The Doors: Jim Morrison sobre o que o levou a se tornar um artista
Por André Garcia
Postado em 14 de janeiro de 2023
Como vocalista do The Doors, na segunda metade dos anos 60, Jim Morrison se tornou uma das maiores personalidades musicais dos Estados Unidos. Esbanjando carisma e rebeldia, ele se rasgava em letras viscerais e performances provocantes e imprevisíveis. Estampando camisetas até hoje, mais de meio século após sua morte, não são poucos os que o colocam entre os maiores artistas de seu tempo.
Em entrevista de 1969 para a Rolling Stone, ele foi perguntado sobre o que o levou à decisão de se tormar um artista.
Rolling Stone: Quando você decidiu ser um artista?
Jim Morrison: Acho que eu tinha um desejo reprimido de fazer algo assim desde que ouvi... Sabe, o nascimento do rock n roll coincidiu com minha adolescência, minha tomada de consciência. Foi realmente excitante, embora na época eu nunca pudesse me permitir fantasiar racionalmente sobre fazer isso sozinho. Acho que todo esse tempo eu estava inconscientemente me inclinando e sondando. Então, quando finalmente aconteceu, meu subconsciente havia preparado tudo.
Não é que eu tenha planejado isso; eu apenas estava lá. Eu nunca tinha cantado, ou sequer concebido [cantar] eu pensava que seria escritor ou sociólogo, talvez dramaturgo. Nunca fui de ir a shows. Fui a uns dois, no máximo. Até assistia algumas coisas na TV, mas nunca fiz parte de tudo aquilo. Até que ouvi na minha cabeça todo um show, com uma banda, cantando para um público — um grande público. Nas primeiras cinco ou seis músicas que escrevi, eu estava apenas fazendo anotações de um show de rock fantástico que estava rolando na minha cabeça. E uma vez que escrevi as músicas, tive que cantá-las.
Rolling Stone: Quando foi isso?
Jim Morrison: Faz cerca de três anos. Eu nem estava em uma banda, nem nada; tinha acabado de sair da faculdade e fui para a praia. Não estava fazendo muita coisa, estava livre pela primeira vez, depois de ter passado 15 anos estudando. Foi um lindo verão quente e eu comecei a ouvir música. Acho que até tenho ainda o caderno com aquelas músicas escritas nele, aquele show mítico que ouvi [em minha mente]... Gostaria de tentar reproduzir algum dia, seja na realidade ou em um disco. Gostaria de reproduzir o que ouvi na praia naquele dia.
Rolling Stone: Você já tocou algum instrumento musical?
Jim Morrison: Quando eu era criança, tentei aprender piano por um tempo, mas não tinha disciplina para levar adiante.
Rolling Stone: Quanto tempo você estudou piano?
Jim Morrison: Apenas alguns meses. Acho que cheguei no livro da terceira série.
Rolling Stone: Você gostaria de tocar um instrumento?
Jim Morrison: Na verdade, não. Eu toco maracas. Eu posso tocar algumas músicas no piano — só minhas próprias criações, então não é realmente música; é barulho. Até posso tocar uma música, mas apenas com dois acordes, então é algo bem básico. Eu realmente gostaria de saber tocar guitarra, mas não tenho feeling para isso.
The Doors
O The Doors foi formado em 1965 em Los Angeles, pelo vocalista Jim Morrison, o tecladista Ray Manzarek, o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore. Eles se destacaram por criar músicas que exploravam temas como a liberdade, o amor livre, experimentações e a rebeldia, incorporando elementos de rock, blues, jazz, psicodelia e poesia.
Em sua carreira, o The Doors lançou álbuns clássicos como seu autointitulado debut de 1967 e "Strange Days" (1968), que conquistaram uma legião de fãs. Mas era ao vivo que a banda realmente brilhava, com o magnético carisma de seu vocalista em incendiárias apresentações performáticas para lá de provocativas e imprevisíveis.
A partir de 1968, por outro lado, as frustrações de Jim com a vida de rockstar e sua falta de reconhecimento como um escritor sério o levaram a afundar no alcoolismo. Para piorar, problemas na justiça contribuíram para que ele perdesse o interesse na música e caísse na depressão.
Após terminar sua parte na gravação de "L.A. Woman" (1971), Morrison partiu em retiro para a França, em busca de se recuperar física e mentalmente. Infelizmente, ele jamais retornaria daquela viagem. Poucos meses após o lançamento do álbum, ele foi encontrado morto na banheira aos 27 anos.
Os membros remanescentes ainda tentaram seguir em frente sem seu frontman, mas, após fracassarem com "Other Voices" (1971) e "Full Circle" (1972), não restou a eles outra alternativa se não o fim da banda.
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