Voivod: Angel Rat é daqueles álbuns que se descobre aos poucos
Resenha - Angel Rat - Voivod
Por Giales Pontes
Postado em 10 de dezembro de 2015
Nota: 8
Quem acompanha de perto o trabalho do Voivod sabe muito bem que identidade sonora nunca foi o forte deles. Adotando uma postura vanguardista desde o início de sua carreira, lançaram álbuns tão díspares entre si, que até hoje é difícil encaixar a banda canadense em um rótulo mais específico dentro do rock. O grupo começou como um híbrido de punk rock e hardcore lá na metade da década de 80, adicionando à mistura pitadas daquele rock and roll básico, sujo e barulhento à la Motörhead em álbuns como ‘War And Pain’ (1984) e ‘Rrröööaaarrr’ (1986). Passaram por uma fase mais próxima ao thrash com ‘Dimension Hatröss’ (1988), e finalmente adentraram os anos 90 fazendo um esquisitíssimo, porem interessante, híbrido de rock and roll com progressivo. Fase a qual pertence este curioso ‘Angel Rat’ (1991).
Após a curta introdução ‘Shortwave’, o ouvinte já recebe o cartão de visitas com ‘Panorama’. As guitarras são poderosas e contagiantes, devidamente apoiadas pela cozinha pesada, com destaque para o baixo "na cara" tocado por Blacky. O sempre genial Away, dono da bagaça toda, tambem apavora com suas linhas criativas na batera. A bela ‘Clouds In My House’ faz o primeiro contraste dentro do álbum. Bem mais lenta e melódica, ela poderia ser definida como um Pink Floyd ainda mais psicodélico, porem com um vocalista sem o mesmo talento de um Roger Waters ou de um David Gilmour. Compreensível, já que o Floyd sempre foi uma influência escancarada e jubilosamente admitida pelos caras do Voivod. Em tempo, o solo da guitarra de Piggy (R.I.P., man. Respect.) é simplesmente sublime!
‘The Prow’ traz de volta a velocidade, mas mantendo um pouco do acento melódico da faixa anterior. O riffs iniciais de ‘Best Regards’ enchem o ouvinte de ótimas expectativas, que acabam por se confirmar no decorrer da faixa. Muito interessante é notar que apesar da falta de técnica, o vocalista Snake sempre foi um elemento chave no pouco que a banda tem em termos de identidade. Para muitos a voz meio "rachada" de Dennis Belanger (Nome verdadeiro da fera) pode se tornar irritante durante a audição. Mas a verdade é que o som do Voivod não teria a mesma graça sem os vocais desleixados do cara.
Mais uma faixa acelerada para empolgar os tímpanos, ‘Twin Dummy’ tem talvez os riffs mais legais do álbum. Lá pelo finalzinho há algumas passagens mais cadenciadas com vocais narrados, elemento que empresta um bom tempero à música e mantem a atenção do ouvinte. A faixa-título, uma das melhores, traz vocais soturnos e um clima "floydiano" irresistível, muito por conta das guitarras climáticas de Piggy e das discretas e eficientes linhas de teclado, tambem a cargo de Piggy. Aqui o guitarrista mais uma vez demonstrava toda a sua genialidade em um curtíssimo e fantasmagórico solo melódico. Só ouvindo para entender!
Blacky introduz a vibrante ‘Golem’ com uma linha de baixo fenomenal, seguida pelo resto da banda com riffs melódicos e um ritmo que torna impossível evitar que sua cabeça acompanhe a música com movimentos pra cima e pra baixo. Essa é daquelas que quando iniciam a gente até "ergue" um pouquinho o volume para escutar melhor. O finalzinho é uma apoteose, com um riff maravilhoso das guitarras amestradas de Piggy, e com a marcante cozinha mantendo o peso até o desfecho. Em meio a mais um riff empolgante nos deparamos com outra composição de peso. ‘The Outcast’ segue a linha diretriz do álbum, com melodia bem dosada e variações de andamento quebrando um pouco aquele ritmo mais linear das faixas.
‘Nuage Fractal’ traz um riff melódico com uma sonoridade meio new wave, algo na linha de bandas como Joy Division, porem com muito mais peso, claro! As variações de andamento conferem um molho todo especial à faixa, tornando-a mais um número de respeito neste trabalho. ‘Freedom’ é particularmente a minha favorita, seja pelos acordes melódicos de guitarra que permeiam quase toda a sua extensão, seja pelo peso que se apodera da música depois da calmaria inicial ou pelas linhas poderosas do baixo, que mesmo estando "por cima de tudo", não ofuscam o brilho dos outros instrumentos. Esta é outra cujo final deixa aquele gostinho de quero mais, já que com o estardalhaço melódico e ao mesmo tempo distorcido que a banda impõe aqui, a gente fica com aquela impressão de que a música estava legal demais e que ainda era cedo para acabar.
Por fim temos outra faixa arrasadora em ‘None Of The Above’, que traz todos os elementos apresentados no resto do álbum, um andamento mid-tempo e os vocais característicos de Snake. Outro fator interessante de citar sobre ‘Angel Rat’ é que as músicas não são assim tão acessíveis quanto se possa imaginar. Há uma aura quase evasiva por parte do instrumental, como se a banda em alguns momentos procurasse desviar a atenção do ouvinte diretamente para as linhas vocais. É um daqueles álbuns que se descobre aos poucos, sobretudo pela ótica de um fã da fase mais pesada da banda. Ouça em doses homeopáticas, pois tão logo você assimila a sonoridade viajante do CD, ele se torna viciante.
Line-up:
Dennis "Snake" Belanger (Vocais)
Denis "Piggy" D’Amour (Guitarras/Teclados)
Michel "Away" Langevin (Bateria)
Jean-Yves "Blacky" Thériault (Baixo)
Track-list:
1. Shortwave Intro
2. Panorama
3. Clouds In My House
4. The Prow
5. Best Regards
6. Twin Dummy
7. Angel Rat
8. Golem
9. The Outcast
10.Nuage Fractal
11.Freedom
12.None Of The Above
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