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Thick As A Brick: 40 Anos do clássico do Jethro Tull

Por Luiz Carlos Barata Cichetto
Postado em 05 de maio de 2012

Há quase que exatos quarenta anos, em 3 de Março de 1972, saia na Inglaterra e Estados Unidos um dos melhores discos da história do Rock, e porque não falar, da música do Século XX. Quinto álbum de estúdio da banda britânica Jethro Tull, foi criado como uma espécie de resposta de Ian Anderson à reação da crítica ao álbum anterior Aqualung que o definira como sendo um disco conceitual, rótulo que ele rejeitou veementemente. Decidido então a criar uma obra que fosse a síntese de todos os discos conceituais realizados até aquele momento, Ian escreveu Thick as a Brick, uma obra que se integrava deliberadamente em torno de um conceito: um poema escrito por um precoce garoto inglês que fala sobre os desafios de envelhecer.

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A idéia criada de que seria esse garoto fictício chamado "Gerald Bostock", ou "Little Milton", de oito anos, começava na arte da capa, que reproduzia um tablóide com "notícias" sobre ele e seu extenso poema. Ainda hoje muitos acreditam que Gerald Bostock era uma pessoa real, e que teria sido realmente o compositor real das músicas.

A edição original do LP, nas edições inglesa e americana continha o falso jornal de 12 páginas, mas teve de ser reduzido ou mesmo completamente suprimido quando do lançamento original na América Latina e Ásia devido aos custos de impressão. O lançamento em CD também comprometeu a arte da capa, reduzida para se adequar ao formato. Aliás, Thick as A Brick é um disco de uma única música dividida em duas partes em função da limitação de tempo de um LP e no CD aparece em algumas edições como faixa única.

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A audição de Thick as a Brick não é das coisas mais simples, pois requer uma atenção às nuances, variações e quebras de ritmo. É preciso um pouco de paciência quando nunca se escutou algo parecido, pois sem isso o disco, principalmente a quem não sabe inglês e, portanto não entende a extensa e magnífica poesia hipoteticamente criada por um garoto gênio de oito anos, pode ser uma experiência não muito agradável.

E acredito que mesmo Ian Anderson tinha consciência disso, ao começar avisando "Realmente não me importo se você agüentará até o fim" para depois se desculpar: "Minhas palavras são um sussurro, sua surdez, um grito". E se conformar; "Eu posso fazê-lo sentir, mas não consigo fazê-lo pensar." A saga prossegue mas sempre as figuras do Poeta e do Sábio, permeiam o desenrolar das "visões" de "Little Milton", nome criado numa clara alusão ao poeta John Milton.

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Quem são os sábios e quem são os "burros feito uma porta"? O poeta e o pintor são apenas bobos da corte que "projetam sombras na água", que guardam suas penas enquanto o soldado arma sua espada. A conclusão é de que somos todos tolos, acreditando que o Super Homem poderá resolver nossos problemas e que finalmente Robin salvará o dia. "O toque de recolher anuncia o fim da peça... Enquanto tolo brinda seu Deus no céu"...

Mas, Bostock é um garoto que teme o crescimento e sofre com sua situação social. "Um filho nasceu, e decretamos que ele servirá à luta/ Há espinhos em seus ombros.", "Eu os julgarei a todos e terei certeza de que ninguém me julgará", ameaça, para depois perguntar: "Então, onde diabos estavam os Biggles quando você precisou deles sábado passado?", uma clara critica àqueles que esperam de ídolos a resposta às suas angústias, afinal, "Estão todos descansando em Cornwall, escrevendo suas memórias / Para uma edição comemorativa do Manual de Escoteiro Mirim." Os heróis não poderão sair das páginas dos jornais e das histórias em quadrinhos e nos salvar, pois afinal eles não sabem o que é sentir-se burro feito uma porta.

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Desde meados da década de 70 quando na Rolling Stone Brasil saiu um texto sobre Thick as A Brick do Jethro Tull, publicado posteriormente no livro de Luiz Carlos Maciel, que tinha criado por ela um interesse muito forte, mas achava muito estranha e sem sentido a tradução de Okky de Souza: "Espesso Como Um Tijolo". Parecia uma tradução literal e sem sentido, mas eu lia e relia a letra, buscando as interpretações poéticas e filosóficas contidas naquela obra-prima.

Acredito que tenha sido por volta de 2001 que tive contato com uma tradução em um blog que muito me interessou. O tradutor era Eduardo Krieck e o titulo era traduzido como "Cabeça Dura". Agora fazia um pouco mais de sentido, em relação ao contexto. Um ou dois anos depois, passei a ter um vizinho que era escocês de nome William e comentei com ele sobre isso. Segundo ele, "Thick as a Brick" era uma gíria deles que significava algo como "Burro Feito Um Tijolo". Saquei de imediato. E agora, tempos depois cheguei a uma adaptação usando as traduções do Eduardo e do Okky, usando "Burro Feito Uma Porta", que em português do Brasil, faz mais sentido, dentro do contexto original.

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Thick As A Brick
Ian Anderson
Tradução: Eduardo Krieck e Okky de Souza / Versão Final: Luiz Carlos Barata Cichetto

Parte Um:

Realmente não me importo se você agüentará até o fim
Minhas palavras são um sussurro, sua surdez, um grito
Eu posso fazê-lo sentir, mas não consigo fazê-lo pensar
Seu esperma na sarjeta, seu amor no esgoto
Assim vocês cavalgam pelos campos
E vocês fazem todos seus negócios bestiais
E seus sábios não sabem como é se sentir
Sendo burro feito uma porta.

E as virtudes, castelos de areia são todas varridas
Na destruição da maré o entrevero moral
O toque de recolher anuncia o fim da peça
Como as últimas ondas revelam o caminho novo
Porém seus sapatos novos têm os calcanhares gastos
E seu bronzeado descasca rapidamente
E seus sábios não sabem como é se sentir
Sendo burro feito uma porta

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E o amor que eu sinto está tão longe
Eu sou um sonho ruim que eu tive hoje
E você balança sua cabeça
E diz que isto é uma vergonha
Faça-me voltar aos anos e dias de minha juventude
Solte o laço e as cortinas negras e cale toda a verdade.
Leve-me às eras distantes, deixe que cantem a canção

Veja lá! Um filho nasceu, e decretamos que ele servirá à luta
Há cravos em seus ombros
E ele se mija à noite
Nós faremos dele um homem o colocaremos no comércio
Ensinaremos a jogar Monopólio, não a cantar na chuva.

O poeta e o pintor projetam sombras na água,
Enquanto o sol bate na infantaria que volta do mar
O fazedor e o pensador: sem tolerância um com o outro,
Enquanto a fraca luz ilumina a crença do mercenário
A lareira acesa: o caldeirão quase fervendo
Mas o mestre da casa está distante
Os cavalos deixam pegadas, sua respiração quente se condensa
Na manhã cortante e gelada do dia
E o poeta ergue sua caneta enquanto o soldado embainha sua espada
E o caçula da família move-se com autoridade
Construindo castelos no mar, ele desafia a maré tardia
A arrastá-los todos para longe.

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O gado pastando tranqüilamente na beira do rio
Onde as águas da montanha movem-se em direção ao mar
O construtor dos castelos renova o antigo propósito
E contempla a menina ordenhadora cuja oferta é sua necessidade
Todos os jovens da casa saíram a serviço
E não serão esperados dentro de um ano.
O jovem e inocente mestre, pensa movendo-se cada vez mais rápido
Formulou o plano para transformar o homem que aparenta ser
E o poeta embainha sua caneta enquanto o soldado ergue sua espada
E o mais velho da família move-se com autoridade
Vindo do além-mar ele desafia o filho
Que o pôs para correr.

O que você faz quando o homem velho parte?
Você quer ser ele?
E seu eu verdadeiro canta a canção
Você quer libertá-lo?
Ninguém para ajudá-lo no trabalho pesado
E o remoinho de água o desnorteia

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Eu desci da classe alta para consertar seus modos podres
Meu pai era um homem de poder a quem todos obedeciam
Então, venham, criminosos! Eu os colocarei na linha
Assim como fiz com meu velho, vinte anos atrasado

Seu pão e água esfriando, seu cabelo é curto e impecável
Eu os julgarei a todos e terei certeza de que ninguém me julgará

Você torce seus dedões dos pés de brincadeira enquanto sorri a todos
Você conhece os olhares fixos, não imagina que suas tarefas ainda não acabaram
E ri mais sadicamente enquanto nos diz como não devemos ser
Mas como podemos saber para qual lado devemos correr?

Eu o vejo andando pelo tribunal com seus anéis nos dedos
Suas pequenas costeletas peludas e seus sapatos com fivelas de prata
Jogando por uma causa perdida, você segue o exemplo do ídolo
Dos quadrinhos que o permite burlar as regras.

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Então, venham todos vossos heróis de infância, não levantar-vos-ei das páginas
De vossos quadrinhos, vossos super vilões e nos mostram o caminho?
Bem! Fazei vossos desejos e testamentos, não vais participar do seu governo local?
Nós teremos super-homem para presidente, deixe que Robin salve o dia
Você aposta no número um e ele sempre vence
As outras crianças já desistiram e o colocaram em primeiro lugar na fila
Então finalmente você se pergunta o quão grande é
E conquista seu lugar em um mundo mais sábio de maiores carros motorizados
E você imagina a quem poderia chamar.

Então, onde diabos estavam os Biggles quando você precisou deles sábado passado?
E onde estão todos os Desportistas que sempre o incentivaram?
Eles estão todos descansando em Cornwall, escrevendo suas memórias
Para uma edição comemorativa do Manual do Escoteiro Mirim.

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Parte Dois:

Veja lá! Um homem nasceu, e nós decretamos que ele serve para paz
Há uma carga em seus ombros com a descoberta de sua doença
Nós vamos tirar a criança dele, colocá-la em testes
Ensiná-la a ser um homem sábio para o restante.

(Estaremos preparando para a média e não o excepcional)
(Deus é uma responsabilidade esmagadora)
(Andamos pela ala da maternidade e vimos 218 bebês usando roupas sintéticas)
(Diz aqui que gatos estão evoluindo, evoluindo?)

No esplendor dos suaves halos de manhãs maravilhosas
Eu assumo meu posto com o senhor das colinas
E os soldados de olhos azuis de pé estão levemente descorados
Em pequenas filas organizadas, envergando babados de lona

Com suas sungas beliscando, eles descansam da posição de sentido
Enquanto fazem fila para sanduíches na cantina do escritório
Cantando: "Como está sua vovó e o bom velho Ernie
Ele pagou dez libras como recompensa pela união.
As lendas (escritas no antigo hino tribal
Embaladas no chamado da gaivota
E as promessas que eles fizeram estão enterradas embaixo da cachoeira do sádico.

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O poeta e o sábio ficam atrás da arma
E sinalizam para o romper da manhã, acendam o sol
Você acredita no dia? Você acredita no dia?

O Amanhecer da Criação dos Reis começou
Suave Vênus (donzela solitária) traga aquele que não envelhece
Você acredita no dia? Você acredita no dia?
O herói decadente retornou à noite
E totalmente inspirados pelo dia, os sábios endossam a visão do poeta
Você acredita no dia? Você acredita no dia?

Deixem-me contar-lhes as histórias de suas vidas
Do corte e da punhalada da faca
Da opressão incansável da sabedoria instilada
Do desejo de matar ou morrer.
Deixem-me cantar sobre os perdedores que mentem
Que vivem na rua enquanto o último ônibus passa
As calçadas estão vazias, nas sarjetas escorre o vermelho
Enquanto os tolos brindam seu deus no céu

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Então vide vós, jovens que estais construindo castelos!
Marcai gentilmente a época do ano
E uni-vos vossas vozes em um coro infernal
Marcai a precisa natureza de seu medo

Deixai-me ajudar-vos a juntar vossos mortos
Enquanto os pecados dos pais são alimentados
Com o sangue dos tolos e com os pensamentos dos sábios
E pela panela debaixo de sua cama
Deixem-me apresentar-vos uma canção
Sobre como o homem sábio peida e se retira
E como tolo com a ampulheta tem suas esperanças frustradas
E o verso infantil renova o ar.

Então! Vinde vós, jovens que estais construindo castelos
Marcai amigavelmente a época do ano
E uni vossas vozes em um coro infernal
Marcai a precisa natureza de seu medo.
Vede! As tempestades de verão lançam seus raios em vós
E a hora do juízo final se aproxima
Você seria o tolo em pé, de armadura
Do homem mais sábio que corre sem ela?

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Então! Vinde vossos heróis de infância! Não saireis das páginas
De vossos quadrinhos, vossos super-inimigos, e mostrar-nos-eis o caminho a seguir?
Bem, fazei vossos desejos e testamentos, não vais participar do seu governo local?
Nós teremos super-homem para presidente, deixe que Robin salve o dia.

Então! Onde diabos estavam os Biggles quando você precisou dele sábado passado?
E onde estão todos os Desportistas que sempre o incentivaram?
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Assim vocês cavalgam pelos campos
E vocês fazem seus negócios bestiais
E seus sábios não sabem como é sentir-se
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Sobre Luiz Carlos Barata Cichetto

Sou Barata, nascido Luiz Carlos, no dia do Anti-Natal, do ano da Graça do nascimento de Madonna, Michael Jackson, Bruce Dickinson, Cazuza e Tim Burton. Sou poeta, escritor, produtor e apresentador de Webradio, produtor de eventos e procuro pagar as contas trabalhando com criação de sites. Crescí escutando Beatles, Black Sabbath, Pink Floyd e Led Zeppelin. Participei da geração mimeógrafo nos anos 1970, mas quando chegaram os filhos, deixei de ser poeta e fui tentar ser homem, o que no entender de Bukowiski é bem mais difícil. Escrevo poemas desde que comecei a criar pêlos.... nas mãos. Trabalhei como office-boy, bancário, projetista de brinquedos e analista de qualidade. No final do século XX, acordei certo dia de sonhos intranquilos e, transformado em um ser kafkiano, criei um projeto cultural na Internet nos moldes dos antigos panfletos mimeográficos. Mesmo antes de meu processo de metamorfose, nunca deixei de cometer poemas, contos e crônicas. E embora tenha passado dos três dígitos o numero de textos escritos, nunca ganhei um prêmio literário. Fui apaixonado por Varda de Perdidos no Espaço, Janis Joplin, Grace Slick e Sonja Kristina; casei quatro vezes e tenho dois filhos, Raul e Ian. Atualmente sou também editor, costureiro e colador de livros, num projeto de editora artesanal.
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