Rádio Taxi: Gel Fernandes fala da turnê de quatro décadas
Por Nelson de Souza Lima
Fonte: Nelson de Souza Lima
Postado em 06 de março de 2020
Chegar a quarenta anos de carreira não é pra qualquer um. Ainda mais quando falamos de rock nacional que, para poucos incautos, tá morto e enterrado. Abrindo as comemorações de quatro décadas de existência e resistência os paulistanos do Rádio Táxi se apresentam no dia 5 de abril, no Carioca Club. Tendo como convidado o Placa Luminosa, outro gigante dos anos 80, a banda liderada por Gel Fernandes (bateria) e Lee Marcucci (baixo) entra em turnê que percorrerá o pais. Completam a atual formação Fábio Nestares (voz), Miltinho Romero (guitarra) e Flávio Fernandes (teclados). Surgido em 1981 o Rádio Táxi abriu, naquela década, as portas do rock nacional para muitas outras bandas que vieram depois. Responsáveis por alguns dos maiores hits do rock nacional oitentista o grupo embalou milhares de fãs e segue renovando seu público. Como não dançar ao som de "Garota Dourada", "Dentro do Coração (Põe Devagar)", "Coisas de Casal", "Com o Rádio Ligado", "Você se Esconde", "Eva", entre outras. Segundo Gel Fernandes a apresentação no Carioca será inesquecível. "O Placa faz o show dele e fazemos o nosso. Duas bateras no palco porque no final entra todo mundo e fazemos duas músicas pra finalizar. Uma deles e outra nossa." atesta. O baterista acrescenta que a tour não resultará em material discográfico. "Nós nunca fomos muito de tocar e gravar. Nosso barato mesmo é tocar ao vivo. Gostamos de gravar também, mas sem aquela obrigação", conclui Gel Fernandes.
Na entrevista a seguir o batera Gel Fernandes fala das quatro décadas, turnê e rock and roll.
SERVIÇO
Rádio Táxi
Convidado: Placa Luminosa
Dia 5 de abril - Abertura da casa: 16 horas
Classificação: 16 anos.
Crianças de dez anos acompanhados dos pais podem entrar
Local: Carioca Club
Inf e vendas: Clube do Ingresso
O Rádio Táxi é uma das bandas mais longevas do rock nacional, completa 40 anos, em 2021. Como você faz um balanço dessas 4 décadas?
Gel Fernandes - É impossível fazer um balanço das quatro décadas. Principalmente no começo da banda quando um ano parecia dez. Chegamos a fazer três shows no mesmo dia. Uma que você tá a fim de tocar e aproveitar o sucesso que "Garota Dourada" fazia e que começou a tocar em 1981. A música já tocava na rádio e nós ainda não tínhamos terminado de gravar nosso disco de estreia que saiu em 1982. E não sabíamos o que ia acontecer. Se iam parar de tocar ou entrar outra música. Então fazíamos muitos shows. Lembro que até uma vez caímos com o carro dentro de um rio. Indo de um show pra outro. Voltando do ABC e tivemos que sair bem devagar pro carro não afundar de vez. Ai pegamos uma carona com nosso contratante para fazer o show e depois voltamos pra resgatar o carro. Do primeiro disco estourou três músicas: Garota Dourada, Coisas de Casal e Põe Devagar. Quando começamos a gravar o segundo disco ainda tínhamos música estourada do primeiro. Nunca paramos de fazer show. A gente gravava segunda, terça, quarta e quinta-feira e viajávamos na sexta pra só voltar na segunda-feira. A partir do terceiro disco o ritmo foi diminuindo. Por vários aspectos. Uma por questão de contrato com a CBS (atual Sony). Não gravamos no ano que deveríamos porque estávamos cansados., não tínhamos músicas compostas e não deu pra gravar. Começamos a dar espaço de um disco pro outro. Tanto é que outras bandas que começaram na mesma época que a gente têm mais de 15 discos. Nós só temos nove porque não estávamos nem ai pra esse negócio de tem que gravar. Gravávamos quando estávamos a fim. E no começo foi uma briga com a gravadora. Mas eles acostumaram pois não adianta entrar no estúdio quando você não tá a fim pois a coisa não fica boa. Não dá pra fazer um balanço muito amplo. Tentei resumir.
Já que estamos entrando numa fase comemorativa podemos esperar o álbum "Rádio Táxi 4 Décadas"?
GF - Não vai rolar. Nunca fomos muito de fazer show e ter que gravar, registrar ao vivo. Nosso negócio é pé na estrada, vamos viajar por ai. Gostamos de gravar, mas sem ter aquela obrigação. Por enquanto "4 Décadas" é o nome da turnê Rádio Táxi e Placa Luminosa.
A banda nunca parou, assim como outras saiu um pouco da mídia, em virtude da ascensão de outros gêneros e mudança de mercado.
GF - A banda nunca parou. Demos pausas por um motivo ou outro. Por exemplo entre o segundo e o terceiro álbum tivemos a troca de vocalista. Então tínhamos que fazer televisão, pois Eva tava estourada. Ai tivemos que ensaiar todo o repertório e mais a música estourada nas rádios. E ficavam nos pedindo pra fazer televisão. Decidimos que não dava pra fazer programas, pois no disco era um vocalista e ao vivo seria outro. E a gravadora com aquelas ideias que geralmente não são as nossas. e a gente tem que ir um pouco na deles Não queríamos gravar Eva pois não achávamos a cara da banda. Mas insistiram tanto que gravamos no lugar de uma que é inédita, tocada pelo Wander Taffo (falecido em 2008) chamada Limusine. Mas o resultado final ficou melhor que o original. E foi graças a Eva que temos esse sucesso todo. Então às vezes você tem que acatar as ideias dos caras porque eles que vendem e poem nas rádios. Mas na verdade nunca paramos de fazer shows.
Além do Rádio Táxi você trabalho muito com outros artistas. Quando não tá com a banda com quem anda trabalhando?
GF - Eu sempre tenho outras coisas pra fazer. Tive uma banda com o P.A (baterista do RPM falecido em 2019) chamada Cuca Monga, uma banda de reggae, na qual o P.A ia cantar. Gravamos há 35 anos. Tinha o Ney Haddad no baixo e o Bibo Bueno na guitarra. Só que não lançamos devido a compromissos com nossas bandas. E esse disco tá pronto, é muito legal, mas não lançamos. E quando resolvemos voltar o P.A ficou mal, faltar nos ensaios e não conseguíamos falar com ele. Isso foi um prenúncio, pois logo em seguida ele morreu. Também tive um projeto com o Fabiano Carelli, guitarrista do Capital Inicial. Antigamente você se empenhava numa banda só, eram outros tempos. Hoje em dia todo mundo faz um monte de coisa e pra marcar um ensaio com quatro pessoas é difícil. Mas tenho outra banda legal também chamada A Máfia com muita coisa na Internet. Algumas bandas legais que tive paralelamente, sem parar o Rádio Táxi. Tem um outro lance que faço faz tempo chamado Companhia Filarmônica que é um show teatral dos Beatles e com a mesma banda tocamos clássicos do cinema e quando dá pra ir eu vou.
A pergunta de um milhão de dólares. O rock morreu? Como analisa o atual momento do gênero? Ouve bandas novas?
GF - O rock não morreu. Tá adormecido pela ascensão de outros gêneros e outras coisas que sufocaram o rock. Mas quando a gente vai tocar todo mundo gosta. A mídia sufocou de tanto que tocam outras coisas. Mas não podemos desistir. Temos que esperar o momento da volta. Não é possível ficar tanta coisa ruim por tanto tempo. Como voltou com a gente mesmo nos anos 80. Era um outro lance nos anos 70 não tinha chance de tocar em rádio porque era aquele lance de rock progressivo que gostávamos também, inclusive minha primeira banda com o Wander Taffo foi nos anos 70 chamava Memphis e não tínhamos chance de tocar na rádio, pois só tocava música americana. Só conseguimos entrar nas rádios nos anos 80. Então é isso, aguentar e ir devagar. E não adianta tentar mudar seu estilo, pois você tem uma raiz e quem faz isso fica sem identidade. Quanto às bandas novas não escuto muito pois não fazem meu gênero.
A banda inicia os anos 2020 com uma formação sólida. Tem o Lee, seu parceiro de anos, no baixo, seu sobrinho Flávio nos teclados, o Miltinho Romero na guitarra e o Fábio Nestares no vocal. Nestares, inclusive é sobrinho do Carlinhos Marques, tecladista que tocou com você no Sunday (banda das antigas mas que ainda tá na ativa).
A banda tá num bom momento pois é brodagem absoluta e familiar. Qual é o atual momento do grupo?
GF - Foi difícil encontrar um guitarrista depois do Wander, pois era o melhor guitarrista do Brasil. Descolamos o Miltinho que se deu bem , o meu sobrinho já tava na banda e é jovem e o Fábio já tava, eu e o Lee Marcucci. Então essa formação é legal pois tem a raiz, que somos eu e o Lee, Miltinho e Flávio que ouvem coisas modernas. Então temos a coisa moderna e a gente segurando na raiz sem deixar exuberar muito e sair do que é o Rádio Táxi. Não podemos mudar muito. Tá bem ponderada essa formação. Na verdade eu toquei com o Carlinhos Marques no Memphis e o Carlinhos veio tocar no Rádio Táxi como músico contratado . Temos mais valor no interior que nas capitais. Por exemplo, no Rio já faz quase um ano que não tocamos.Cada um de nós toca muito sozinho por ai, mas não vamos parar a turnê. Além disso, fazemos muitas apresentações com o Roupa Nova também. Em São Paulo faremos o Carioca, depois voltamos pro Brahma e também Bourbon Street e o Burlesque Paris 6, na Rua Augusta. Vamos tentar fazer umas quinze apresentações pra dar um UP em São Paulo. É o que tá faltando, pois fora a gente tá muito bem.
E como é o processo de composição de músicas novas com a atual formação?
GF - Não temos receita pra compor. Quem mais compôe é o Lee quando junta com uns amigos e às vezes com o Fábio. Cada música é uma coisa. Como não temos a obrigação de gravar, não sei nem se eles estão escrevendo novas músicas. Se precisar a gente se junta e sempre acaba saindo alguma coisa legal.
Falando sobre a turnê que começa em abril no Carioca Club. Como surgiu a ideia de fazer com o Placa Luminosa. Será uma turnê conjunta?
GF - A ideia surgiu há dois anos numa conversa com o Ari, baixista do Placa Luminosa. Só que devido a tantas coisas não foi pra frente na época. Depois de um tempo voltamos a conversar e concretizou. Fizemos uma estreia no final do ano passado, num teatro na Liberdade, que foi muito legal. O Placa faz o show deles, nós fazemos o nosso. Duas bateras no palco. No fim entra todo mundo. Placa Luminosa inteiro, Rádio Táxi inteiro e fazemos duas músicas pra terminar o show. Uma deles e uma nossa. Muito legal.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps