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Do Velvet Underground ao Pós-punk: "um passeio pelo lado escuro"

Por Claudinei José de Oliveira
Fonte: rollandorocha.blogspot
Postado em 21 de abril de 2015

Na segunda metade da década de 1960, a partir, principalmente, das obras de Bob Dylan e dos Beatles, o rock passou a desconhecer limites, tanto lírica (no sentido das letras), quanto musicalmente.

Experiências com substâncias alucinógenas passaram a ser abordadas, direta ou indiretamente, como temas de letras, em sintonia com os experimentalismos sonoros, aglutinando elementos orientais, eletrônicos, circenses, "valdevilleanos", entre outros.

A tônica da época era a de que a coragem para as experiências artísticas e pessoais deveria prevalecer sobre o moralismo vigente.

Neste sentido, o ano de 1967 é emblemático, pois os Beatles, que já haviam cantado odes à maconha no álbum "Revolver", lançaram "Sgt. Peppers Lonely Heart's Club Band", inspirados em experiências com o uso do LSD, no que foram imediatamente seguidos por Pink Floyd ("The Piper At Gates Of Dawn") e The Doors (em seu primeiro e homônimo álbum).

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Ainda em 1967, é lançado o Primeiro álbum da banda Velvet Underground, chamado "Velvet Underground & Nico" e conhecido como o "disco da banana", por causa da capa feita por Andy Warhol, levando ao extremo a crônica sobre o uso de drogas, ao abordar a realidade dos usuários das drogas pesadas, em especial, a heroína.

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Por mais que queiramos encontrar no disco um alerta ou uma denúncia contra a realidade mortífera da vida "junkie" (como é conhecido o viciado em opiáceos), a literatura sobre o assunto, em especial, a obra de William Burroughs, nos mostra o contrário: o viciado em heroína fatalmente tende a romantizar afetuosamente a degradação do vício.

Enquanto que por suas características lisérgicas, o LSD induzia a produções artísticas coloridas, dando um ar de inocência carnavalesca à loucura, mesmo porque, sendo de uso recente, os efeitos trágicos de seu uso eram ainda uma incógnita, a música do Velvet Underground caminhava pelo lado escuro. E não queria luz. Comercialmente falando, o álbum fez jus a seus tons sombrios: ficou relegado à obscuridade em sua época mas, como o tempo veio provar, estava à frente de seu tempo.

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O motivo para o Velvet Underground e, consequentemente, seu mentor intelectual, Lou Reed, não ter caído no esquecimento, se chama David Bowie. Após conquistar prestígio financeiro e artístico suficiente para satisfazer seus caprichos, Bowie resgatou Lou Reed do anonimato, durante a década de 1970. A colaboração entre ambos é chave para compreender aquilo que se convencionou chamar pós-punk, ou seja, a música produzida na Grã-Bretanha após o alvoroço causado por Sex Pistols e The Clash.

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Assim como Lou Reed, outro americano condenado, em sua época à obscuridade, Iggy Pop, líder da banda The Stooges, é peça fundamental para a compreensão do pós-punk. O som dos Stooges também estava à frente de seu tempo, porém, no sentido da aspereza sonora crua que, depois, daria a tônica ao punk rock. Como o Velvet Underground, os Stooges lançaram álbuns entre o fim da década de 1960 e o início da de 1970, todos, na época, relegados implacavelmente à obscuridade. E, como Lou Reed, Iggy Pop também foi resgatado da obscuridade por David Bowie.

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No final da década de 1970, David Bowie gravou três álbuns essenciais em Berlim. Além da influência sonora e tóxica do Velvet Underground e dos Stooges, é peça fundamental a presença de elementos eletrônicos inspirados no trabalho do grupo alemão Kraftwerk.

O punk rock quebrou o paradigma elitista do rock no final da década de 1970, dando voz a toda uma geração que, do contrário, ruminaria calada sua frustração. Sem o punk rock e a influência/colaboração entre Lou Reed, Iggy Pop e David Bowie não haveria, como ouvimos, o som de Joy Division, The Fall, The Cure, Siouxsie And The Banshees, New Order, Echo And The Bunnymen, U2, The Smiths e The Jesus And Mary Chain, isto só para ficarmos nos mais óbvios.

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Não há dúvida de que, como diria Nietzsche, os ouvintes do Velvet e dos Stooges pertenciam ao "depois de amanhã". Agora, não podemos saber se a relevância de tais bandas foi entendida ou construída depois, mas isto não importa. É fato que poucos os ouviram, porém o fizeram de maneira tão contundente que também se fizeram ouvir.

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Sobre Claudinei José de Oliveira

Claudinei José de Oliveira é graduado em História e aproveita o tempo vago para ouvir, ler e escrever rock'n'roll e conversar com seus cachorros. Criou e mantém o blog rollandorocha.blogspot.
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