Lacrimosa: Hoffnung e o Arcano da Estrela
Por Davi Martins
Postado em 02 de agosto de 2018
Eu gosto de ficar vendo as entrevistas dos meus artistas preferidos no meu cotidiano e hoje me deparei com uma entrevista do Tilo Wolff falando do Álbum Hoffnung do Lacrimosa e na mesma ele dizia o seguinte "'Hoffnung' era um disco que falava sobre a transição entre desespero e a luz". Ninguém melhor que a dupla do Lacrimosa para tratar em álbum sobre essa transição, das trevas para a luz.
Tilo Wolff tem uma relação muito legal com o cristianismo, ele já havia dito em outra oportunidade que a Bíblia era um dos seus livros preferidos. Ouvir Hoffnung me remete a CS Lewis em seu sermão "Peso de Glória" disse que todos nós temos em nossa intimidade um sonho desfeito, nosso segredo inconsolável, como Tilo Wolff mesmo disse em Der Freie Fall (Apeiron, Pt. 1), (A queda livre, Apeiron PT 1). "Niemand erlebt deine Leiden – so wie du" (Ninguém testemunhou o seu sofrimento - assim como você"). Nós fomos feitos para o que há de mais sublime e quando expandimos a nossa consciência, nós desejamos ainda mais. Sempre haverá algo que nos falta. Há uma inflamação na nossa natureza com uma glória que não conseguimos alcançar. É como ser movido por uma música antiga sem achar muito compasso em sua dança.
No Tarot, o Arcano que resume o sentimento que flui no Álbum é o Arcano da Estrela, o arcano que nos surpreende com esperança. É noite, está escuro, mas tudo vai ficar bem de novo quando o dia chegar. Clara Nunes cantou certa vez: "O Sol há de brilhar mais uma vez/ A luz há de chegar aos corações." Esse pensamento está oculto em Hoffnung. CS Lewis disse em O Peso da Glória que uma das percepções a respeito do sonho inconsolável é o desejo de ser batizado, não o batismo eclesiástco, mas o batismo no sentido da imersão em algo até a pessoa ser totalmente preenchida. Lewis está escrevendo sobre a beleza e o simples prazer de contemplar algo belo, e sobre como, ao vê-lo, queremos mais. E esse querer mais certamente faz parte daquilo que foi despertado em nossos corações quando lemos sobre o abraço do amor. É assim que Tilo canta em Mondfeuer (Fogo da Lua):
"Alle lichter verschmelzen zu einem schein
Zu einem gefühl
Zu einem verlangen
Nur zu dir!
Eine liebe die mein herz sprengt
Mich zerreisst
Und mich in dunkelheit auflöst
Todas as luzes se fundem em um brilho
Em um sentimento
Em um desejo
Só por você!
Um amor que arrebenta meu coração
Me dilacera
E me dissolve na escuridão".
Nós não queremos meramente ver a beleza, embora ela seja por si só uma recompensa suficiente. Queremos algo mais que dificilmente pode ser descrito com palavras – unir-nos à beleza que vemos, incorporar-nos a ela, recebê-la em nós, para nos banharmos nela, para nos tornarmos parte dela. É por isso que povoamos o ar, a terra e a água com deuses e deusas, ninfas e elfos – projeções que podem, já que não podemos, desfrutar da beleza, da graça e do poder de que a Natureza é a imagem. É por isso que os poetas nos contam suas adoráveis fantasias. Eles falam como se o vento oeste pudesse de fato varrer por dentro as almas humanas, mas ele não pode. Os poetas nos dizem que "a beleza nascida do som que murmura" irá se juntar a um rosto humano, mas ela não irá. Eu concluo meu pensamento com esse pensamento da canção Der Freie Fall- Apeiron PT2, Zeit erfüllt den Zweck - den Zweck, den wir ihr geben (O tempo cumpre o propósito - o propósito que lhe damos). Em outras palavras, nós temos o poder de construir nosso destino. No tempo certo, tudo ficará bem.
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