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Coletivo Metranca: Carta aberta sobre o Zoombie Ritual 2014

Por Leonardo Salomão dos Reis
Fonte: Coletivo Metranca
Postado em 16 de dezembro de 2014

NOTA DO EDITOR: A matéria abaixo reflete a opinião do autor publicada no site Coletivo Metranca e não a do site Whiplash.Net ou de seus editores.

Tem muita gente curiosa me perguntando muitas coisas sobre o Zoombie, então acho que escrevendo uma carta aberta, fica mais fácil de apresentar minha opinião de uma forma geral.

Em 2012 ofereci meus serviços de fotografia e assessoria para o Zoombie, desde então, tenho feito serviços nesta área. Mesmo com algumas desistências, o Zoombie de 2012 foi ótimo, com um bom número de público. Surpreendeu ainda mais em 2013, quando todas as bandas principais se apresentaram, incluindo o show do Kreator que me fez ver o Zoombie como um festival indiscutivelmente importante para todo o Brasil.

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Infelizmente, o festival cresceu mais do que a sua própria organização interna. Deixo aqui uma crítica construtiva. Se um festival cresce, é preciso aumentar sua equipe, dividir melhor as funções e ouvir sugestões e críticas. Passei o ano todo dando minhas opiniões para a galera da organização e pedindo informações. Sempre foi muito difícil contatar os responsáveis, mas, não vou crucificar ninguém. Acredito que fizeram o máximo possível.

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A questão é que eu levei um susto quando cheguei na Fazenda Evaristo e não vi o palco Open Air. Fui preparado para trabalhar em uma coisa e precisei trabalhar em outra.

Ao chegar, me explicaram que devido aos custos do festival e a baixa venda de ingressos a estrutura precisou ser reduzida. Além da estrutura física, a estrutura de equipe também ficou menor. Fui para fotografar, para ajudar na assessoria e, quando percebi, estava carregando cabos, arrumando o palco, negociando pagamento para os seguranças, entre outras coisas que não fazem parte dos meus serviços. Levei duas pessoas para me ajudar, um técnico de informática (que também acabou ajudando no palco) e uma tradutora (minha companheira, que também ficou correndo de um lado para o outro na produção).

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Ok. Mesmo fazendo coisas que não eram das nossas áreas, decidimos continuar, por respeito ao público e bandas que estavam presentes.

Na quinta-feira, presenciamos o mimimi da banda Destruction. Não sei como foi a negociação, não faço a mínima ideia do contrato proposto, mas o fato da banda entrar na fazenda, exigir um palco vazio por 2 horas e não subir para tocar deixou todas as pessoas mais próximas da organização tristes. E não foi só, a parte pior foi a banda entrar em contato com o Venom, para falar mal do festival, o que resultou em mais um cancelamento.

Reforço que não sei como foram os contratos e fiquei sabendo dos valores envolvidos junto com o público, no pronunciamento de cancelamento do Juliano ainda na noite de quinta-feira.

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Acredito que as bandas tenham suas razões de cancelar. Como baterista, se me prometessem um palco X e eu tivesse que tocar em um palco Y, acho que também ficaria em dúvida de me apresentar. A questão é que todo o festival ocorreu assim em 2013, sem muitos contratos, com negociações verbais e, por sorte, deu tudo certo.

Infelizmente, em 2014, a sorte não esteve ao lado dos organizadores do Zoombie. A falta de profissionalismo, no sentido de burocracias e contratos, pesou. Os cancelamentos influenciaram na baixa de público; e a baixa de público influenciou o baixo consumo de bebidas; sem vender muitas bebidas, o festival ficou sem grana para pagar seguranças e serviços terceirizados, como a própria fotografia e assessoria.

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Ou seja, uma bola de neve.

Notamos um certo ar de "pânico coletivo" na Fazenda, de sexta-feira em diante. Qualquer treta poderia ser motivo de uma confusão generalizada. O clima nos bastidores ficou tenso. Muita gente veio me perguntar de dívidas do festival e eu, sem informação alguma, fiquei mais perdido que o público.

Como se não bastasse, um cara alcoolizado, que nem sei o nome, foi extremamente grosseiro comigo perto do palco. Depois fiquei sabendo que ele era de uma empresas de camisas ou algo assim. (Faço aqui uma retratação, citei anteriormente a empresa, mas me ligaram, já pediram desculpa e explicaram que a intenção deles era de resolver a questão financeira para o festival conseguir ir até o final. De acordo com seus representantes, a empresa sempre tenta ajudar o festival e, neste ano, parece que ajudaram a bancar uma parte do som e passagens, inclusive. A situação foi uma confusão dada em relação ao temperamento dos envolvidos).

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De qualquer forma, na hora que ocorreu, este foi o principal fator que me fez desistir de continuar ajudando o festival. Em algum momento, na tarde de sábado, seguido de outros dois homens ele me falou em um canto do palco que "alguém da organização precisa dar as caras, se não o problema seria grande, porque ele não sairia perdendo do festival".

Eu já estava trabalhando sem nenhuma garantia que seria pago. Estava atuando em áreas que não eram da minha responsabilidade e ainda passei a ser ameaçado ou tratado com grosseria por pessoas que não conhecia.

Para completar, a empresa responsável pelo som aparentou desistir de trabalhar (problemas financeiros também). Eu tinha acabado de imprimir a lista de bandas que se apresentariam e fiquei surpreso com estas "novas" situações.

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Pensei que estava tudo ok, pelo menos com o som, mas pelo visto não estava. No meio desta loucura toda, o sentimento de "pânico coletivo" ficou ainda maior e o que me deixou mais chateado é que eu só fiquei sabendo destes "novos" problemas porque me meti no meio de algumas conversas. Ninguém da organização me passou um rádio para explicar a situação. Só me foi solicitado para trabalhar e tentar "segurar as pontas".

Cara, eu tenho uma super boa vontade. Gosto mesmo de contribuir para o cenário musical. Tenho um apreço enorme pelo Juliano e toda a sua família, sei da onde vieram e da dedicação para o festival, mas foi impossível continuar atuando naquelas circunstâncias.

Não posso, de forma alguma, responder cobranças em nome de outras pessoas.

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Diante tudo isso, a única coisa que pude fazer foi procurar os fotógrafos (os quais infelizmente não achei na hora) para explicar a situação. Deixei um demonstrativo com meus gastos para a organização e pedi o pagamento da minha equipe, pelo menos parcial. Feito isso, pegamos nossas coisas, colocamos no carro e saímos da fazenda.

Foi um sentimento horrível, abandonar o festival exausto, triste, sem dinheiro e preocupado com as outras pessoas envolvidas diretamente e indiretamente na organização.

Enfim, vou pontuar algumas coisas sobre o festival:

1) O festival é importante para o cenário, deu errado neste ano, mas espero que não acabe.
2) O festival não pode, de forma alguma, continuar com este tipo de organização. É necessário se profissionalizar, urgentemente.
3) É necessário focar em objetivos. Indico ao pessoal da organização que não tentem abraçar o mundo. Ou se organiza um festival, ou se faz produção para bandas em shows no Brasil. Não é possível fazer os dois sem uma equipe grande na retaguarda, ainda mais em uma cidade como Rio Negrinho, que não possui estrutura para isso.
4) Vejam o exemplo do Psicodália, realizado no mesmo espaço. É possível vender alimentos, trocar ingressos por mão de obra, fazer atividades extras , entre outras coisas.
5) Às vezes é necessário dar um passo atrás, antes de continuar em frente. Acho que o festival tentou a sorte duas vezes seguidas, pagando o restante das bandas principais com o dinheiro do consumo de cerveja. Deu certo em 2013. Caiu a casa em 2014.
6) Não há erro da organização que justifique ameaças e violência física. O público revoltado com os cancelamentos tem todo o seu direito de reclamar, processar ou qualquer coisa do gênero, mas não pode, em hipótese alguma, ameaçar pessoas que estão ajudando o festival, ou ameaçar a própria família do organizador, como ocorreu.
7) Eu estava na mesma situação do público e das bandas, mas optei por ajudar ao invés de ameaçar a organização.
8) Vejo o sujo falando do mal lavado. A organização errou sim, em muitos pontos, mas tem muita gente de má índole interessada neste fracasso.
9) Vale lembrar que esta foi a 7ª edição do festival, não se trata de um MOA da vida.
10) Apesar de todos estes problemas, as bandas que eu vi tocaram "fodasticamente" e o público continua se dedicado ao cenário.

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Que os outros festivais de Santa Catarina aprendam com estas experiências do River Rock, Acampa Rock e Zoombie Ritual. O cenário está se profissionalizando e é preciso acompanhar este processo.

Obs.: Só para reforçar, o Metranca não faz parte da organização do Zoombie. Prestamos serviços individualmente para o festival.

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