Evergrey: Banda criou uma epopéia dramática com esse álbum
Resenha - Storm Within - Evergrey
Por Gabriel Sguarizi Panceri
Postado em 09 de janeiro de 2017
Nota: 10
'Storm Within' (2016 - AFM Records) é um álbum com a pegada mais 'emotiva' do EVERGREY, que já conhecemos muito bem. Como Tom Enlgund já havia dito em uma das inúmeras entrevistas acerca do material, esse álbum seria focado nesse tema mesmo, algo mais próximo de um relacionamento. Recentemente ganhou o terceiro lugar pela 'Metalholic' no top 50 melhores álbuns de metal em 2016:
http://metalholic.com/metalholics-top-50-hard-rock-metal-albums-2016/
A música de abertura, 'Distance', nos traz um peso com as guitarras de Henrik Danhage e os teclados de Rikard Zander, uma sincronia espetacular com os vocais fortes de Tom. Mesmo com tanto peso, o refrão já nos traz uma melodia sensacional, com palavras remetendo a promessas e determinação. Já no segundo refrão, a determinação é continuada com o solo de HENRIK, que novamente, não se pode esperar menos que algo espetacular e de tirar o fôlego, seguido de uma pequena quebra de ritmo e mudança de tom, como uma reviravolta teatral e seguido por mais um refrão repleto de melodia. A música é tocante do início ao fim, feita para penetrar na alma de quem ouve e se sentir na pele dos apaixonados da canção, e no fim, um coro de crianças (já estamos até acostumados, né), repetindo as promessas da música, encerrado com um teclado calmo, gentil.
A música seguinte, 'Passing Through', é uma explosão de raiva, angústia, dor, mas também de, mais uma vez, determinação. A música basicamente trata de o fato de que as pessoas não entendem a maneira que nós sentimos e como sentimos. Melodia e peso mais uma vez presentes, Henrik trazendo guitarras extremamente trabalhadas, Tom com um vocal transbordando sensações, com uma vontade enorme de cantar tais palavras, e mais uma vez, temos um solo sensacional de guitarras sincronizadas, Tom na oitava de Henrik e vice-versa, ambos alternando na vez de solar. Jonas não fica pra trás nas baterias em nenhuma música, mas nessa ele certamente se destaca, repleto de viradas e quebradas, pedais duplos moendo sem perder a melodia, aproveitando o uso dos pratos para marcar fins de versos perfeitamente. A música representa muitos de nossos momentos na vida, quase ninguém entende nossas dores e motivos para senti-las.
Em 'Someday'¸ música que já conhecíamos alguns trechos, vemos um peso maior, uma seriedade mais intensa. Henrik trazendo batidas contínuas e pesadas, Jonas trazendo o concreto da música, Rikard e Johan ficam responsáveis pela melodia presente no peso (achou que o baixo não tinha influência, né?). O refrão nos traz aquela melodia surpresa mais uma vez, guitarras trabalhadas, vocais em coro com a banda toda, e logo em seguida, mais vocais emotivos de Tom, com mudanças de tom e diminuição do ritmo da música, para sentir e aproveitar o momento pré-refrão, que te faz encher o peito. A banda toda mostra como é, de longe, a melhor formação do Evergrey. Vemos mais uma vez as guitarras características da banda, Tom e Henrik possuem tanta química que chega a ficar difícil de acreditar nos próprios ouvidos. Os coros da banda toda continuam presentes em toda a música, enquanto Henrik traz mais melodia no conjunto da obra e o que temos, no final, é a excelência de uma banda que sabe trabalhar juntamente.
'Astray' nos traz peso logo de cara, um soco na cara, seguido de um beijo leve no rosto nos trazendo a calmaria e a sensação de compreensão. Vale lembrar que o álbum todo tem um trabalho impecável nos teclados, Rikard sabe muito bem o que faz, e principalmente na construção das bases das músicas, você vai ouvi-lo muitíssimo presente em todas as músicas. A música tem variações de tom e ritmo conforme progride, vocais cheios de amor e ódio, aquilo que só o Tom sabe nos dar. Um fato interessante de 'Astray', é o de que Henrik explora o seu jeito comum de tocar guitarra. Para quem não o conhece, ele usa efeitos simples na guitarra normalmente, fora do EVERGREY. Essa é a característica dele, e desde que voltou para a banda em 'Hymns for the Broken' (2014), traz aos poucos para que possa se sentir em casa.
'The Impossible' é onde a parte mais 'dramática' do álbum começa. Música trabalhada somente com Rikard e Tom. Trabalho maravilhoso de ambos, e como disse anteriormente, Rikard trouxe as bases desse álbum, toda melodia certamente veio dele e desse dom magnífico que ele tem. Tom é capaz de nos mostrar sentimentos profundos mesmo quando canta calmamente, dando a sensação de que está tendo uma conversa conosco. A música progride conforme os sentimentos são expostos, e eles certamente influenciam na voz de Tom. Uma das armas secretas da banda aparece repentinamente, o violino solo, um único violino em sincronia com a melodia.
Em 'My Allied Ocean', temos certamente a música mais pesada do álbum. Se antes tivemos a sensação de um soco na cara, essa nos dá a sensação de uma pedrada. A raiva certamente é o sentimento mais presente na canção. Mais uma vez, Henrik e Jonas trazendo o peso constante, a sensação de que algum esforço foi em vão e você não aceita, não consegue aceitar o fato de ter falhado. Mesmo em meio a tanto peso, a melodia aparece com backing vocals marcantes e o solo, trazendo notas conjuntas, formando uma composição magnífica antes do pequeno breakdown, frases proferidas por Tom antecedem mais um solo estonteante, o uso da alavanca da guitarra é abusado, trazendo esticadas de notas e harmônicos gritados por todo lado.
Agora é que o bicho pega. Começamos com uma melodia angelical, a banda toda expondo sentimentos através de seus instrumentos e uma batida lenta começa, com a voz de Tom desenhando sobre o progresso de 'In Orbit', indo até um refrão maravilhoso e repleto de variações quando repentinamente, a outra arma secreta aparece, ninguém mais e ninguém menos que Floor Jansen (NIGHTWISH, ex-REVAMP, ex-AFTER FOREVER) com aquele vocal potente que já conhecemos, com uma voz linda e um timbre único, seguindo para um dueto com Tom, o que é outro ponto impressionante, a química que casou as vozes. A banda toda está ali para acompanhar fielmente tamanha beleza, com um trabalho a altura, e chega o momento de os instrumentos brilharem, todos, sem exceção. Henrik e Jonas mais uma vez trazem o ritmo que precede o solo. Mais uma vez, um solo magnífico (vocês vão ler bastante isso aqui), com uma pequena caída de tom no final dele antes de mais um dueto perfeito de Tom e Floor, onde ambos exibem a potência de suas vozes, o sentimento que trazem consigo, a capacidade de expressar fortemente as sensações, e obviamente, temos um belíssimo alcance vocal de Floor no final. Música magnífica do começo ao fim.
'The Lonely Monarch' traz aquele meio termo entre peso e melodia na balança de maneira equivalente. Uma outra coisa que vale a pena citar sobre esse álbum, é que o Tom parece estar muito mais confortável para explorar os espaços de cada músico, cada um tem uma presença impecável que complementa sua voz maravilhosa. Seguindo com a música, é uma canção de ritmo constante, possui uma linearidade na composição, explorando muito bem a química dos integrantes. Guitarras em dueto, uma completando a outra e elevando a música a um nível cada vez mais intenso, mas obviamente, sem perder a linearidade original, finalizando com uma melodia firme.
Um piano solitário no fundo, um tom de melancolia, a voz de Tom, dessa vez mais emotiva, aparece seguida do mesmo violino solitário de 'The Impossible', mas dessa vez em 'The Paradox of the Flame', construindo mais uma vez uma melodia incrível, fazendo com que a banda apareça novamente para complementar e anteceder a maior arma secreta do álbum, Carina Englund, provavelmente a alma responsável por tanto amor na voz de Tom, realizando um dueto incrível, palavras não são capazes de descrever a intensidade dessa música. Carina e Tom são mestres no que fazem, mas quando cantam em conjunto, qualquer barreira que poderia classificar habilidades musicais (não que elas agissem sobre eles separados, mas desaparecem). Na progressão da música, temos um pequeno solo repleto de melodia de Henrik, para posteriormente, acompanhar o violino, impecável, forte, puro feeling do começo ao fim. Um detalhe crucial para vozes tão peculiares.
'Disconnect' é outra pedrada surpresa. A música é mais soturna que as outras, a melodia é um misto de riffs contínuos, característicos do Tom, com corais da nossa amada Floor Jansen, que marca presença novamente, mas dessa vez somente em backing vocal, acompanhando a melodia imposta pelo teclado harmonioso. Em pouco tempo, o breakdown da música surge e temos uma composição rápida, pesada, sombria e profunda, mas que logo nos traz para a temática do álbum novamente. A música é bela, pesada, carregada de tantos sentimentos que seria impossível descrever um a um. Novamente, o EVERGREY nos mostra que técnica é algo que tem de sobra. A composição da música é extremamente complexa, com ritmos diferentes intercalados, um forte abuso de todo instrumento de harmonização e letra marcante, mostrando uma pessoa implorando com todas as forças para que seu(sua) amante não a abandone.
O álbum fecha com a canção que leva o seu nome. É impressionante a maneira como o EVERGREY conseguiu criar uma epopeia dramática com esse álbum. Não é de hoje que vemos temáticas gritantes nos trabalhos da banda, mas dessa vez, temos uma história bem fundamentada com começo, meio e fim, tudo feito de maneira grandiosa, tecnicamente falando. A composição de 'The Storm Within', música final, é de extrema simplicidade, com os mesmos fatores já presentes nas outras músicas: harmonização de corais (que contam com a presença da filha de Tom), instrumentos em completa sintonia e química, cordas com forte presença em meio à sonorização de teclado e piano, bateria sem exageros, mostrando que não é necessário ter mais de 200 BPM para ter um peso no som. Em resumo, esse é de longe o melhor trabalho do EVERGREY, pois mostra que mesmo depois de 20 anos, a banda ainda se sente motivada a criar coisas novas, a aprimorar sua técnica e mostrar que merecem estar entre as maiores bandas de metal do mundo.
'The Storm Within' tracklist:
1. 'Distance' - 5:38
2. 'Passing Through' - 5:01
3. 'Someday' - 4:58
4. 'Astray' - 5:22
5. 'The Impossible' - 3:18
6. 'My Allied Ocean' - 4:06
7. 'In Orbit' - 5:38
8. 'The Lonely Monarch' - 5:28
9. 'The Paradox of the Flame' - 5:40
10. 'Disconnect' - 6:59
11. 'The Storm Within' - 6:15
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