AIDS & Heroína: Os Últimos Dias de Robbin Crosby - Parte V
Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 06 de dezembro de 2013
Um Dia no DETRAN
No dia 22 de março, nós fomos até o departamento de trânsito para tirar uma identidade da Califórnia para ele. Ele não tinha um tipo de identidade ou carteira de motorista fazia quase 10 anos!!! Ele estava muito nervoso e travado sobre ir… mas ele tinha que arrumar uma identidade para que pudesse alugar seu apartamento. A caminho, ele me disse que estava tão apavorado com aquilo… ‘Cara, eu tinha uma tonelada de multas que eu nunca paguei… eles podem não me dar uma identidade até que eu as pague, imagina tirar uma habilitação’. Ele disse que estava preparado para pagar todas, caso fosse necessário. Começamos a falar de carros também… ele diz, ‘Eu gostaria de comprar um carro novo… eu tenho visto os anúncios na TV do novo ‘Leganza’ da Daewoo… aquilo seria perfeito, apenas US$ 139 por mês’. Eu comecei a gargalhar e ele me olha com a sobrancelha arqueada e diz, ‘O QUEW FOI????’ e eu respondo… ’Ah cara… o KING enfiado dentro de um Daewoo… engraçado demais! Não consigo imaginar isso!’
Chegamos lá, preenchemos toda a papelada e vamos até o guichê. A moça diz, ‘São 10 dólares por sua identidade’… ele olha pra mim, descrente, e eu a pergunto, ‘há algum tipo de restrição pra que ele tire uma habilitação?’ No momento que eu digo ‘habilitação’ ele me dá um BAITA chute na canela!!! Ela olha no computador e diz, ‘Não… vocês gostariam de um livro para estudar pra prova?’ Ele diz, ressabiado… ’Hm…sim’ Eu nunca vi um sorriso maior na cara dele quando saímos de lá com sua identidade temporária.
Saímos do departamento e trânsito e ele diz, ‘Vamos pro Casa Vega e comemorar!!’ ele explica que o ‘Casa Vega’ é um lugar que ele e sua esposa, Laurie, costumavam frequentar em idos de 1991-1992. Eles desciam pela Laurel Canyon [boulevard] em sua Ferrari Vale de São Fernando adentro, vindos de sua casa nas colinas de Hollywood… uns 20 minutos de carro.
Eu nunca vou esquecer disso enquanto eu viver… estamos a caminho e vemos uma loja de conveniência da 7-11. Ele diz, ‘Encosta aí, eu quero um Snapple’… ‘Ok, de que tipo?’ ele diz, ‘qualquer um’. Ele toma um gole grande e daí derrama o resto [cerca de 80%] no chão!! Eu pergunto… ’O que você está fazendo???’ Ele responde, ‘Da última vez que saímos pra almoçar me fizeram um teste de urina pra ver se eu estava usando drogas nas saídas… eles me encheram as ideia por causa do álcool na minha urina… dessa vez tomaremos precauções’. Eu ainda não sabia o que ele queria dizer. Duh!
Paramos no estacionamento do ‘Casa Vega’, que fica meio escondido atrás do restaurante. Ele se senta na porta da caçamba da minha 4Runner e me di, ‘Me passa a garrafa’. Ele arranca os shorts ali mesmo e começa a urinar na garrafa, em plena luz do dia!! Eu virei de costas, horrorizado e envergonhado e tentei bloquear ele da visão dos pedestres que passavam na calçada!! Eu ouço… ’Ai merda… pega aqui e esvazia um pouco’ eu pego e corro pro outro lado do carro para derramar…eu olho pra ele e ele está ali, sentado, tentando segurar o fluxo da urina e…tem mijo espirrando pra todo lado!!!! Ele está chingando e gritando, ‘Depressa!!’ eu devolvo pra ele e ele aparentemente termina… só um problema…. A GARRAFA AGORA ESTÁ VAZIA!!! Ele olha pra mim e pra garrafa e diz… ’ SEU SCHMENGIE!!!…. você não deixou nada!?!?!?!!’ Ele ficou tão irritado comigo pelo resto do dia. Ele nunca me deixou esquecer dessa…
Um Dia Difícil
No dia 1 de abril ele me telefonou pra me desejar feliz aniversário, mas eu pude notar de cara que havia algo estranho. Conversamos um pouco… m as ele parecia bastante deprimido e MUITO emotivo. Ele tinha bebido e eu perguntei a ele, ‘Está tudo bem?’ e ele respondeu, ‘Não… eu sei que é seu aniversário, mas tem como você vir… eu preciso falar com você’… são 100 quilômetros da minha casa até lá, mas eu fui.
Quando eu chego lá, ele está deitado no escuro… soluçando, em silêncio. Eu pergunto, ‘o que aconteceu??’ ele me diz, em meio aos soluços, ‘eu preciso que você me prometa uma coisa… eu não sei mais quanto tempo de vida eu tenho, e quando eu partir, POR FAVOR não deixe que as pessoas esqueçam-se de mim… eu estraguei tudo, meu casamento, minha carreira, meus carros, minha casa, minhas guitarras… TUDO!!… eu não quero que as pessoas pensem em mim como um drogado perdedor… por favor, diga a elas que eu sinto muito’. Daí é minha vez de começar a chorar e nós 2 ficamos sentados ali no escuro, em lágrimas. Eu fiquei lá por umas 3 horas e tentei animá-lo sem sucesso. Ele caiu no sono por volta da meia-noite e eu fui pra casa. Mas eu fiz a promessa pra ele…
Fade To Black…
Ele finalmente se mudou pro apartamento dele por volta de 8 de abril [eu me esqueci do dia exato] e ele começou a se instalar. Ficou óbvio que ele não conseguiria tomar conta de si próprio o dia todo então uma enfermeira foi contratada para visitá-lo duas vezes por semana. Os remédios dele eram outro problema… alguns deles era a enfermeira quem trazia, e ouros ele tinha que ir até uma clínica do outro lado da cidade para se consultar com um médico para consegui-los… a espera era geralmente de 3 horas!
Ele parecia feliz, mas um pouco frustrado por sua falta de mobilidade… ele podia se deslocar pelo apartamento na cadeira de rodas, e até cozinhar pra si próprio. Ele pegou um baita resfriado nas primeiras noites lá e também bateu feio com os pés em algo. Eu ligava pra ver se ele estava precisando de algo e ele sempre dizia ‘Não… você não precisa ficar me ajudando… você já fez demais’. Eu disse a ele ‘isso é besteira… é pra isso que são os amigos’.
No começo de maio eu descobri que seu velho amigo Patrick tinha se mudado pra lá com ele… parece ótimo, certo? ERRADO! Patrick era o antigo colega de quarto dele e outro viciado em heroína. Eu tentei convencê-lo de que Patrick não faria bem pra ele e só o faria cair em tentação de novo. ELE não quis escutar… ele me disse, ‘Eu o amo como a um irmão e passamos por muito juntos… além do mais, ele não tem mais pra onde ir’.
Eu soube logo ali que aquilo era o começo do fim… ele ligava de vez em quando, só pra dizer oi, mas não era como antes. Ele fazia de tudo para me desencorajar de ir visitá-lo… ‘Ah eu não me sinto bem’ ou ‘O lugar tá zoado’. Eu podia notar que ele estava usando drogas de novo… a fala dele estava mole e ele não soava muito bem.
No começo de maio ele começou a me ligar perguntando se podia pegar um dinheiro emprestado comigo… eu sabia que ele tinha cerca de nove mil dólares em dinheiro quando ele entrou no apartamento, apenas um mês antes. ‘Robbin, pra onde foi todo seu dinheiro?’ Ele fez algumas referências vagas à ‘remédios’ e ‘compras de supermercado’. Eu mentia e dizia, ‘estou liso… agora é um momento ruim, sinto muito’. Me matava por dentro ter que dar esse passa-fora nele…. mas eu não ia AJUDAR na autodestruição dele.
Na noite de sábado, 2 de junho, ele me ligou e finalmente me encostou na parede. ‘Hey, eu preciso que você me faça um favor… eu preciso de dinheiro pros meus remédios… o que eu quero que você faça é que pegue meu violão Breedloye e o penhore… tragas as outras guitarras pra mim. Eu preciso de pelo menos 300 dólares e preciso amanhã pela manhã. ’ Eu tentei demovê-lo da ideia, mas ele insistiu. Então eu fiz como ele pedira…
Apareci no apartamento às 11 da manhã com o dinheiro a as guitarras dele…
Ah meu deus, por favor, NÃO!! Por favor, faça que não seja tão ruim como eu imaginei…
Era ainda PIOR do que eu havia imaginado. Robbin ‘King’ Crosby estava sentado no meio da sala, pelado da cintura pra baixo em uma camiseta encardida, barbado, sujo e mal podendo sentar direito. Ele tinha ganho ainda mais peso e estava com uma barba grande já. Havia várias feridas GRANDES e abertas em suas pernas também. Ele estava branco feito um lençol e úmido de suor.
Ele diz, ‘awww, vem cá e me dá um abraço… eu senti sua falta’. A sala estava uma zona, tudo que você poderia esperar de uma cena típica de um filme que retratasse uma casa de drogados. Garrafas de mijo, bitucas de cigarro, cinzeiros sujos, latas de cerveja… cada centímetro do chão estava coberto de lixo. O calor e o fedor na sala eram insuportáveis. O belo apartamento dele estava em pedaços…
Ele podia ver o horror e meu rosto. As lágrimas estavam correndo por ele enquanto eu só perguntei uma coisa a ele… ’Por quê????’ Ele estava tremendo e se virou pro outro lado. Ele disse, gaguejando, ‘Por favor, não me odeie… por favor’. Eu disse a ele que o amava e nunca poderia odiá-lo… não havia mais nada a ser dito… nada mais que eu dissesse mudaria algo… eu pensei em tentar discutir com ele, mas eu sabia que ele não ouviria.
Eu não podia ficar ali. Eu simplesmente não conseguia suportar vê-lo daquele jeito. Saí rapidamente e em choque, sabendo muito bem que provavelmente não o veria de novo. Eu estava frustrado e queria fazer algo, mas lá no fundo, sabia que ele não tinha como parar. Ele não ia parar… os demônios dele eram fortes demais.
[an error occurred while processing this directive]Na tarde de uma quinta-feira, 6 de junho, eu recebi a ligação de minha esposa [eu estava no trabalho]. Ela estava chorando e só disse ‘Robbin… se foi’. Apesar de eu saber que aquilo ia acontecer, aquilo ainda me pegou como uma tonelada de tijolos… eu quase desmaiei. Todas as esperanças e aspirações dele pro futuro agora não tinham nenhum sentido… todo o progresso feito à custa de trabalho duro que ele havia feito nos seis meses anteriores não significava nada… eu me senti tão vazio. Eu ainda sinto esse espaço vazio. [...]
Continua...
AIDS & Heroína - Os Últimos Dias de Robbin Crosby
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