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Iron Maiden: No Rio o jogo já estava ganho desde o início

Resenha - Iron Maiden (Claro Hall, Rio de Janeiro, 16/01/2004)

Por Rafael Carnovale e Anderson Guimarães de Carvalho
Postado em 16 de janeiro de 2004

Este jogo já estava ganho desde o início. Deve ser o que muitos pensaram quando os shows do Iron Maiden foram marcados, no final do ano passado. Afinal, a banda já vinha de uma bem-sucedida passagem por aqui em 2001, que gerou seu primeiro DVD ao vivo ("Rock In Rio") e o novo cd, "Dance of Death", embora controverso, agradou boa parte dos fãs. O único senão desta turnê ficava para o "set-list": previsível, com muitas músicas novas e os clássicos costumeiros, sem contar que o mesmo pouco ou quase nada foi modificado durante os shows da "Dance of Death World Tour". Então, restava aos fãs esperar por um show poderoso, com efeitos de palco inimagináveis e um Iron Maiden em grande forma.

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A banda chegou ao Rio de Janeiro no dia 15 (um dia antes do show), e concedeu uma rápida coletiva no Hotel Intercontinental, respondendo de maneira bem humorada perguntas previsíveis e algumas mais interessantes. Todos garantiam que o show estaria impecável e que os fãs não teriam do que se arrepender, apesar do ingresso salgado (a pista saía a 120 reais).

O Claro Hall dava sinais de que teria sua lotação mais do que esgotada desde o início da tarde do dia 16, quando vários fãs se aglomeravam aguardando ansiosamente a abertura dos portões, que ocorreu as 19:30, sendo que o show de abertura ocorreria as 20:30 e o show do Iron as 21:30. Rapidamente o local foi enchendo, mas não em sua totalidade.

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Estavam presentes cerca de 5000 pessoas, quando as 21:45 o quinteto carioca HEAVENFALLS começou seu show de abertura, com "At The Gates" e "Castles of Illusion" com problemas no som (a banda acabou não podendo fazer sua passagem durante a tarde) e com iluminação restrita. A banda inicialmente pareceu sentir o peso de estar abrindo para um dos maiores nomes do heavy metal mundial, e o tamanho da platéia, que se comportou de maneira fantástica, transmitindo muito apoio para Sabrina Carrión e cia, que aos poucos foram se soltando, levando músicas como "Design of Tomorrow", "Suffering Symphony" e o bem executado cover de "Perry Mason" (do sr. Ozzy). A banda neste momento já demonstrava mais segurança e domínio de palco, principalmente o guitarrista Vitor Montalvão, que agitava como um louco. Destaque para o baterista, que apesar de ter atravessado no começo, depois assumiu com competência o controle de seu "kit". Fecharam com "Inner Prision" e vários agradecimentos a galera, que respondeu de maneira entusiasmada. Apesar do nervosismo inicial, o HEAVENFALLS cumpriu com honras a tarefa de abrir um show mais do que especial

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No intervalo entre os shows podia-se notar a grandiosidade da produção. O piso era todo baseado nos desenhos de "Dance of Death" e o palco era a reprodução de um castelo medieval com duas muralhas (que serviam como plataformas) e um pano de fundo que imitava um portão. As 22:45 as luzes se apagam, o público entra em delírio e ouvimos os primeiros acordes de... "Doctor, Doctor''! Sim! O Iron começou seu show com o clássico do UFO em "playback", causando susto em alguns fãs mais novos, que sequer conheciam a música. Mas ao término desta, já podia se ver Nicko Mcbrain em sua bateria e dando o sinal para o Iron entrar com tudo executando "Wildest Dreams". Mesmo que a música seja um tanto quanto fraca, ao vivo a banda conseguiu dar uma nova dimensão, e a mesma contagiou o público. "Wrathchild" viria em seguida e a multidão entraria em delírio com um Bruce Dickinson ensandecido, que se não tem a mesma voz de alguns anos atrás, continua cantando muito bem, e com extremo domínio de palco e público. "Can I Play With Madness" viria em seguida, com o público cantando o refrão com todas as suas forças. Nesta música aconteceu o fato mais inusitado que jamais foi visto em um show do Iron por estas terras. Mr. Mcbrain conseguiu danificar a pele do bumbo de sua bateria (Bruce diria que "esta é a hora em que Nicko danifica sua bateria e temos que dar uma parada") e a banda fica sentada, enquanto roadies corriam desesperados para reparar o dano.

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Bruce aproveitou a parada forçada para mostrar que é um dos maiores "frontman" do metal atual: chamou Nicko para perto da galera, pediu para que ele apontasse o microfone para si ("muitos já morreram tentando fazer isso" ele diria) e ficou imitando o trote de um cavalo com a boca. A melodia fez com que seus colegas de banda dessem risada e arrancou aplausos na platéia. Para um show programado como o do Iron, aonde cada detalhe acontece no seu devido tempo, com uma programação rígida, esse momento só pode ser descrito como mágico. Bateria consertada, Bruce anuncia uma música de "Dance of Death" mas na verdade "The Trooper" faz o Claro tremer, com Bruce agitando a famosa bandeira Inglesa no topo das plataformas do castelo. Vale notar que o telão trocava o pano de fundo a cada música, e os efeitos de luz e som estavam perfeitos.

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Neste momento do show era a hora de começar a "Dança da Morte", e a faixa título do cd foi executada, com um Bruce vestido como a morte em pessoa (inicialmente ele estava de capa preta e máscara estilo veneziano), fazendo uma bela coreografia, auxiliada pela execução primorosa da música. "Rainmaker", o segundo single do cd, veio em seguida, e sua recepção pelo público foi excepcional, com as três guitarras soando muito bem ao vivo. "Brave New World" abriria o caminho para a conceitual "Paschendale" (que teve antes de sua execução várias explosões, algo similar ao que o Metallica fazia, e ainda faz, antes de tocar "One" e várias trincheiras sendo colocadas nas plataformas do castelo, com corpos de soldados mortos). Bruce veio vestido de soldado, e passou toda a música se enfileirando entre as trincheiras montadas na parte superior.

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Uma embolação monstruosa das três guitarras tentou introduzir "Lord of The Flies" (a única música da era Blaze no show), que foi tocada com Bruce modificando o tom, cantando em tons altos boa parte da mesma, com um bom resultado, embora o público não tenha sido tão receptivo a mesma. "No More Lies", do cd novo, já trouxe de volta a empolgação, com o público cantando todo o refrão, por mais que o mesmo soe repetitivo e a música seja meio cansativa. Aliás, todas as músicas de "Dance of Death" funcionaram muito bem ao vivo, sinal de que a banda soube usar seu repertório de maneira inteligente, aliando com maestria os recursos de palco com as músicas a serem executadas.

Mas era hora de por alguns clássicos no forno (literalmente) que o Claro Hall havia se tornado. O primeiro foi "Hallowed Be Thy Name". Após a execução deste, uma singela vela permaneceu acesa no palco escuro. Bruce assoprou, apagando sua chama, e introduziu "Fear of the Dark", levando o público ao delírio total. Muitas pessoas precisavam sair da pista e ficar mais atrás, para poderem respirar, e a agitação não parava. O "set" normal foi encerrado com "Iron Maiden" (e o famoso "Scream for Me Rio de Janeiro) e um Eddie imenso vestido de morte atrás do palco com sua foice apontando para o público (desde a turnê de "Seventh Son" o Iron não trazia um Eddie tão bem feito) e os 8000 fãs ensandecidos puderam dar uma respirada.

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A banda continua em boa forma. Nicko é um bom baterista, apesar de alguns erros perceptíveis, mas dá conta do recado. Steve Harris ainda agita bastante, e serve como um "tele-prompter" ambulante para Bruce, cantando todas as músicas, com seu baixo galopante em boa forma. Adrian Smith é mais contido, mas a elegância de seus solos e sua postura totalmente rockeira se sobressaem na banda. Dave Murray é a perfeição absoluta, mesmo errando, como o fez em "Hallowed be Thy Name" aonde precisou improvisar para corrigir o erro, coisa de quem sabe. Já Janick Gers, o eterno "lambão", é o "showman" da banda, embora suas coreografias, seus movimentos de palco e seus saltos chamem mais a atenção do que as bases e solos que toca. Muitas vezes Adrian ficava fazendo bases para solos de Dave e Janick.

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Vários bancos são colocados no palco e Bruce retorna, se espantando com o fato do gigante Eddie ainda estar no palco ("oops, ele ficou preso" disse para a platéia), e dá início a seus discursos inflamados. Se no Rock in Rio ele detonou Britney Spears, desta feita a vítima foi, de modo indireto, o Metallica. "Sempre que disserem que viremos para o Brasil e para a América do Sul, não cancelaremos nenhum show", o que gerou o singelo coro de "Hey, Metallica, vai tomar no cú!!!". Surpresos, e com uma cara de "o que diabos eles estão dizendo", a banda emenda a acústica "Journeyman" (talvez o número mais desnecessário do "set", mas que ainda assim foi cantado em uníssono). Os músicos saem rapidamente e um pano de fundo conhecido toma o palco, junto com uma narração em tom grave.... era a hora de "Number of the Beast", que fez o público urrar "666" por todo o lado. Eddie apareceria de novo, andando pelo palco, sendo saudado por todos e Janick teria seu maior momento de destaque, ao brincar com o mascote da banda. Sem tempo para pensar, "Run to the Hills" invade o recinto, e o show se encerra, após duas horas de muito heavy metal.

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O "set" não era dos melhores, o cd novo não é o melhor da banda, mas o Iron conseguiu um fato marcante: trazer uma seleção de músicas de razoável a fraca e fazer um showzaço. Faltaram dezenas de clássicos, mas a banda continua no topo, e parece que não sairá deste tão cedo. Sorte dos brasileiros, que poderão conferir tal show várias vezes, pois a banda prometeu vir ao Brasil em todas as turnês (exceto as de aquecimento... aonde o repertório é mais eclético.. porque?).

UP THE IRONS!!!

Agradecimentos:
Bianca Sena (Claro Hall - CIE)
Deborah Fortunato, Alex e Horácio (Mediamania)
Marcelo Rossi (Fotos)

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