Wacken: Lições para o público e organizadores do Brasil
Por Gracielle Fonseca
Fonte: Festivalando
Postado em 07 de dezembro de 2015
Depois dos fiascos de público de alguns festivais de metal brasileiros em 2015 (e o Metal Land, infelizmente, está entre eles), era inevitável o aparecimento dos textos inflamados, das linhas apaixonadas enaltecendo o Wacken Open Air, mostrando a distância que nos separa das edições recentes do festival alemão, criticando duramente público e, de vez em quando, até organizadores. A gente também tem paixões e sentimentos por aqui, porém, sabemos que esse tipo de texto não ajuda muito na movimentação das coisas.A informação, pelo contrário, de vez em quando serve para abrir os nossos olhos.
E foi por isso que decidimos mostrar alguns pontos da história do Wacken Open Air e conversar com o seu fundador, Thomas Jensen, para saber um pouco sobre a trajetória daquilo que hoje é o maior festival de heavy metal do mundo. Mas antes de eu transcrever parte da entrevista para vocês, coloco algumas conclusões que tirei dessa conversa e de outras observações:
Brasileiros olham para os resultados e não para o processo.
Às vezes eu tenho a impressão de que, parte das pessoas que vão aos festivais de metal no Brasil - sobretudo, as brand lovers, ou seja, aquelas que só vão em festivais que já nascem mainstream ( Rock in Rio, Monsters Of Rock), parece que elas acreditam piamente que um festival do tamanho do Wacken já nasceu gigante e magnífico do jeito que ele é. Posso estar errada, mas duvido que muitas delas tenham se dado ao trabalho de olhar a aba "história", lá no site do festival. Duvido que muitas deram uma sacada nesses números aqui:
Sim, meus/minhas caros e caras, o Wacken já foi um ~festivalzinho de merda~ com apenas 6 bandinhas, para usar o vocabulário com o qual muita gente se refere aos festivais brasileiros iniciantes. Nos idos de 1990 eram apenas seis bandas e pior, seis bandas unicamente alemãs! Que coisa feia, hein? Cadê as grandes atrações internacionais, Wacken?? Aonde estão aqueles quilos de equipamentos de palcos, montagem de som, equipes grandiosas, carros, cadê?
Pois bem, todo mundo precisa começar de algum lugar, e às vezes tem que ser do "zero", mesmo (e espero que todos tenham entendido o tom irônico do parágrafo anterior). O crescimento do número de bandas e do público do Wacken Open Air veio com o tempo, como mostram os gráficos. A diversificação do Line up, com bandas de diferentes estilos e países, também veio com o tempo, como pode ser visto nos cartazes anteriores do festival.
No entanto, me parece que o público dos festivais brasileiros não permite que eles comecem do zero. E digo mais, essa cultura arraigada de que se tem que ser grande e igual aos europeus desde o início faz com que os próprios organizadores não se permitam começar do zero. E isso resulta em muitos fiascos que já vimos por aí, como O Metal Open Air, em São Luís do Maranhão, e o Zoombie Ritual, em Rio Negrinhos, Santa Catarina.
Um festival mainstream nunca vai ter os trejeitos de algo que nasce underground
Não acho ruim ter festival main stream, desde que não seja com exageros em que você não consegue andar poucos metros de festival sem esbarrar em um patrocinador. Mas, é preciso entender que os festivais que nascem underground, como é o caso do W:O:A, eles têm uma outra vibe.
Por mais que comecem a crescer e arrecadar grana, existe outro jeito de organizar as coisas e de o público interagir que não são conseguidos quando existem orientações puramente comerciais.
Os festivais feitos por fãs, e não por empresários, conseguem captar, com sensibilidade de fã, as atividades e atrações com as quais aquele público possui maior afinidade. Muita gente que pertence à comunidade metalhead brasileira vai ao Rock In Rio porque é fisgado por alguns nomes estratégicos. Mas não é o festival que o faz sentir em casa, e realmente junto de seus pares em uma situação de festival.
Mas, para que um festival underground tome proporções de Wacken e ofereça experiências semelhantes, é necessário tempo de maturação.
É necessário ser primeiro, com o pé no chão, para depois gritar aos quatro cantos suas qualidades
Uma coisa que é bem recorrente entre alguns festivais de metal por aqui é anunciar, desde o início, que são o maior festival no estilo.
Migxs, apenas parem. Antes de qualquer jogada ~estratégica~ só que picareta de marketing, é preciso de fato ser, ser com verdade e pé no chão. Não adianta se intitular o maior festival do mundo do metal sem ser de fato, tanto em número como também em acolhimento. Existem algumas pistas de que, os festivais tornam-se grandes por criar um ambiente acolhedor e agradável para um determinado tipo de público, de acordo com a demanda. Nem sempre é objetivo ser o maior, mas sim ser uma experiência inesquecível e acolhedora. Daí, ser maior vem como consequência.
Agora, chega das minhas divagações. Dê uma olhada aqui nesse bate papo com o Thomas Jensen, um dos fundadores do Wacken, que foi uma gracinha e conversou com a gente com exclusividade sobre esse assunto ;)
1. Como vocês tiveram a ideia de criar o Wacken e como se sentiram quando começaram o trabalho?
Nós nunca pensamos sobre o evento nessa dimensão que ele tem hoje em dia. Só queríamos ter um festival para nossa música, com nossos amigos e pessoas com gostos afins. O Wacken Open Air é, desde o início, feito por fãs de heavy metal para fãs de heavy metal. E ainda continuamos fãs que tentam criar um festival maravilhoso para os metalheads, todos os anos.
2. Como foi colocar essa ideia em prática? O Wacken era sustentável desde o início ou vocês tiveram muitos problemas financeiros?
Nos primeiros anos de W:O:A nós tivemos que lutar muito forte por esse sonho. Mas sempre existiram pessoas que acreditaram e nos ajudaram a seguir em diante. Sem essa ajuda, que hora foi manual, hora financeira, nos primeiros anos, tenho certeza que o W:O:A não sobreviveria.
3. Vocês sempre usaram o slogan de maior festival de metal do mundo?
Não. Nos tornamos o que somos hoje, primeiro. Só queríamos ter uma grande festa para a comunidade heavy metal.
ENTREVISTA COM THOMAS JENSEN E MATÉRIA COMPLETA VOCÊ ACESSA NO LINK ABAIXO.
http://festivalando.com.br/licoes-do-wacken-para-o-publico-e-organizadores-de-festival-no-brasil/
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