Por que todas as bandas de rock nacional dos anos 1980 tinham nomes engraçados?
Por Gustavo Maiato
Postado em 08 de agosto de 2023
Paralamas do Sucesso, Blitz, Titãs do Iê-iê, Biquini Cavadão, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens e Engenheiros do Hawaii são alguns dos nomes de bandas nacionais de rock dos anos 1980.
Mas por que será que quase todas elas utilizavam esses nomes cômicos? Utilizando o exemplo de Blitz, Júlio Ettore deu sua visão sobre o assunto em entrevista ao Inteligência Ltda.
"Era o espírito do momento, entendeu? Era um movimento de besteirol que estava acontecendo no teatro. O "besteirol" tinha a ver com não se levar tão a sério, e acredito que esse era o espírito. O rocker era uma coisa que não se levava muito a sério. A história da Blitz foi um absurdo, né?
Basicamente, eles estavam no lugar certo, na hora certa, no Rio de Janeiro. A cena do Rio tinha algo especial que outros lugares no país não tinham: a Blitz acertou no discurso, tinha o apoio da Fluminense FM e tinha o Circo Voador como um local para as pessoas assistirem. A partir disso, as pessoas conheciam, a juventude tinha acesso, tocava na rádio e as gravadoras perceberam que havia público para aquilo, então decidiram lançar. A Blitz teve um sucesso rápido.
Não conheço muitos detalhes da história da Blitz, mas eles tiveram alguns problemas internos já no terceiro disco. Não parecia ser uma banda com a expectativa de durar muito tempo. Acho que todos ali tinham consciência de que seria um projeto mais curto. Houve desentendimentos e desavenças, o que levou a negociações e a saída de alguns membros. Há uma história engraçada de que um deles bateu a foto para o primeiro disco e caiu fora".
O nome Blitz teria sido sugerido por Lobão a Evandro Mesquita, quando ele ainda fazia parte do grupo lá nos primórdios. Essa história foi contada pelo roqueiro em entrevista ao mesmo podcast.
"Nós formamos a Blitz em 1979, por aí. Nós estávamos ensaiando para a estreia do segundo disco da Marina. Era uma banda de amigos de colégio. Todos dançavam, saíam dos instrumentos e tudo mais. A Marina namorava a Maria Bethânia na época. Íamos estrear em um teatro e falaram para nós assistirmos uma peça lá antes.
Sentamos na plateia, começou um show e tinha o Evandro Mesquita atuando. O personagem dele se chamava Lobão! Tinham se baseado em mim como personagem, só que era um cara surfista. Nós da banda da Marina estávamos com uma crise de identidade, porque gostávamos de rock progressivo, mas talvez fosse melhor ir para uma linha mais simples.
Quando vi essa peça do Evandro, eles tocavam uma música simples. Percebi que era por aí o caminho. Eram letras legais. Quando terminou o espetáculo, entrei no camarim e falei com o Evandro. Nos apresentamos e eu disse que adorei e que eu tinha uma banda que iria tocar aqui com a Marina. Falei para ele assistir ao nosso ensaio e ele foi depois.
Começamos a tocar juntos e já tinha o esboço de ‘Você Não Soube Me Amar’. Vi a música nascendo. Eles metrificaram os versos na hora. Essa acabou se tornando um sucesso. Então, o Evandro estava namorando uma hostess de um bar chamado Caribe. Tínhamos que ter um nome para a banda, porque ela queria colocar anúncios no bar. Já que tinha o The Police, pensei que poderíamos ser ‘Blitz’.
O Evandro ainda era muito hippie e falou: ‘Pô, bicho. Blitz não. Nós somos amor e coração cósmico’. Fui voto vencido, mas eu tinha achado ótimo. Nesse meio tempo, a namorada precisava do nome e eu falei para ela que o único nome que tínhamos era ‘Blitz’. Ela falou que estava ótimo, aí disse para eles: ‘Desconfio que viramos Blitz agora!’ [risos]. Foi no grito e acabou virando um sucesso".
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