Iron Maiden censurado na China? Entendendo a geopolítica da banda
Por Andrew Jones Macedo
Postado em 15 de maio de 2016
Recentemente o IRON MAIDEN iniciou a fase asiática da "The Book of Souls World Tour". Com isso a banda pisou em terras chinesas pela primeira vez, tendo se apresentado nas cidades de Beijing (Pequim) e Shanghai.
Um detalhe interessante é que durante as últimas turnês da banda, alguns shows da agenda deixaram de priorizar somente as cidades e países do "mainstream" em termos de indústria musical e passaram a incluir demais países e localidades que por ventura são negligenciados por vários motivos quando um artista resolve entrar em uma turnê mundial. Podemos citar como exemplo os seguintes países não pertencentes a agenda de shows global, onde o MAIDEN fez sua estreia ao vivo; Islândia (1992), Malta (1998), Eslováquia (2000), Eslovênia (2000), Estônia (2000), Emirados Árabes Unidos (2006), Índia (2006), Costa Rica (2008), Romênia (2008), Equador (2008), Venezuela (2008), Peru (2008), Indonésia (três concertos seguidos em 2011), Colômbia (2011), Turquia (2013), Paraguai (2013) e agora na nova turnê foram incluídos mais três destinos que fogem ao padrão de prioridade em diversas turnês mundiais. Esses destinos são Luxemburgo, El Salvador e China. Além disso, vale ressaltar o quase e inédito show no Líbano ainda na fase BLAZE BAYLEY, que fora confirmado durante a turnê "The X Factour 95/ 96", mas por fatores "desconhecidos", acabou sendo cancelado. Porém por motivos lógicos em termos sociológicos podemos deduzir que o show demandaria um grade esquema de segurança, devido a hipotética instabilidade e empecilhos que grupos muçulmanos conservadores poderiam reivindicar no dia do show, pois a apesar de o Líbano ainda ser um dos países mais "abertos" do Oriente Médio, com o surpreendente número de 40% da população cristã (surpreendente devido ao majoritário número de muçulmanos nos países vizinhos). O país ainda sofre com uma certa radicalização de pequenos grupos islamitas.
Nas constantes turnês mundiais da banda, muitos adeptos sugerem que o MAIDEN deveria diminuir o ritmo de shows para que os músicos preservem seu estado físico, pois a banda está na ativa por mais de três décadas. Isso não foi desconsiderado por STEVE HARRIS e BRUCE DICKINSON, pois em diversas entrevistas ambos já afirmaram que não são mais garotos. Porém nada disso tem a ver com um término ou fim da banda. Se trata somente de precauções contra eventualidades que possam trazer complicações ao próprio MAIDEN, como por exemplo o desgaste vocal de Bruce Dickinson. Embora essa situação de reorganizar o número de shows em novas turnês mundiais ocorra, isso não impede, ou direciona o MAIDEN para que a banda deixe de visitar os confins da terra. Pelo contrário! O fato da banda se apresentar em lugares, negligenciados no cenário musical global, ou até mesmo lugares considerados pouco lucrativos em termos de gastos com logística, demostram o zelo que o MAIDEN tem por seus fãs. BRUCE DICKINSON já veio a afirmar que a banda prioriza lugares nunca visitados em suas turnês, justamente para que o fãs tenham contato direto não somente com seus ídolos, mas sim com a arte. Essa orientação de como organizar uma turnê para incorporar públicos globais "esquecidos", direcionou parte da "BOS World Tour". Uma eventualidade ocorrida na organização da turnê do "Book of Souls" demonstra isso. Pois a banda passou a utilizar de informações obtidas através do número ilegais de downloads do álbum para estabelecer algumas de suas datas da atual turnê. Ou seja, a lógica da banda funcionava da seguinte maneira; onde as pessoas mais baixam o novo álbum, não significa que essas pessoas estejam usurpando os direitos autorais do IRON MAIDEN com seus downloads. Ao contrário! Isso passou a significar para a banda uma nova fonte de informações sobre seus fãs. Informações essas que expuseram ao MAIDEN, uma estatística de países onde a banda detém grandes públicos, mais que isso; estatísticas que mostram onde se concentram numericamente os seguidores da banda. Como fora o caso do Brasil, um dos países que mais utilizaram dos downloads irregulares de BOS. Tal fato faz a banda compreender que se as pessoas não pagam por esses downloads, essas mesmas não pagam simplesmente por escolha própria, mas majoritariamente deixam de pagar por diversas situações ocasionais, como o fato do pouco poder aquisitivo e econômico provenientes dos países subdesenvolvidos. Ou até mesmo pelo fato de algumas censuras, como em parte do mundo islâmico.
Para entendermos a política da banda de agregar públicos, não precisamos ir tão longe é só olharmos para o Brasil e percebemos as praças que já foram visitadas pela banda fora do eixo Sudeste-Sul. Como Manaus (2009), Recife (2009 e 2011), Belém (2011) e mais recentemente Fortaleza na BOS World Tour. Podemos sintetizar toda essa política da banda simplesmente na tradicional fala de Bruce antes de "Blood Brothes", principalmente nas falas de Bruce ocorridas durante a turnê mundial de 2011. Nessa ocasião a banda tinha cancelado suas apresentações da "The Final Frontier World Tour no Japão", devido ao tsunami ocorrido no país que alertou o mundo para os perigos da energia nuclear, após as ondas atingirem a usina nuclear de Fukushima.
No momento do tsunami a banda estava sobrevoando o espaço aéreo nipônico e prestes a aterrissar em solo japonês para os concertos da turnê, porém o Ed Force One teve que desviar sua rota de pouso logo após receber ordens para tal procedimento, aterrissando assim na Coreia do Sul. Nesse mesmo ano da "FF World Tour", o mundo geopolítico passava por uma intensa instabilidade; uma instabilidade de proporções globais como nos tempos da Guerra Fria. Tal abalo nas Relações Internacionais fora causado pela "Primavera Árabe", onde ditaduras foram contestadas em prol da democracia em parte do mundo árabe. A ascensão do ISIS no Iraque e na Síria e a atual disputa hegemônica das potências Estados Unidos e Rússia na região se iniciaram exatamente nesse contexto de 2011. Sobre isso Bruce discursa da seguinte maneira no show da "FF World Tour" no estádio do Morumbi em São Paulo:
"Estranhos acontecimentos ocorreram nesta atual turnê, não só o Japão ( vitima do terremoto e tsunami ), bem como a todos os egípcios, sírios e líbios. Vamos dedicar essa canção a todas as pessoas que fizeram parte dessas tragédias. "Não importa sua cor, sua raça ou sua religião, se você é fã do MAIDEN é parte da família. Estávamos indo ao Japão quando aconteceu o terremoto. Vinte mil fãs ficaram sem o show. Não importa se você é branco, negro ou amarelo, se você é fã do IRON MAIDEN, somos todos irmãos de sangue".
Essa fala de Bruce nos faz interpretar que "Blood Brothers" é uma canção simbólica, pois apesar de sua letra tratar do lamento e do luto de STEVE HARRIS ao se deparar com o falecimento de seu pai, a música se tornou um hino para os fãs do MAIDEN. Mas não um hino clássico como "The Trooper", ou "Number of the Beast", se tornou um hino de união entre todos os fãs, um hino globalizado, um hino que trata sobre a globalização não só da música do IRON MAIDEN, mas sim a globalização do Heavy Metal. Pois não importa sua cultura, sua religião, hábitos, costumes ou até mesmo se sabe cantar em inglês. O que importa é que independente da sua nacionalidade, todos nós somos "Blood Brothers" (irmãos de sangue) e pertencemos a globalizada e fanática "família IRON MAIDEN".
Sobre a globalização e a participação do heavy metal no cenário global é importante darmos crédito e ressaltarmos duas obras. A primeira delas é o livro "Heavy Metal Islam: Rock, Resistance and the Strunggle for the Soul of Islam" (ainda não traduzido para o português). Vale destacarmos o suposto impacto dessa obra no pensamento e na política do IRON MAIDEN. Pois no ano de 2008, Rod Smallwood (empresário da banda e um dos organizadores das turnês do IM), escreveu e vinculou uma nota oficial no site da banda sobre o impacto dessa obra no cenário do Heavy Metal. Podemos destacar a seguir os pontos mais relevantes da nota. Smallwood externou a obra com as seguintes palavras:
"Inicialmente, nós fomos informados sobre o massivo impacto do Metal em países Islâmicos quando o MAIDEN tocou no excelente Desert Rock Festival no ano de 2007 em Dubai. Na noite em que tocamos, todos os ingressos foram vendidos pela primeira vez com algo em torno de 15.000 fãs de Metal e do MAIDEN. Mas esse não foi um público de fãs de Metal expatriados do Ocidente que estavam por lá, foi principalmente um público Árabe que viajou por todo o Oriente Médio e até por terras mais longínquas - especialmente vindos dos Emirados Árabes Unidos, e também do Irã, Iraque, Egito, Omã, Palestina, Turquia, Arábia Saudita, Líbano, Kuwait, Índia, Armênia, Moldávia..."
"...Foi realmente uma mistura de várias nações. A reação foi intensa e houve um sentimento real de que o show foi extremamente significativo para muitos daqueles que viajaram longas distâncias para estar ali e que nunca tinham tido a oportunidade de ver a banda antes."
"Nós conversamos bastante e ele (o autor) nos explicou o crescimento e a importância do Metal para muitas pessoas dos países Islâmicos. Rapidamente ficou claro o quão prestativo isso pode ser num momento de desentendimentos entre o Islã e o Ocidente, e que qualquer ponte pode trazer entendimento mútuo e ligações entre as culturas."
"O Metal é muito popular e pode providenciar uma base de contato entre as pessoas, mas foi também chocante aprender pelo livro e por Mark o que os fãs e os músicos têm que passar em alguns desses países só para ter a liberdade de ouvir e tocar músicas de sua preferência. Esse tema está também sendo trazido à tona mais efetivamente com o documentário 'Heavy Metal em Bagdá', sobre a banda iraquiana ACRASSICAUDA e o que eles têm que enfrentar diariamente apenas para poder ensaiar".
Tal nota pode ser conferida com detalhes no link abaixo:
A segunda obra indispensável para compreendermos as exposições relacionadas a temática da globalização na música heavy metal, é sem dúvidas o documentário de 2009 dirigido pelo antropólogo canadense Sam Dunn. No documentário "Global Metal" somos apresentados as peculiaridades culturais dos quatro cantos do mundo, porém a música promovida pelo metal permanece intacta nessas diversas culturas globais. Seja pela temática das letras, a estética das roupas e acessórios, o fanatismo e até mesmo a perseguição e a incompreensão de diversas representações sociais que subjugam o heavy metal em diferentes sociedades.
Pois bem, agora voltemos a falar sobre o IRON MAIDEN. Por mais que esses fenômenos pós-modernos promovidos pelo fim da guerra fria; como por exemplo uma apresentação de uma banda inglesa em uma China comunista que censura e filtra qualquer tipo de informação e até mesmo quaisquer artes de origem ocidental, sejam relativamente recentes. Esse fato para o IRON MAIDEN de se apresentar em um país comunista que através da palavra oficial de seu governo rejeita os hábitos e valores sociais do ocidente capitalista, não é nenhuma novidade; aliás nem de longe é uma novidade para o MAIDEN. No ano de 1984 o mundo ainda vivia sob os tenebrosos tempos de guerra fria onde as potências hegemônicas mundiais dividiam o mundo, como se o mesmo fosse um tabuleiro de xadrez. A guerra fria marca um período de tensões mundiais e principalmente um período de medo, pois qualquer manobra militar e inesperada, poderia causar destruições irreparáveis. Vide o ano de 1963; o ano que o mundo beirou um "apocalipse", devido ao armazenamento de misseis soviéticos nos territórios cubanos, potencializando e estimulando um ataque estadunidense aos territórios socialistas. Se isso acontecesse inauguraríamos uma guerra nuclear. O físico Albert Einstein foi autor de uma máxima que poderia muito bem descrever, tal período, Einstein dizia que "após uma terceira guerra mundial, a quarta seria com paus e pedras". Essa crise no ano de 1963, foi conhecida como a "Crise dos Mísseis". Sendo treze e "intermináveis" dias que abalaram a humanidade. Esse contexto de incertezas na Geopolítica mundial não foi negligenciado pela banda em suas produções musicais/ artísticas, essa temática acabou por ser abordada pela banda na música "2 Minutes to Midnight".
[an error occurred while processing this directive]Nesse mesmo ano de 1984, durante os preparativos para a "World Slavery Tour", o IRON MAIDEN pegou a todos de surpresa com a confirmação de determinadas datas na turnê do "Powerslave". O IRON MAIDEN tinha várias apresentações marcadas atrás da tal "Cortina de Ferro". Eis que o MAIDEN se apresentaria nos expoentes do comunismo europeu (Polônia, Hungria, Bulgária, Iugoslávia e Checoslováquia). Tal visita da banda em terras socialistas acabou por ser registrada no histórico e raro vídeo intitulado "Behind the Iron Curtain" ("Atrás DA CORTINA DE FERRO"). As apresentação na Polônia, Hungria, Bulgária, Iugoslávia e Checoslováquia se tornaram simbólicas para a banda, pois tais apresentações mostravam que o ocidente capitalista, estava adentrando as cortinas do mundo socialista. Ou que a arte e a música são universais e atemporais.
Nessa mesma década de 1980, a Geopolítica da nossa região também estava abalada, não pela Guerra Fria, mas sim pela Guerra das Malvinas. O conflito foi marcado por uma guerra entre Argentina e Inglaterra, por um pequeno arquipélago ao sudeste dos territórios argentinos (Malvinas). Porém historicamente, esse mesmo arquipélago é denominado pelos britânicos não como Malvinas, mas sim como Falklands. Tal ilha é uma tradicional extensão territorial britânica, sendo majoritariamente composta por descendentes de colonos ingleses. Mesmo assim até hoje a soberania da região é reivindicada pela Argentina. Muitos estão a se perguntar, pois bem o que tudo isso tem a ver com a censura do IRON MAIDEN na China?
[an error occurred while processing this directive]Agora começaremos a entender onde tudo isso se relaciona. A guerra das Malvinas não só foi expressa pela banda na música "Como Estais Amigos?"; como também a mesma fez com que a banda tivesse que lidar com certas questões de diplomacia internacional.
Não é nenhuma novidade para nós latino-americanos, que somos o público preferido da Donzela de Ferro, sempre em quaisquer turnês a banda faz questão de nos agraciar com suas apresentações. Podemos perceber isso na apresentação do MAIDEN, no México; registrada no DVD "Flight 666", onde em seus clássicos dizeres ao público, Bruce se refere à nós latino-americanos da seguinte maneira: "sempre quando vamos para o sul, temos mais calor". Nesse mesmo documentário, a banda também se refere à nós (latinos), como não só uma plateia de um show, mas nosso fanatismo e euforia, confunde-se com as acaloradas manifestações de torcidas de futebol em dias de jogos. Vide o nosso tradicional canto "Olê, Olê, Olê, Maiden, Maiden". Um detalhe interessante que intensifica esse afeto latino-americano pelo IRON MAIDEN, ocorreu em El Salvador, durante a fase latino-americana da "BOS World Tour". Logo após o show da banda em territórios salvadorenhos, o ministro do turismo de El Salvador José Napoleon Duarte agradeceu publicamente a banda pelo histórico concerto ocorrido no país da América Central.
Especificando a nossa análise ao público sul-americano; nos destacamos e somos conhecidos, como culturalmente afetivos e pouco protocolares; ou seja somos loucamente apaixonados por aquilo que valorizamos, isso é parte de nossa cultura. Não é à toa que estamos presentes em dois registros videográficos do MAIDEN, o do "Rock in Rio III" (2001) e o "En Vivo!", gravado em Santiago do Chile em 2011. Obviamente que dentre os fãs sul-americanos temos que destacar os países de maiores proporções demográficas, como Brasil, Chile e Argentina.
Obviamente a banda faz questão de se apresentar nessas três praças durante as turnês mundiais, porém o MAIDEN viveu certa polêmica na Argentina, devido a sua nacionalidade britânica, pois como bem vimos a Argentina fora adversária da Inglaterra em uma guerra. Mas essa polêmica não fora diretamente por sua nacionalidade, mas sim por um hábito e cerimonial tradicional do MAIDEN em todas as apresentações onde a música "The Trooper" está presente no setlist. O clássico hasteado e balançar da bandeira do Reino Unido da Inglaterra nas mãos de BRUCE DICKINSON. Para compreendermos o significado do hastear da bandeira britânica na música, devemos entender como é o funcionamento de um show do MAIDEN. Em seus concertos, a banda tenta harmonizar a apresentação musical, com a apresentação teatral e com as coreografias de palco. Essa teatralidade, tem por objetivo nos trasladar até a temática da música, mexendo assim com os nossos sentidos e percepções, como os fogos e explosões em "Aces High", os cenários bem detalhistas como o de um navio em "Rime Anciet of Mariner", as entradas de Eddie no palco, a mística máscara de Bruce em "Powerslave" e incluísse nessa lista a bandeira britânica em "The Trooper". Afinal "Trooper", trata exatamente da temática de uma guerra envolvendo o Reino Unido da Inglaterra, sendo essa guerra conhecida como a Guerra da Criméia envolvendo de um lado os britânicos e seus aliados (Império Otomano, Império Francês e o Reino da Sardenha) contra os russos. Podemos observar o enaltecimento dos combates britânicos contras os russos no seguinte trecho da música:
"The horse he sweats, with fear, we break to run
(o cavalo sua, com medo, nós corremos)
The mighty roar of the russian guns
(O estrondo poderoso das armas russas)
And as we race towards the human wall
(E quando corremos de encontro à parede humana)
The screams of pain as my comrades fall
(Os gritos de dor dos meus camaradas que caem)"
"We hurdle bodies that lay on the ground
(Nós saltamos sobre corpos que jazem no chão)
And the russians fire another round
(E os russos disparam mais uma salva de balas)
We get so near yet so far away
(Nós chegamos tão perto mas ainda tão longe)
We won't live to fight another day
(Não viveremos para lutar mais um dia)"
Não é nenhuma novidade que o Império Britânico já foi conhecido como a grande hegemonia do mundo, como era dito nos tempos áureos das colonizações britânicas, "o sol nasce e se põe no Império Britânico", essa máxima ilustra o apogeu das colonizações e influência britânica no mundo, afinal a Inglaterra estava presente desde as Treze Colônias até o outro extremo do mundo, no caso a Oceania (Austrália, Nova Zelândia e demais arquipélagos); em suma o Reino Unido estava presente do Atlântico ao Pacífico. Tais circunstâncias vieram a ajudar a Inglaterra a consolidar o idioma inglês como uma língua global.
Agora podemos desenvolver alguns conceitos sobre geopolítica para compreendermos o porquê das polêmicas que envolveram o IRON MAIDEN e o balançar da bandeira britânica em "The Trooper". Entre algumas concepções de Geopolítica, podemos entender parte dela, como "o estudo das estratégias de obtenção de poder no sistema internacional".
Outro fator que precisamos compreender é que existem princípios que antropologicamente são simbólicos nas Relações Internacionais, entre esse princípios geopolíticos podemos dizer que a bandeira é o máximo da representação de uma nação; de um país. Porém devemos entender que a fusão contemporânea das palavras Estado-Nação, representam não somente os hábitos culturais, e o ufanismo de um povo, a bandeira também é a representatividade daquela comunidade política. O problema é que no campo político, o mundo se configura como complexo, em uma conjuntura onde diversas nações detém interesses próprios. Em guerras quando um Estado-Nação, conquista territórios de seu oponente, logo sua bandeira é hasteada nos novos territórios. Simbolicamente a bandeira representa uma certa invasão de soberania. Porém pouco problema há se essas nações possuem históricos e estreitos laços de amizade, colaboração e diplomacia. Mas quando uma nação apresenta feridas históricas e certas rivalidades com uma outra determinada nação, a bandeira dessa determinada nação não terá boa receptividade nos territórios opositores.
Tal concepção pode ser compreendida em determinadas situações que o IRON MAIDEN presenciou em sua carreira justamente por cantarem sobre sua nação materna e terem um certo orgulho e ufanismo de sua nacionalidade e tradições provenientes do Reino Unido da Inglaterra. Uma dessas situações ocorreu justamente na Argentina onde o IRON MAIDEN foi questionado sobre o hasteamento da bandeira britânica. Pois o balançar da mesma nos shows do MAIDEN nos territórios argentinos, acabou sendo mal recebido por algumas poucas pessoas, que fizeram um associacionismo do ato, com uma desagradável lembrança da Guerra das Malvinas. Podemos conferir um relato envolvendo essa polêmica em uma entrevista para imprensa argentina onde BRUCE DICKINSON, foi indagado justamente sobre essa situação. Segue abaixo um trecho dessa entrevista, retirado do blog Iron Maiden 666.
"O entrevistador argentino continuou "cutucando a onça com a vara curta", quando perguntou ao vocalista do IRON MAIDEN sobre a reação do público em Buenos Aires quando a banda toca a música "The Trooper" e ele sempre empunha a bandeira britânica, fazendo uma clara referência a Guerra das Malvinas no início dos anos 80. Sobre o assunto Dickinson falou:
"Nós passamos por isso 10 ou 15 anos atrás. Então, fazer o que? Sair com uma bandeira argentina? Esta é a história? - A Argentina não lutou na Guerra da Criméia. Nós tocamos "Aces High" na Alemanha e falamos sobre abater aviões alemães. Esta é a história. Nós fizemos um monte de canções sobre diferentes períodos da história. O problema (com a bandeira da Argentina) foi embora."
Antes falarmos especificamente do caso IRON MAIDEN China, temos que citar outra situação polêmica envolvendo a nacionalidade do MAIDEN e especificamente a performance de "The Trooper".
A História da Inglaterra é uma constante e continua História de guerras, porém uma guerra específica acentuou as hostilidades e o ódio contra o Reino Unido. Trata-se do conflito com a Irlanda, sendo que esse conflito é perpetuado por séculos e ainda sim permanece vivo nas sociedades pertencentes ao Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Ulster (ou Irlanda do Norte). Data-se o início desse conflito ao século XIX, quando os territórios irlandeses ainda pertenciam a coroa britânica, porém a cultura irlandesa era independente da cultura britânica. Os irlandeses além do inglês falavam suas línguas nativas e ainda sim enalteciam seus antepassados celtas, suas tradições e valores, tendo o catolicismo como sua principal religião, diferentemente dos ingleses que majoritariamente professavam o protestantismo. Com o passar do tempo, nacionalistas irlandeses passaram a buscar a independência da Inglaterra, dando inicio a uma séries de conflitos armados. Sendo que a Irlanda só consegue o seu tão aguardado reconhecimento de soberania, somente em 1922, configurando-se então como um legítimo Estado-Nação independente.
Porém o reconhecimento de independência e da soberania irlandesa sob seus territórios, custou um certo preço aos irlandeses, pois os mesmos tiveram que abrir mão de seus territórios no norte da ilha, deixando-os sob jurisdição e soberania pertencentes à coroa britânica. Os territórios da então Irlanda do Norte são até hoje reivindicado pelos irlandeses, porém a sua população sofreu forte colonização britânica, sendo que a maior parte da população local opta em manter os seus laços e tradições culturais perante a Inglaterra, jurando então lealdade a rainha, essa população norte-irlandesa em sua maior parte professa o protestantismo.
Esse conflito na Irlanda do Norte trouxe a tona o IRA, um grupo considerado paramilitar que luta pela "liberdade" e "contra a opressão" no Norte da Irlanda em favor dos irlandeses. Entretanto o Reino Unido considera o IRA uma organização terrorista. Esse conflito nacionalista entre irlandeses e britânicos já causou milhares de mortes em décadas e mesmo com a oficialização de encerramento das atividades do IRA em 2005, a hostilidade de ambas as partes ainda é muito presente na região, desde a violenta rivalidade no futebol escocês com o Glasgow Rangers representando o protestantismo, o ufanismo e o nacionalismo britânico, contra o Glasgow Celtic, representando o catolicismo, o ufanismo e o nacionalismo irlandês; até os violentos desfiles e paradas comemorativas que ocorrem em Belfast e em toda a Irlanda do Norte. Sendo o principal evento de desfile comemorativo conhecido como "Desfile de Orange", onde a então maioria do lado britânico e protestante adentra os bairros do lado católico/ irlandês tocando seus tradicionais instrumentos de percussão, comemorando e festejando a tradicional data de 14 de julho, dia esse marcado no ano de 1690, pela vitória do então Rei Britânico e protestante Willian III que venceu em batalha o rei irlandês e católico James III.
Em toda a história do IRON MAIDEN, a banda evitou ao máximo polêmicas e provocações no geral, sendo considerada uma banda de extremo profissionalismo. Obviamente que algumas polêmicas estiveram presentes na peculiar história da banda, como, a suposta associação ao satanismo com o lançamento do álbum "The Number of The Beast" em 1982, ocasionando nos Estados Unidos uma forte oposição a banda e a demais artistas do Heavy Metal, por setores religiosos e conservadores da sociedade estadunidense; sendo que esses setores conservadores promoveram campanhas para que o álbum da banda juntamente com outros discos considerados satânicos fossem queimados. Ou como o "Egg Incident", também ocorrido nos Estados Unidos, durante a "The Early Days Tour", na apresentação da banda no Ozzfest de 2005. Quando no decorrer da apresentação o MAIDEN foi sabotado diversas vezes e parte da plateia começou a jogar ovos na banda e mantendo um excepcional profissionalismo a banda continuou sua performance. Mais tarde descobriu-se que o incidente foi coordenado, comandado e arquitetado por Sharon Osbourne (então esposa de Ozzy). Sharon comandou o incidente em resposta à algumas críticas de BRUCE DICKINSON à Ozzy. Na ocasião Sharon contratou algumas pessoas, entre elas imigrantes mexicanos para que atirassem ovos no IRON MAIDEN. O incidente também envolveu uma polêmica em volta da bandeira britânica na interpretação de "The Trooper". No começo do show uma das pessoas que trabalhava na produção de Ozzy, invadiu o palco e começou a hastear uma bandeira dos Estados Unidos.
Segue um trecho de uma entrevista de Sharon Osbourne sobre o ocorrido:
"Também me ofendeu toda noite o fato dele usar a bandeira da Inglaterra nos Estados Unidos. Existem garotos americanos indo para a guerra juntamente com ingleses todo dia. Como ele se atreve a esquecer das tropas americanas na sua própria terra. Ele não tem respeito pela audiência americana, ele estava fazendo um joguinho, afirmando em entrevistas que quando se faz uma turnê só com hits nos EUA, a platéia é presunçosa, e existem um sentimento de satisfação pessoal do tipo "conseguimos o que queríamos" e eu (Bruce) olho para ela que está satisfeita, feliz e gorda, recebendo o que queria e não se levanta para nada. (Essa declaração feita por Bruce foi com relação ao fato de que nos shows americanos que o Maiden fez antes o público era formado em sua maioria de pessoas mais velhas, que ficavam tomando refrigerante nas cadeiras e não ficavam na frente do palco como os garotos, coisa que segundo ele, não acontece na Europa, onde os fãs são mais jovens)." *Trecho da entrevista retirado de matéria do blog Iron Maiden 666.
Apesar de tudo o IRON MAIDEN sempre evitou ao máximo as polêmicas e os conflitos, principalmente os políticos.
Agora voltemos a falar sobre as relações Inglaterra-Irlanda.
Durante a turnê do "Final Frontier" em 2011, a banda confirmou então uma apresentação na Irlanda do Norte (Reino Unido), mais especificamente em sua capital Belfast. Só que um detalhe intrigava alguns estudiosos sobre a História do IRON MAIDEN, afinal o setlist da turnê contava com a performance de "The Trooper". A perguntava que ficava então era a seguinte: será que o MAIDEN iria realmente incluir a apresentação de "Trooper" no repertório?
Pois mesmo que a maioria dos norte-irlandeses professassem lealdade a rainha e à coroa britânica; cerca de 45% da população da Irlanda do Norte compartilha da cultura e dos laços com a Irlanda. Sendo que se o ato de hastear bandeira do Reino Unido e o entoar de uma canção que ilustra o enaltecimento ao exército e o poderio militar britânico realmente acontecesse; tais atos poderiam então gerar uma repercussão negativa nos fãs da banda que pertencem ao lado nacionalista irlandês. Inclusive com a possibilidade de acontecerem atitudes de violência em um território onde o "cair de um fósforo, pode representar a explosão de um barril de pólvora".
Eis que o Maiden subiu ao palco e logo após a apresentação e performance de "Dance of Death", aconteceu então uma breve pausa, e a dúvida ainda permanecia; porém em um ato político e diplomático "The Trooper" não fora entoada; o ínicio de "The Wicker Man" cessou quaisquer dúvidas.
http://www.ironmaiden-bg.com/en/2011/no-trooper-for-ireland.php
Voltemos a falar sobre a visita do MAIDEN à China e a censura imposta à banda pelo governo local. Antes mesmo de a turnê começar, os fãs da banda tiveram acesso ao então provável setlist da turnê. Isso ocorreu, pois uma foto com o título das músicas do MAIDEN traduzidas para o mandarim, acabou sendo divulgada. Essa divulgação, ocorreu pois o Ministério da Cultura chinês exige de forma burocrática que todo o artista que se apresente no país, peça uma autorização com antecedência para se apresentar em solo chinês. Dentre essas burocracias, está a exigência de um relatório descritivo com todo o conteúdo que faça parte da apresentação, como a decoração do palco, as roupas utilizadas, as coreografias e principalmente a letra das músicas. Pois quaisquer letras que venham a enaltecer ideologias adversas ao comunismo e ao regime chinês é imediatamente censurada.
Como noticiado pelo Whiplash em matéria, os inúmeros pontos vetados pelo Ministério da Cultura chinês foram os seguintes:
"A bandeira do Reino Unido não poderia ser levada ao palco durante a música "The Trooper";
Nenhum discurso para inflamar a plateia seria permitido (ex: em diversos shows, antes da música "Book of Souls", Bruce lembrava que diversos impérios dominantes como o dos maias surgiram no mundo mas todos eles caíram);
Não seria permitido qualquer tipo de pirotecnia (fogos de artificio, explosões, fumaça, etc).
Nenhuma imagem religiosa ou anti-religiosa seria permitida (e isso aparentemente incluiu a retirada de Baphomet durante a execução de "The Number of The Beast". Obs: o diabo vermelho da capa do álbum também seria retirado, mas eles já não o estavam usando mais);
O ritual de "sacrifício" Maia que é feito em Eddie, retirando seu coração, também não foi permitido, ele, no entanto entrou no palco sem problemas;
Nenhum objeto poderá ser arremessado ao público, nem sequer baquetas, braceletes ou palhetas;
Além disso, assim como em shows de outras bandas os fãs não poderão se aproximar das grades. Foi colocada uma espécie de faixa restritiva antes da grade."
Como de costume em shows de Heavy Metal, a agitação do público e a euforia, por vezes faz com que alguns protocolos sejam esquecidos ou até mesmo ignorados. Tal situação não poderia ser diferente em um show do MAIDEN. Entre as várias ideologias musicais da banda, uma das que mais se destacam é justamente o respeito e o tratamento igualitário aos fãs de qualquer lugar do planeta, isso significa que toda a apresentação do MAIDEN deve seguir na integra o seu planejamento e cronograma inicial, com nulas alterações na performance; se um show foi apresentado de uma maneira na Europa, também deverá ser conduzido da mesma maneira na Ásia, na Oceania, na América Latina e em qualquer outro lugar, não importa em qual cidade, ou país a banda esteja, esse é um tópico da "cartilha" de profissionalismo da banda. Tal pensamento se deve ao fato de a banda, não privilegiar públicos. Isso não significa que a banda não tenha seus públicos preferidos, ou que a performance dos músicos em algumas apresentações, não sejam mais "inspiradas" e eufóricas que em outros lugares. Essa padronização dos shows do MAIDEN é referente ao cronograma do que deve acontecer, ou não no palco, desde o primeiro show da turnê até o último. O que de fato realmente muda de algum lugar para o outro nas apresentações da banda; de país em país, ou até mesmo de região em região; é a interação, a fala e os discursos de Bruce com a plateia; isso é de livre manifestação de Bruce.
Um exemplo disso nessa turnê fora o ocorrido no show do Rio de Janeiro, no HSBC Arena. O show marcou a primeira apresentação da banda no Brasil na "BOS World Tour". Logo após a bandeira brasileira ter sido atirada ao palco por um fã, Bruce segurou a mesma e iniciou uma interação com a plateia. Bruce comentou de forma não polêmica e protocolar com o público presente, sobre a instabilidade política que estava ocorrendo no Brasil. Sobre o assunto Bruce proferiu a seguinte fala ao público:
"...Eu tenho visto muito essa bandeira nos noticiários (na CNN). E espero que os caras maus se "danem", quem quer que sejam".
No mesmo show, antes da performance de "Blood Brothers", Bruce fez mais uma de suas tradicionais exposições que enaltecem a união entre os fãs da banda, sendo sua fala mais uma vez aclamada. Dessa vez com o seguinte discurso:
"O mundo pode ser um lugar terrível, mas querem saber? Estamos em um show do Iron Maiden", refletiu. "Há pessoas de várias nacionalidades, raças e orientações sexuais aqui, e não estamos nos matando. E é isso o que importa, pois somos todos irmãos de sangue".
Já nas apresentações ocorridas em territórios chineses, Bruce não fez referências explícitas sobre os contextos políticos da China, porém como era de se esperar Bruce não foi totalmente protocolar e em algumas situações tentou "burlar" parte das censuras. Entre essas situações destaca-se o pedido de Bruce para que os fãs pegassem suas câmeras e tirassem fotos da banda (fotos no show tinham sido proibidas pelo governo chinês); também podemos ressaltar as mimicas dos palavrões ditos por BRUCE DICKINSON, pois a pronúncia de palavras consideradas torpes também foi censurada pelo governo chinês. Outro ponto que temos a destacar foi o "balançar invisível" da bandeira britânica durante a apresentação de "The Trooper", afinal a bandeira britânica materializada empiricamente nas mãos de Bruce também foi censurada pelo governo chinês.
Agora um detalhe passou desapercebido para os fãs do MAIDEN que não tem familiaridade com a História. Muitos ficaram intrigados com o porque da censura da bandeira britânica durante a performance de "The Trooper". Sobre esse tópico, dois pontos podem ser ressaltados; o primeiro se deve ao protecionismo a cultura nacional existente na China, onde valores culturais ocidentais são restritos; um exemplo disso era a proibição de qualquer forma de videogame e demais jogos eletrônicos nos territórios chineses, essa proibição estava em vigor até o ano de 2014. Esse tipo de restrição cultural é comum em países que professam ou professaram a ideologia socialista, tais situações ainda ocorrem em Cuba e de forma bem mais acentuada e extremista na Coréia do Norte. O Segundo ponto a ser destacado é devido ao fato histórico de China e Inglaterra terem sido nações inimigas de maneira direta. Esse fato ocorreu durante o auge do colonialismo europeu no século XIX, por duas ocasiões de guerra entre essas nações. Tais guerras foram conhecidas como a "Primeira Guerra do Ópio (1839-1842)" e a "Segunda Guerra do Ópio (1856-1860)". Nesse mesmo século a Inglaterra detinha um intenso comércio com a China, e entre os produtos exportados o ópio estava incluso. Para a Inglaterra era um comércio muito lucrativo, pois logo após os mesmos terem propagado o uso de tal substância nos territórios chineses a demanda por tal produto somente aumentava devido ao alto grau de viciabilidade que o ópio desencadeia. Muitos chineses passavam o dia inteiro nas então conhecidas "casas de ópio". Eis que com o passar do tempo o imperador chinês percebeu a degradação que o uso da droga estava causando em sua população, pois além da improdutividade que era perpetuada entre os usuários, a saúde dos mesmos estava sendo afetada. Um dos maiores medos do imperador era que sua população fosse dizimada devido aos problemas de saúde, pois muitos chineses jovens passaram a morrer devido ao consumo excessivo de ópio.
Com isso o então governo chinês proibiu definitivamente toda a comercialização de ópio em seus territórios. Consequentemente o Reino Unido não compactou com essa proibição, pois o comércio do ópio era uma alta fonte de lucratividade para os britânicos, além do mais a expansão colonial e comercial hegemônica da Inglaterra não poderia ter seu ufanismo e "ego nacional" feridos, por povos que eram subjugados como inferiores pelo pensamento eurocentrista da época. Com isso ocorrem o primeiro choque entre as duas nações onde a Inglaterra inicia então um bombardeio na China, esse primeiro choque entre as duas nações durou três anos. Logo após esse primeiro choque, ocorre em 1856 a "Segunda Guerra do Ópio", esse segundo choque durou quatro anos. Somadas essas duas guerras estima-se que entre 20.000 a 40.000 chineses foram mortos nesses dois conflitos com a Inglaterra.
Um dos fatos marcantes desse conflito é o nascimento do banco HSBC que tem o remoto despertar de suas atividades relacionadas ao tráfico de ópio para China. Além disso após o primeiro choque com a China; a Inglaterra tomou o território chinês de Hong Kong, passando o mesmo a ser de soberania do Reino Unido. O território de Hong Kong só foi devolvido a jurisdição chinesa no ano de 1997.
Tais situações históricas expõe o porque da censura imposta pelo governo chinês ao balançar da bandeira britânica em uma música que retrata o auge histórico das guerras coloniais britânicas.
Porém essas censuras ocorridas na China não foram uma excepcionalidade do IRON MAIDEN, vários artistas internacionais quando dificilmente se apresentam nos territórios chineses sofrem das mesmas burocracias e censuras. No cenário do Heavy Metal podemos destacar o Metallica e o Megadeth. Na apresentação do Metallica em Shanghai o governo chinês censurou "Master of Puppets", pois considerou a mesma como uma música subversiva, outras músicas do METALLICA censuradas foram "One" e "Creeping Death". Mesmo assim James Hatfield tocou brevemente "Master of Puppets" de maneira instrumental. Já com o Megadeth o desenrolar de sua estadia na China não teve tanto sucesso assim, pois além das tradicionais censuras impostas pelo governo chinês o show da banda foi instantaneamente interrompido de maneira inesperada. Após a primeira parte da apresentação Dave Mustaine agradeceu a plateia e se despediu do público. As músicas do Megadeth censuradas foram "Holy Wars", "Angry Again" e "Skin O' My Teeth".
Apesar de todas as censuras impostas ao IRON MAIDEN, a banda pretende voltar a China, como fora comentado pelo próprio BRUCE DICKINSON durante a interação com o público no show de Shanghai.
Mesmo com todos esses ocorridos, muitos podem deliberar que os acontecimentos históricos que envolveram o Reino da Inglaterra, nada tem a ver com a banda, ou muito menos com a expressão artística por parte de músicos no ano de 2016. Tal pensamento pode ser expresso em uma frase dita certa vez por BRUCE DICKINSON; Bruce exclamou a seguinte reflexão, quando indagado sobre um dos papéis da banda; "somos músicos não políticos". Podemos evidenciar que tais situações geopolíticas de conflitos já foram superadas pela comunidade global, e que determinadas polêmicas políticas envolvendo expressões culturais e artísticas não fazem muito sentido nos tempos contemporâneos, em um mundo marcado pela pós-modernidade. Em um mundo "onde os muros caíram", onde o mundo deixou de ser separado e catalogado entre o eixo pró-capitalista/ ocidental e o eixo pró-comunismo/ soviético.
Sendo que o IRON MAIDEN em quase todas as turnês se apresenta na Rússia e sempre que o setlist conta com "The Trooper" a música é entoada sem problemas algum. Mesmo que a letra de "Trooper" evoque justamente a Guerra da Criméia, retratando assim a luta de soldados ingleses contra russos; ou seja a música faz uma exposição de uma guerra entre o Reino Unido da Inglaterra contra a Rússia, ilustrando o lado britânico do conflito, e mesmo assim nas apresentações do MAIDEN em Moscou e em outros lugares pertencentes a soberania russa, a música é entoada e recebida euforicamente pelos russos; sendo cantada em idioma inglês pela plateia russa e com o hastear da bandeira britânica nas mãos de BRUCE DICKINSON.
Andrew Jones Macedo é sociólogo/ cientista político especializado em Relações Internacionais e Geopolítica; professor de História e Filosofia, além de ser um devoto fã e admirador do Iron Maiden.
Up the IRONS !!!
Nota do autor: recomenda-se aos interessados, a leitura complementar, de um artigo do professor e historiador Mark LeVine, publicado na Al Jazeera. No mesmo, LeVine faz uma análise do Iron Maiden e do heavy metal como expoentes da globalização e da internacionalização cultural. Principalmente no cenário do mundo islâmico e do Oriente Médio. É possível acessar o artigo traduzido para o português através do link abaixo.
http://www.ironmaiden666.com.br/2010/09/iron-maiden-como-modelo-para-o-oriente.html
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