Stormwind: Entrevista exclusiva com o guitarrista Thomas Wolf.
Postado em 14 de outubro de 2000
Com seu quarto disco lançado, irascivelmente nomeado "Resurrection", este institui-se como a nova promessa dos suecos do Stormwind. Desde sua formação, em 1996, em Estocolmo, o grupo tem ganhado fama mundo afora, fortificando-se com o lançamento do disco prévio, "Heaven Can Wait", de 1999. Bastante calmo e interessado, Thomas Wolf, guitarrista e fundador do conjunto, concedeu à Whiplash! esta exclusiva, onde conversou do novo álbum, de sua carreira, e até mesmo de Karate, esporte a que se dedicou durante mais de 10 anos.
Entrevista concedida a Haggen Kennedy
Tradução: Haggen Kennedy
Whiplash! / Por que o novo disco chama-se "Resurrection"?
Thomas Wolf / Ah, foi um lance interessante. É porque passei por uma experiência bastante ruim quando estava gravando a [faixa] "Symphonica [Millenialis]", tive um tipo de tendinite bastante forte na mão, o que me fez parar de tocar guitarra por dois meses, imagine. Então, fiz um monte de tratamentos, e depois desses dois meses voltei ao estúdio para terminar as gravações. Foi algo bastante chato, e acho que foi como uma "ressurreição" [N do E.: "Resurrection"] para mim.
Whiplash! / Mas você está bem agora, não?
Thomas Wolf / Agora estou perfeitamente bem, sinto-me ótimo. Apesar de que foi bastante assustador, porque é realmente perigoso. Mas fiquei bastante feliz por poder voltar e gravar a sinfonia de guitarras. Aliás, é por isso que a segunda parte [N do E.: A música "Symphonica Millenialis" é instrumental, dividida em três partes] chama-se "Resurrectio" [N do E.: Do Latim, "ressurreição"]. Mas, como já estávamos nesse ponto, resolvemos colocar o nome do disco todo como "Resurrection", mesmo. [risos]
Whiplash! / É, mas eu fiquei meio intrigado com a capa. Que relação ela tem com o título do disco?
Thomas Wolf / Bem, a artwork tem um tema bem místico e egípcio, e nós tivemos temas épicos em nossos três discos anteriores, de modo que acho que fomos um pouco mais longe desta vez. Na verdade, fiquei bastante feliz com a capa porque todos também gostaram, e ela traz um efeito bem legal a este tipo de música.
Whiplash! / Certo, mas há um tigre na capa, não?
Thomas Wolf / Yeah...
Whiplash! / É porque eu gostaria de saber como é que esse tigre se relaciona com o nome do disco, "Resurrection". Há alguma relação específica ou foi algo mais pelo acaso?
Thomas Wolf / Bem, não inteiramente, mas... bem, acho que a coisa toda tem, no fundo, uma certa correlação com o tema épico do disco, representado mais fortemente por "Holy Land", que é uma música realmente épica que fala sobre as fortalezas no deserto, onde vivia um povo que trabalhava arduamente, e vem o império romano, e tentam tomar as fortaleza e etc. Então, eu tinha essa idéia de um tigre, e falei com o pessoal sobre o assunto, eles aprovaram, e... ah, sei lá, é um lance meio louco, mas acho que ficou legal. [risos]
Whiplash! / Seu disco prévio, "Heaven Can Wait", se saiu muito bem na Europa, conseguiu boas críticas em revistas especializadas. Assim sendo, você sentiu algum tipo de pressão quando escrevendo e/ou compondo e/ou gravando "Resurrection"?
Thomas Wolf / Ah, não! Sabe, na verdade é a primeira vez que estou realmente contente e satisfeito com as músicas e suas produções porque o "Heaven Can Wait" teve uma história difícil, no sentido de que a engenharia de som foi péssima, e eu tive que viajar para a Alemanha para tentar consertar tudo na produção. Só que não é tão simples assim, e achei que o disco deixou bastante a desejar. Por outro lado, eu não me senti tão mal, pois o disco, apesar dos problemas conseguiu ótimas críticas, como você mesmo apontou, e eu sei que trabalhei pra caramba pra conseguir deixar o disco bem apresentável. De qualquer modo, eu ainda achei que poderia fazer mais, então eu coloquei minha mente inteiramente nesse novo disco [N do E: "Resurrection"], e fiquei trabalhando nele por um ano! E pra completar, conseguimos uma parceria com a EMI para utilização de seus estúdios - altamente profissionais -, e nos concederam excelentes engenheiros de som, o que tornou a gravação muito melhor. Então, no final de tudo, eu fiquei muito feliz porque "Resurrection" conta com uma qualidade altíssima, realmente topline, tanto de gravação como de produção.
Whiplash! / Ouvi dizer que vocês tinham lançado "Heaven Can Wait" independentemente em algum lugar, não sei ao certo se na Europa ou Japão... é verdade?
Thomas Wolf / Não, não. Na Ásia lançamos por um selo japonês chamado... [pensa] Como é o nome, mesmo? [risos]... Oh, sim, pela Greenchaser, que é mais especializada em Industrial do que metal melódico. Já na Europa, o disco deveria sair pela Highgain Records, na Alemanha, mas a empresa foi à falência, acredita?! Então, tinha uma gravadora americana cuja parceira podia-se encontrar na Europa. Ficamos um tempo com eles, mas tivemos uma experiência realmente desgastante e depressiva. Por isso, fomos para a Massacre Records, porque já conhecíamos por referências de amigos nossos e estamos muito felizes lá porque ela [a gravadora] tem feito um bom trabalho. Com essa, totalizam-se 65 entrevistas que faço em apenas um mês, e o pessoal da Massacre têm feito uma distribuição e promoção bem legais, também, já há quatro meses. Na próxima semana, vamos encarar uma tour... estamos com as baterias carregadíssimas. [risos]
Whiplash! / Como você compara "Heaven Can Wait" e "Resurrection"?
Thomas Wolf / "Heaven Can Wait" é um disco mais voltado para essa nova onda de metal clássico, com aquele toque épico. "Resurrection" tem uma linha um pouco mais diversificada, mais ampla. Ele tem mais seqüências progressivas, solos mais progressivos e bem harmonizados, e ao mesmo tempo você tem aqueles coros e melodias bem legais que fizeram o pessoal gostar do "Heaven Can Wait".
Whiplash! / É seu disco favorito até agora?
Thomas Wolf / Sim, definitivamente "Resurrection".
Whiplash! / Eu também gostei bastante do "Resurrection". Eu gosto das primeiras faixas, mas acho que é a partir da metade posterior do disco que a banda mostra seu potencial. Vocês têm "Seven Seas" na primeira metade, que é bastante legal, mas têm "Blinded Eyes" e "Samuraj" na segunda, ambas definitivamente muito boas. E, para finalizar, têm "Symphonica Millenialis", que é, na minha opinião, o ponto alto do disco, provavelmente por causa de seu som instrumental, digamos... "multidimensional", bastante complexo e progressivo, como você mesmo colocou há pouco. A música foi até dividida em três partes. Sobre o que é realmente essa música? Tive a impressão de que expressa um ciclo ou coisa do tipo - você nasce, então morre. Mas então nasce de novo, como numa "ressurreição"... é isso mesmo?
Thomas Wolf / Bem, essa música poderia ser interpretada como uma verdadeira suíte sinfônica guitarrística do milênio, e é algo que eu queria fazer há muito tempo. Eu pesquisei bastante para fazer a canção, de modo que incluí vários elementos diferentes de assuntos nos quais busquei influência, como flamenco, Bach e coisas bastante progressivas. Então, quando eu fui gravar, já estava ciente do trabalho que daria; por isso é que gravei as guitarras em oito diferentes canais, depois juntamos tudo. E até tocamos a música ao vivo, o problema é reproduzir os violinos e tanta guitarra [risos]. Mas estou muito feliz de haver gravado a música, eu sempre quis fazer isso.
Whiplash! / Achei que "Symphonica Millenialis" é bastante profunda, complexa. Principalmente pelo fato de ser instrumental. Então, você está, na verdade, contando uma estória sem palavras, bem pelo caminho que a Música Clássica trilha, cujas peças são contadas em notas, em vez de palavras. Há um grau muito elevado de emoção, de feeling. Tomo isso como algo bastante difícil de ser feito, no que concerne às pessoas entenderem o que você sente ou sentiu quando escreveu a música, transmitida apenas por notas, impalavreada. É bem profundo. Você acha que as pessoas podem entender o verdadeiro sentido da música e/ou o que o compositor queria/quis que sentissem, sendo ela [a música] puramente instrumental?
Thomas Wolf / Eu acho, sim. Na verdade, acho que podem entender tão bem quanto uma música com letras. Tanto porque eu pus em "Symphonica..." sensações que podem ser encontradas em outras músicas também, já que eu escrevo um material tanto otimista quando melancólico. Então, acho que todos podem sentir aquilo, porque elas podem se identificar, nas músicas, com situações vividas no dia-a-dia, em seus relacionamentos ou no trabalho ou em projetos, o que quer que seja. Algumas de minhas composições têm esse toque melancólico e as pessoas muitas vezes relacionam [a composição] com o fato de já terem passado antes por uma situação que soasse triste ou coisa do tipo, ou então quando têm a sensação de que as coisas caminham nessa direção. Se você ouvir as baladas, você vai encontrar um esplim bastante claro, então as pessoas poderão atribuir a si mesmas o significado da música, o que representa para cada um. E é essa minha intenção, no final das contas.
Whiplash! / E como você se inspira para escrever uma música? Você busca inspiração em algum lugar e/ou em alguém ou...
Thomas Wolf / Ela vem, definitivamente, naturalmente. Vem de tudo que passa por minha vida. Os discos que faço vêm realmente do coração. Eu nunca... digamos, coloquei técnica nas minhas emoções, nunca fiquei tentando explorar o máximo de técnica em meus sentimentos na hora de compor. A maioria das minhas músicas sai quando escrevo sozinho, em casa, ou quando estou viajando.
Whiplash! / Sobre as letras, como você mesmo disse, têm um potencial bastante otimista; são bem voltadas a sentimentos bons, na maioria das vezes. Isso acontece naturalmente quando você escreve a letra ou é proposital?
Thomas Wolf / Bem, sempre que escrevo músicas estou bastante ciente da importância das letras. São uma parte bastante valiosa da música. E são bastante positivas, mesmo se você olhar para nossas composições mais melancólicas. Você encontrará uma mensagem legal. Olhe por exemplo a terceira música [N do E.: "Souldance"], você vai ver uma filosofia interessante de 'viva o agora', 'cuide do que você tem'... e esse parece que é um dos maiores problemas das pessoas, porque elas olham para o futuro, olham para o passado e esquecem-se de realizar seus sonhos. De nada adianta o futuro ou o passado sem o presente. É preciso haver uma união dos três, e não a exclusão de algum deles. Então, é como eu falei, há uma filosofia, pelo menos a meu ver, bastante interessante por detrás das músicas, espero que o fã possa retirar algo de proveitoso delas.
Whiplash! / Isso é interessante, sem dúvida. Pelo que você diria que faz música? É para ajudar as pessoas ou porque você simplesmente gosta?
Thomas Wolf / [risos] Oh, meu Deus, é uma pegadinha, não é? [mais risos] Bem... acho que os dois. Ou nenhum dos dois, ao mesmo tempo. Eu deixei minha guitarra pendurada na parede por cerca de 10 anos por causa do Karate. Eu estava competindo, e tal... e, na época, era um tanto estressante às vezes porque eu estava seguindo realmente uma carreira profissional. E eu precisava me ocupar com alguma coisa além do Karate. Não que não seja bom. Para mim foi ótimo e também foi um excelente meio de terapia. Só que eu sentia a necessidade de me expressar de mais alguma forma e a música veio a calhar porque é uma das formas de arte mais amplas que existem e é maravilhosa. Ela possui um conceito muito amplo, e isso é muito viável para mim, eu me sinto ótimo podendo fazer uso da música.
Whiplash! / Falando um pouco da carreira da banda... eu tenho ouvido notícias da Europa de que o Stormwind já conseguiu fazer o nome aí na Suécia. Como é que se deu essa ascensão?
Thomas Wolf / Trabalhando duro [risos]. Nós começamos mandando fitas demo para gravadoras e produtores de shows, para revistas especializadas. As pessoas gostaram e fomos crescendo. Logo surgiu a oportunidade de lançar um disco e entramos de cabeça. As pessoas gostaram, então ajudou bastante, principalmente com o lançamento de "Heaven Can Wait", que foi o disco de maior repercussão até o momento. Mesmo assim, esperamos bater o recorde com "Resurrection".
Whiplash! / Aqui no Brasil temos um tipo peculiar de dificuldade. As bandas nacionais sofrem, em sua maioria, um tipo de reclusão pelos próprios brasileiros. O Angra, por exemplo, teve que começar no Japão e, depois, Europa, para estourar em seu próprio país. Aconteceu a mesma coisa com o Sepultura. Como é que são as coisas aí na Suécia? Vocês, de algum modo, têm que fazer o nome fora do país para conseguirem um espaço aí?
Thomas Wolf / Olha, essa é uma questão meio delicada. Nós já vimos bandas com as duas trajetórias descritas por você. Mas vou ser bastante sincero: é bem comum as pessoas aqui ouvirem as bandas nacionais. Eu mesmo, pelo menos, sempre ouvi bandas nacionais. E o Stormwind teve uma repercussão legal na Suécia, antes de se proliferar para outros países. Mas sim, claro, há casos em que bandas têm que aparecer primeiro fora do país. Entretanto, quase todas essas bandas são de pop, e não de metal. Eu próprio conheço várias pessoas que fazem um trabalho pop e me contam que é mais fácil fazer sucesso fora primeiro. É uma coisa meio estranha. O público pop sueco prefere os artistas americanos. Se você liga o rádio em estações pops, vai ouvir o pessoal dos Estados Unidos em quase 100% da programação. Já nas rádios de metal aqui, você encontrará mais facilmente bandas suecas. Bem, eu não sei como as coisas funcionam aí, afinal o Angra tem uma qualidade notável, não sei como diabos fizeram sucesso primeiro no Japão. [risos]
Whiplash! / Eu também não tenho certeza. Talvez, desde o início, fosse mesmo a meta da banda. Bandas tipo Hammerfall fazem sucesso aí ou nem?
Thomas Wolf / Sem dúvida. Até Cardigans faz. [risos]
Whiplash! / Eu soube que você era sparring de Dolph Lundgren [N do E.: ator famoso, tendo estrelado em filmes como "Massacre no Bairro Japonês" e "O Anjo Negro"], é verdade?
Thomas Wolf / A mais pura verdade. Na verdade, ainda sou. Conheço aquele safado desde que me conheço por gente, éramos amigos de infância. [risos]
Whiplash! / Eram amigos de infância?!?
Thomas Wolf / Sem dúvida. Desde o comecinho, quando trocávamos socos aos 10 anos de idade, brincando de ninja [N do E: nessa hora, o entrevistador quase cai de cadeira, de tanta risada]. Não, sério, era bastante divertido [risos]. Quando tínhamos essa idade, mais ou menos, entramos para o ramo das artes marciais e não paramos. O Dolph também participou de alguns campeonatos, mas depois ele quis seguir carreira cinematográfica. Já eu, fiquei mesmo na gama mais profissional das artes marciais, tentando ganhar títulos. Consegui o [título] de Campeão Sueco em 93, mas senti que deveria parar um pouco porque, é como eu disse... eu havia ganhado a guitarra com 12 anos de idade e a havia pendurado na parede, onde ficou lá durante cerca de 10 anos. Foi quando, depois do campeonato, decidi que seguiria uma carreira musical, pois estava realmente com desejo de fazer algo na área. Fiz o Stormwind e não parei mais. [risos]
Whiplash! / E você ainda pratica Karate?
Thomas Wolf / Pratico, sim. Tanto porque, como você mesmo citou, sou sparring do Dolph. Mas claro que não pratico com a mesma freqüência de quando competia. Naquela tempo eu praticava seis dias por semana, quase o dia todo. Era realmente algo árduo, eu me dedicada bastante. Agora eu direciono a maior parte do meu tempo à música. Mas sim, ainda pratico Karate.
Whiplash! / Deve ser difícil conciliar Karate, sparring, escrita, gravação, shows...
Thomas Wolf / Nem queira saber como é. [risos]
Whiplash! / Falando em conciliar... e quanto aos shows? Quando vocês começam a tour do "Resurrection"?
Thomas Wolf / Bem, próxima semana [N do E: a entrevista foi feita dia 06/10] iremos à Escandinávia, onde nos apresentaremos num festival com Hypocrisy e Edguy. Depois, ganhamos mundo [risos]. Gostaríamos de passar aí no Brasil mas não há nada agendado, não nos chamaram. Mas se chamarem, estamos nessa.
Whiplash! / Algum comentário final?
Thomas Wolf / Gostaria de agradecer pela entrevista e pelo apoio de todos. Agradecemos aos fãs brasileiros pela resposta positiva a nossos discos, e esperamos não decepcioná-los. Esperamos que gostem de "Resurrection" e que coloquem os produtores de shows daí contra a parede para que possamos dar um pulo aí. Grandes abraços a todos!
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