Draconian: como vinho cada vez melhor conforme o tempo passa
Resenha - Under a Godless Veil - Draconian
Por Renato Goldoni Domingos
Postado em 23 de julho de 2021
Estreio neste site com essa primeira resenha falando de um álbum que me acompanhou durante o ano de 2020: o "Under a Godless Veil", sétimo álbum do Draconian.
Comecei a escutar a banda no final de 2016, logo quando estava atolado de trabalhos e provas da faculdade. Suas canções me salvaram bastante na concentração, ao mesmo tempo em que me trazia momentos de reflexão durante algumas passagens da vida.
Até então, achava que o "Sovran" (2015) e o "Rose for the Apocalypse" (2011) marcavam a posição dessa banda sueca de Doom / Gothic Metal no cenário com trabalhos excelentes, em que pese a mudança de vários membros da banda (sendo Anders Jacobsson (vocal gutural) e Johan Ericson (guitarrista) os únicos fundadores ali presentes desde 1994) e o hiato de quase 5 anos para lançar um novo disco.
E eis que o "Under the Godless Veil" surgiu nesse contexto de pandemia e nos trouxe um ar melancólico e, ao mesmo tempo, várias reflexões filosóficas. Nesse sentido, me impressionei com a temática do álbum, que fala sobre a gnose e uma abordagem, por essa vertente filosófica- da queda de Sofia e sua relação com os evangelhos apócrifos da Bíblia.
O estilo Gothic Doom Metal, com elementos "beauty and the beast" (um vocal feminino limpo, suave e melancólico combinado com uma voz masculina, com bastante gutural) e as batidas lentas, porém, pesadas, trazem o tom desse álbum.
Isso porque, logo em "Sorrow of Sophia", ela traz, nas próprias palavras da banda "uma natureza diversa, que consiste em uma expressão inicial e minimalista da alma, com riffs pesados e agressivos, com uma fórmula demoníaca dura para a melancolia post-rock e as paisagens sonoras sinfônicas" (conforme publicação disponível aqui).
A próxima faixa, "The Sacrificial Flame" já vem com a pegada mais arrastada e com o vocal feminino mais grave, guitarras lentas e bem distorcidas. Em seguida, "Lustrous Heart" (primeira faixa do álbum divulgada ao público em 2020) traz a sensação de uma melancolia traduzida em saudades de algo que era belo, mas que depois de morto, deixa essa sensação com requintes de algo frio e gélido no presente ( tal como podemos observar nas estrofes: "The tears of Sophia reminds you, how beautiful you were").
"Sleepwalkers" (que conta com um clipe lançado no segundo semestre de 2020) mostra o belo trabalho dos vocais de Heike Langhans, que estreou no álbum "Sovran", além de mostrar que o Draconian emplaca alta posição no Doom Metal com uma sonoridade única, o que fica bem nítido ao se escutar "Moon Over Sabaoth".
A próxima faixa, "Burial Fields", quase não tem a presença de guitarras, mas de uma batida com sintetizadores, e demarca definitivamente a versatilidade de Langhans, a qual fica muito nítida ao se passar para a "The Sethian". Aqui, a batida fica muito mais rápida, com a presença de pedal duplo e uso de tremolo picking nas partes com o gutural de Jacobsson, além de escutarmos os agudos da vocal feminina com precisão e encaixe perfeitos. Aqui, me lembrei bastante da faixa "When I Wake", do "Turning Season Within" (2008).
"Claw Marks on the Throne" já quebra o clima rápido da faixa anterior e nos leva a uma introspecção com uma batida bem mais lenta, cuja letra leva a reflexão de um império caído e levado à queda por ambições (o que percebemos em versos como: "Claw marks on the throne; For the soulless architects; These dragons and conquerors; Crazed, blissful and frozen in fire).
"Night Visitor" segue tendência parecida com "Burial Fields", na qual Langhans tem participação solo, mas com um guitarras mais presentes, principalmente no refrão.
O álbum encerra essa abordagem maravilhosa com "Ascending Into Darkness", que ora transita entre a típica batida arrastada e uma pegada mais gótica de bandas como Theatre of Tragedy no "Aegis".
Apesar dos contratempos enfrentados pela banda ao lançar o álbum, especialmente aqueles trazidos pela pandemia do novo coronavírus, "Under a Godless Veil" veio para consolidar o Draconian numa posição na qual a banda pode ser considerada muito Gothic Metal para ser classificada somente como Doom e muito Doom para ser classificada como Gothic Metal.
A solução encontrada é a fórmula já seguida nos álbuns anteriores, mas reforçada com os elementos marcantes da banda, como os vocais "beauty and the beast", guitarras distorcidas, batidas lentas e arrastadas com teclados com sintetizadores de órgãos e outros efeitos marcantes do estilo.
Eu penso que, se lançado na explosão do estilo nos anos 90, viria com bastante aclamação (a mesma que ajudou a consolidar bandas como Theatre of Tragedy, Tristania no cenário Paradise Lost pós-"Gothic"). Já em plena segunda década do século XXI, o Draconian mostra que reina soberana nos campos trevosos e invernosos do Gothic Doom Metal, sendo um álbum que mostra que o estilo continua vivo e pulsante.
Aguardo ansiosamente o fim dessa pandemia (com a consequente vacinação de todos/as) e as datas de shows da banda aqui no Brasil para poder assistir as performances ao vivo do novo álbum.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O clássico do rock nacional cujo refrão é cantado onze vezes em quatro minutos
Dream Theater anuncia turnê que passará por 6 cidades no Brasil em 2026
O disco que Flea considera o maior de todos os tempos; "Tem tudo o que você pode querer"
Helloween fará show em São Paulo em setembro de 2026; confira valores dos ingressos
A banda de rock que deixava Brian May com inveja: "Ficávamos bastante irritados"
O guitarrista que Geddy Lee considera imbatível: "Houve algum som de guitarra melhor?"
A opinião de Ronnie James Dio sobre Bruce Dickinson e o Iron Maiden
Os 11 melhores álbuns de rock progressivo conceituais da história, segundo a Loudwire
Como e por que Dave Mustaine decidiu encerrar o Megadeth, segundo ele mesmo
Lemmy lembra shows ruins de Jimi Hendrix; "o pior tipo de coisa que você ouviria na vida"
O álbum que define o heavy metal, segundo Andreas Kisser
Os shows que podem transformar 2026 em um dos maiores anos da história do rock no Brasil
A maior banda, música, álbum e vocalista nacional e gringo de 1985, segundo a Bizz
O clássico álbum ao vivo "At Budokan" que não foi gravado no Budokan
Os dois discos do ELP que Carl Palmer disse que deveriam virar vasos


Draconian retorna ao Brasil em 2026 com nova formação
Metallica: "72 Seasons" é tão empolgante quanto uma partida de beach tennis
Pink Floyd: The Wall, análise e curiosidades sobre o filme


