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Korzus: Porrada brasileira sem piedade

Por Ben Ami Scopinho
Postado em 17 de setembro de 2010

Com uma trajetória completando nada menos do que 25 anos, o Korzus se tornou uma das mais respeitadas bandas da cena underground brasileira. Depois de um hiato de seis longos anos, os paulistas estão liberando "Discipline Of Hate", que vem sendo considerado pelo público e crítica como sendo seu melhor registro.

Marcello Pompeu (voz), Heros Trench (guitarra), Antonio Araújo (guitarra), Dick Siebert (baixo) e Rodrigo Oliveira (bateria) estão com tudo engatilhado e com o devido amparo para invadir os palcos internacionais. O Whiplash! trocou umas idéias com o pessoal para saber um pouco do passado e das novidades – que são muitas – envolvendo a atual e tão promissora fase:

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Whiplash!: Olá pessoal, primeiramente, meus cumprimentos pela atual etapa que estão atravessando em sua carreira. Mas vamos lá...! O Korzus passou por outra promissora fase na década de 1990, excursionando pela Europa e EUA. Analisando friamente, o que faltou para internacionalizar seu nome nesta época?

Dick Siebert: Na época não tínhamos uma gravadora de porte internacional para que o CD fosse lançado em todos os cantos do mundo, e as propostas de lançamento que surgiram eram pra lá de underground. Resumindo, só roubada.

Pompeu: Acho que a época é agora, nossa estrutura é outra, nossa equipe é outra também, e temos o suporte de uma grande gravadora internacional, AFM Records. Também temos patrocinadores fortes como a Jägermeister, uma bebida alemã e a MEGA ENERGY DRINKS, com isto não há comparação e se eu pensar firme, chego à conclusão de que tudo, antes, tinha que ser como foi, se comparado com o agora.

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Whiplash!: Ainda que vocês tenham um estilo pra lá de definido, em que "Discipline Of Hate" difere, em termos de sons, produção e letras, se comparado com "Ties Of Blood", lançado há seis anos?

Dick Siebert: Vejo "Discipline Of Hate" como uma continuação do "Ties Of Blood", mas com amadurecimento na composição e, sem dúvida, na produção. Foi um trabalho feito na unha.

Pompeu: Sim, as letras tiveram um pouco mais de cuidado, saindo um pouco daquilo que sempre falávamos, demos mais atenção aos temas do cotidiano da vida como também no social, houve várias parcerias e também colaborações de boas letras. Quanto à produção, é infinitamente superior a do "Ties Of Bood", porém com muito mais pressão no decorrer dos trabalhos. É um álbum muito mais complexo e direto, mais fácil de compor, porém mais difícil de produzir.

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Whiplash!: O entrosamento entre os guitarristas Antonio Araújo e Heros Trench chega a ser impressionante. Mas, considerando que Araújo é o novato no time, até onde ele se envolveu no processo de composição de "Discipline Of Hate"?

Dick Siebert: Antes do Antonio, já tínhamos algumas composições prontas e alguns riffs na manga. Ele entrou na banda já com alguns riffs e bases que acabamos aproveitando e transformando em músicas à la Korzus. Por ele também ser vocalista da antiga banda dele, ele ajudou com algumas letras. Além do mais, ele é um ótimo cozinheiro.

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Antonio Araújo: Eu me envolvi no processo o máximo que pude. A banda me deu espaço e isso me deixa muito feliz. Hoje em dia sei como o Korzus pensa musicalmente, e é bem natural criar junto com a banda.

Whiplash!: Há alguns anos o Korzus vem se estruturando, e agora trabalha com a The 8 Ball Agency e assinou com a alemã AFM Records. Inicialmente, quais os resultados concretos que essa nova filosofia de trabalho está proporcionando para a banda?

Dick Siebert: O primeiro e mais importante resultado é o lançamento internacional do CD. A partir daí as coisas começam a ficar muito mais fáceis. O nome da banda está sendo bem falado no meio da imprensa internacional.

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Antonio Araújo: Distribuição mundial do novo disco, bons contatos com agências de booking e outras bandas consagradas no mercado mundial. Tudo está andando de uma maneira muito positiva nesse momento. Com muito trabalho e algum tempo, chegaremos a resultados muito bons!

Whiplash!: Que tal alguns detalhes sobre suas parcerias e promoções envolvendo "Discipline Of Hate"? Há um monte delas, mas essa de um fã passar uma semana na Europa é demais (principalmente se ele também puder usufruir de alguma groupie do Korzus...).

Dick Siebert: Esse tipo de promoção não é comum no mercado do metal brazuca. É um tipo de recompensa para o fã e também um incentivo para a venda do CD. Quanto às groupies, o cara só vai catar se for galã igual a gente.

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Pompeu: (risos) Com certeza!

Whiplash!: Bom, com toda essa estrutura, como está a agenda de shows do Korzus para a divulgação de "Discipline Of Hate"?

Dick Siebert: A diferença é que estamos tocando em festivais de maior porte e com condições favoráveis para fazer uma apresentação de melhor qualidade. Por mais que o mercado esteja na ativa, o doce nunca é para as bandas nacionais, mas sim sempre para as gringas.

Pompeu: Ou você vira banda gringa ou você sofre com a desigualdade, e olha que para o Korzus ainda existe um par de benefícios e, assim mesmo, tem a desigualdade.

Whiplash!: O Korzus completou 25 anos, um número que supera a idade de muitos headbangers por aí. Neste sentido, durante suas apresentações, vocês sentem se está havendo algum tipo de renovação em seu público?

Dick Siebert: Sim, a reciclagem é natural. Pessoas de todas as idades comparecem aos shows e venho notado uma rapaziada bem nova no público.

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Pompeu: Inclusive no pocketshow na Livraria Cultura deu pra notar claramente isso, tinha mais fãs jovens do que headbangers das antigas.

Whiplash!: Como vocês vêem esta mudança comportamental entre as gerações? Muita coisa mudou desde a década de 1980, a famosa ‘ideologia’ parece estar dando lugar à simples apreciação do Heavy Metal como mera forma de entretenimento...

Dick Siebert: O Heavy Metal nunca foi um movimento social, mas sim um movimento musical e comportamental. Esse lance de ideologia ficou para as gerações passadas. Noto que hoje a rapaziada é muito passiva em relação aos acontecimentos à nossa volta.

Pompeu: Heavy Metal é minha vida, então não paro para pensar nisso, até porque todos os meus negócios e até mesmo minha vida pessoal passam pelo crivo do metal, fica difícil ficar analisando o mundo pela ótica heavy...

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Whiplash!: Sei que não precisam provar nada a ninguém, mas vocês acham que, com sua história e um disco matador como "Discipline Of Hate", o Korzus conseguiu 'aceitação' ou 'respeito' por parte dos headbangers tupiniquins? Afinal, parece ser um consenso que o brasileiro médio ainda tenha um complexo de inferioridade em relação ao estrangeiro, tal o respaldo que as bandas gringas possuem por aqui...

Dick Siebert: Acredito que "Discipline Of Hate" foi um dos trabalhos do Korzus mais bem aceitos pelos headbangers, e o maior trunfo é que ele está no mercado internacional. Esse lance de complexo de inferioridade é porque o brasileiro em geral gosta de pagar pau para gringo. Não que você vá deixar de ouvir ou apreciar o trabalho de alguma banda estrangeira, mas aqui também está cheio de bandas de alto nível.

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Antonio Araújo: A grama do vizinho é sempre mais verde do que a nossa, eu acho... Não deve ser um mal só de nós, brasileiros... Mas, contudo, acho que o Korzus é uma banda muito respeitada em nosso país.

Whiplash!: Lembro-me que, nos primórdios, a falta de técnicos com real conhecimento do que era Heavy Metal causava frustração em nossas bandas, cujos discos não possuiam um áudio tão encorpado quanto ao das bandas gringas. Como o Korzus se sentiu quando escutou, pela primeira vez, o resultado de sua participação na coletânea "SP Metal", em 1985, ou ainda em sua estreia, "Sonho Maníaco"? Era uma época mais inocente, não?

Dick Siebert: Essa inocência na verdade chama-se inexperiência. Como você já disse, não tínhamos técnicos com conhecimento em gravação para o estilo de música. E outra, quando ouvi a gravação do "SP Metal" pela primeira vez, achei do caralho.

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Pompeu: Mas ouvindo hoje só tem valor histórico, por que qualidade... Comparado aos dias de hoje é piada.

Whiplash!: Pompeu, você e Heros Trench se tornaram produtores bastante ocupados. Bicho, dentre os álbuns produzidos no estúdio Mr Som, existe algum que você achou que tinha potencial para ser uma revelação, mas que foi devidamente ignorado pelo público e crítica?

Pompeu: Uma banda de pop rock de Maceió chamada Varial, por exemplo, muito melhor que os Cines e Restarts da vida atualmente, banda que não aconteceu, mas também... Nem a chance de acontecer tiveram. E a banda é muito foda.

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Whiplash!: Em compensação, o Oficina G3 abocanhou o Grammy Latino em 2009. Suponho que alguns concorrentes de vocês tenham ficado... 'felizes', não? Ainda que seja Rock, houve algum tipo de cuidado especial ao produzir um disco que tem por objetivo divulgar o Evangelho?

Pompeu: É pra calar a boca de quem só sabe criticar, falar bosta de você, acho que se quer ser assim tem que ter café no bule... Ainda não ouvi nada por aqui que pudesse ter esse bule cheio para poder botar banca em cima de nós. E trabalhar com o G3 foi muito ‘sussa’, pois eles são pessoas maravilhosas, além de serem músicos de primeira linha.

Whiplash!: Com base na experiência adquirida ao longo desses 25 anos, que conselho vocês dariam a uma banda que tem um belo disco em mãos, pouca verba e dificuldade em se auto-gerenciar?

Antonio Araújo: Trabalhar muito, juntar grana... Ter muita paciência e objetividade.

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Pompeu: E acreditar e buscar seus sonhos, o tempo faz a diferença nas dificuldades, muita paciência também, calma é a chave do negócio

Whiplash!: Ok, pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista. Fiquem a vontade para as considerações finais...

Dick Siebert: Obrigado ao Whiplash! por passar a verdadeira informação do mundo do Metal aos headbangers. Um grande abraço.

Antonio Araújo: Muito obrigado à galera do Whiplash! pela entrevista! A toda a galera que curtiu o "Discipline Of Hate", muitíssimo obrigado! E quem não ouviu ainda, corre pra ouvir... É porrada brasileira sem piedade.

Pompeu: Valeu galera!

Contato:
http://www.korzus.com.br
http://www.myspace.com/korzus

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Sobre Ben Ami Scopinho

Ben Ami é paulistano, porém reside em Florianópolis (SC) desde o início dos anos 1990, onde passou a trabalhar como técnico gráfico e ilustrador. Desde a década anterior, adolescente ainda, já vinha acompanhando o desenvolvimento do Heavy Metal e Hard Rock, e sua paixão pelos discos permitiu que passasse a colaborar com o Whiplash! a partir de 2004 com resenhas, entrevistas e na coluna "Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás".
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