Mötley Crüe & Ratt: a parceria forjada a orgias, vômito e cocaína
Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 27 de janeiro de 2014
Segue abaixo, para apreciação geral, um trecho traduzido da autobiografia do vocalista do RATT, STEPHEN PEARCY, intitulada "Sex, Drugs, Ratt & Roll – My Life In Rock", ainda sem previsão de lançamento no Brasil e que foi cunhada por ele em parceria com Sam Benjamin. Nele, Pearcy relata como foi a aproximação de sua banda com outro ícone do hard rock da mesma época e local: o MÖTLEY CRÜE.
[...]
O Ratt botou pra fuder no Troubador [casa de shows de Los Angeles] várias vezes seguidas, e uma celeuma em torno de nós se formou rapidamente. Certa noite, os donos da cidade vieram nos conferir: o Mötley, Tommy Lee, Vince Neil, Mick Mars e Nikki Sixx tinham sido famosos na [Sunset] Strip desde o começo. Eles eram quatro caras carismáticos pra caralho que usavam saltos enormes e couro e calças apertadas quando eles tocavam seu show ofensivamente caricato e grandioso. Eles tinham uma reputação consolidada por bebedeiras e comportamento vulgar, e a pegada deles era toda baseada no entendimento implícito de que eles te esmurrariam na cara tão logo te encarassem. Eu respeitava o visual deles e curtia o som deles, mas estava preparado para lutar contra eles.
"Cara", Nikki disse simpaticamente após o show, "Vocês são bons pra caralho". Eu esperava que eles fossem cuzões competitivos, mas ao invés disso, todos os membros da banda foram legais. Longe de eles quererem nos excluir ou nos humilhar, eles só queriam ser nossos amigos. Tommy e Nikki e Vince moravam logo ali na mesma rua do Whisky [A Go Go], em um apartamento vagabundo que era cheio de lixo, parasitas, caixas de pizza usadas, poças de vômito meio seco, jaquetas de couro rasgadas, calças de lycra jogadas fora, óculos de sol quebrados, cinzeiros virados, e manchas marrons irregulares na parede que poderiam ser, em igualdade, serem do sangue do lábio aberto de alguém, Jack Daniel’s de uma garrafa arremessada, ou vestígios de merda de cachorro.
Rolava de tudo na casa Mötley – apesar de que a pingaiada, a gritaria, as brigas, cheiração de pó e metelança resumem bem tudo isso.
"Tá na hora da treta, baby", Robbin [Crosby] chamou depois de um show, olhando alegre para uma baita taturana de cocaína que tinha aparecido magicamente da bolsa de uma mina. "Stephen, vem cá e toma seu remédio".
"Nah, não, obrigado. Não to na fita."
"Cara, fica à vontade", Robbin riu, voltando sua atenção para o espelho que eles haviam arrancado de uma parede.
"Tudo bem. Eu me recuso a te forçar".
A casa Mötley te afundava como areia movediça. Quando eles davam uma festa, as mulheres simplesmente infestavam o lugar, se esgueirando incansavelmente como cupins e baratas, se acotovelando na porta com 12 latas de cerveja presas por anéis de plástico. Promessas da cena do rock entravam pelas janelas e iam pro banheiro, onde eles abaixavam as calças, injetavam drogas na veia mais acessível, e desmaiavam na privada. Por mais de uma vez, quando eu estava na casa deles, eu mal pisquei meus olhos por duas vezes e retomava os sentidos três dias depois, estatelado de cara no carpete do chão da sala de estar.
"Puta merda, o que caralho aconteceu?"
Eu grunhi, voltando de um coma de farra particularmente ruim.
"Huh?" Minha cabeça estava pronta para explodir. Cada palavra dita parecia uma bomba atômica sendo detonada. Eu massageei meus genitais de leve: eles estavam inchados e em carne viva. "Pra onde que… ela foi?"
"Ah, ela foi embora, cara! Logo que você começou a vomitar em jatos." Ele cheirou minha gola, e do jeito amistoso dele, "É, você tá com um cheiro ridículo, irmão!"
Mick, apesar de ser um cara muito meigo, era mais na dele, e Vince meio que vivia no seu próprio universo. Robbin e eu éramos mais próximos de Tommy e Nikki, e começamos a pirar com eles direto. Robbin, com seu talento particular para dar apelidos, logo começou a chamar Nikki de Líder, apropriado para o homem que criara a mística do Mötley.
"Eu sou a porra do Líder Sixx!" ele berrava, assustando duas pré-adolescentes roqueiras que andavam pela rua, com seu cabelo cuidadosamente arrumado. Elas se encolheram, aterrorizadas. "Façam o que eu mando!"
Tommy agora era o Duque. Vince era o Diretor de Protocolo. "Ele é o Líder, mas eu sou o Duque, hein?" Tommy dizia. "Ninguém respeita o baterista. Sempre a mesma coisa."
Eu me tornei o Líder da Patrulha Ratt, ou eles me chamavam de Felix.
"Felix?" eu disse. Eu tomei um gole da minha lata de cerveja enquanto andávamos pela Strip lotada, lado a lado, mexendo com todas as mulheres, empurrando panfletos no peito das pessoas com uma dedicação incansável e uma panca irritante.
"Cara, por quê?"
"Não reclama", disse Robbin. Ele parou para olhar para uma mina linda de minissaia vermelha. "Viva com isso."
Nikki acabou dando a Robbin o apelido "King". E era tão perfeito. Virou o nome dele pro resto da vida. Ninguém mais chamou ele de Robbin depois daquilo – era sempre ‘King’.
"Somos como uma porra duma gangue!" Robbin gritou. "Somos os Gladiadores!"
"É mesmo, porra!" eu gritei, entrando no espírito da coisa e tacando minha pilha de panfletos pro ar. Eles caíram a nosso redor, uma nevasca na rua suja de Hollywood.
"É isso aí, King", concordou Nikki. "Se você tá dizendo, nós somos os Gladiadores." [...]
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