Como é a relação de Jairo Guedz com o Templo Satânico e qual objetivo da instituição?
Por Gustavo Maiato
Postado em 02 de março de 2023
O guitarrista Jairo Guedz é famoso por ser o primeiro do Sepultura e também por ter fundado a banda The Troops of Doom. Mas qual a relação do músico com o Templo Satânico, instituição dos EUA que não se considera uma religião?
Em entrevista ao jornalista musical Gustavo Maiato, Jairo Guedz explicou um pouco mais sobre o assunto.
"Tem gente que não entende, mas sou sócio do Templo Satânico em Nova York, nos EUA. Eles se colocam como religião, apesar de todos serem ateus, porque precisavam disso para difundir a ideia da Igreja Satânica. A principal coisa é que eles não acreditam nem em deus e nem em satanás. Nada que seja sobrenatural, digamos assim. Para eles, não existem santos nem demônios. Eles tiveram que desenvolver essa associação com o aspecto de religião no contrato social para poder se inserir dentro do que se propõem nos EUA. Acho muito bacana, eles têm as sete regras do satanismo, que fala, por exemplo, que você não pode adorar nem deus nem satã. A grande maioria deles são vegetarianos ou veganos, porque não aceitam que seja feito mal a qualquer animal. A não ser que você esteja correndo risco de vida. Se você estiver sendo atacado por um urso. Mas até nisso eles colocam um parêntese. Porque se você está sendo atacado é porque você foi no lugar que eles vivem. Algo aconteceu que o homem foi lá. Abriu uma mineradora, algo assim. Os animais ficam acuados e atacam.
Ou seja, não sou satanista, mas tenho uma ligação grande com eles. Troco muita ideia com eles nos EUA. Aqui no Brasil, acho que não existe essa instituição. O fato de escolher a palavra ‘satânico’ é legal, porque eles queriam combater as religiões frente a frente. Montaram uma espécie de religião, mas que não existe rito, clero nem nada. É tipo um centro cultural lá. Aí, eles colocaram o Baphomet como figura que representa a religião. Tem uma estátua famosa que é o Baphomet no trono com duas crianças. Eles usam isso para bater de frente. Qual o inimigo que as próprias religiões criaram para elas? É o próprio diabo. Deus é a figura do bem. Temos os anjos e os capetinhas também. Eles querem mostrar que todas as pessoas são iguais. Não perante deus ou o diabo e sim perante a lei dos homens.
Não é raro vermos um parque com uma Nossa Senhora ou uma cruz que representa a crença católica cristã. Eles acreditam que, se tem aquela estátua lá, pode ter uma do Baphomet também. Ou seja, se o país é laico e respeita todas as religiões, ele dá o direito que todas as religiões sejam bem vindas. Pode ter o Exu, Iemanjá, Buda, Baphomet etc. Por que só de Jesus Cristo? A ideia deles é estabelecer a igualdade. Não existe ritual satânico lá, botar fogo ou matar bode. Eles têm um grupo forte de advogados que eles tentam trabalhar dentro da Constituição americana apoiando vítimas de estupro. Eles têm clínicas de aborto legalizadas. Tudo que está ligado à política, mas que tem rabo preso com a religião, eles atuam. Essa é minha maior briga com a religião. Escrevo para combater isso. Está errado. Se você quer discutir o aborto, podemos discutir dentro das questões de saúde pública e das leis. Não podemos discutir pensando em deus, religião ou catolicismo. Senão, você vive no absolutismo. Alguém define em quem você pode acreditar.
Agora, não acho que toda religião é ruim, ou que as religiões de forma geral são ruins. Mas acho que representam um grande atraso. Elas estão todas fundadas e baseadas em preceitos muito antigos da humanidade. Milenares, às vezes, e de uma época extremamente machista. Se até hoje não conseguimos traçar um perfil igualitário entre homens e mulheres no nosso país, que é democrático, imagina em países árabes ou na Rússia. Temos religiões que falam que a bíblia fala isso e é lei. Só que já tem 2 mil anos que ela está sendo escrita, editada etc. Existem livros que foram retirados. Tem o Corão, que tem 3 mil anos. São leis que as pessoas seguem de um mundo que não existe mais. O mundo é outro e exige novos pensamentos, novas formas de olhar para frente. Não falo em liberar geral, mas são coisas básicas. Regras básicas para viver em sociedade. A religião atrapalha muito isso. Agora, conheço pessoas que foram para a Igreja Evangélica e que ainda bem que foram. Dou graças a deus [risos]. Se não fossem, não seriam salvas. Elas fariam muita merda com outras pessoas e com elas mesmas. Acredito que, apesar de serem atraso, as religiões também servem como regras e balizas para pessoas que não têm o menor discernimento entre o que é certo e errado.
Nós, no The Troops of Doom, fazemos arte. Toda estética visual e lírica precisa ser rebuscada. É uma fantasia. Alguém me perguntou um tempo atrás por que só falamos do diabo e inferno. Eu falei que é porque não tenho estômago para falar do ser humano. Não tenho coragem de fazer a capa de um disco nosso com uma cena de crianças na África passando fome até morrer. Para mim, é forte demais. Prefiro falar de uma coisa que para mim é uma fantasia e que posso usar como metáfora para outras coisas. Essa rebeldia que tenho com a religião e a necessidade de mostrar algo agressivo para combater o lado ruim da religião precisa ser feita dessa forma. Usando o diabo, satã, inferno, fogo etc. Mas isso é muito mais fácil do que usar as coisas que nós seres humanos fazemos", disse.
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