De Metallica a Depeche Mode: A drástica mudança sonora do Paradise Lost
Por Clovis Roman
Postado em 09 de junho de 2022
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A segunda metade dos anos 1990 marcou uma guinada de carreira para diversas bandas, de diferentes ramificações dentro do Metal. Anathema, The Gathering, Kreator, Moonspell, Rotting Christ e Samael, entre tantas outras, começaram a adicionar novas influências musicais em seus trabalhos, com resultados variados. O gigante Metallica, que havia conquistado o mainstream com o polido, porém pesado, Black Album (1991), cinco anos mais tarde colocaria o controverso Load nas prateleiras, com os músicos ostentando cabelos curtos, maquiagem e tudo o que os fãs não esperavam.
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O Paradise Lost, que chegou a ser considerado pela imprensa o novo Metallica, com o sucesso do hoje clássico álbum Draconian Times (1995), também embarcou nessa onda, entregando um material diferente do que as pessoas aguardavam. O livro No Celebration – A Biografia Oficial do Paradise Lost, escrito por David E. Gehlke e lançado no Brasil pela editora Estética Torta em edição luxuosa, explica todas as mudanças que o quinteto aplicou ao seu som.
Mudar, na verdade, não era uma novidade, afinal, o Paradise Lost vinha refinando seu som desde o death metal comum do álbum de estreia Lost Paradise (1990), passando pelo colossal Icon (1993) e culminando com Draconian Times (1995), que os projetava a um lugar de destaque na cena metal daquela época. As comparações com o Metallica vinham há alguns anos, como explica o vocalista Nick Holmes em depoimento para o livro: "Sempre achei bastante natural fazer aquela voz e estava ciente das comparações com Hetfield. Pra ser honesto, me incomodou um pouco, mas me acostumei. Depois, eu apenas pensava: ‘Bastante justo’. Isso não me incomoda muito".
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O Novo Metallica – A Banda Que Você Precisa Ouvir
A edição 549 da conceituada revista Kerrang estampava esta frase chamativa e intimidadora na capa. Um marketing excelente, porém artisticamente algo até mesmo ameaçador. A entrevista descontraída com a banda rendeu uma matéria com aclamações ao Draconian Times: "um dos melhores álbuns de metal britânico deste ou de qualquer outro ano", e "maior e melhor álbum da Music for Nations desde Master of Puppets do Metallica".
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Na divulgação deste trabalho, a banda apareceu nas maiores revistas, na MTV com entrevistas exclusivas e com os videoclipes de "The Last Time" e "Forever Failure". A turnê seguiu com diversos shows e até mesmo a primeira visita à América do Sul e ao Brasil, tocando no Monsters of Rock em 1995. Porém a rotina cansativa e anos a fio sem folga cobraram seu preço, e os músicos estavam esgotados após o último show, também no Monster of Rock, agora, o original, dia 17 de agosto de 1996, em Castle Donington, Inglaterra.
Turnê encerrada, a banda tirou a merecida folga e então começou os trabalhos para um novo álbum de estúdio. A mudança radical que resultou no disco One Second (1997) foi reflexo de vários fatores, um deles explicados pelo autor: "Poucas bandas se sentiam tão restritas ao metal quanto o Paradise Lost. A cadência quase que de linha de produção que emanava dos álbuns Icon e Draconian Times e da sequência de turnês fez a banda ficar ‘desanimada’ com o estilo, como [guitarrista Greg] Mackintosh diria a Mark Gromen, da revista norte-americana Metal Maniacs, em 1997. Com o Iron Maiden e o Judas Priest no meio de uma queda em suas carreiras, o Paradise Lost agora era apontado pela imprensa como o líder da ‘próxima onda’ do metal britânico. Mackintosh estremeceu ao pensar. Ele não só não era fã do Maiden ou do Priest, mas também as expectativas sobre a banda o fizeram querer ir na direção oposta".
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"Eu não queria fazer outro álbum como o Draconian Times e o Icon. Eu sei que o Greg também não queria", complementou Mackintosh. A virada de chave foi quase completa, pois até mesmo o termo Metal foi de certa forma renegado, quando passaram a usar o rótulo Dark Rock para o som. "Acho que se gosto de uma música, sigo meu coração, sei que o Greg é assim. Sempre fiquei um pouco apreensivo com o que o público poderia pensar. Obviamente, quando você começa uma banda e você não tem fãs, você apenas faz o que quer. Você tenta manter isso, mas não quer estar constantemente à mercê de outras pessoas. É uma questão de manter o equilíbrio. Você ainda pode seguir seu coração e fazer músicas que as pessoas queiram ouvir. Você ainda pode fazer as duas coisas, mas nem sempre acerta na mosca. Sempre fiquei meio preocupado, já que o One Second era muito diferente do Draconian Times", completa o vocalista Nick Holmes.
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O fato era que a música pesada abriu espaço para influências de artistas como Depeche Mode, Curve e Recoil, resultando em um disco com referências eletrônicas alicerçadas com sintetizadores que chocaram uma parcela considerável de fãs. O fato de Holmes, a dupla Aaron Aedy e Greg Mackintosh (guitarras) e o baixista – mesmo que a força – Steve Edmondson terem cortado os cabelos também não ajudou. "A banda foi informada durante um programa de televisão que, ao saber de seus cortes de cabelo, os fãs rasgaram e queimaram seus pôsteres do Paradise Lost. Para uma banda que considerava sua imagem como secundária em relação à música, a reação os pegou de surpresa. Isso os colocava na mira de uma discussão que até mesmo eles tinham quando jovens, quando compravam álbuns: se a capa de um álbum ou foto de banda parecesse ‘legal’, então valia a pena comprar. Nos anos 1980, o cabelo às vezes era mais importante do que a música. Quando eu era adolescente, fui comprar um álbum que tinha uma caveira. A imagem era tudo quando você estava comprando esse tipo de coisa, já que você não tinha literalmente mais nada pra mostrar", diz Aedy.
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No final das contas, One Second foi sendo redescoberto pelos fãs nas décadas seguintes, e é um ótimo álbum, apesar da abordagem diferenciada. O vocalista Nick Holmes comenta no livro: "A questão é que o álbum One Second era muito sombrio, e isso era exatamente o que a gente queria. Não havia alegria em nada no disco, mas isso não se traduzia em metal". O Paradise Lost seguiu nesta linha por mais alguns trabalhos a frente, porém retornou a algo Doom/Gothic Metal, e segue lançando álbuns excelentes até hoje.
O livro No Celebration – A Biografia Oficial do Paradise Lost narra a carreira de mais de três décadas do Paradise Lost, com entrevistas profundas, relatos de fontes primárias e fotos inéditas até então, levando os leitores às profundezas de uma das bandas mais duradouras do metal.A edição brasileira da obra é luxuosa, com capa dura e 468 páginas, e há opção de compra com um bookplate exclusivo, autografado a próprio punho por Nick Holmes e Greg Mackintosh. O material pode ser adquirido no site da editora Estética Torta.
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