A ideia inovadora de John Lennon que, segundo David Gilmour, Roger Waters já usava antes
Por Bruce William
Postado em 27 de agosto de 2025
Nos primeiros anos do Pink Floyd, a banda ainda buscava consolidar sua identidade após a saída de Syd Barrett. O experimentalismo psicodélico dos anos 1960 foi dando lugar a composições mais densas e estruturadas, mas nem por isso menos ousadas. Um marco nesse processo foi a faixa "Atom Heart Mother" (1970), em que o grupo, a partir de um simples riff, construiu uma peça extensa com arranjos de metais, vozes e cordas, algo que Roger Waters chegou a definir como trilha de um "faroeste ruim".


Esse interesse em transformar uma ideia musical em narrativa abriria caminho para os álbuns conceituais que tornariam o Pink Floyd mundialmente conhecido, como "The Dark Side of the Moon" (1973). Mas, além da grandiosidade instrumental, havia outro elemento emergindo: a performance visceral de Roger Waters. Em faixas como "Careful With That Axe, Eugene", lançado ainda em 1968, o baixista não apenas tocava, mas gritava com intensidade quase selvagem, transformando dor e angústia em recurso artístico.

David Gilmour, que entrou no grupo em 1968, enxergava esse detalhe como um diferencial. "Roger tinha começado a pular, a estraçalhar o baixo e a fazer caretas. E então havia o momento de bater dramaticamente no gongo e gritar em 'Careful With That Axe'. Roger tinha descoberto como colocar sua dor para fora", recordou o guitarrista, em declaração publicada na Far Out. Para ele, não era apenas um efeito de palco: tratava-se de um modo de expor emoções cruas de maneira quase inédita no rock.

A comparação mais próxima só viria anos algum tempo depois, quando John Lennon lançou "Plastic Ono Band" (1970), obra inspirada nas sessões de terapia primal de Arthur Janov, em que o ex-Beatle usava gritos como catarse. Mas, na visão de Gilmour, Waters já havia chegado lá antes. "Eu sei que John Lennon fez todo aquele álbum de primal scream com Janov, do qual Roger gostava muito. Mas Roger estava gritando muito antes de Lennon chegar a Janov", afirmou.
Assim, enquanto Lennon transformava sua dor pessoal em arte após deixar os Beatles, Waters já explorava essa mesma intensidade dentro do Pink Floyd no final dos anos 1960. Para Gilmour, aquela típica ousadia que a banda tinha no começo de sua carreira é que ajudou a construir a sonoridade e indicar o caminho para as obras mais ambiciosas que fariam mais tarde.

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