A agressividade necessário que o álbum "Duél" do Jinjer nos proporciona
Resenha - Duél - Jinjer
Por Fabricio Cunha
Postado em 04 de março de 2025
Nota: 9
O novo álbum "Duél" da banda ucraniana Jinjer entrega uma experiência sonora intensa e multifacetada, explorando temas profundos através de uma mistura ousada de estilos musicais, desde o hardcore até o djent e prog metal. Cada faixa do álbum apresenta uma identidade distinta, destacando a versatilidade da vocalista Tatiana Shmayluk e a habilidade de cada integrante da banda no seu respectivo instrumento.
A primeira faixa, "Tantrum" abre o álbum sem cerimônias, mergulhando imediatamente em uma explosão de hardcore com velocidade e peso extremos. O vocal rasgado de Tatiana dita o tom inicial, mas logo a música surpreende com uma transição para uma pegada de reggae metal, alternando vocais limpos e drives rasgados. A estrutura complexa culmina em uma passagem mais calma e melancólica antes de retornar com uma abordagem mais densa e influenciada pelo djent. A letra confronta diretamente as imposições de regras e condutas sobre as mulheres, reforçando a crítica social característica do Jinjer.


"Hedonist" adota um início mais cadenciado, mas sem perder a densidade e o peso. A combinação do vocal limpo de Tatiana com uma base instrumental mais progressiva cria uma atmosfera introspectiva. O tema da letra explora a busca incessante pelo prazer e questiona os limites do hedonismo moderno. Uma música mais construída com forte influência do Djent e Progressive Metal, logo em seguida há a transição para o vocal mais gutural, sem mudar o tom da música, mas dando mais peso a melodia.

Com uma introdução explosiva, "Rogue", a faixa combina o hardcore acelerado com a complexidade do progressive metal e não dá tempo de digerir o peso. A música é rápida e feroz, marcada por constantes mudanças vocais entre o drive rasgado e o gutural. A letra narra a jornada de um indivíduo que desafia normas e expectativas, reforçando a temática de autonomia e resistência.
A quarta faixa, "Tumbleweed" embora também trate da rebeldia contra normas sociais, se destaca por sua introdução mais trabalhada. A influência do reggae se mescla com o peso do death metal, estilo carimbada na banda, criando uma dinâmica única. O vocal limpo conduz a construção gradual da música até um refrão melancólico e pesado, seguido por uma transição para o drive rasgado. Elementos do metalcore, como breakdowns intensos, reforçam a potência da faixa.

"Green Serpent" começa com uma voz delicada que dueta consigo e um leve peso na melodia, mas logo há uma crescente no tom e na velocidade da melodia, com uma certa melancolia e peso, que muda a voz para o gutural da vocalista e dueta com seu vocal limpo. A letra aborda a inveja e o ciúmes, descrevendo como esses sentimentos corroem as relações. O desfecho da música apresenta uma quebra de ritmo, com instrumentos acústicos e vocais suaves, trazendo uma sensação de vulnerabilidade.

Inspirada no escritor Franz Kafka, "Kafka", a sexta faixa explora a vulnerabilidade daquele artista diante das críticas. A música tem um tom mais calmo e construído, com destaque para o trabalho da bateria, que remete ao jazz, que contracena com e contrasta com um riff da guitarra que quebra o tom inicial e dá mais peso a música, mas sem vocal mudar seu tom ou sentido da música, tendo outra quebra de tom e tempo, quando entra uma bateria acelerada e um vocal mais grave, quase aproximando do gutural, dando um peso gigantesco na música. A alternância de ritmos e a progressão do vocal até um gutural profundo criam uma experiência emocionalmente densa e inquietante.


"Dark Bile" inicia para um pegada voltada para o prog metal e que logo transaciona para uma pegada mais densa que é acompanhada do vocal limpo de Tatiana, o qual, não perde muito tempo e já muda sua voz para um drive rasgado, o interessante nessa música é que a cada transição vocal, há uma aumento de peso na música. Música pesadíssima o que combina perfeitamente com a letra da música, já que aborda os aspectos mais sombrios da psique humana, explorando emoções negativas que muitas vezes são reprimidas
"Fast Draw" retorna ao espírito do hardcore com uma bateria aceleradíssima e uma abordagem direta. A música é crua e rápida, remetendo ao thrash e ao crossover, com nítida abordagem ao hardcore. O vocal acompanha o ritmo frenético sem perder a precisão, enquanto a letra reflete sobre decisões impulsivas e as consequências de agir sem pensar.

Em "Someone’s Daughter", a música inicia com mais calma e bem construída do que as demais faixas, já que todos os instrumentos levam uma pegada ao jazz ou até mesmo o reggae, mas que logo muda drasticamente para num estilo ao do djent e metalcore. Com um tom denso e agressivo, o que faz uma dissonância com o vocal limpo, o qual dá uma pegada única na música, sendo que já na metade da faixa há outra mudança brusca de vocal, com uma vocal gutural e alto, tudo isso aliado a letra que fala de questões de identidade e pertencimento, lembrando que todos são filhos de alguém e carregam histórias únicas

"A Tongue So Sly" combina o djent agressivo com a energia do hardcore que trabalham bem com o vocal gutural de Tatiana, apresentando blast beats e breakdowns intensos. A presença de um baixo com influência do jazz e reggae e que mescla com o metal adiciona profundidade à composição. A letra aborda o poder das palavras e alerta sobre a manipulação e as mentiras disseminadas por vozes astutas.
Encerrando o álbum, a faixa-título "Duél" oferece uma reflexão sobre os conflitos internos e externos que enfrentamos. Musicalmente, a música mescla o peso do death metal com a velocidade do hardcore. Tatiana alterna entre vocais acelerados e o estilo fry, enquanto os breakdowns pesados reforçam a sensação de confronto e luta.

"Duél" é um álbum que evidencia a versatilidade do Jinjer ao mesclar gêneros como hardcore, djent, prog metal e death metal a gêneros não usais no heavy metal, como jazz e reggae, e tudo isso indica a qualidade técnica de cada um dos integrantes, com Roman Ibramkhalilov diversificando sua qualidade com agressividade e peso, correspondendo intensamente com o vocal de Tatiana Shmayluk, um baixo de Eugene Abdukhanov que foge do comum e destaca pega sua gama de estilos e claro, uma bateria ultrajante de incrível, com qualidade técnica fantástica de Vladislav Ulasevich.

As letras abordam temas profundos como imposições sociais, emoções reprimidas, vulnerabilidade artística, identidade e manipulação. A vocalista Tatiana Shmayluk demonstra uma impressionante gama vocal, alternando entre vocais limpos, drives rasgados e guturais poderosos. O álbum se destaca pelas transições inesperadas, mais do que nos álbuns anteriores, construções complexas e uma abordagem lírica crítica e introspectiva. Cada faixa oferece uma experiência única, consolidando "Dúel" como uma obra intensa e multifacetada no cenário do metal moderno e claramente, um dos álbuns no topo de Melhores do Ano.

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