Fates Prophecy - Entrevista com Sandro Muniz e André Boragina
Postado em 11 de outubro de 1999
Formado em 1991, o Fates Prophecy vem, atualmente, conquistando cada vez mais seu espaço na cena brasileira de heavy metal. É composta por André Boragina (vocal), Paulo de Almeida (guitarra), Conrad Michelucci (guitarra), Alexandre Ferreira (baixo) e Sandro Muniz (bateria). Após várias críticas positivas por parte de revistas, zines e sites, o Fates Prophecy conseguiu o que queria, ou seja, arrebanhar fãs do bom e velho heavy tradicional. Tendo feito muitos shows e divulgado bastante o álbum "Into the Mind", já pensam no próximo passo a ser dado. Além do que, nesta matéria, não poderiam faltar citações ao Iron Maiden. Aliás, existe nesta entrevista, em primeira mão, uma revelação sobre um tributo ao Maiden onde o Fates Prophecy tocará a música... Bom, os caros leitores já devem ter percebido a importância, em termos gerais, da entrevista. O Whiplash!, como sempre faz, foi ao encontro de mais uma excelente banda de heavy metal brasileira. Com vocês, as declarações de Sandro Muniz e André Boragina.
Entrevista concedida a André Toral
Whiplash! / O Fates Prophecy tem recebido excelentes críticas por parte de seu álbum e shows. Conte um pouco sobre a relação da banda com toda esta situação?
Sandro Muniz / Bem, para nós é muito gratificante, uma vez que é o reconhecimento pelo nosso trabalho. Foi uma surpresa, pois lançamos o álbum sem esperar um retorno grande, mas realmente as matérias que saem em revistas, até hoje, graças a Deus, são positivas e falam super bem do nosso primeiro CD. Quanto aos shows, o público é o maior crítico, e eles realmente têm gostado. Sempre vêm conversar conosco após os shows e tecem grandes elogios, e não apenas elogios, como algumas coisas que sentem falta, e tentamos ouvir a todos para que nossos shows venham a melhorar mais e atingir um público maior.
André Boragina / Recentemente nós recebemos um convite de um produtor de shows porque viu a crítica de uma apresentação nossa em uma revista. Ficamos muito felizes com essa boa repercussão, tanto da mídia como do público.
Whiplash! / "Into the Mind" foi uma estréia muito bem divulgada e produzida e a partir disso, o Fates Prophecy passou a ser conhecido imediatamente. Vocês acham que isso mostra que o caminho deve ser seguido apesar das dificuldades que existem?
Sandro Muniz / Com certeza! O caminho é muito difícil, mas o negócio é arregaçar as mangas e trabalhar, correr atrás daquilo que se deseja para sua vida, subir no palco e tocar muito. Divulgar através de fanzines , revistas, rádios, boca-a-boca, Internet e todo veículo possível de comunicação. Infelizmente, no Brasil, a dificuldade maior é o empresariamento e o patrocínio, que não existem. Tudo depende unicamente da banda. Também não temos muitas casas para shows, o que dificulta muito o trabalho de uma [banda], pois sem isso [as bandas] não são nada. Não adianta ter um ótimo CD se seu show não for bom, e temos bandas muito boas tocando por aí, aqui em São Paulo principalmente.
Whiplash! / De que maneira foi composto o álbum e o que a banda quis passar para seus fãs através de suas letras?
Sandro Muniz / Bem, a maior parte das músicas já estavam compostas quando entrei (Agosto/94). Eram músicas super bem estruturadas pelo guitar Paulo [de Alemida], e aí gravamos a demo "Pay For Your Sins" dois meses depois, o que começou a dar a cara da banda como ela é hoje. Compomos o restante do material, às vezes todos juntos, ou então alguém trazia a música pronta e cada um dava sua opinião, criando a cara da música. Sobre as letras, falamos de coisas sobre a mente do ser humano, loucuras, medos, sensações, poder da mente, pensamentos cotidianos, solidão, enfim, sentimentos que todos temos.
Whiplash! / "Into the Mind" foi visto por alguns, como sendo muito parecido ao Iron Maiden. Escutando o álbum, nota-se que o Fates Prophecy imprimiu estilo próprio bem como músicas e momentos que nada tem a ver com Maiden, embora a influência musical exista. Tais comparações excessivas já chegaram, ou chegam, a incomodar a banda?
Sandro Muniz / Não, nunca incomodaram a banda, uma vez que todos somos fãs do Maiden, em especial eu e o guitar Paulo, o que, com certeza, faz com que essa influência flua em nossas músicas. Se nos comparam ao Maiden, é até um elogio pois seria demais sermos tão bons quanto eles. Se alguém nos ouve e fala: "Nossa é muito bom, parece com Iron!!" Ótimo, fico feliz! Gostaria de ser tão bom quanto o Nicko [McBrain, baterista do Iron Maiden].
André Boragina / Mas nós temos outras influências também! Eu particularmente gosto de outras bandas como Savatage, Queensryche, Saxon, Paradise Lost etc. Como você mesmo disse, nós temos uma identidade própria.
Whiplash! / A banda utiliza suas influências em seu som, porém soube diversificar, em alguns momentos, o heavy tradicional e melódico que vem fazendo. Existe esta preocupação de balancear influências com estilo próprio?
Sandro Muniz / Não uma preocupação, pois as músicas vão sendo compostas sem se prender exatamente ao estilo tradicional ou melódico, e sim, à preocupação em relação à música num todo: se ela vai ser boa, se a levada está legal e não se ela é melódica demais ou tradicional demais. Todos vamos dando opiniões até que a música fique com a cara da banda. Nossa preocupação maior é se nós vamos gostar e se o público vai delirar!
André Boragina / O mais importante é que o resultado final deverá agradar a todos, sem se preocupar com o estilo.
Whiplash! / O que vocês podem dizer sobre as vendas de "Into the Mind" dentro e fora do Brasil?
Sandro Muniz / Estão sendo super positivas. Estamos na segunda prensagem e geralmente os CDs não têm ficado nas prateleiras das lojas aqui no Brasil. Para o exterior, sabemos que foram vendidos CDs para países da Europa como Itália, Grécia, Portugal, Alemanha e Dinamarca. Também foi para o Japão, EUA e Argentina. Temos tido um retorno super gratificante destes países, e o reconhecimento tem sido tão positivo quanto o nosso aqui no Brasil.
André Boragina / O legal disso é sabermos que várias pessoas do mundo inteiro estão ouvindo nosso trabalho! Recebemos várias cartas e e-mails do mundo todo. Alguns, simplesmente para expressar o quanto gostou, outros para saber mais da banda ou ainda de revistas, zines, rádios, revista eletrônica (Internet), etc.
Whiplash! / Bandas como o Fates Prophecy e Dark Avenger tiveram reconhecimento absoluto logo no seu primeiro álbum. Vocês acham que a abertura de shows internacionais, de grande porte, poderia contar com novas e excelentes bandas ao invés de sempre convidarem as mesmas?
André Boragina / Nós tocamos recentemente com o Dark Avenger, e simplesmente foi demais! A banda é muito boa e realmente é uma pena que os produtores de shows não dêem uma chance a bandas nacionais que têm um trabalho sério e honesto, como Dark Avenger, Fates Prophecy, Portrait, Imago Mortis etc. Bandas como Angra e Raimundos não precisam mais de abertura de shows, pois são bandas grandes e que tem uma estrutura por trás! Seria muito legal que abrissem esta porta para bandas nacionais, pois quem ganharia não seriam só as bandas, mas também o público que conheceria outras bandas de nível aqui do Brasil. Mas os nossos produtores quando convidam outras bandas, na maioria das vezes, pedem para [a banda] pagar uma quantia qualquer! Isso realmente não é justo, pois você estaria pagando para trabalhar. Acho que deveria haver uma conscientização maior das pessoas que fazem as coisas acontecerem.
Whiplash! / Que momentos e músicas do álbum são pontos altos em shows e o que os fãs podem esperar de um show feito pelo Fates Prophecy?
Sandro Muniz / Apesar de não conseguir ver muita coisa durante os nossos shows, pois tudo o que vejo na minha frente são os tons da batera e os pratos, sim, de vez em quando aparece alguém da banda entre tudo isso! Com certeza os pontos altos do show são na hora que tocamos a "Pay For Your Sins", que saiu no CD coletânea da revista Planet Metal e que abrange não apenas nosso público mas como tantos outros. Outras músicas, também, são "Time to Live", a própria "Fates Prophecy" e "Walking Alone". O que eles podem esperar de um show nosso é que eles, com certeza, estão indo a um show de Heavy Metal, e que faremos o melhor possível para que o público entre em nossa sintonia e não pare de balançar a cabeça nem um segundo. Eles pagam pra ver um show e nós temos obrigação de satisfaze-los, enchê-los de bom e velho Metal e bem alto.
Whiplash! / Considerando a qualidade técnica de que dispõe a banda e o mau profissionalismo para produzir shows a bandas nacionais, qual o grau de aprovação ou reprovação às condições que vocês enfrentam para tocar?
Sandro Muniz / Bem, primeiro muito obrigado pela "qualidade técnica que a banda dispõe", agradecemos o elogio. Infelizmente, uma banda vive de shows. É o seu trabalho sendo mostrado ao vivo para o público. Portanto, infelizmente, as condições para uma banda nacional tocar são muito precárias. Nós não queremos camarins cheios de comida, mulheres e mil toalhas brancas, mas, sim, uma aparelhagem digna de que qualquer banda possa vir a dispor. O público está pagando para ver o show, aí é ampli [amplificador] que queima, é a mesa que falha, não tem retorno para a banda etc. Isso quando tem palco, pois às vezes o palco é o chão do fundo do bar. Sabemos que não existe patrocínio algum em relação aos shows nacionais, e isso é muito triste, uma vez que dispomos de bandas muito boas que acabam se prejudicando por causa da aparelhagem. Isso é uma faca de dois gumes: se por um lado você não quiser se sujeitar a tocar em qualquer lugar, a banda é tida como "fresca" e acaba não mostrando seu potencial, por outro lado o show pode vir a ser uma total catástrofe por problemas de aparelhagem, e "queimar" a banda por isso. Depende sempre da boa vontade das bandas, ajudando-se em divulgação e aparelhagem para não se prejudicarem, uma vez que quem deveria cuidar disso são os organizadores. Não temos muito o que reclamar. Sim, como toda banda já entramos pelo cano várias vezes, mas conseguimos dar a volta por cima e divulgar nosso trabalho. Todos ficaram contentes, nós e o público.
Whiplash! / Que ações internacionais a banda tem feito e/ou concretizado?
André Boragina / Bem, houve um interesse de algumas gravadoras em distribuírem o CD "Into the Mind", em especial uma gravadora italiana, sendo que isso está em negociação ainda. Agora, no momento, nós fomos convidados por uma gravadora americana, a Meteorcity, a participar de um tributo ao Iron Maiden, com a música "Wasted Years", junto à bandas como Iron Savior, Ray Alder (Fates Warning), John West (Artension) junto de Chris Caffery (Savatage), Sebastian Bach (Skid Row), Holy Mother, Crowbar, dentre outros. Será lançada em dezembro de 1999. Com relação a divulgação, nós fizemos algumas entrevistas para muitas revistas da Europa e Japão.
Whiplash! / Qual, como e quando será o próximo passo da banda?
Sandro Muniz / Bem, nós estamos em fase de composição do próximo álbum e estamos para fazer a pré-produção, e em seguida gravá-lo.
Whiplash! / Fazendo uma comparação, o que vocês opinam sobre a personalidade roqueira que existiu no Brasil, desde os primórdios até os dias atuais, em termos de progresso ou regresso? Se o Fates Prophecy tivesse que escolher uma época para aparecer, qual teria sido? Por quê?
Sandro Muniz / Bem, poderia dizer que o público de antigamente era maior em termos de ir à shows nacionais. Ele valorizava mais as nossas bandas. Tínhamos também mais casas para shows, como o Aeroanta, o Dama Xoc, o Projeto SP (São Paulo) e o Mambembe. Hoje em dia, além de termos poucos lugares para shows, o público nem sempre arrisca sair de casa para ir conhecer uma banda nacional, mesmo porque a crise do país afeta à todos. O cara não vai pagar R$ 10,00 para ver Fates Prophecy, se no mês que vem virá para cá o Metallica, Helloween ou Blind Guardian. Ele [o fã] vai guardar grana para ver as bandas de lá de fora. Antigamente não tínhamos muita opção, eram raras as bandas que vinham para cá. Por um lado é muito bom, pois o Brasil passou a ser uma rota obrigatória para todas as bandas e, com isso, nós daqui sofremos, pois o público diminui. É uma situação complicada e difícil de se lidar. Acho que aparecemos em uma boa época porque, em si, não é a época que faz a banda e sim a banda que faz sua época. Se você for honesto e batalhar, vai ter o reconhecimento pelo seu trabalho, em qualquer época que seja.
Whiplash! / Para não perder o costume, vocês acham que a volta de Bruce Dickinson e Adrian Smith ao Iron Maiden foi por prazer ou dinheiro?
Sandro Muniz / Eu, como super fã da banda, acredito que foi por prazer e para se tornar o número um do mundo de novo, mas, com certeza, muitos acham que é simplesmente por dinheiro. Na realidade, não me importa saber porquê, e sim, [saber] que eles estão de volta, e este sonho se torna real, ver novamente o Iron Maiden no primeiro lugar do mundo.
André Boragina / Nesse assunto eu, o Sandro [Muniz] e o resto da banda temos a mesma opinião: Maiden Rules!
Whiplash! / Deixem um recado para o Whiplash e aos fãs da banda.
André Boragina / Gostaríamos muito de agradecer a vocês do Whiplash!, em especial à André Toral, por estarem abrindo este espaço para nós e por lutarem a favor de nossas bandas nacionais. Esta força que vocês nos dão, espero que seja retribuída a vocês e que o site [Whiplash!] torne-se cada vez maior. Muito obrigado pela força. Aos fãs, deixo aqui um super abração e um super obrigado por tudo, pelas cartas, mensagens em nosso site e principalmente da presença de vocês em nossos shows, e a você que comprou nosso CD! Só temos o que temos e conseguimos chegar onde estamos, o que não é muito, graças à vocês, nossos fãs. Valeu mesmo a força, e esperem mais Fates Prophecy por aí. Viremos logo com força total e com material novo, que esperamos que gostem. Obrigado por tudo, fiquem com Deus! Um abração da galera do Fates!
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