AIDS & Heroína: Os Últimos Dias de Robbin Crosby - Parte III
Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 03 de dezembro de 2013
Se Reerguendo & Se Movendo
Depois de sua cirurgia nas costas, demorou bastante tempo até que Robbin pudesse se sentar em sua cama. Ele tinha ficado tanto tempo deitado, imóvel, que todos os seus músculos haviam se atrofiado e ele também tinha ganho bastante peso. Ele brincava muito com isso. Eu entrava e na metade das vezes, ele não estava trajando nada além de seu avental… amarrado na cintura! Ele tinha uma grande reputação de nudista, o que eu descobri através de histórias contadas em seu velório. Ele brincava e ria muito com isso… nada abalava o espírito dele.
3 ou 4 vezes por semana ele tinha fisioterapia no hospital. Os 2 caras da fisio eram conhecidos como os ‘Machos Alpha’, como Robbin os apelidara. Eles entravam e tinham que literalmente erguê-lo nos braços para que ele ficasse sentado, e daí com a ajuda de uma maca especial, o tiravam da cama e o colocavam numa cadeira de rodas. Aqueles caras amavam Robbin e nem piscavam quando Robbin ficava frustrado gritando RIOS de impropérios pra todo canto!
A fisioterapia ficava do outro lado do andar do prédio. De vez em quando eu aparecia quando ele estava no meio da sessão. Eu ficava olhando de longe, assistindo. Era incrível vê-lo ralar DURO só pra levantar as pernas do chão quando ele estava sentado. A dor e o esforço no rosto dele eram intensos. A essa altura, ele não estava nem perto de andar ainda, tampouco forte o suficiente pra ficar de pé.
Eu o encorajava a fazer mais. "Quanto mais você fizer, mais rápido você sai daqui". Ele respondia, "sim, sim. Eu sei que estou tentando tanto quanto posso". Um dia eu exagerei no meu ‘encorajamento’ e sugeri que talvez ele não estivesse se esforçando tanto. Ele já mandou de volta, ‘Não vem me dar porra de sermão! Estou fazendo o melhor que posso!’ Eu só estava tentando motivá-lo, mas eu acho que fui na jugular com meu comentário. O King ainda era o ‘King’!! Eu encarei aquilo como um bom sinal…
Um dia, em Novembro de 2001, eu recebi uma ligação dele. ‘Cara, eu andei hoje!! Dei uns 20 passos sozinho!’ Aquilo era um GRANDE feito pra ele. ‘Você vai vir amanhã? Eu quero que você veja com seus próprios olhos!’. No dia seguinte, ao meio-dia eu fui e assisti ao ‘King’ dar mais 20 passos… com a ajuda de barras paralelas. Ele estava tão eufórico, as lágrimas estavam correndo por suas bochechas. Ele disse, ‘Eu vou SUMIR daqui, cara… LOGO!’
Panda Noel e o Natal de 2001
No começo de dezembro de 2001, ele começou a atender ao telefone, ‘Panda Noel, ho ho ho ho’ em uma voz bem grave parecida com a do [personagem de ‘Guerra nas Estrelas’] Jabba The Hut! Era hilário de se ouvir… ele fazia isso TODA VEZ que atendia ao telefone em dezembro. Eu achei que ele estivesse apenas animado e ansioso com as festas de fim de ano… mas descobri que não. Ele me disse ‘eu não ligo pro Natal… não faz diferença pra mim, vai ser igual ano passado… sozinho no hospital… muito divertido’. Apesar de sua evidente depressão, ele fazia a cara mais alegre do mundo quando atendia ao telefone… só pra não entristecer as pessoas naquela época do ano. Era o King altruísta de sempre. ‘Esse Natal vai ser diferente’, pensei comigo.
Ele me perguntou um dia, por volta do dia 20 de dezembro. ‘Hey, eu detesto te pedir isso, mas você tem um aparelho de vídeo cassete que eu pudesse pegar emprestado? Eu quero alugar uns filmes, estou de saco cheio de TV’. Só o que ele tinha no quarto era uma TV de NOVE [!] polegadas que só tinha, 3, 5 canais. Invariavelmente ele ficava preso a assistir a programas tipo ‘Oprah’ ou ‘Judge Judy’ o dia inteiro. Era engraçado porque ele de vez em quando ficava totalmente afundado na Judge Judy quando eu aparecia. Ele dizia, ‘Sshh… espera um minuto, tá quase acabando, me deixa ver o que vai acontecer aqui’. Muito cômico e totalmente não-King!!
Eu disse a ele, ‘Bem, não, eu não tenho mesmo um vídeo cassete sobrando.. além do mais, a sua TV nem tem entrada pra um’. Ele disse, ‘OK, foi apenas uma ideia… eu achei que você pudesse ter um largado por aí’. Eu estava mentindo pra ele… eu já tinha comprado um combo TV/Vídeo Cassete de 19 polegadas pra ele de Natal e tinha contado da situação pra minha família e amigos colecionados de guitarras. Ele começou a receber TODO TIPO DE COISA pelo correio, filmes, CDs, cartões de Natal, uma árvore de Natal pequena, flores… até uns morangos cobertos de chocolate congelados enviados de Nova Iorque! Tudo de gente que ele não conhecia.
Ele dizia, ‘DE ONDE estão vindo todas essas coisas??? POR QUE essas pessoas estão me mandando presentes?? Isso é tão maravilhoso… VOCÊ sabe algo sobre isso?’ eu só olhava pra ele e respondia, ‘Não… devem ser seus fãs por aí que te amam’. E ele, ‘Mas COMO eles sabem onde eu estou??’ O olhar no rosto dele não tinha preço quando ele abria esses presentes… era como um menino. Ele me fez manter uma lista de nomes de todo mundo que mandou algo, não importa o quão pequeno, pra que ele pudesse mandar cartões de agradecimento.
Minha esposa e eu o visitamos no dia 23 de Dezembro e o surpreendemos com um jantar de filé e batatas assadas em casa, que ele dizia que estava com vontade… minha esposa Tracy cozinhou tudo e levamos tudo imediatamente, fresco, de modo que ainda estivesse quente quando chegássemos lá. Levamos nossos dois filhos, Eric, de 5 anos, e Kayleigh, de 7, e eles cantaram ‘We Wish You a Merry Christmas’ pra ele. Ele caiu em lágrimas enquanto eles cantavam.
Eu conversei com ele tarde da véspera de Natal, pelo fone, e ele estava tão feliz… simplesmente nas nuvens. Bobby Blotzer e sua namorada [era Misty o nome dela?] tinham estado lá naquela noite para visitá-lo e tinham levado umas fotos incríveis do tempo do Ratt, emolduradas… sabe, essas fotos íntimas, particulares deles fazendo palhaçada nas turnês! Aqueles 2 terem ido vê-lo no Natal significava muito pra ele… mais do que qualquer presente jamais poderia. Apenas o fato de eles se importarem a ponto de ir e o verem.. eu queria dizer isso a eles no funeral de Robbin, mas eu simplesmente não queria invadir a privacidade deles naquele dia… já era difícil demais pra eles.
Aquele foi meu Natal mais significativo e especial de TODOS. Um Natal que eu JAMAIS esquecerei. Eu nunca havia me dado conta… dar é com certeza muito mais gratificante e divertido do que receber. Eu recebi meu melhor presente só por vê-lo feliz… feliz como eu não o tinha visto desde que o conhecera.
Mais uma lição de vida do ‘THE KING’…
Continua…
AIDS & Heroína - Os Últimos Dias de Robbin Crosby
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