Motorhead: Lemmy e o direito de morrer como quiser
Por Alexandre Campos Capitão
Postado em 04 de setembro de 2015
Lemmy é uma lenda. Como personagem e autor da própria história, a última página da sua biografia está ainda em branco, e o final dessa história está unica e exclusivamente nas mãos do seu mestre.
Nascido Ian Fraiser Kilmister há quase 70 anos, foi roadie de Jimi Hendrix, reinventou-se após ser demitido do Hawkwind. Como frontman, criou uma forma única de cantar e tocar baixo.
Lemmy pode ser comparado à gigantes corporativos do porte de uma Unilever, tantas são as marcas registradas que possui. Ele é todo trademark. A voz, a barba estilo Dom Pedro, a posição do microfone, o timbre do baixo, a maneira de tocar, o lifestyle, a maneira de compor, o folclore ao seu entorno, e até mesmo suas verrugas.
Poderíamos chamá-lo de gênio. Mas ele não deixaria, sempre preferiu caminhar pela simplicidade. Cita Little Richard como um dos ídolos. Diz que sua banda toca rock´n roll, ainda que seus seguidores sejam o público do metal.
Uma vida bem vivida e marcada por excessos e ausência de regras vem cobrando seu preço. É, demorou, mas a conta chegou. Nas entrevistas, o assunto já não é mais quantas mulheres caíram de boca no seu rickenbacker, o tema agora é o tratamento, se parou de beber, se parou de fumar, suquinho de laranja.
Embora a criatividade e a produtividade permaneçam em alto nível, como está provado em Aftershock e nas canções divulgadas do vindouro Bad Magic. No entanto, a energia criativa do trabalho em estúdio não encontra bioequivalência nos palcos. Os pontinhos de bateria que ainda lhe restam, não tem sido suficientes para cumprir a rotina de viagens, translados, horários, passagens de som. E, com isso, vários compromissos tem sido cancelados ou parcialmente cumpridos.
O Motorhead já adiou turnê para aguardar uma melhor condição física de Lemmy, shows foram cancelados, incluindo no Brasil. E outros foram interrompidos, como recentemente nos EUA.
E aí, os coveiros de plantão ganharam força. Jornalistas, veículos de comunicação, arautos das redes sociais, uma verdadeira multidão tem defendido a tese de que Lemmy deveria se aposentar. O mundo do rock se transformou na convenção mundial de peritos do INSS.
"Um absurdo, ele deveria saber a hora de parar, lamentável, a produção deveria se tocar, tem que devolver o dinheiro do ingresso." Decretaram o seu fim. Tudo devidamente assinado, carimbado, em três vias.
Lemmy viveu a sua vida da maneira que quis. Rápido, intenso, pesado, sujo, como se cada segundo da sua existência fosse a introdução de Ace of Spades, repetida e ininterruptamente. Da mesma maneira que escolheu como viver, ele também tem o direito de escolher como morrer. E se é no palco que ele quer morrer, esgotando o último sopro da sua existência enquanto tenta palhetar seu baixo. Pois que assim seja. Amém.
Quem são vocês que se julgam no direito de opinar sobre como deve ser o último capítulo de mais de 70 anos de um mito? Para todos aqueles que desejam Lemmy sentado no sofá, numa cama de hospital, ou num asilo, uma sugestão: introduza o dedo indicador esquerdo no seu reto, até a altura da falange média, deixe por alguns segundos, retire, e o coloque em seguida dentro da sua cavidade nasal. Esse procedimento pode ser repetido quantas vezes forem necessárias.
Eu particularmante prefiro ver Lemmy subir ao palco e tocar apenas três canções, do que ver muita bandinha que temos por aí tocando 30.
Desejo que ainda possamos vê-lo trabalhando por mais tempo, vencendo a mais pessimista realidade. Que ele continue trabalhando, tocando, compondo, produzindo, ou apenas tentando. E quando a hora chegar, que Lemmy esteja no palco, no backstage, numa passagem de som, num estúdio, de bengala ao lado de uma groupie.
Seja como for, no seu gran finale, é ele quem vai chutar o traseiro da morte.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Steve Morse diz que alguns membros do Deep Purple ficaram felizes com sua saída
Iron Maiden confirma segundo show da "Run For Your Lives Tour" em São Paulo
O melhor compositor de letras de todos os tempos, segundo Axl Rose do Guns N' Roses
Regis Tadeu explica se reunião do Barão Vermelho terá tanto sucesso como a dos Titãs
Bruce Dickinson revela os três vocalistas que criaram o estilo heavy metal de cantar
O álbum conceitual do Angra inspirado no fim do casamento de Rafael Bittencourt
A melhor música do Pink Floyd para Rob Halford, que lamenta muitos não compreenderem a letra
O disco que os Beatles chamaram de o maior álbum já feito; "imbatível em muitos sentidos"
A lendária banda de rock que Robert Plant considera muito "chata, óbvia e triste"
Thor da Marvel tenta tocar bateria com banda estourada de metalcore e dá ruim
Moonspell celebrará 30 anos de "Wolfheart" com show especial no Brasil
A banda clássica de rock em que Ozzy Osbourne era viciado: "Eles são como carne e batata"
Como um telefonema permitiu a participação do Twisted Sister no Bangers Open Air
A banda australiana que não vendia nada no próprio país e no Brasil fez show para 12 mil fãs
De Tony Iommi a Jim Martin, os guitarristas que Max Cavalera admira

Os deslizes que Jimi Hendrix cometia nos show, segundo seu roadie Lemmy Kilmister
Mikkey Dee revela gravidade de doença que quase o matou um ano atrás
Lemmy e a inusitada gentileza com Kinder Ovos ao receber Fernanda Lira no camarim
Para Mikkey Dee, morte de Lemmy Kilmister não deve ser tratada como tragédia
Lemmy queria morrer no último show do Motörhead, revela empresário da banda
10 álbuns incríveis dos anos 90 de bandas dos anos 80, segundo Metal Injection
Pink Floyd: entenda o "estilo Gilmour" de tocar guitarra
Thrash Metal: a estagnação criativa do gênero


