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Viper: uma apresentação histórica em Fortaleza

Resenha - Viper (Garota de Ipanema, Fortaleza, 22/09/2012)

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 30 de setembro de 2012

Devido a um atraso no vôo do VIPER, o show começou bem tarde do que o previsto. Sorte que quem esteve na Barraca Garota de Ipanema neste sábado pode esperar com a brisa maravilhosa do Oceano Atlântico. Cabe ressaltar que, apesar de estar localizada em plena Praia do Futuro, a área reservada aos shows não fica localizada na areia. Então, esta não é uma desculpa para não comparecer a este e a futuros shows no local, que é bastante agradável e conta com uma boa estrutura para shows deste porte.

Às 9h, sobe ao palco a banda COLDNESS, com "On A Great Speed", carro chefe do seu álbum "Existence". A longa "Justify Your Existence", com seus belos solos de guitarra e teclados veio em seguida. Cabe notar que o trabalho de Gabriel Ramalho (teclado) e Pedro Neto (bateria) fazem a diferença no som da banda. Também muito eficientes são o guitarista Wilton Bezerra e o baixista George Rolim, que, além de tocar muito bem, expressam sentir toda a dor que existe em seu som. Entre outras grandes músicas desta banda, "Live Now" e "My Forgotten Memories" foram executadas.

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Para a última música, "In The Mirror (No Choices)", Chico Saga, vocalista da banda de J-Music KAME RIDER, foi chamado ao palco para participar dos backing vocais (coisa que ele também faz nesta faixa no CD). Após cerca de meia hora de show, a banda agradeceu à Gallery Productions (a responsável pela presença do VIPER em Fortaleza), a ACR (Associação Cearense do Rock) e ao público e terminou seu show.

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Interessante ressaltar que um problema na iluminação deixou os músicos tocando praticamente no escuro. Sabe quando eu soube disso? Horas depois, conversando com alguns integrantes da banda. Eles foram surpreendidos pela falta de luz, tiveram dificuldade para continuar tocando, mas continuaram mandando ver e, por isso, quase ninguém chegou a perceber o que tinha acontecido. Parabéns a esses músicos.

Apesar deste fato pontual, a empresa que cuidou da iluminação do evento se mostrou uma escolha muito acertada da Gallery Productions. Eu, particularmente, sou avesso a "acrobacias luminosas". Prefiro ver a banda no palco do que ter um refletor na minha cara estragando o meu barato (lembra daquela brincadeira de pegar uma lanterna e jogar na cara do seu irmão? Pois é, muitas empresas acham que iluminar um show é fazer isso). Embora bastante rica, a iluminação jogou a favor da banda e da platéia. O som também estava muito bom (ao contrário do que li em algumas outras resenhas de outros shows da turnê). Não percebi nenhum problema e ainda ouvi elogios por parte de outras pessoas que estavam presentes no evento. Certamente, a empresa produtora, Gallery Productions, mostrou que cuidou muito bem de todos os detalhes para o show, um dos mais esperados do ano na capital cearense.

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Um fato inesperado e bastante agradável foi encontrar outro colaborador do Whiplash.net lá. O Igor Soares, além de uma pessoa extremamente simpática, me contou alguns detalhes sobre o Metal Open Air. Mas, não estamos aqui pra falar desse festival. Estamos aqui para falar de um show a cargo de um dos produtores mais sérios da região, Emydio Filho, da Gallery Productions.

Enquanto aguardávamos os últimos minutos dos 25 anos que levou para ouvirmos o "Soldiers of Sunrise" e o "Theatre of Fate" ao vivo na íntegra, a ansiedade era tanta que a galera chegou a fazer roda de mosh enquanto "Fight Fire With Fire" rolava nas P.As. Dez minutos depois das onze da noite, finalmente o VIPER sobe ao palco. Guilherme Martin assume as baquetas em plataforma ao centro do palco, Hugo Mariutti e Pit Passarell do lado esquerdo, Felipe Machado, do lado direito e ao centro, Andre Matos iniciaram este show histórico com "Knights of Destruction" e "Nightmares", com o "ô ô ô ô" que foi cantado por cada viva alma que lotava o Garota de Ipanema.

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Depois de "The Whiper", na primeira das muitas vezes que Andre Matos se dirigiu à plateia, ele exclamou: "que lugar do caralho pra fazer um show. Estamos na pontinha do mapa. Vamos mandar vibrações para o outro lado do Oceano Atlântico". E o show continuou com "Wings of the Evil" e "Signs of the Night".

O baixista Pit Passarell confirmou sua posição de segundo frontman da banda, interagindo muito com o público, dançando ridiculamente, fazendo mugangos (quem já foi ao Ceará sabe do que estou falando) e sendo ovacionado pelo público que gritava em coro: "Pitê, Pitê, Pitê".

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Percebia-se que tanto banda quanto expectadores estavam bastante felizes. "Não joga o baixo, Pit. Nem o baixista!", dizia Andre Matos. "Só tem um". E para o público: "Depois ele se joga, como aquele cara que se jogou...e sobreviveu!", referindo-se a um fã (o único) que conseguira furar o esquema de segurança e se jogado do palco ainda no início do show. E já tendo visto na platéia a "vestimenta" do grande Mister, figura icônica do underground cearense. Pedindo para abrir a luz sobre o cara e dizendo que o Dee Snyder estava na platéia, a banda improvisou, em homenagem a ele, uma cover de "We Are Not Gonna Take It" com Pit nos vocais.

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Cada vez estou mais convencido de que a idéia de tocar estes dois álbuns foi uma grade sacada. Em dois discos repletos de clássicos, alguma música excepcional acaba sempre ficando de fora. Não foi o caso de "Killera", anunciada por Matos como "a música embrionária, de quando o VIPER não tinha nem vocalista".

A sinergia com o público continuava. Tanto que Pit continuou empolgado e emendou "C'mon Feel The Noise", do QUIET RIOT e os músicos trocaram diálogos como estes que você confere abaixo:

Pit: Vou levar bronca.

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Andre Matos: Imagina, foi maravilhoso.

Andre Matos: Bom, então vamos tocar alguma coisa que a gente saiba tocar.

Andre Matos: Hugo Mariutti disse que ia votar na Bicha Muda.

Andre Matos: Vamos voltar para 1987, ano em que éramos meros adolescentes, com um sonho na cabeça e nos corações. Imaginávamos cenários idílicos em que conquistadores lutavam por sua honra, conquistadores lutavam por sua fé.

Felipe Machado: Para prefeito, Andre Matos. E para vice-prefeito, Pit Passarell.

Andre Matos: Em nome daqueles que viveram o final dos anos 80 e daqueles que gostariam de ter vivido, "Soldiers of Sunrise".

Sim, era a hora de uma das músicas mais esperadas da noite, um dos maiores sucessos do VIPER e, sem dúvida, um dos maiores sucessos do heavy metal produzido no Brasil. Entretanto, imagine agora a seguinte cena. Você passa a adolescência ouvindo uma música, a banda que você queria tanto ver não existe mais (pelo menos não da forma como você queria ver). Um dia, os caras resolvem voltar e você espera mais alguns meses até ter a confirmação do show. Depois da confirmação, alguns dias (que parecem meses) até que o dia do show finalmente chegue. Então, no ponto alto do show, o que você faz? Você fecha os olhos, passa por um estranho transe e não vê a banda tocando sua música favorita. O que é isso? Isso é heavy metal, meu amigo. E, ao final deste momento catártico, não havia ninguém no recinto que não estivesse entoando "Olê, Olê, Olê, VIPER, VIPER", que recebeu como resposta de Andre Matos um "Olá, Olá, Olá, Ceará, Ceará"

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Terminando "The Law of the Sword", Andre Matos perguntou: "Vocês estão preparados para o dobro disso? Temos que estar no avião às 5 da manhã, mas... foda-se". E "H.R." ("Heavy Rock") finalizou a primeira parte do show. Tempo para um breve descanso e assistir ao vídeo que tem sido apresentado em todos os shows dessa turnê.

Como novo show, às 12:10, a banda volta aos palcos. Dessa vez, menos comunicativa, afinal ainda haviam muitas músicas no set list. As primeiras músicas do "Theatre of Fate" ("At Least a Chance", "To Live Again", "A Cry From The Edge") foram as primeiras dessa segunda parte do show. Ao iniciar "Living For The Night", o maior sucesso do disco, mais momentos inesperados, provando por que este foi um show imperdível. A primeira parte da música foi cantada em uníssono pela platéia, Andre Matos foi fazer percussão ao lado de Guilherme Martin), Pit largou o baixo e apresentou a banda, começando por Fernando Machado. Ao apresentar Hugo Mariutti, disse: "Temos aqui alguém que é melhor que meu irmão, Yves". E a Andre Matos (que a essa altura tinha assumido o baixo), Pit referiu-se como "o melhor vocalista do mundo". Andre respondeu pedindo reverencia a Pit, "o compositor desse hino do heavy metal, o responsável por estarmos aqui, o primeiro a acreditar nesse sonho", ao que foi plenamente atendido pelo público e pelos colegas de banda.

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E Pit (com voz péssima pela "alegria" em demasia) cantou a segunda parte da música, deixando o finalzinho para Andre. Outra nota que é preciso fazer aqui é que a voz de André só melhora, passa o tempo, os anos, o próprio tempo do show e a voz dele só melhora. E mal termino de chegar a essa conclusão, quando André assume os teclados para a emocionante "Moonlight". Quantos pensamentos não passam por nossas cabeças numa hora destas.

O maestro Andre Matos regeu a platéia em "Prelude do Oblivion", a última da segunda parte do show. Com tantos shows na turnê, a breve saída dos músicos do palco retornando para um bis com alguns sucessos de outras fases da banda já não era surpresa para ninguém. E, sem Andre Matos, "Evolution" abriu a terceira e última parte do show.

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O coro "Everybody, everybody", de "Rebel Maniac" recebeu Andre de volta, quando Pit mais uma vez (e cada vez mais dando sinais de "felicidade extrema" larga o baixo, que foi assumido primeiro por um roadie e depois pelo próprio Andre Matos, em "We Will Rock You", clássico do QUEEN, que pôs fim à festa.

Enquanto "Always Look on the Bright Side of Life" tocava nas PAs, vi muita gente boa, músicos de bandas expressivas da cena local comentando o quanto este show foi histórico e correndo para o backstage em busca do tal "meet and greet", privilégio que ficou apenas para o Emydio Filho, da Gallery Productions, que trouxe a banda a Fortaleza. Se você ainda terá a oportunidade de assistir ao VIPER em sua cidade, ou perto dela, aceite a dica: vá. É perfeitamente possível que o baixista esteja bem "feliz", mas se todo o resto funcionar perfeitamente, como foi em Fortaleza, a força das músicas do VIPER, a competência da dupla de guitarristas, a fúria do baterista e o poder da voz de Andre Matos fará desta uma experiência inesquecível. E quem vai a um show de rock pra não ficar feliz (com e sem aspas)?

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O vídeo abaixo e uma extensa galeria de fotos do show, cortesia do Arquivo Underground, você encontra no link abaixo:

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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