Cameron Crowe divulga entrevista feita com Ozzy em 1972
Por João Renato Alves
Postado em 26 de julho de 2025
Em seu site oficial, o jornalista Cameron Crowe resgatou uma entrevista feita em 1972 com Ozzy Osbourne. Originalmente publicado pelo San Diego Door, o registro aconteceu quando o escritor e inspiração de "Quase Famosos" tinha 15 anos e o Madman 24. O foco central da conversa foi "Volume 4", álbum lançado à época pelo Black Sabbath.
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O cantor também falou sobre outros assuntos, incluindo a pressão na estrada, desejos para o futuro e até mesmo a possibilidade de uma carreira solo. Confira abaixo o conteúdo.
Você mencionou há alguns minutos como é tedioso ficar na estrada por tanto tempo quanto o Black Sabbath.
É. E assim que você chega em casa, precisa começar a pensar na próxima turnê, então não consegue descansar. Não é que o trabalho físico seja tão cansativo, é o trabalho mental. Você tem novos álbuns para pensar. Você precisa se preocupar se está se expondo demais, se não está fazendo o suficiente. Você tem toda essa besteira para pensar.
Sabe, antes de fazermos essa turnê, eu estava com a garganta inflamada. Eu estava com a garganta muito ruim, que notei três dias antes de virmos (para os Estados Unidos para a turnê), o que não foi culpa nossa ou da nossa equipe, porque estávamos passando por uma grande mudança nos negócios. Não sabíamos se faríamos a turnê ou não. Então, simplesmente viemos para cá mesmo assim... Não consegui trabalhar na primeira semana. Minha garganta cedeu completamente. Esta é... o quê... nossa sétima turnê pelos Estados Unidos. Grandes turnês também. Estamos todos muito, muito cansados. Fizemos sete turnês em pouco mais de um ano. Trabalhamos tanto neste país que estou ficando maluco.

Você está satisfeito com o novo álbum?
O novo álbum é muito... Eu sei que pareço estar me gabando, mas... o nosso novo álbum, para nós, é o nosso primeiro álbum. É o álbum mais verdadeiro que já fizemos. Quer dizer, muitos dos nossos álbuns têm muita verdade, em termos de letras, mas este álbum é uma representação mais verdadeira do Black Sabbath musicalmente. Também é muito mais pessoal em termos de letras. No passado, nossas letras diziam o que outras pessoas sentiam, mas as palavras do nosso novo álbum são o que nós sentimos. Passamos por muitas mudanças.
Começamos a gravá-lo em janeiro passado e terminamos há dois meses.
Ouvi dizer que houve muitas mudanças de título para o álbum.
Uma semana eu estava no palco dizendo: "Vamos tocar uma faixa do nosso novo álbum, Snowblind". Aí eles me disseram: "O nome foi mudado. Chama-se Volume Quatro". Então eu anuncio no palco, e na noite seguinte me dizem que mudou de novo. A essa altura, não faço ideia do nome do álbum. É Snowblind ou Volume 4. Escolha o que quiser.

Seu cansaço e o da banda afeta de alguma forma a qualidade do álbum?
Não particularmente, porque acho que quando um cara de banda está cansado, ele fica muito mais emotivo. Ele começa a sentir pena de si mesmo... bem, pelo menos eu sinto. Eu começo a me perguntar: "Que porra eu estou fazendo aqui... por que estou me matando?". Mas, quando subo no palco, eu adoro. Fico puto 24 horas por dia, mas assim que entro no palco, adoro cada minuto. Algumas noites eu estou de folga, mas geralmente me esforço ao máximo. Não há cartas sendo jogadas... se houver alguém por perto, nós subimos no palco e tocamos. Considerando que o último álbum (Master of Reality) foi finalizado há doze meses, não temos tido um público tão ruim.

Vocês planejam fazer um álbum ao vivo?
Sim, o próximo provavelmente será ao vivo. Estamos pensando em tentar obter o caminhão de gravação móvel dos Stones, mas não sei se isso vai dar certo ou não.
Tem uma faixa no novo álbum com piano e cordas...
É. O Tony estava tocando piano e eu comecei a cantar, então achamos que seria interessante gravar. Fizemos isso e ficou muito bom. Quebra bastante o álbum e é tão eficaz como um distanciamento das coisas pesadas. Não sei você, mas quando compro um álbum que tem batidas pesadas, barulhentas, pulsantes e tudo mais... tende a soar como uma música longa. Mas quando você tem algo para quebrar o peso, de forma que não seja a mesma coisa do começo ao fim... é mais um contraste no álbum. Isso não quer dizer que vamos optar por um som acústico ou suave, mas que gostaríamos de fazer uma música diferente do nosso material habitual. Costumávamos tocar essa música no palco, na verdade, mas não conseguimos um Melotron nesta turnê.

Você se sente desconfortável com o estereótipo do Black Sabbath sobre hard rock?
Não sei bem. Acho que o Black Sabbath fez seu nome tocando rock pesado, mas acho legal mostrar às pessoas que você pode fazer algo diferente... sem exagerar. Pessoalmente, há coisas fora da banda que eu gostaria de fazer. Gostaria de fazer coisas mais suaves... mas quando estou com o Black Sabbath, sou a quarta peça de um quebra-cabeça. Não poderíamos fazer algo tipo Elton John... simplesmente não funcionaria. É como o Elton John pegando pesado. Gravamos apenas o que achamos que vale a pena gravar. Se for um álbum leve... difícil. No caso do nosso novo álbum, porém, há muito rock nele. Há apenas duas faixas diferentes. Tem uma chamada "Laguna Sunrise", que é o Tony tocando violão com algumas cordas. É uma coisa muito linda. Triste e linda. E tem uma coisa meio lenta que eu canto chamada "Changes". Tony toca piano, Geezer toca Melotron e baixo.

Você pretende fazer um álbum solo?
Eu gostaria, mas não tenho tempo. Estou muito obcecado pelo Black Sabbath. Penso em fazer um álbum quando estou sozinho... A única vez que estou sozinho é quando estou cagando. Muitas vezes me pergunto se tem alguém no banheiro comigo. Quando se está em uma banda em turnê, acho que não há tempo para pensar em um álbum solo. A menos que você grave e componha durante o seu tempo livre... mas quando tenho meu tempo livre, eu simplesmente quero... simplesmente não quero pensar nisso. Eu apenas relaxo e descanso.
Até agora, você acha que seus álbuns têm sido uma representação precisa da banda?
Na época da gravação, era... mas o tempo passa e seus pensamentos mudam. Na época em que escrevi, nós estávamos realmente interessados... não estávamos realmente interessados na coisa da magia negra, mas estávamos interessados na consciência do que estava acontecendo. Paranoid era outra coisa que gostávamos, e Master of Reality, pessoalmente, fiquei um pouco decepcionado com ele. Foi um trabalho às pressas. Tivemos que compor o mais rápido possível e gravar ainda mais rápido. Felizmente, não ficou tão ruim quanto poderia ter sido. Comparado ao padrão do novo, não está tão bom assim.

Trabalhamos bastante no novo álbum, gravamos as faixas, ouvimos e descartamos o que não gostávamos... e as substituímos por uma musicalidade melhor. Tivemos bastante tempo para trabalhar nele, o que foi um fator decisivo. Muito tempo, muito trabalho, muita preocupação e muito dinheiro foram investidos no álbum.
Master of Reality foi bem bagunçado. Gravamos em uma semana e ele foi lançado em cerca de três semanas. É engraçado também, esse foi o nosso disco mais vendido. Eu realmente não sei por quê. Não teve metade da força de Paranoid.
Quando vocês entraram em estúdio para gravar o novo álbum, já sabiam exatamente o que queriam fazer?
Escrevemos "Changes" no estúdio. Tínhamos algumas que já estavam prontas.

Você consegue compor na estrada?
Não. Só tenho um pensamento na cabeça quando estou na estrada: voltar para casa, para os meus filhos e minha esposa, é tudo o que tenho em mente. Isso e tentar fazer a turnê a melhor possível. É disso que se trata para nós.
Qual a importância da relação do Black Sabbath com o público?
Eu amo o público. Eu fico chapado com o público e gosto de pensar que o público fica chapado comigo. Às vezes, eu fico tão distraído de qualquer maneira, das coisas que... sem comentários (risos). Não, eu simplesmente sigo em frente, fico por aí e me divirto. Espero irradiar essas boas vibrações para as pessoas.
Onde vocês acham que o Black Sabbath estará daqui a cinco anos?
Nesse ritmo, a sete palmos da terra e empurrando margaridas para cima. Ou em um hospício. Somos todos pessoas simples e comuns que se tornaram... isso. Acho que só agora começou a nos afetar, o que realmente aconteceu conosco. Antes a banda inteira era só risada... Eu ainda gosto, não me entenda mal. Eu amo. Eu não trocaria por nada no mundo. Mas nós cobrimos muito terreno. Estivemos em muitos lugares e conhecemos muitas pessoas. Fico feliz em dizer que no final de tudo... quando chegar o dia em que o Black Sabbath não existir mais... se continuar tão bem quanto tem se mantido até agora, mesmo que a popularidade caia, não posso reclamar. Eu me diverti. Se acabar amanhã ou daqui a cinco anos... dez anos, posso simplesmente dizer que me diverti e aproveitei. Foi uma experiência incrível para mim, nunca vou esquecer enquanto viver.

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