Jimi Hendrix: algo especial, difícil de ser definido em palavras
Por Marcos A. M. Cruz
Postado em 18 de setembro de 2000
Por mais estranho que possa parecer, quem me encaminhou até Jimi Hendrix foi, de certa forma, a também saudosa Elis Regina... tudo começou com a morte desta última, em janeiro de 1982, que como sabemos foi ocasionada por overdose de cocaína. No ano seguinte, meio que fazendo uma analogia com sua morte, lançaram uma coletânea da Janis Joplin (Forever), e minha também saudosa mãe (falecida num acidente de carro em junho de 1990) me pediu que comprasse o LP, pois assistira ao comercial na TV e se lembrara de alguns músicas que ouvira durante sua adolescência (notadamente "Summertime").
Nesta época eu era então um adolescente de 16 anos de idade já vidrado por música, mas que ainda não havia descoberto minha "veia roqueira", embora já tivesse alguns poucos discos de artistas como Alice Cooper, Beatles e outros, pois estava mais ligado nos hits da Rádio Mundial (RJ), essas coisas todas...
Dirigi-me até uma loja e pedí o disco. O vendedor me falou para ver numa prateleira, e lá estava ele, atrás de um disco do tal de Jimi Hendrix... lembro-me de ter pego este, olhado a contracapa e achado os caras "meio estranhos"... creio que na época nem soubesse quem era quem...
Voltando para casa, eu e mamãe nos sentamos na sala e começamos a ouvir o disco da Janis... logo no começo do disco, justamente enquanto rolava "Summertime", estávamos ambos aos prantos...
Desde este dia em diante me tornei fã incondicional da Janis, e comecei a me interessar um pouco mais por Rock, acabando por ir atrás de revistas sobre o assunto, principalmente sobre Janis, e como se sabe, muitas vezes o nome dela está atrelado ao de Hendrix, pelo fato de ambos serem considerados dois dos principais ícones do Rock surgidos (e desaparecidos) na década de 60; então 'por tabela', acabei conhecendo um pouco de sua história.
Eis que, ainda neste ano (provavelmente por volta de setembro), ouvindo justamente a Rádio Mundial o locutor fez algum comentário sobre as mortes de ambos, e rolou um som de cada: primeiro a indefectível "Summertime" da Janis, e depois uma música do Hendrix (infelizmente não lembro qual era).
Confesso que à primeira audição aquele som me soou meio esquisito... mas ao mesmo tempo me despertou uma certa curiosidade... passados alguns dias resolví voltar à loja e comprar o disco do tal de Jimi Hendrix. Chegando lá, revirei as estantes mas não o encontrei. Perguntei ao vendedor, que me informou que não tinham nada dele naquele momento, mas se eu quisesse ele poderia me gravar uma fita K7. Negócio fechado.
Alguns dias depois, mais precisamente num sábado, voltei à loja para pegar a tal fita. Como morava no subúrbio e tinha outras coisas para fazer, acabei retornando para casa somente à noite, onde rapidamente tomei um banho, jantei e fui ver uma garota, adiando então a audição para a hora que retornasse.
Bem mais tarde, quando finalmente voltei para casa, como de praxe fui para o meu quarto onde ficava trancado ouvindo rádio até altas horas da madrugada, só que desta vez tinha uma fitinha para ouvir, e que iria definitivamente mudar minha vida...
Como havia acontecido antes, de início estranhei o som... mas após ouvir umas duas ou três músicas algo começou a acontecer... e antes de terminar o final do lado A eu estava chorando... e sentí que, a partir daquele momento, algo havia mudado em minha vida...
Resumindo: atravessei a noite ouvindo a fita, e desde esse dia em diante me tornei Roqueiro (com R maiúsculo e muito orgulho!). Se Janis chamou minha atenção, Hendrix foi o responsável por me apresentar de fato a este universo, onde com o passar dos anos fui me aprofundando cada vez mais e mais, tendo naturalmente passado por diversas fases diferentes: ora me apaixonei pelo chamado BRock (tive o prazer de assistir várias bandas então iniciantes no Circo Voador), ora resvalei para o Metal (isto depois do Rock In Rio em 1985), depois passei a ouvir só Progressivo, etc, etc...
Mas algo nunca mudou em minha vida: em todas estas fases sempre houve lugar para a música de Jimi Hendrix, pois foi graças a ele que hoje sou o que sou. É meio difícil explicar estas coisas para qualquer jovem que tenha crescido ouvindo os guitarristas extremamente técnicos que surgiram depois, aliás mesmo em sua época já haviam verdadeiros "monstros sagrados", ora mais técnicos (Jeff Beck), ora mais rápidos (Alvin Lee).
Mas Hendrix, pelo menos para mim, possui algo especial, muito difícil de ser definido em palavras, pois sua arte expressa sentimentos ambíguos e sensações que estão além da nossa capacidade de verbalização...
Como citei uma vez num outro texto, talvez a melhor descrição de sua arte tenha sido a feita por Francisco Beato numa matéria para a revista VIP Exame em outubro de 97:
"Hendrix é como o primeiro trago em um havana, o primeiro gole de Jack Daniel's, a noite inaugural de sexo com aquela namoradinha do colégio: você estranha, acha o sabor áspero e pode até se decepcionar, respectivamente. Depois de algum tempo, aprende a gostar e jamais esquece."
Thank you very much, Jimi!
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



AC/DC anuncia show extra no Chile e encerra adição de datas na América do Sul
A opinião de Rafael Bittencourt sobre bandas que ficam se apoiando no "Angraverso"
Cinco músicas totalmente excelentes lançadas em 2025
O álbum que rachou o Deep Purple: "O Jon gostou da ideia, mas o Ritchie não"
Os 25 melhores álbuns do metal britânico, segundo o RYM
A banda que "chutou o traseiro" do Rage Against the Machine, segundo Tom Morello
Como James Hetfield, do Metallica, ajudou a mudar a história do Faith No More
West Ham une forças ao Iron Maiden e lança camiseta comemorativa
A música do Queen que Freddie Mercury só tocava no "piano errado"
O guitarrista que é o melhor da história e supera Jimi Hendrix, segundo Steve Vai
A música que encerrou todos os shows que o AC/DC fez no Brasil
Os dois solos que, para Ritchie Blackmore, inauguraram a "guitarra elétrica inglesa"
A opinião de David Ellefson sobre a icônica linha de baixo de "Peace Sells"
Internautas protestam contra preços de ingressos para show do AC/DC no Brasil


Jimi Hendrix sobre o que passou em sua cabeça quando ele queimou a guitarra no palco
A clássica do rock que Sammy Hagar chamou de "uma das piores gravações de todos os tempos"
A banda mais inovadora para Geddy Lee; "Houve muitos imitadores, mas nada chega perto"
O guitarrista que Steve Vai diz que nem Jimi Hendrix conseguiria superar
O músico que Neil Young disse ter mudado a história; "ele jogou um coquetel molotov no rock"
A música que Jimi Hendrix estava de saco cheio de tocar ao vivo
Patti Smith relembra como foi conhecer Jimi Hendrix: "Poeta maravilhoso"
O curioso motivo que leva Robert Smith a ser fã de Jimi Hendrix e David Bowie ao mesmo tempo
Iron Maiden: a tragédia pessoal do baterista Clive Burr
Lista: 12 músicas que você provavelmente não sabe que são covers


