ao Antigo Testamento, a respeito, escreve André:
"E as meninas que gostam de reggae talvez gostem de saber que o papel da mulher em ambientes rastafári está só um pouco acima do papel do cachorro."
Na conclusão do texto, menciona rapidamente a polêmica associação litúrgica do rastafarianismo com o consumo da maconha, deixando no ar que a aceitação do reggae, no Brasil, é desculpa pra maconheiro:
"Eu até que engolia mais todo o besteirol conceitual que cerca o reggae se o som não fosse tão chato. Para mim, atravessar um CD do Bob Marley equivale a enfiar arame farpado no canal auricular.
Enfim. Detesto reggae. Um amigo me diz que reggae foi inventado para ouvir na praia fumando maconha. Ah, bom isso explica a unanimidade do reggae entre os desentendidos."
Esses, entre outros aspectos do reggae são abordados por um viés iconoclasta, marca da escrita de Forastieri, tornando a leitura intrigante, por desafiar o convencional. É importante não esquecermos que o próprio André já afirmou ser o que é graças ao contato que teve com a obra da banda punk The Clash, a qual teve o reggae como influência fundamental em sua sonoridade.
O texto de Forastieri pode ser lido na íntegra no link abaixo.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/6/05/folhateen/19.html
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