CBJR: biógrafo de Champignon fala sobre crowdfunding do livro
Por André Nascimento
Postado em 30 de junho de 2022
No ano passado o jornalista, quadrinista e escritor Pedro de Luna lançou uma campanha de crowdfunding visando o lançamento da biografia "Champ", que traz a trajetória pessoal e artística do baixista Champignon, que fez fama na banda santista CHARLIE BROWN JR, mas infelizmente nos deixou no ano de 2013 após cometer suicídio.
O crowdfunding não atingiu a meta, mas agora a campanha foi novamente lançada no dia 01 de junho e visa arrecadar até o final de julho a quantia R$30.000,00 para lançar a biografia, que vai ser lançada pela Ilustre Editora e inclusive já está pronta. O livro, que tem 400 páginas, precisa cobrir os custos de revisão, edição, impressão e envio para ser lançado.
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Sobre "Champ" e outros assuntos, o niteroiense radicado em São Paulo concedeu uma entrevista via e-mail, que pode ser lida na íntegra abaixo:
1. Como foi o começo da sua trajetória?
Eu escrevo e desenho desde criança. Mas em 1993, quando ingressei no curso de Comunicação Social da UFF, é que o jornalismo musical se tornou de fato uma profissão. Já no primeiro período da universidade eu criei um fanzine, comecei a estagiar na rádio Fluminense FM (a ‘Maldita’), e a produzir shows, festas e campeonatos de skate. Dali em diante tornei-me produtor de eventos e colaborador de inúmeros jornais, revistas e, mais tarde, de sites como Punknet e MTV, e editor do falecido sk8.com.br, além de subeditor do Jornal do Rock.
O meu primeiro livro, "Niterói Rock Underground 1990-2010" saiu de forma independente em 2011. A partir dali eu escrevi e publiquei 15 obras, sendo sete biografias: a do quadrinista Marcatti, do MC e baixista Speed e da banda Planet Hemp, do festival Porão do Rock (DF), do pintor angolano Filipe Salvador, do professor, historiador e parlamentar Chico Alencar e também o "Brodagens - Gilber T e as histórias do rap e do rock carioca", tendo o músico Gilber T como fio condutor. A biografia do Champ será a minha oitava.
2. O óbvio seria escrever uma biografia sobre o Chorão. O que te levou a escrever uma biografia sobre o Champignon?
Justamente o que me atraiu num primeiro momento foi a quase escassa documentação sobre ele e, depois, perceber que um músico tão premiado e reconhecido ainda não tinha um reconhecimento à altura quase 10 anos após a sua morte. Além, claro, de não ter tido a sua versão da história contada.
Mas é claro que o Chorão está muito presente no livro "Champ", já que os dois se conheceram ainda jovens – o Champignon tinha apenas 12 anos, mas já era um prodígio – e faleceram no mesmo ano de 2013, num intervalo de apenas seis meses. Inevitavelmente a história de vida de um permeia a do outro.
3. Entre pesquisa, coleta de material e escrita, quanto tempo levou esse processo para finalizar a biografia?
Foram dois anos de trabalho duro, solitário e não remunerado. Essa é a parte mais dolorosa em se fazer uma biografia, pois nenhuma editora que eu conheço financia esse período de pesquisa, de entrevistas e de redação. Então além do tempo, há um investimento financeiro e também emocional, por que eu mergulho de cabeça, me envolvo de verdade, rio, choro, sofro. É uma imersão tão profunda que eu acordo e vou dormir pensando na história e nos seus personagens, numa angústia que só termina quando enfim o livro é lançado.
4. Você lançou através de editora consolidada a biografia do PLANET HEMP, mas na maioria lança livros por conta própria e faz o mesmo na divulgação. Quais os prós e contra entre lançar um livro por uma editora e fazer o mesmo por conta própria?
Essa é uma ótima pergunta. Na minha opinião pessoal, basicamente a vantagem em ser publicado por uma editora, seja ela qual for, é a distribuição, a comercialização e o investimento financeiro para remunerar todos os profissionais envolvidos e, claro, pagar a gráfica. Então, o autor não precisa se preocupar com o envio da obra para os leitores, nem com pagamentos, prestação de contas, negociação com livrarias e distribuidoras. Ou seja, a parte administrativa/financeira e a logística.
Em alguns casos, também é importante contar com a ajuda dos departamentos de marketing, imprensa e jurídico – como foi o caso da biografia "Planet Hemp mantenha o respeito" (Belas Letras, 2018).
Mas quando você resolve fazer tudo por conta própria também há vantagens, como o total controle do processo – onde o autor decide quais e quantas imagens o livro terá, qual será a identidade visual e a quantidade de páginas etc – e, claro, o fato de que a propriedade patrimonial continua sendo de quem criou a obra. Como eu gosto de fazer eventos de lançamento, consigo ter mais liberdade e autonomia quando o livro é um projeto independente, que é o caso de "Champ".
A desvantagem é justamente o acúmulo de funções e o investimento financeiro pessoal. Outra vantagem é não fazer a cessão do seu patrimônio para terceiros. Ao assinar um contrato com qualquer editora, aquele produto livro passa a pertencer àquela empresa, mas o direito autoral continua sendo obviamente do autor, que será sempre citado e remunerado no caso de licenciamentos.
5. O ano de 2022 é um ano especial ao CBJr, pois a banda está numa data redonda de 30 anos, o álbum de estreia completa 25 anos e dois integrantes originais fazem uma turnê alusiva aos 30 anos. Qual a sua opinião sobre esses três acontecimentos?
É uma feliz coincidência, já que o livro está pronto desde 2021, mas no ano passado não conseguimos bater a meta do crowdfunding. Prefiro acreditar que "há males que vem para o bem". Com certeza esses três acontecimentos ajudam a colocar a banda e seus integrantes em evidência e podem (ou não) trazer alguma visibilidade maior ao livro junto ao público e à imprensa. Mas são apenas possibilidades, porque ainda estamos chegando agora, com muita ralação e dedicação, a 1/3 da meta total da nova campanha de financiamento coletivo.
Infelizmente, até esse momento o que eu percebo é que cada parte está buscando o seu espaço por conta própria. Os dois guitarristas da chamada formação clássica saindo em turnê, o filho do Chorão tocando o legado patrimonial do pai, e eu correndo atrás para viabilizar o financiamento coletivo da biografia com o suporte moral do pai e da irmã mais velha do Champignon.
Sinceramente, eu torço para que TODOS nós possamos atingir os nossos objetivos. Mas com certeza se estivéssemos unidos, um divulgando o outro, as coisas seriam maiores e talvez até fluísse mais facilmente para todo mundo.
6. Álbuns versus singles, o streaming em todas as partes, o re$gate do vinil e o CD, antes um fenômeno, virando um lance de colecionador. Essas quatro situações, na sua opinião, são um caminho sem volta?
Na minha percepção as coisas são cíclicas, elas vão e voltam, às vezes como modismos, às vezes para ficar. No caso desses suportes de mídia, a tecnologia e o acesso econômico são fundamentais. Se por algum motivo eu não consigo comprar uma vitrola ou um tocador de fita k7, ou mesmo achar facilmente peças de reposição e uma assistência técnica, posso até comprar por colecionismo, mas não terei como ouvir. Me lembro quando eu ficava na banquinha dos shows e vendia muitos compactos em vinil para pessoas que usariam de decoração em casa, pois não tinham um toca-discos.
Sobre os álbuns versus os singles, sem dúvida eu acho que a coisa se esvazia demais ao fatiar em músicas avulsas. Um disco é algo concebido por completo, desde a capa até a ordem das músicas. Lembro-me na época do CD quando alguns artistas ficavam abismados com a função "shuffle", que tocava a ordem das músicas aleatoriamente (risos). Eu ainda tenho dezenas de LPs e fitas demo em k7 e centenas de CDs. Não pretendo me desfazer de nada tão cedo.
Para não me alongar, mas acho importante dizer, eu sou de uma época onde a relação com a música era afetiva. Quem te deu aquele disco, quem gravou aquela fita k7, a música que tocava quando beijou determinada menina, etc. Na minha infância e adolescência, o disco era um produto caro, então havia um processo de escolha muito interessante quando se pedia um determinado título de natal, aniversário ou amigo oculto. Então dava-se muito valor àquela obra. Com a facilidade do digital, talvez a coisa tenha ficado mais descartável.
[an error occurred while processing this directive]No caso das obras independentes, havia uma questão de conquista, de conseguir ter determinada fita demo em k7 ou um CD com uma pequena tiragem. Porque nos anos 1990 e 2000 ou você ia ao show da banda e comprava na banquinha, ou adquirida à distância, por correio, por e-mail, depositando em conta ou enviando o dinheiro numa carta. Mesmo existindo muito mais lojas de discos, não se encontrava nelas os que não fossem de grandes gravadoras. Por essas e outras eu ainda valorizo a arte do encontro, a oportunidade de adquirir os produtos diretamente do artista. E, claro, conhecê-lo pessoalmente, assistir ao seu show ao vivo.
7. Existe planos em lançar um audiobook ou até mesmo um documentário?
Se dependesse só de mim, "Champ" seria lançado em e-book, áudio livro e sim, ganharia versões audiovisuais. Mas tudo isso depende, pra variar, de investimento financeiro. Eu tive a oportunidade de narrar a minha biografia do Planet Hemp para a plataforma Storytel, e adorei a experiência. Mesmo sendo uma iniciativa 100% independente, eu torço para que a repercussão do livro seja a melhor possível e ele possa ganhar outras mídias. Afinal, quanto mais pessoas conhecerem a incrível história do Champignon, melhor.
8. O fim da MTV Brasil e a consequência para o Rock Nacional?
A MTV teve diversas fases, algumas melhores e outras piores. Com certeza os primeiros anos foram importantíssimos para alavancar uma nova cena, sobretudo independente. Em determinado momento começou a privilegiar mais os programas de auditório e de humor, e se descolou de um público anterior para chegar aos adolescentes. A emissora também foi fundamental para o nicho dos discos acústicos, muitos deles responsáveis por tirar do buraco bandas que não conseguiam mais vender tantas cópias quanto antes.
No caso do Champignon e, claro, do Charlie Brown Jr., a MTV teve um papel essencial no sucesso da banda. Desde o primeiro prêmio como revelação no VMB de 1998 até representar o Brasil no VMA, a visibilidade que ela deu à banda ajudou e muito a popularizar as suas músicas. Quando eles lançaram o primeiro clipe em animação, o VMB não tinha essa categoria, e então criou.
[an error occurred while processing this directive]No livro tanto fica muito claro quando o CBJr começa a perder espaço na emissora tanto para o rap quanto para a geração dos ‘emos’ e dos chamados ‘coloridos’. Analisar os videoclipes do grupo santista ajudou e muito a entender o que acontecia com eles ao longo dos anos e está tudo contadinho em detalhes no livro.
Apenas para registro, também devemos lembrar a importância que o soap show "Malhação" teve para a banda ao escolher "Te levar" como tema de abertura. Assim como a MTV, a TV Globo ajudou bastante o CBJr, inclusive premiando e reconhecendo o trabalho do grupo. Da mesma maneira que os apresentadores Serginho Groisman, Luciano Huck e Otaviano Costa em seus respectivos programas no SBT, Band e Globo. Essa exposição na TV somada à divulgação nas rádios FM foi crucial para o CBJr tornar-se a maior banda de rock do Brasil nos anos 2000.
9. Qual artista ou banda você deseja ou tentou biografar?
Ao longo dos anos tive uma primeira conversa com um ou outro, mas sem avançar muito. Certa vez conversei com o Farofa sobre fazer uma biografia do Garage Fuzz, já cantei o Badauí para escrever sobre ele ou o CPM 22, me coloquei à disposição do Black Alien... Também já pensei em fazer um livro sobre O Rappa, que está dentro desse universo da hemp family... Num determinado momento me reuni com o Cesar Gyrão, na época um dos donos da revista Tribo Skate, para tentarmos biografar o Sandro Dias, o ‘Mineirinho’. Mas nada disso avançou, então virei a página e bola pra frente.
Atualmente eu tenho um acordo simples, mas assinado com o Fred Castro, o primeiro baterista dos Raimundos. Até chegamos a fazer algumas entrevistas, mas o projeto parou por falta de dinheiro. Depois dessa biografia do Champ, eu prometi para a minha esposa que só faria outra se fosse remunerado desde o início, e não somente na venda dos livros – cujo "lucro" é muito pequeno para tanto sacrifício e investimento pessoal.
Apesar de não acreditar em vários mecanismos de financiamento, posso garantir que já tentei de tudo. Para o livro do Champignon eu já busquei um patrocínio da Adidas Brasil, enviei um projeto para a Prefeitura de Santos através e, no ano passado, inscrevi no edital do PROAC, mas até agora nada. Não pingou um centavo sequer. Por isso, eu parti novamente para o crowdfunding e dessa vez estamos indo bem, com 1/3 da meta já batida.
Para a biografia do Fred, eu procurei os gringos da Zildjian mas também não rolou nada. Tomara que em algum momento apareça uma alma generosa e eu consiga tocar esses livros e muitos outros adiante.
10. Finalizando, o que o fã de Champignon (e do Charlie Brown Jr.) vai encontrar na biografia?
O livro é emocionante e com uma riqueza absurda de informações que não existe na internet nem em qualquer outro livro já publicado. Foram dezenas de entrevistas, centenas de notas de rodapé com referências a jornais, revistas, sites e programas de TV, e a reunião de muitas imagens inéditas e raras, inclusive cedidas pela família do Champignon, a quem não me canso de agradecer.
Eu tenho certeza que além de se encantar com a história desse incrível baixista e vocalista – antes de cantar n´A Banca, o Champ soltou a voz no Revolucionnários e no Music Legends – os fãs do CBJr terão a oportunidade rara de conhecer uma outra narrativa, uma outra versão dos fatos que não apenas a dominante. Como sempre, eu sou apenas o menestrel da história. Quem vai ler e tirar as suas próprias conclusões é o leitor.
Por fim, gostaria de lembrar que esse livro terá uma tiragem praticamente de colecionador. Então o crowdfunding é a única oportunidade de garantir um exemplar, inclusive com o nome do leitor nos agradecimentos, e uma parte da renda será doada para o Centro de Valorização da Vida (CVV). A campanha de pré-venda terminará no final de julho e a biografia "Champ" será lançada no setembro amarelo.
Agradeço a você, André, pela oportunidade de mostrar o meu trabalho e conto com o leitor.
A quem interessar em investir no crowdfunding de "Champ", o link para saber as recompensas e valores respectivos está abaixo.
http://www.kickante.com.br/l/livrodochamp
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