Rafael Bittencourt: uma relação espiritual com Andre interrompida pela estupidez humana
Por Bruce William
Postado em 07 de novembro de 2020
Neste novo episódio da série "Por Dentro com Paul Baron" do canal de Regis Tadeu no youtube, Rafael Bittencourt bate um longo papo com o empresário musical, onde fala sobre sua carreira, Angra, Deus e Edu Falaschi dentre outras coisas; no recorte a seguir, o trecho onde ele fala sobre Andre Matos - o vídeo completo está ao final da matéria.
Leia a seguir transcrição/adaptação de parte desse trecho.
"É difícil trazer em palavras o que passou, foi um fluxo incontrolável. Eu fiquei revoltado, na hora eu xinguei, uma coisa completamente irracional, eu aqui com meus planos de mundo unido e ele me prega essa peça, mas hoje eu vejo da seguinte forma. Meu pai morreu poucos meses antes, e é um pai, um familiar, a dor é muito maior, e apesar de ser sido traumática a passagem dele, ficou 46 dias na UTI, eu senti que completei minha missão com meu pai, eu disse muitas vezes que o amava, vivemos muitos momentos juntos, eu saldei toda a dívida com meu pai ainda em vida. Quando o Andre foi eu me senti amputado um pedaço pois estava incompleta a missão. Hoje eu sei que nenhuma missão se completa, é uma coisa difícil de se aceitar. Você tem missões e ambições na vida e nenhuma delas nunca termina. É comum que o destino interrompa as missões, mas se ele só nos trouxesse coisas boas a gente talvez não evoluísse, então me trouxe muito aprendizado esse momento. E o fato de eu ter tentado tanto conversar com ele, eu nunca fiquei de mal com ele, ele um dia decidiu e ficou de mal, foi embora. Me humilhei, pedi pra ele ficar, mas não, ele tinha as coisas dele. Eu ficava de mal por ele se justificar com coisas que não eram reais. Por exemplo, ele falou por aí que eu e o Toninho (Antonio Pirani) fizemos um CD pirata da própria banda, isso é um absurdo, uma loucura, mas nunca quis parar para mudar esse pensamento. Então essa falta de flexibilidade dele me magoou. Pô, olha o prejuízo de interromper uma banda, frustar os fãs por causa de uma fantasia paranoica. Eu fiquei chateado por ele também, fiquei triste pelo cara não ter tido a oportunidade, não ter tido o tempo..."
Neste trecho, Baron interrompe dizendo achar engraçado o fato dos dois quase terem se encontrado poucos dias antes da morte de Andre, num encontro que não chegou a acontecer, ficaram a poucos metros de distância um do outro no aeroporto, e Rafael retoma a palavra: "Então, a gente estava tão pertinho de se encontrar, avançando nessa reconexão, ele estava apresentando uma certa empatia com essa reaproximação, e é muito difícil de se imaginar, com certeza é uma conexão espiritual, com certeza. Vou te explicar a história do Angra, uma ideia minha, queria misturar heavy metal com música clássica com música brasileira, meus companheiros de banda achavam que era uma coisa muito arriscada, essa coisa de colocar baião, mas eu tinha um projeto que eu sabia que era consistente. Eu estudava composição na faculdade, e fui atrás de músicos. Já conhecia o Andre, quando ele entrou a coisa se formou pois ele tinha conhecimento, contatos fora do Brasil e ele tinha um grande talento, era compositor, cantava, tinha presença de palco. Eu pensei 'agora a coisa vai'. Eu tinha 19 anos, hoje vejo meus sobrinhos nessa idade e pra mim são uma criança. Então quando somou essas duas forças ninguém segurou, tipo Deusa do Fogo, incendiou. Então eu acho que esse encontro foi espiritual pois a gente tinha muito afinidade, uma profunda amizade, afinidade pessoal e musical. Mas quando coisas da estupidez humana começam a incidir elas criam um tumor na espiritualidade, pois ela sempre vem dobrada, não existe anjo que não venha com um demônio, é coisa de Yin e Yang, a espiritualidade vem assim. A nossa amizade, nossa espiritualidade foi simples e sucumbiu, não fomos fortes o suficiente (pra manter a união). Foi como você disse, estávamos muito perto para nos reconectar, eu olhei e ele estava no telefone, talvez fingindo para não falar comigo, e eu também estava ocupado, fazendo o check-in, e tinha também a coisa da surpresa, não sabia como reagir, não via fazia vinte anos e de repente aquela coisa de 'oi, como vai, tudo bem?', então houve todo esse desconforto. E outra, a gente não sabe que a pessoa vai morrer dali a pouco tempo, isso é o pior, isso nos faz refletir ainda mais sobre como é instável o destino(...)".
Assista o vídeo completo abaixo.
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