A pouco lembrada banda de rock progressivo que Carlinhos Brown integrou nos anos 1970
Por Gustavo Maiato
Postado em 08 de junho de 2025
Muito antes da fama com os Timbaladas e os Grammys, Carlinhos Brown foi apenas um jovem percussionista talentoso e curioso, com os olhos atentos à movimentação musical de Salvador. No final dos anos 1970, ele integrou brevemente uma banda de rock progressivo chamada Mar Revolto [spotify] — um nome que hoje aparece discretamente em catálogos de vinis e em lembranças de músicos da cena alternativa da época.

Quem revive essa história é o guitarrista Luiz Brasil, conhecido por ter tocado com nomes como Caetano Veloso, Gal Costa e Cássia Eller. Em entrevista a Gustavo Maiato, ele detalha o surgimento do grupo e o contexto que permitiu a entrada de Brown. "O Mar Revolto foi um dos embriões de muita gente importante da música baiana", conta Luiz.
A formação original do grupo incluía o próprio Luiz Brasil, o guitarrista Gel Benjamim, o baixista Otávio Américo, o baterista Raul Carlos Gomes e o percussionista Vicente. "Começamos a ensaiar por volta de 1974, e em 1976 nos mudamos para o Rio de Janeiro", relembra. A viagem foi feita em um caminhão aberto, carregando os instrumentos e os integrantes apertados dentro de uma Brasília.
O grupo se instalou em um sítio em Jacarepaguá, vizinho ao dos Novos Baianos. Na capital fluminense, tocaram no Museu de Arte Moderna e em casas como a Biboca de São Paulo. Por conta da sonoridade inventiva e da mistura de gêneros, acabaram convidados por Guilherme Araújo, empresário de Caetano e Gil, para ser a banda de apoio no show de estreia de Zezé Motta como cantora, em 1978.
Foi nessa mesma época que a banda gravou seu álbum de estreia, lançado em 1979, no estúdio Sonoviso, no centro do Rio. O espaço era improvisado dentro de uma igreja e ficou marcado por registrar alguns dos primeiros discos independentes do país. O disco homônimo "Mar Revolto" foi um dos cinco primeiros LPs desse circuito.
Pouco depois, Luiz Brasil deixou o grupo e decidiu não retornar a Salvador. Sem ele e sem o percussionista Vicente — que havia morrido atropelado em circunstâncias trágicas —, o grupo voltou para a capital baiana e passou a buscar novas formações.
Carlinhos Brown e Mar Revolto
Foi aí que entrou em cena o jovem Carlinhos Brown, ainda desconhecido. "Ele era um garotão magrelo, muito musical, e estava doido para me conhecer", recorda Luiz. Embora não tenha participado das gravações do primeiro disco, Brown passou a integrar a banda após o retorno a Salvador. Dividia os ensaios e shows com músicos como o vocalista Coringa, que assumiu os vocais na segunda fase do grupo.
Essa fase renderia um segundo álbum do Mar Revolto, menos conhecido. Luiz conta que participou com a música "Irae", feita em parceria com o cantor Carlos Pitta, mas não como integrante da banda. O disco, segundo ele, foi lançado possivelmente pela Polyran e tinha uma capa mais clara. "Eu ouvi muito pouco esse disco. Gravei só essa música e pronto", diz.
Apesar da presença de Brown e da boa recepção do primeiro álbum, o segundo trabalho teve pouca projeção. "Não chegou a acontecer como o primeiro", afirma Luiz. A banda, que funcionava como coletivo e não tinha um vocalista fixo, foi perdendo espaço.
Mais de duas décadas depois, Carlinhos Brown resgataria o nome Mar Revolto para batizar um projeto gravado em 2007, mas lançado apenas em 2022, com o título "Carlinhos Brown é Mar Revolto". Nele, Brown assume um papel central e revisita músicas antigas do grupo, inclusive modificando arranjos e letras.
"Ele pegou canções que eram da nossa época, nas quais ele nem tinha participado, e virou parceiro, fez modificações. O disco ficou muito bom, mas não aconteceu", avalia Luiz Brasil. Embora o projeto tenha buscado homenagear a trajetória do grupo, sua versão digitalizada do álbum de 1979 permanece como o único registro disponível nas plataformas.
O resgate do Mar Revolto
Segundo Luiz, o disco original só está online porque ele mesmo digitalizou o vinil na casa do baterista clássico Charles Gavin, do Titãs, com equipamento especial. "Se não está na internet, hoje em dia é como se não existisse", afirma. Já o segundo álbum, com Brown e Coringa, segue fora do alcance do grande público.
O Mar Revolto foi uma espécie de ponto de encontro entre gerações; uma escola informal da efervescente música baiana pré-Axé, e um experimento raro de rock progressivo misturado à percussão afro-brasileira. "Ali saiu Daniela Mercury, Carla Visi, depois Ivete... Todo mundo passou por ali, direta ou indiretamente", diz Luiz.
Hoje, o guitarrista e Brown voltam a colaborar em um projeto ambicioso: a gravação de canções inéditas de Ary Barroso, sob direção musical de Brown. Para Luiz Brasil, é uma espécie de reencontro entre dois músicos que dividem uma história menos conhecida, mas essencial na cartografia da música popular brasileira.
"Tem gente que nem imagina que o Carlinhos passou por isso. Mas ele viveu esse momento e levou muita coisa dali", conclui. E assim, como as ondas do próprio nome, o Mar Revolto segue reverberando — às vezes distante, mas nunca esquecido.
Confira a entrevista completa abaixo.
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