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Evergrey: "Solitude..." marca a transição da sonoridade da banda

Resenha - Solitude-Dominance-Tragedy - Evergrey

Por MATHEUS BERNARDES FERREIRA
Postado em 31 de agosto de 2016

Um ano após o lançamento do seu primeiro álbum, o Evergrey apresenta Solitude–Dominance–Tragedy, que traz algumas inovações inusitadas em seu qualificado power-thrash metal. Andy Larocque novamente assina esse projeto, que inclui uma gama maior de artistas convidados a acrescer instrumentos incomuns ao estilo metálico, tais como violino, harpa e coros, explorando a faceta progressiva da banda. O álbum conta também com a participação já corriqueira de Karina Kjellberg, vocalista esposa de Tom Englund.

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A primeira mudança perceptível neste álbum é o abandono da pegada thrash metal em detrimento da maior profundidade da ambientação sombria, que muito bebe na fonte do dark wave, o que deverá decepcionar aqueles que esperavam o tradicional thrash de Gotenburgo. As guitarras perderam grande parte do peso e da velocidade, sendo substituído, em parte, pelo peso do teclado, seja em forma de acompanhamento, seja como melodia principal. A dupla de guitarristas Englund-Bronel optou pela repetição de riffs curtos, simples e pausados na grande maioria dos versos e bases de solo. A faixa de abertura "Solitude Within" exemplifica bem o que ouviremos no decorrer do álbum, onde os três primeiros riffs são vibrantes, criativos, espetaculares, mas então a música silencia e se desenvolver preguiçosamente com riffs que não voltam mais a empolgar. Cadê aqueles três primeiros riffs maravilhosos? Nunca mais se repetiram nessa música, nem em outra, nem em lugar algum.

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Por outro lado, o avanço na ambientação impressiona positivamente, favorecendo o casamento da voz de Englund ao instrumental. A voz de Englund casa com qualquer coisa, menos metal extremo, ao menos enquanto ele insistir em querer cantar da forma mais dramática possível. Desta forma, o som do Evergrey ganha mais sentido ao perder parte do seu peso em detrimento da teatralidade musical. Isso, somado ao aperfeiçoamento técnico da banda como um todo e à crescente ousadia deles em incorporar elementos cada vez mais exóticos, resultou em um álbum plural de músicas bastante atraentes e variadas.

De longe a faixa mais inusitada é "Nosferatu", cujo refrão beira o ridículo pela exagerada discrepância entre os vocais do Sr. e da Sra. Englund. A faixa toda soa exagerada à primeira ouvida, seja pela presença alucinante das linhas de teclado, seja pelos vocais de Tom, que parece tentar incorporar a entidade vampírica em seus anseios mais deploráveis e decadentes. Mas a música possui energia, contagia e, se não levá-la muito a sério, pode até ser cômico admirar a penosa interpretação do casal Englund.

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Certamente a banda não possui nenhuma intenção em compor músicas hilárias, muito pelo contrário, o álbum exprime sentimentos de frieza, angústia e rancor que nada têm de engraçado e que em nenhum momento soam reconfortantes. The "Shocking Thruth" é uma balada fria e emotiva que traz as tradicionais narrações funestas para assombram a música do início ao fim. Artifício também utilizado na introdução de "A Scattered Me", "When Darkness Falls" e em "She Speaks to the Dead", que trás no pano de fundo um canto gregoriano muito semelhante à "Sign of the Cross" do Maiden.

Se as guitarras não agridem tanto, o vocal de Tom Englund continua sendo a arma mais ofensiva do grupo, sendo o destaque absoluto de todas as faixas deste álbum, salvando até a pueril "Words Mean Nothing", música inteiramente em harpa (!) piano e violino. De forma geral, todas as músicas rápidas possuem introduções interessantes, versos e refrãos de arrasar e se perdem completamente daí pra frente. As passagens cantadas de "Scattered Me", "She Speaks to the Dead" e "When Darkness Falls" são espetaculares, mas após o segundo refrão é quase irresistível o desejo de mudar para a próxima faixa. Lamentavelmente a Englundependência ainda é uma marca desta banda. É só o cara parar de cantar que a música começar a fugir dos trilhos.

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As passagens instrumentais de todas as faixas deste álbum são medíocres, quando não são em alguns casos horrorosas ou nulas. Nesta banda ninguém consegue criar um solo que possua sentido existencial. Incrível. Para não ser totalmente injusto com Bronel, seu solo em "Corey Curse" se casou com a pegada e soou como um grandioso ápice para a música, que fechou brilhantemente o álbum. Mas sobrou para o violinista convidado, o Sr. Stuart Wyatt, livrar a cara de "Solitude Within" e "Words Mean Nothing", isso solando em passagem acústica e ambiente. Se Bronell e Englund não possuem competência para criar passagens instrumentais interessantes com suas guitarras, poderiam ter explorado solos de bateria, contrabaixo, teclado, saxofone, oboé, qualquer outra coisa. Ou melhor, poderiam efetivar o Sr. Wyatt, que extraiu mais melodia do seu violino em dois solos do que a dupla de guitarrista conseguiu fazer nos dois primeiros álbuns inteiros.

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A falta de habilidade da banda em compor qualquer coisa diferente de verso-refrão levou-os a gravar no final de "Damnation" uma sequência tão equívoca de gritos histéricos que mais parece uma DR do casal Englund sobre quem vai lavar a louça. Duplamente lamentável pelo fato desta sofrência ter arruinado justamente a faixa que apresenta um dos melhores riffs do álbum, o único que remete ao thrash metal do álbum anterior e que muito lembra Symphony X em sua fase clássica.

Solitude–Dominance–Tragedy marca a transição da sonoridade da banda, de crua e agressiva para uma música mais limpa, vistosa e, de certa forma, mais acessível. Mesmo que seja evidente a falta de sentido musical em diversas passagens, o álbum está mais consistente no sentido em que todas as faixas têm seus momentos de glória. É uma boa pedida aos fãs de power metal progressivo.

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EVERGREY
Solitude-Dominance-Tragedy, 1999
Power Prog Metal (Suécia)

Lista de músicas:

Solitude Within (5:33)
Nosferatu (5:41)
The Shocking Truth (4:35)
A Scattered Me (4:18)
She Speaks To The Dead (4:59)
When Darkness Falls (4:52)
Words Mean Nothing (4:13)
Damnation (3:52)
The Corey Curse (5:23)

Tempo total: 43:28

Músicos:

Tom Englund / Vocal, Guitarra
Dan Bronell / Guitarra
Daniel Nojd / Contrabaixo
Jim Sheppard / contrabaixo
Patrick Carlsson / Bateria

Músicos convidados:

Carina Kjellberg / vocal feminino
Zachary Stephens / teclado
Erik Ask / harpa
Stuart Wyatt / violino

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