Black Metal e White Metal: Uma guerra ideológica
Por Fabio Reis
Postado em 19 de agosto de 2014
Nos dias de hoje, existem tantas bandas diferentes, praticando o Metal de maneiras tão distintas, que uma infinidade de subgêneros e nomenclaturas precisam ser usadas para facilitar o reconhecimento de suas sonoridades. Dentre muitos estilos, existem alguns que se caracterizam por usar a temática como seu maior diferencial e dois deles são mestres na arte de criar polêmicas. Desde seus respectivos nascimentos, estão sempre em rota de colisão e promovem uma das mais antigas, longas e controversas discussões do mundo da música pesada. Estou me referindo ao Black Metal e White Metal.
O termo Black Metal foi usado pela primeira vez no lançamento do segundo álbum de estúdio do Venom em 1982. O título do trabalho acabou dando nome ao estilo, que teve como precursores, bandas como Bathory, Hellhammer, Celtic Frost, Bulldozer e o próprio Venom. Os temas usados por por tais grupos variam entre o Satanismo, Paganismo e Anti-Religião. O subgênero foi evoluindo e mudando com o tempo, adquiriu uma sonoridade própria com características bem específicas e se firmou como uma autêntica ramificação do Metal com a chegada de sua segunda geração.
Esta segunda leva, formada por bandas como Mayhem, Immortal, Marduk, Darkthrone e muitas outras, além de estabelecer um padrão em termos de musicalidade também foi a responsável por uma série de polêmicas em torno do estilo, que pela primeira vez deixou de chocar o público pelo extremismo das músicas e teor das letras, e o fez ganhando as páginas policiais dos jornais, com assassinatos e queima de igrejas.
O White Metal diferente de seu estilo antagônico, não possui uma sonoridade que diferencia as bandas. Considera-se de Metal Cristão, todo e qualquer grupo que use temas religiosos e/ou ligados ao Cristianismo em suas letras, podendo este tocar qualquer um dos inúmeros subgêneros do Metal. Os primeiras bandas que se tem notícia e se auto proclamaram White Metal são a Resurrection Band, Messiah Prophet e Jerusalem. Todas de meados da década de 70.
Nos anos 80, o Stryper e outros grupos como Tourniquet, Whitecross e Tyrant, ajudaram a popularizar o estilo. Com a chegada dos 90's surgiu o Mortification, que se auto denominou uma banda de Christian Death Metal e ganhou até mesmo algum reconhecimento. Aqui no Brasil, temos alguns exemplos de bandas que praticam um Metal de qualidade e com letras Cristãs, Eterna e Destra são nomes de certa relevância e que possuem uma carreira extensa.
Muitos não aceitam o White Metal como um estilo dentro do Metal, por este ser vinculado a ideia de religião (Cristianismo) e por não possuir uma identidade musical definida, se utilizando de subgêneros já existentes e incorporando apenas a temática. Estas mesmas pessoas, ou a maioria delas, aceitam o Black Metal sem nenhum problema causando um debate de ideias infindável e cheio de autos e baixos.
Desde que acompanho o Heavy Metal, vi, ouvi e presenciei inúmeras discussões sobre o tema e obviamente muitos argumentos sem fundamento algum, tanto de um lado quanto de outro. Como em qualquer assunto em que existem ideias contrárias, existem os radicais que defendem o seu ponto de vista de maneira cega e incoerente.
Na política, esportes ou algum outro tema de cunho popular, existem pensamentos divergentes mas com fatos palpáveis ou comprovados cientificamente. Na religião não é assim, todo debate de idéias depende exclusivamente da crença e fé das pessoas, o que complica muito a situação pois, como é possível dizer o que é certo e errado, sendo que tudo é uma questão de interpretação, avaliação e opinião pessoal?
Todos sabem que tanto um estilo como o outro, não se atem apenas a questão musical. É claro que este fato não impede que simpatizantes apenas da sonoridade, ouçam uma ou outra banda por que o agrada musicalmente. Mas os verdadeiros adeptos da ideologia contida em ambos os casos, tanto no Black quanto no White Metal, é que realmente terão uma intolerância maior ou total em relação ao outro.
É natural e aceitável da parte de quem segue uma doutrina religiosa ou de anti-religião, que exista uma aversão generalizada a um gênero musical que pregue uma filosofia contrária à sua. O grande problema é que muitos possuem um enorme preconceito, principalmente com relação ao White Metal, sem ao menos fazer parte ou conhecer a fundo o que prega o Black Metal. Pessoas que gostam de Thrash, Power, Death, Hard Rock e o Metal tradicional, em grande parte, possuem uma tendência a tratar o White Metal com indiferença, descriminação e até mesmo defender o seu fim.
Em diversos locais, o Metal Cristão não é aceito e nem tolerado. Frequentemente, músicos ligados ao estilo, ou que sejam apenas simpatizantes e apoiadores, sofrem agressões morais e em muitos casos físicas. Acredito que o Metal foi feito para todos que se interessem por ele, sou da opinião de que se você não gosta ou não aprova, ao menos respeite quem tem uma visão ou ideia contrária.
A religião sempre enxergou o Rock e o Metal com uma visão bem distorcida, mas é natural que em um gênero musical tão apaixonante, até mesmo pessoas que não o veem com bons olhos, acabem se interessando e tentando embutir as suas ideias e características próprias nele. Não vejo isso como errado, e sim como uma adaptação que pode ou não agradar de acordo com a percepção e gosto de cada um. Sou extremamente contra a discriminação e marginalização de determinado estilo apenas pela não identificação com a temática abordada.
Não gosta, não ouça. Simples assim. Não queira ser o dono da verdade, ninguém é. Deixe as guerras de ideias para quem realmente esteja envolvido com um ou outro estilo. Opiniões distintas existem aos montes e a cena Metal já é bastante segregada para as pessoas a dividirem ainda mais. Com exceção de quem segue a risca as duas doutrinas, os outros não tem motivos para odiar uma pessoa simplesmente pelo gênero musical que escuta ou pratica. Intolerância e descriminação só levam o Metal a receber mais taxações e ser mais criticado e marginalizado do que já é.
Tenho perfeita consciência de que este tema sempre foi, é e continuará sendo polêmico. Muitos dentro de sua ignorância ou convicção, continuarão a desferir insultos e defender a eterna guerra entre os estilos. É um direito que tem, mas que não muda em nada o fato de que ambos possuem ótimas bandas, musicalmente falando, e o ódio ou rixa sobre os temas apresentados por ambos os subgêneros não vai diminuir o surgimento de mais grupos que continuarão a passar a sua mensagem quer queiram os radicais ou não. Ninguém é igual a ninguém e aprender a conviver com diferenças faz parte da vida. Fica a dica.
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