Criss Oliva: A guitarra na alma
Por Henrique Coelho
Postado em 05 de junho de 2009
Percebe-se, quando algum artista importante morre, que o número de homenagens cresce assustadoramente, mesmo que o reconhecimento de sua importância em vida não tenha acontecido como o próprio artista merecia. No mundo da música, então, a tendência é de endeusar determinados instrumentistas ou cantores, muitas vezes por fatores pouco ligados à música. No entanto, o caso de Criss Oliva, guitarrista da banda de heavy metal estadunidense Savatage, chama a atenção exatamente por ser menos lembrado ainda do que quando tocava em vários palcos ao redor do mundo e maravilhava os fãs do estilo com riffs inspirados e muita criatividade e emoção em seus solos. Um dos melhores guitarristas de sua geração, Criss sempre será lembrado por sua habilidade com o instrumento e pelos trabalhos que lançou pelo Savatage em parceria com o irmão, o vocalista e tecladista Jon Oliva, que sempre o classificou como um gênio musical, opinião semelhante à de vários músicos que trabalharam com ele durante sua trajetória.
Cristopher Michael Oliva nasceu a 4 de abril de 1963 em Pequannock, Nova Jérsei, e desde cedo demonstrou habilidade com as seis cordas do violão, sem qualquer espécie de ensino téorico, o que não o impediu de se mostrar rapidamente um músico com muito potencial. Jon Oliva já declarou diversas vezes que Criss passava 6 ou 7 sete horas tocando, isso quase todos os dias. Aos 16 anos, montou com o irmão Jon a banda que seria o embrião do Savatage, o Avatar, quando a família Oliva já havia se instalado na baía de Tampa, no estado da Flórida. Com 17 anos, venceu um concurso local de guitarristas tocando "Eruption" do Van Halen, demonstrando assim que ali se encontrava um guitarrista muito talentoso e que logo alcançaria o sucesso.
Em 1983 veio o primeiro Ep (gravação longa demais para ser um single e curta demais para ser um álbum), "City Beneath The Surface", e logo depois ocorreu a mudança definitiva do nome do grupo para Savatage, meses antes do lançamento do disco de estréia, Sirens, no mesmo ano. Com um pouco mais de experiência (embora o primeiro disco já fosse muito bom para os padrões de uma estréia), a banda lançou em 1984 o Ep "The Dungeons Are Calling", seguido em 1985 pelo disco "Power Of The Night", talvez o principal exemplo dessa fase inicial da banda, com Jon Oliva cantando muito e fazendo sólidas bases de teclado, Criss Oliva dando conta das duas guitarras com riffs cortantes e furiosos e solos recheados de técnica e muito "feeling", além da ajuda competente de Keith Collins no baixo e Steve Wacholz na bateria.
Em 1986, o grupo lança o registro "Fight For The Rock", que apesar de apresentar bons momentos foi feito com um direcionamento mais comercial e completamente diferente do que o grupo havia feito até então. Uma mudança era necessária,e ela atendia pelo nome de Paul O´Neill.
Paul foi produtor de musicais da Broadway como "Jesus Christ Superstar" e "Hair", além de ter sido um dos maiores produtores de shows no Japão durante os anos 80. E começou sua lendária e muitíssimo bem-sucedida parceria com o Savatage em 1987 com o álbum "Hall Of The Mountain King", considerado por muitos o melhor da carreira da banda, com performances inesquecíveis de Jon e Criss Oliva, que juntou suas influências com a produção de Paul para criar alguns de seus melhores riffs, como os da faixa-título e "White Witch".
Para o álbum seguinte, "Gutter Ballet", de 1989, mais mudanças: Chris Caffery entra como segundo guitarrista e a banda decide por um caminho mais parecido com uma rock-opera, um estilo progressivo e bombástico que seria seguido nos seus trabalhos posteriores. Nesse disco, Criss mostra todo seu talento no instrumento em canções como "Gutter Ballet", "Summer´s Rain" e na instrumental "Tempation Revelation", algumas de suas melhores performances em estúdio.
A banda adentra a década de 90 com o sensacional "Streets - A Rock Opera", de 1991, levando ainda mais a fundo a proposta do disco anterior e definitivamente colocando Criss Oliva em um patamar destacado dentro do cenário mundial de guitarristas, com a banda fazendo turnês mundiais com nomes consagrados do heavy metal da época e fazendo um sucesso considerável para uma banda do estilo. Jon Oliva decide então deixar o posto de vocalista, e em seu lugar entra Zachary Stevens. É lançado em 1993 o disco "Edge Of Thorns", definitivamente um dos melhores discos de metal da década, com o vocalista estreante mostrando a que veio e Criss Oliva no auge de sua forma, com uma versatilidade incrível e performances espetaculares em faixas como "Edge Of Thorns", "Follow Me" e "All That I Bleed", que passaria a ter um significado muito especial naquele mesmo ano.
No dia 17 de outubro, Criss Oliva se dirigia a um festival de música com sua esposa, Dawn Oliva, quando um caminhão atingiu o carro que levava o casal em cheio. Criss Oliva chegou a ir para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu aos 30 anos de idade, para tristeza de todos os fãs e de todos que lamentam que um músico de tanto talento possa morrer tão cedo, ainda mais sem ter culpa no acontecido.
Guitarristas competentíssimos passaram pelo posto deixado por Criss, a banda ainda lançou mais quatro discos de estúdio e um ao vivo, mas, segundo o próprio Jon Oliva, o Savatage morreu juntamente com seu guitarrista. Depois do acidente fatal, "All That I Bleed" foi tocada em quase todos os shows do Savatage em forma de homenagem. Uma homenagem pequena, mas necessária e muitíssimo bem-vinda para que não se esqueça quem foi Cristopher Michael Oliva, um dos guitarristas mais extraordinários surgidos nas décadas de 80 e 90 e que poderia estar fazendo história hoje em dia não fosse a imprudência de um motorista alcoolizado. Uma pena para a música, mas permanece firme a certeza de que os fãs não o esquecerão jamais.
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