Halestorm: ganhador do Grammy não salva o rock e nem precisa
Por Daniel Junior
Fonte: PipocaTV
Postado em 12 de fevereiro de 2013
Logo que os meios de comunicação anunciaram que a banda Halestorm levou o prêmio de melhor performance Hard Rock na 55ª edição do Grammy pela canção "Love Bites (So Do I)" do seu último disco "The Strange Case of…" (Atlantic, 2012) uma choradeira mutio comum aos conservadores amantes do rock percorreram os fóruns e sites especializados. Confesso que o primeiro disco da banda apenas intitulado "Halestorm" (Atlantic, 2009) não me chamou muito a atenção , mas então pensei porque não dar uma ouvida no novo para ver se ele, desta vez, me surpreende.
Então, "The Strange Case of…" de forma nenhuma irá retirar alguém da lista das minhas 30 bandas preferidas (quem sabe nem das 50+) mas também não precisa ser classificado como a última porcaria trazida pelos bueiros da Pennsylvania, terra da banda. Existe um rancor por parte de quem escuta rock (já faz um tempo) que é querer encontrar nas bandas do século presente as bandas que ele curtia no século passado. Como se, quando uma banda sai da garagem para descobrir o mundo estivesse disposta a fazer EXATAMENTE o mesmo som que outras bandas fizeram. Óbvio, 100% delas querem fazem sucesso, enriquecerem e fazer sinal do dedo do meio pra TV como sinal de que "eu cheguei onde queria agora fuck off".
Seria muita pretensão de quem escreve sobre música querer dizer se surgirão outros Rush, Metallica, Guns N´Roses, Black Sabbath, Led Zeppelin… E, repito, não acredito que seja objetivo das bandas que surgem replicar o som de outros tantos artistas consagrados. Fique sempre um alento para aqueles que não se conformam com o fato da qualidade das coisas não serem exatamente como esperamos: ouça os discos antigos, curta e deixa as bandas que você acha "ruim" de lado.
Sabem por quê?
Porque o Halestorm faz um som muito parecido com o novo rock que já vem se estabelecendo entre as bandas americanas. Eles conseguem juntar em um só disco agressividade, melodia, pieguismo, piano, guitarras graves e vocais guturais. Um liquidificador sonoro que em algumas faixas pode afastar os pais do quarto (devido à sonzeira) ou mesmo tocar no rádio no caminho de volta pra casa. É uma tendência. No que se propõem a fazer, fazem com eficiência e não comprometem aos ouvidos mais puristas. Pode ser que você ache as faixas como Break In um lixo mas quem sabe ela não serve para aproximar o fã de Halestorm de outras baladas mais "curtidas" como Still Loving You e Stairway to Heaven?
A canção In Your Room, apesar de seguir o mesmo caminho melancólico, também não é uma faixa má produzida ou uma canção que vai envergonhar a história do rock. A vocalista Lzzy Hale tem um bom desempenho vocal e parece sincera cantando os refrões. Pode ser que a audição não mude o seu dia como da primeira vez em que você ouviu The Trooper mas será que toda canção que você escuta muda a direção da sua vida? Acho um exagero que a música SEMPRE seja tratada com um olhar muito sagrado como se tudo que ficasse na periferia do "comum" (com todas as aspas) não servisse para ocupar um espaço no playlist.
Uma outra questão pertinente: prêmios são votos de um determinado grupo de pessoas que não necessariamente representam o meu ou o seu gosto, logo, sempre haverá uma parcela entristecida com as escolhas feitas por este grupo. Logo, eu tenho certeza, que bandas cascudas como Iron Maiden, Anthrax e Megadeth (que concorriam com a banda pelo Grammy) não ficaram tristinhas ou "de biquinho" porque não venceram. Bandas que já pontuaram a história do rock com seus discos, performances, tours e etc. Quem faz as falas de magoados são fãs que não se conformam com resultados que não sejam os previstos pelo seu coração. Quer dizer, se o Iron vence é : "finalmente o MUNDO reconheceu a melhor banda do planeta, isso sim é premiação", se não, "pau no… do Grammy, tô me fud…. pra qualquer evento musical".
Não foi a primeira e nem será a última vez. Muito mimimi para pouco argumento.
Lembrando que atualmente alguns roqueiros "da antiga" apontam para Lady Gaga como o que surgiu de melhor no cenário da música nos últimos 20 anos. Nem por isso concordo em nenhuma instância com o que é dito, mesmo que os caras sejam muitas vezes meus ídolos desde a infância.
Não dá para não gostar de faixas como You Call Me a Bitch Like It’s a Bad Thing com ótimos riffs e ideias melódicas, com um refrão bacana e ótima evolução do arranjo só porque não tem um cara balançando a cabeça com o cabelo esvoaçante, como se isso lhe conferisse qualidade? Basta lembrar que nos anos 90 muita banda poser surgiu fazendo discos que só mudavam em que lugar vinha o BABY no título da música. Mesmo assim até hoje tem um monte de marmanjo que ainda baba pelas performances vexatórias. Em sua maioria, são estas mesmas figuras que ignoram qualquer tipo de música nova que lhes apresentem caso não seja um retrato semelhante ao passado.
Este texto não é uma defesa aberta ao Halestorm ou a qualquer outra banda que tenha surgido nos últimos 5 anos mas a este conservadorismo bobo que restringe um mundo do rock aos que respeitam apenas os vinis e que não sabem o que é música após 1984. Vamos nos lembrar que quando éramos jovens, nossos gostos também não batiam com o dos nossos pais, que eram jovens em outras épocas. De modo que a intolerância é um sinal de uma má velhice, a velhice da cabeça.
Mesmo que você ache o disco da banda uma droga, dê uma chance aos novos talentos da música, tem muito artista bom por aí.
twitter: @dcostajunior
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