Para Gary Moore, Phil Lynott nunca mais foi o mesmo após o fim do Thin Lizzy
Por Mateus Ribeiro
Postado em 04 de janeiro de 2025
O icônico Phil Lynott foi baixista, vocalista, principal compositor e líder do Thin Lizzy. Ao longo de sua carreira, o talentoso frontman gravou músicas que se tornaram hinos atemporais, como "Jailbreak", "The Boys Are Back in Town", "Bad Reputation" e a famosa versão para "Whiskey in the Jar".
As atividades do Thin Lizzy foram encerradas no dia 4 de setembro de 1983, com um show realizado em Nuremberg (Alemanha). Depois dessa apresentação, os integrantes do grupo seguiram diferentes caminhos.
Lynott montou a banda Grand Slam, que não emplacou. Ele também se juntou ao guitarrista Gary Moore (que teve passagens pelo Thin Lizzy na década de 1970), e a dupla gravou "Out in the Fields", single lançado em 1985 que fez relativo sucesso.
Infelizmente, Lynott não aproveitou o sucesso de "Out in the Fields" por muito tempo. O lendário artista faleceu em 4 de janeiro de 1986, aos 36 anos de idade. Conforme noticiado pela BBC na época, ele morreu de insuficiência cardíaca e pneumonia.
O início da amizade
Em 2005, Gary Moore concedeu entrevista à Classic Rock. O influente guitarrista, que morreu no dia 6 de fevereiro de 2011), falou sobre Phil na ocasião.
"Quando eu tinha 16 anos e vim de Belfast para Dublin para me juntar ao Skid Row [Nota: não é AQUELE que você pode ter pensado], em 1969, e ele era o vocalista da banda", relembrou Gary, ao ser questionado sobre o início de sua amizade com Phil. "Eu estava morando em uma pequena quitinete e Phil disse que me mostraria Dublin. Ele me levou a um restaurante chamado Kam Tong, na Grafton Street. Eu nunca tinha comido comida chinesa antes. Ele prometeu que eu iria adorar, mas eu detestei, então ele comeu a minha também. Isso deu o tom do nosso relacionamento.
Depois disso, ele me levou a algumas boates, em lugares como o Moulin Rouge, para procurar algumas garotas e coisas assim (...). Nós nos tornamos os dois bad boys do Skid Row, fazendo todo tipo de coisa", complementou Moore.
Um sujeito carismático (que Gary nunca viu sendo alvo de ofensas racistas)
Na sequência, Gary foi convidado a citar quais foram as primeiras impressões que teve ao conviver com Lynott. Aparentemente, o baixista/vocalista era querido pelas pessoas que conviveram com ele.
"[Lembro] Como ele era carismático, na verdade. Quando andávamos por Dublin, as senhoras idosas paravam e acenavam: ‘Ei, Skid, como vai?’. Elas achavam que o nome dele era Skid Row. É preciso lembrar que havia muito poucos negros em Dublin naquela época. Phil se destacava por ser ‘diferente’ [das demais pessoas da cidade]. Curiosamente, eu nunca o vi ser alvo de racismo; as pessoas achavam que ele era uma novidade."
Os problemas com as drogas e o fim do Thin Lizzy
Longe de ser protagonista de um caso isolado, Phil foi mais um astro da música que fez uso de substâncias prejudiciais. Gary afirma que tais vícios custaram a energia de seu parceiro.
"Ninguém que seja viciado em algo está realmente no controle. Um especialista em drogas que conheci certa vez me disse que achava que Phil teria seguido o mesmo caminho, quer tivesse entrado em uma banda de rock ou não. No último período da vida de Phil, as drogas drenaram totalmente sua energia."
Fim do Thin Lizzy mexeu com Phil Lynott
Após o fim do Thin Lizzy, a vida de Phil Lynott mudou. Lamentavelmente, para pior, como contou Gary, que inclusive tentou ajudar o amigo.
"Depois que o Thin Lizzy se separou, ele nunca mais foi o mesmo cara. Aquela banda era sua família. Na verdade, você passa mais tempo com os caras da banda do que com sua esposa. Ele se tornou um cara muito solitário, e muitos idiotas e parasitas ficavam em torno de sua casa grande e vazia. Era triste ver aquilo. Naquela época, não era legal ir para a reabilitação. Ele teria que admitir que tinha um problema. Hoje em dia, ele iria direto para o [Hospital] Priory na esperança de encontrar Kate Moss ou quem quer que fosse.
Quando estávamos sozinhos, eu tentava falar com ele sobre as drogas. Ele sabia que eu tinha um problema com isso e tentava se afastar quando eu estava perto dele. Discutimos a possibilidade de fazer um álbum completo juntos, mas eu não conseguia encarar a ideia de trabalhar com o cara."
Moore ficou chocado com a morte de Phil
Apesar de saber da condição de Phil, Gary não imaginou que o colega pudesse morrer tão cedo. E quando a triste notícia chegou ao conhecimento do ícone da guitarra, ele ficou chocado (como era de se imaginar).
"Embora eu soubesse do estado em que ele estava, nunca pensei que isso aconteceria com Phil. Quando aconteceu, eu estava em um estado de choque total (...). Eu estava em Tenerife quando soube. Minha então esposa estava lendo o jornal de domingo e ficou ofegante, e eu soube imediatamente o que havia acontecido. Foi tão perturbador que demorou alguns dias até que eu conseguisse chorar. Demorou meses para aceitar o final, e às vezes ainda sonho que Phil está vivo e falando comigo."
De acordo com Scott Gorham, que tocou guitarra no Thin Lizzy por cerca de uma década, Phil prometeu ficar sóbrio pouco tempo antes de sua morte. A promessa não foi cumprida, e desde 4 de janeiro de 1986 o mundo do Rock não tem mais um de seus grandes personagens.
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