Porque John Lennon foi perdendo poder dentro dos Beatles para Paul McCartney
Por Bruce William
Postado em 24 de março de 2025
John Lennon era o centro gravitacional dos Beatles nos primeiros anos. Era ele quem liderava, dava as direções e tomava as decisões. Paul McCartney era o braço direito, mas não o comandante. Com o tempo, no entanto, esse cenário foi mudando. Mas não foi por imposição de Paul, e sim por um processo gradual, causado em grande parte pela própria atitude de Lennon.
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Segundo o produtor George Martin, Lennon não tinha a mesma energia incansável de McCartney: "Paul precisa de uma plateia, mas John não" disse, conforme o livro "Beatles - A Biografia Autorizada" de Hunter Davies (Amazon). "Ele era muito preguiçoso, ao contrário do Paul. Sem Paul, ele desistia com facilidade. John escrevia para se divertir, ficaria satisfeito em mostrar suas músicas só para a Cynthia". A própria Cynthia Lennon, primeira esposa do músico, concordava. Ela dizia que, sem os Beatles, John teria acabado como um "vagabundo", alguém sem rumo, ressalta a CheatSheet.

Peter Brown, que foi assessor de imprensa da banda, contou à Rolling Stone que John era o líder incontestável no início, mas que sua falta de interesse abriu espaço para Paul assumir o controle: "No começo, John era o chefe. Era o grupo do John. Mas ele nunca foi de fazer concessões. Ele fazia o que queria. Quando Paul assumiu, foi porque John havia perdido o interesse". A chegada de Yoko Ono mudou esse equilíbrio de novo, mas de forma mais caótica do que produtiva.
O próprio Lennon parecia reconhecer que, sem a estrutura dos Beatles, talvez nunca tivesse saído do lugar. Em conversa com o autor Hunter Davies, ele afirmou: "Se não fosse pelos Beatles, eu provavelmente teria acabado como o meu pai, Freddie". Freddie Lennon viveu de bicos e empregos aleatórios após perder o posto de marinheiro, uma trajetória que John enxergava como possível para si mesmo, caso o sucesso não tivesse batido à sua porta.

Davies inicialmente achou exagero, mas depois reconsiderou: "É difícil imaginar John se encaixando num emprego tradicional ou mantendo uma carreira de artista. Ele teria se entediado rapidamente. Talvez tivesse mesmo acabado como um vagabundo". Lennon havia deixado a escola sem qualificações, se desinteressado pelos estudos e também não concluiu os exames na faculdade de arte.
Apesar de seu enorme talento, era Paul quem mantinha a disciplina. Paul gravava, editava, organizava e insistia. John criava com brilho, mas precisava de um estímulo externo para colocar as ideias em prática. Não à toa, ao longo da década de 1960, o domínio criativo da banda foi migrando de Lennon para McCartney, e nem mesmo os maiores fãs do grupo podem contestar essa transição.

John continuaria compondo grandes músicas, mas já não era mais o motor dos Beatles. E esse deslocamento, segundo os mais próximos, não foi um golpe de Paul. Foi, acima de tudo, resultado da preguiça - palavra usada por vários colegas de banda, produtores e amigos para descrever Lennon naquele período.
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