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Carro Bomba: Terroristas do Rock'n'Roll

Por Ben Ami Scopinho
Postado em 24 de maio de 2009

Se o paulistano Carro Bomba já possuía ótima reputação, é com seu terceiro disco, "Nervoso", que a mesma se consolida de vez. Rogério Fernandes (voz), Marcello Schevano (guitarra), Fabrizio Micheloni (baixo) e o novato Heitor Schewchenko liberaram aquele que muitos veem considerando como um dos melhores álbuns de Rock Pesado de 2008, cuja sonoridade reflete muito bem o clima explosivo daqueles que vivem nos grandes centros urbanos.

E, aproveitando que "Nervoso" está chegando a sua segunda tiragem, agora contando com a distribuição da Voice Music, o Whiplash! foi trocar umas idéias com os ‘rockers’ do Carro Bomba, que revelaram vários detalhes de sua atual e boa fase.

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Whiplash!: Olá pessoal! Antes de mais nada, fica meus cumprimentos por "Nervoso", que está excelente! Sei que na trajetória do Carro Bomba houve uma tendência em soar cada vez mais distorcido, mas agora vocês extrapolaram... Existiu uma intenção real para que as canções soassem assim, ou foi um desenvolvimento natural durante o processo de composição?

Fabrizio: Legal que você gostou. Quanto à sonoridade, foi um pouco de cada coisa, pois as faixas mais pesadas dos dois primeiros discos eram as que mais curtíamos tocar ao vivo e também as que mais mexiam com o público. Então, como essa tendência nos é natural, após o lançamento do "Segundo Atentado", dissemos: ‘Vamos partir pra ignorância de vez!’. E assim foi...

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Whiplash!: Agora o Carro Bomba é um quarteto. Até onde a saída do baterista Ricardo Bonx e a aquisição do vocalista Rogério Fernandes influenciaram na sonoridade final de "Nervoso"?

Fabrizio: Ambos foram aspectos cruciais. O Ricardo tocava com um bumbo só, e eu e o Marcello já vínhamos querendo inserir dois bumbos à sonoridade do Bomba. Quando o Ricardo saiu, sabíamos que o substituto teria de tocar com dois bumbos. O Fernando Minchillo gravou o "Nervoso", porém não pôde ficar na banda, e então pintou o Heitor Schewchenko, que é bem mais novo que nós e possui um potencial incrível que só tende a crescer. E tomara que esses percalços com bateras tenham parado por aí, senão teremos de mudar o nome da banda para Spinal Bomba ou Carro Tap, hehe... Quanto ao Rogério, acredito que o ‘drive’ que ele tem no gogó dispense maiores explicações.

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Whiplash!: Vocês assinaram a produção do "Segundo Atentado" em 2006, mas agora Heros Trench e Marcello Pompeu assumiram essa função. Porque essa mudança? O resultado correspondeu às expectativas do Carro Bomba? Particularmente, achei o som do contrabaixo matador!

Fabrizio: Essa mudança também foi parte dos nossos planos, principalmente pelo fato de os caras serem "do ramo". O resultado ficou ótimo e, na minha sincera opinião, o "Nervoso" não deve nada, em nenhum aspecto, a nenhum disco de banda renomada, seja ela nacional ou gringa. Muito pelo contrário; ele supera vários deles, modéstia às favas. Quanto ao som do baixo, é a cara do dono, hehe... Sempre gostei de timbres agressivos e podrões, além de acordes e fraseados. Tenho bronca daquele estereótipo do baixista bunda-mole que fica tocando só as cabeças das notas e enchendo lingüiça o tempo todo.

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Whiplash!: O projeto gráfico está muito bem inserido no clima mais tenso das novas composições, e a idéia do carro vermelho indo à contramão e enfrentando o resto do mundo tem tudo a ver com sua atual proposta. O quanto vocês participaram da concepção visual?

Marcello: Entramos em contato com o artista André Kitagawa, que faz diversos trabalhos na área de ilustrações e quadrinhos com um estilo peculiar. Seus traços são bruscos e diretos ao ponto, tudo que nós precisávamos para traduzir nossas letras em imagens. A direção artística ficou toda a cargo dele mesmo, que lendo as letras desenvolveu todas as ilustrações, porém sempre com a nossa supervisão. A idéia do carro na contramão foi dele, porém a dos carros vindo na direção contrária, se não me engano, foi do Fabrizio.

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Whiplash!: "Nervoso" recebeu as melhores críticas na carreira do Carro Bomba até agora, inclusive constando em inúmeras indicações para ‘Melhores de 2008’. Isso os deixou surpresos?

Marcello: Quando o CD "Nervoso" chegou da fábrica e o abrimos para apreciar a parte gráfica e ouví-lo, sabíamos que algo iria acontecer a partir daí.

Whiplash!: As novas canções são perfeitas para serem executadas ao vivo. Como está sendo a reação do público durante as apresentações?

Marcello: Nossas músicas só ficam prontas depois de testadas ao vivo. Quase todo repertório do CD foi tocado ao vivo anteriormente à gravação. Dessa forma podemos ajustar a estrutura, letra, ou até mesmo mudar alguns riffs e solos em função destes testes. O público tem gostado muito de nossas apresentações, pois nossa preocupação não é só em executar as músicas de uma forma convincente, também nos preocupamos em usar equipamentos e timbres que corroborem com a qualidade da gravação do novo CD.

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Heitor: Todas as músicas do Bomba são ótimas para tocar ao vivo, mas com o "Nervoso" nós estamos somando um público diferente. As músicas novas têm agradado os fãs mais antigos da banda e estão também agradando aquelas pessoas viciadas na adrenalina de balançar a cabeça muito forte e pular dentro dos "mosh pits". Todas as críticas têm sido boas e a aceitação, total.

Whiplash!: "Nervoso" está entrando em sua segunda tiragem, agora em parceria com a Voice Music. Como é deixar de ser totalmente independente pela primeira vez na carreira? O contrato também se estende para o próximo álbum?

Marcello: Na verdade ainda continuamos uma banda independente. A diferença agora é que temos uma parceria na prensagem e distribuição junto à Voice Music. Acho difícil hoje em dia alguma banda ser paga para compor, ensaiar, gravar um álbum. Esse esquemão de gravadora já era. Nos juntamos a pessoas que tem objetivos em comum conosco, que é divulgar o trabalho de rock de verdade, e a Voice Music é esse caso. Tudo indica que nosso próximo trabalho seja lançado pelo Voice Music.

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Whiplash!: Aliás, o que o público pode esperar do sucessor de "Nervoso"? Suponho que todos estão achando que será ainda mais pesado...

Heitor: Já estamos trabalhando em várias idéias novas e com certeza já dá para afirmar que esse será um disco mais pesado. Estamos fazendo tudo com muita calma, e mesmo assim, as músicas estão tomando forma muito rápido. A diferença na parte de produção desse novo disco para o "Nervoso" é que nós estamos fazendo o processo de pré-produção das músicas junto com o processo de composição. Estamos nos preparando para entrar em estúdio no final do ano, e com certeza o produto final será matador.

Whiplash!: É claro que há muita armação e choradeira por aí, mas é inegável que também existam grupos liberando ótimos álbuns independentes, mas que encontram forte resistência para serem aceitos pelo público (bom, são ignorados mesmo). E nem estou entrando na questão de letras cantadas em português... Considerando que vocês são veteranos na cena, a que acham que se deve esse fato?

Fabrizio: Como sempre digo, esse fato se deve ao brasileiro ser baba-ovo por excelência. Não temos um pingo de identidade e não sabemos valorizar nossos verdadeiros talentos. Vá para qualquer país vizinho e você terá uma lição de patriotismo e de união e apoio às bandas. E já que você mencionou, também não consigo entender porque tanta gente repudia letras em português. É óbvio que muitas bandas não têm a manha de fazer direito, mas deixar de apreciar uma boa banda que canta em seu próprio idioma para ouvir churumelas de Tolkien, fadas e outras viadagens; ou então noruegueses recalcados vomitando em algum dialeto arcaico sobre seus ancestrais ou sobre suas florestas e invernos congelantes; ou ainda vikings de araque, demoninhos e etc. Me parece uma grande idiotice e só comprova que o brasileiro é realmente um grande baba-ovo.

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Whiplash!: Estive no Festival Psicodália 2009, em São Martinho (SC), e vi o guitarrista Marcello Schevano tocando com o Som Nosso de Cada Dia. Qual o lance? Ele faz parte do retorno da banda, ou é apenas contratado? É verdade que ele foi o cara que enfim encontrou o Wagner (*)...?

Marcello: O retorno do Som Nosso de Cada Dia é um projeto que venho desenvolvendo junto ao Pedrão Baldanza há pelo menos uns 5 ou 6 anos. Estou diretamente ligado a ele e esse show do Festival Psicodália veio consagrar este trabalho. Não se sabe ainda onde este trabalho vai dar, mas neste meio tempo a banda tem feito alguns shows. O Wagner foi visto no pasto colhendo alguns itens para mais tarde assistir o show do Som Nosso, porém não tive o prazer de conhecê-lo para convidá-lo a subir no palco e se revelar de uma vez por todas. Quem sabe na próxima edição não criamos algumas armadilhas Wagner e espalhamos no pasto?

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(*) Nota do Editor: reza a lenda que Wagner foi um hippie que traficou ácido durante os primeiros eventos do Psicodália. O cara simplesmente desapareceu nos últimos anos, mas ficou famoso a ponto de dar início a uma divertida tradição, onde muitos malucos ficam berrando ‘Wagneeeeeer, cadê você?’ pelos campos durante os dias e noites do festival. Até agora ninguém o encontrou... Quer dizer, Segundo o Marcello, parece que alguém o viu, mas particularmente creio que esse alguém aí estivesse ‘vendo coisas’...

Whiplash!: Certo pessoal, agradeço pela entrevista! O espaço é de vocês para queimar algum eventual resto de pólvora...

Marcello: Só para variar desta vez, quero utilizar este espaço para agradecer aos fãs do bomba, pessoal de Ponta Grossa e Curitiba, daqui de Sampa, Santa Catarina, de todo interior do estado, e aos malucos de Belo Horizonte e etc... UP THE BOMBERS!

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Sobre Ben Ami Scopinho

Ben Ami é paulistano, porém reside em Florianópolis (SC) desde o início dos anos 1990, onde passou a trabalhar como técnico gráfico e ilustrador. Desde a década anterior, adolescente ainda, já vinha acompanhando o desenvolvimento do Heavy Metal e Hard Rock, e sua paixão pelos discos permitiu que passasse a colaborar com o Whiplash! a partir de 2004 com resenhas, entrevistas e na coluna "Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás".
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