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Napalm Death: "Religião não serve para nada!"

Por César Enéas Guerreiro
Fonte: Imhotep
Postado em 12 de março de 2007

Andreas Aubert, do site Imhotep, entrevistou em março de 2007 o frontman do NAPALM DEATH, Mark "Barney" Greenway. Entre outros temas foram abordados religião, o poder do ódio e a reação das pessoas à banda.

Napalm Death - Mais Novidades

Sobre religião:

"Todos podem chegar à conclusão de que o mundo é fundamentalmente governado por princípios religiosos estabelecidos pela religião muito tempo atrás, mesmo que não percebamos isso. Na prática, isso gira em torno dos ‘justos’, que são os que dão as cartas. Penso que, do jeito que as coisas vão, as pessoas vão acabar percebendo que isso não funciona. Ela não encoraja a paz e sim a discórdia e a intolerância. É claro que ela não serve pra nada. Precisamos encontrar uma outra maneira de evoluir, isso é o que importa. Isso vale pra qualquer religião – antiga ou nova. Não servem pra nada".

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"Nós, como seres humanos, somos incríveis, mas estamos sendo forçados a não acreditarmos em nós mesmos, e sim em outras entidades para justificar a nossa existência. Somos perfeitamente capazes de fazer nossas próprias escolhas".

"Essa é uma questão antiga. As guerras no Oriente Médio são eventos cruciais, é claro, mas há pessoas que não podem se expressar em muitos lugares devido à religião. As pessoas precisam sempre estar justificando a sua existência. Por exemplo, casais do mesmo sexo deveriam poder fazer o que bem entendem, que é o direito deles como seres humanos, mas isso é algo sobre o qual não têm controle absoluto. Porque os seres humanos não podem agir como simples seres humanos?"

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Sobre o fato do ódio e a frustração serem a força motriz da música do NAPALM:

"Na verdade, eu não odeio ninguém. Se você é motivado por isso, você está apenas fazendo o jogo dos outros. Talvez eu tenha alguma frustração – às vezes temos momentos difíceis, todo mundo fica zangado – mas você precisa saber como canalizar essa raiva".

"Sempre dizem algo relacionado a isso – que as pessoas vão a shows para extravasar suas frustrações. Mas dizem que elas fazem isso para descontar suas frustrações nas outras pessoas, mas essa não é a questão. A questão é divertir-se entre os outros e não criar mais agressão... Os jovens vêm aos shows... O que quero dizer é: faça o que quiser, não quero ser um policial na cola de ninguém, faça o que quiser. Mas por que sair por aí e atacar as pessoas sem motivo? Nos ‘moshpits’ podem ocorrer acidentes, mas isso não é a mesma coisa que atacar pessoas sem motivo".

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"Eu não tenho ódio, na verdade. Há muitas coisas no mundo que não entendo, para as quais não vejo razão alguma. Mas eu realmente odeio alguém? Eu acho que não, porque ódio é algo muito negativo. Isso poder ser ‘ok’ para algumas pessoas, mas eu não penso mais assim. Quando vejo certos indivíduos em posições de poder, eu penso ‘Que diabo eles estão fazendo lá, como permitem que eles façam isso’, mas ódio é algo bem diferente".

Sobre as reações das pessoas, através dos anos, que não ouvem esse tipo de música:

"Algumas pessoas, é claro, não entendem nem um pouco, alguns odeiam e, é claro, alguns que não concordam conosco tentaram nos influenciar algumas vezes. Tivemos alguns problemas em Oslo [Noruega] muitos anos atrás, quando tudo aquilo relacionado ao ‘Inner Circle’ [Black Metal] ainda estava acontecendo. Eles tentaram nos atacar, mas não tenho medo deles. Posso parecer um pouco ingênuo, mas não tenho medo de ninguém. Eles podem fazer o que quiserem comigo, eles podem provavelmente acabar comigo, é claro, mas isso não me deixa intimidado ou com medo... Tudo isso é insignificante para mim. As pessoas tentam nos assustar. Uma das coisas mais importantes para ganhar poder é colocar medo em alguém, mas eu não tenho medo. Eu não diria as coisas que digo se tivesse medo das reações de algumas pessoas... Se alguém me atacar eu vou me defender, não me entenda mal, mas eu nunca vou sair por aí para atacar alguém. Não tenho interesse nisso. Já existe muita violência, não quero aumentá-la ainda mais".

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Sobre espiritualidade e religião serem a mesma coisa:

"Espiritualidade é algo no qual não tenho interesse algum, porque espiritualidade é outra maneira de fazer você parar de confiar em si mesmo e colocar essa confiança em outra entidade qualquer. Mais uma vez, eu não vejo nenhum problema no fato das pessoas seguirem religiões ou fazer o que bem entenderem mas, em termos da raça humana e da civilização em geral – por que elas têm que controlar o mundo? Vamos dizer a verdade – a maior parte das pessoas não dá a mínima. Elas dizem que sim, mas não dão. Uma pequena porcentagem de pessoas vive de acordo com as ‘Escrituras’, quaisquer que sejam, mas muito poucos. De qualquer maneira, a religião está tirando o poder das pessoas. Quando você não confia em si mesmo, você tende a ter menos afinidade com as pessoas que te rodeiam. A religião busca a superioridade, busca estabelecer a superioridade, em termos morais, de um grupo sobre outro. Isso causa problemas de imediato".

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Sobre César Enéas Guerreiro

Nascido em 1970, formado em Letras pela USP e tradutor. Começou a gostar de metal em 1983, quando o KISS veio pela primeira vez ao Brasil. Depois vieram Iron, Scorpions, Twisted Sister... Sua paixão é a música extrema, principalmente a do Slayer e do inesquecível Death. Se encheu de orgulho quando ouviu o filho cantarolar "Smoke on the water, fire in the sky...".
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