A trilogia alienígena dos Raimundos: Contatos extraterrestres na discografia da banda
Por Luis Fernando Ribeiro
Fonte: Hell Yeah Music Company
Postado em 30 de agosto de 2025
Pouquíssimos nomes do rock nacional conseguiram unir irreverência, crítica social e uma boa dose de surrealismo tão bem quanto os Raimundos, que vêm fazendo isso há mais de três décadas.
Famosos pela mistura improvável, mas certeira, de rock com forró e letras escrachadas, eles sempre abraçaram o inusitado, e isso inclui um tema pouco explorado no cenário nacional: o contato extraterrestre. Mas, claro, nada feito de forma séria ou reflexiva, afinal, estamos falando dos Raimundos! Espalhadas pela carreira da banda, três músicas em especial formam o que poderíamos chamar de uma "trilogia alienígena", cada uma trazendo uma visão única e cheia de humor e personalidade sobre encontros com o inexplicável.

"Nariz de Doze" (1997)
A primeira faixa dessa trilogia está no clássico álbum "Lapadas do Povo", lançado em 1997 pela formação clássica da banda, com Rodolfo Abrantes nos vocais, Digão na guitarra, Canisso no baixo e Fred na bateria. "Nariz de Doze" é marcada por uma das linhas de baixo mais memoráveis do saudoso mestre Canisso e um dos melhores solos de guitarra já gravados por Digão. A música narra uma história surreal sob a perspectiva de um caipira vivenciando uma aparente invasão alienígena.
A letra descreve um "bicho verde" causando estragos inusitados no campo: vacas entrando em cio descontrolado, fumaça que queima e um cavalo agindo de forma estranha. Assustado, o protagonista se prepara para "receber o povo de Marte" na base da bala. Com um tom ácido e cômico, a faixa carrega o humor característico dos Raimundos, usando expressões regionais e metáforas fortes que pintam o encontro como uma verdadeira calamidade cósmica. O título, aliás, é um trocadilho entre o nariz exageradamente grande do personagem e uma espingarda calibre 12.
Na época do lançamento, Rodolfo chegou a comentar para a Folha de São Paulo: "Nariz de Doze é sobre um narigudo que tem um vizinho beiçudo e encontra o chupa-cabras".
Além disso, a letra pode ser interpretada como uma espécie de viagem alucinógena, repleta de imagens distorcidas e situações improváveis, sugerindo que o personagem talvez esteja sob efeito de entorpecentes.
"Kavookavala" (2002)
Cinco anos depois, em 2002, após a saída turbulenta de Rodolfo da banda, os Raimundos lançaram o álbum "Kavookavala" com uma nova formação: além da guitarra, Digão agora assumia também os vocais, acompanhado por Marquim na guitarra, Canisso no baixo e Fred na bateria.
A faixa-título do disco, que conta com a participação especial de Derrick Green, vocalista do Sepultura, traz uma sonoridade que flerta até mesmo com o peso do metal, mantendo uma narrativa que lembra bastante a de "Nariz de Doze". Em "Kavookavala", um fazendeiro se vê diante de uma criatura monstruosa, responsável por mutilar seu rebanho de forma estranha e deixar um rastro de destruição. O bicho é tão assustador que até os moradores mais durões acabam abandonando a região.
No clímax da música, o fazendeiro encara a criatura, que ele acredita ser um "filho do capeta", mas que talvez tenha origem extraterrestre. A canção termina com um tom quase folclórico, ao mostrar o protagonista exibindo o crânio do ser à população em uma mistura perfeita de lenda urbana com ficção científica.
"Cuidado Com Esses Cara Aí" (2025)
Avançando mais de duas décadas, chegamos ao recém-lançado álbum "XXX" (2025), com Digão nos vocais e guitarra, Marquim na guitarra, Caio Cunha na bateria e Jean Moura no baixo. Aqui, a banda retoma o tema extraterrestre com uma abordagem mais direta e moderna, traçando um paralelo com os perrengues que a banda passou nas últimas 3 décadas e a forma como sempre seguiu em frente.
"Cuidado Com Esses Cara Aí" conta a história de um encontro quase casual com um ser "verde, gosmento, com um olho só no meio", a clássica imagem alienígena popularizada por filmes e séries. A música mantém o ritmo frenético e a pegada punk dos Raimundos, enquanto narra uma perseguição e uma batalha entre a banda e a criatura. Até mesmo a sonoridade remete às duas músicas citadas anteriormente.
A letra traz um tom de aventura urbana, com a banda como protagonistas que enfrentam o alienígena com armas e atitude, mantendo a essência irreverente e descomplicada da banda. É como se os Raimundos dissessem que, apesar dos tempos modernos, o medo e o humor diante do desconhecido permanecem o mesmo.
Essas três músicas, espalhadas por momentos distintos da trajetória dos Raimundos, formam uma narrativa inesperada que unem humor e o fascínio pelo mistério dos extraterrestres. Seja com a ambientação rural de "Nariz de Doze", a mitologia sombria de "Kavookavala" ou o confronto direto e contemporâneo de "Cuidado Com Esses Cara Aí", a banda constrói um universo próprio em torno do contato alienígena, sempre com sua identidade única, marcada pelo rock pesado, letras ousadas e aquela pitada de nonsense que só eles sabem fazer.
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