Sabaton: A máquina de guerra está mais forte do que nunca!
Resenha - Heroes - Sabaton
Por Felipe Cipriani Ávila
Postado em 17 de agosto de 2014
Nota: 9
O Sabaton é uma banda procedente da cidade de Falun, situada na Suécia. Tendo sido formada no ano de 1999, a sua sonoridade sempre foi calcada no Heavy/Power Metal com músicas cuja temática lírica gira em torno de eventos, guerras e personagens históricos. Em abril de 2012, antes do lançamento oficial do álbum "Carolus Rex", os fãs e seguidores do conjunto foram bombardeados com a notícia de que quatro membros "abandonariam o barco" (no mesmo ano da saída formaram a banda Civil War), dentre eles os guitarristas Oskar Montelius e Rikard Sundén, além de Daniel Mullback e Daniel Myhr, baterista e tecladista, respectivamente, permanecendo apenas o vocalista Joakim Brodén e o contrabaixista Pär Sundström. Por mais que o principal compositor do grupo seja o vocalista Joakim Brodén, perder dois membros que fizeram parte da formação original adicionado a outros dois que foram efetivados em 2001 e 2005, tudo de uma só vez, é algo que colocaria em cheque o futuro de muitos nomes da música por aí. Entretanto, logo no dia 2 de abril do mesmo ano, foram anunciados os novos membros, já que a máquina de guerra não poderia parar e tinha a "The Swedish Empire Tour" pela frente, dentre eles os guitarristas Chris Rörland e Thobbe Englund, assim como o baterista Robban Bäck, que foi substituído no ano seguinte por Hannes van Dahl. Com as armas recarregadas, o quinteto seguiu em frente e no dia 16 de maio de 2014 lançou o seu sétimo álbum de estúdio, intitulado "Heroes", terceiro pela gravadora Nuclear Blast.
Gravado no Abyss Studios, na Suécia, e produzido pelo célebre Peter Tägtgren (Hypocrisy), "Heroes" é daqueles álbuns que crescem audição após audição e, apesar de toda a mudança de formação, mantêm intocável a identidade da banda. Sendo o primeiro álbum de estúdio com os guitarristas Chris Rörland (Nocturnal Rites, TME) e Thobbe Englund, além do baterista Hannes van Dahl (Downthrust, ex-Evergrey), pode-se dizer que todos eles se integraram totalmente ao time, com trabalhos individuais que merecem menção e aplausos. Desde a arte gráfica criada por Péter Sallai (Sacred Steel, At Vance), até o conteúdo do disco em si, tem-se um material de muito bom gosto, que certamente não desapontará os seus fãs e seguidores.
Como é de praxe nos álbuns dos suecos, o conteúdo lírico é muito rico e no trabalho em questão versa sobre heróis de guerra de diversos países. O terceiro tema, por exemplo, cujo título é "Smoking Snakes", é uma homenagem à FEB (Força Expedicionária Brasileira), mais especificamente sobre três soldados (Arlindo Lúcio da Silva, Geraldo Baeta da Cruz e Geraldo Rodrigues de Souza). Os três foram separados da sua unidade e lutaram com um grande contingente de alemães na Itália, no dia 14 de abril de 1945. Eles se recusaram a se render e lutaram até a morte, sendo queimados pelos alemães, que puseram uma cruz sobre a sepultura dos três, com a seguinte inscrição: ‘Drei brasilianische Helden’ (Três Heróis Brasileiros).
Há muita constância no decorrer da obra e, embora possa haver destaques para um ou outro ouvinte, todos os temas se mostram coesos e aprazíveis. A combinação de linhas vocais próprias com solos de guitarras melódicos e harmoniosos, que bebem bastante da fonte do Heavy Metal tradicional, torna a audição irresistível. As composições são bem épicas, contudo não exageradas, repletas de melodias muito esmeradas e de bom gosto.
A faixa de abertura, "Night Witches", indubitavelmente merece menção, pois apresenta todo o poderio sonoro dos suecos, com linhas vocais muito cativantes e ímpares de Joakim Brodén. Há muitas melodias vocais e instrumentais memoráveis, que logo ficam coladas na mente do ouvinte. A habilidade que o conjunto tem de criar temas realmente fortes e contagiantes é bastante elogiável. A letra aborda os feitos do 588° Regimento de Bombardeio Noturno Soviético, que era constituído apenas por mulheres, as chamadas "Bruxas da Noite" (apelido que foi criado pelas forças alemãs). Pilotando aviões Polikarpov PO-2, de 1942 até o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), as mulheres realizaram mais de 23.000 bombardeios, tendo recebido várias condecorações. É louvável a atitude do quinteto de trazer à tona toda a bravura e coragem dessas mulheres, que se tornaram um verdadeiro pesadelo para as tropas germânicas!
As canções subsequentes permanecem impressionando pelas melodias marcantes e épicas. O segundo tema, "No Bullets Fly", é um verdadeiro hino que só poderia ter sido concebido pelos suecos. Tanto a ponte quanto o refrão são formidáveis! A letra narra a emocionante história ocorrida no dia 20 de dezembro de 1943, na qual o avião Boeing B-17 Flying Fortress pilotado pelo norte-americano C. Brown estava seriamente danificado, com ele e membros da sua equipe feridos, após árdua batalha área contra os alemães. Como não havia bússola para guiá-los, se embrenhavam cada vez mais em território alemão. Nesse contexto, o piloto alemão Franz Stigler recebeu a ordem para abatê-lo, mas observando que este estava muito avariado e comprometido, o escoltou e permitiu que retornasse à Inglaterra, salvando o "inimigo" por pura compaixão, humanidade e bondade. A já mencionada "Smoking Snakes" possui um refrão memorável e emocionante, com solos de guitarra muito melodiosos. A quarta faixa, "Inmate 4859" nos brinda com riffs de guitarra impactantes, apresentando uma banda coesa e entrosada, cuja letra aborda a história de Witold Pilecki, soldado polonês que liderou o movimento de resistência Armia Krajowa no campo de concentração situado em Auschwitz-Birkenau. O primeiro single do álbum, "To Hell And Back", se mostra outro grande momento, com uma introdução que nos remete às trilhas sonoras de filmes clássicos do velho oeste. Logo somos bombardeados com muito peso, com um trabalho soberbo de Joakim Brodén. A parte lírica deste aborda a vida de Audie Murphy, um dos soldados norte-americanos mais condecorados da Segunda Guerra Mundial. Audie Murphy também foi ator e participou de vários filmes de faroeste entre os anos de 1950 e 1969, o que dá todo sentido ao belo início da canção. Outro aspecto interessante que a letra aborda são as consequências dos chamados traumas pós-guerra, que afligiram inúmeros combatentes, levando muitos aos vícios e à paranoia desenfreada.
Os cinco temas finais do álbum, excetuando-se os bônus, mantêm a empolgação do ouvinte em alta. A linda balada "The Ballad Of Bull" nos brinda, novamente, com um desempenho primoroso e emocionante de Joakim Brodén, cuja letra mostra as várias disparidades presentes no cenário das guerras, que pode, por um lado, ser repleto de atos heróicos e corajosos, mas por outro, por mortes infundadas de incontáveis soldados e inocentes. O homenageado da vez é o cabo australiano Leslie "Bull" Allen, que salvou doze soldados norte-americanos seriamente feridos em missão em Nova Guiné (Ilha localizada no sudoeste do Oceano Pacífico), durante a Segunda Guerra Mundial. Enquanto que "Resist And Bite", segundo single do disco, é mais enérgica e contêm um refrão eloquente, adicionado a um trabalho dos guitarristas Chris Rörland e Thobbe Englund muito consistente. A letra aborda a história da infantaria Chasseurs Ardennais, que foi formada pelas Forças Armadas Belgas e batalhou ferozmente contra os alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Os três últimos hinos, "Soldier Of 3 Armies", "Far From The Fame" e "Hearts Of Iron", se destacam pelos fortes e memoráveis refrães, muito bem construídos pelo quinteto, daqueles que farão o público entoá-los a "plenos pulmões" nas apresentações ao vivo. O homenageado da primeira é Lauri Törni, um soldado da Armada Finlandesa, mas que também atuou na Waffen SS (Armada Alemã Nazista), durante a Segunda Guerra Mundial, e no Exército dos Estados Unidos, durante a Guerra do Vietnã (1955-1975). Enquanto que o da segunda é Karel Janoušek, herói da Checoslováquia e comandante militar, fundador das Unidades da Força Área da Checoslováquia na Força Área Real. Após a Segunda Guerra Mundial foi preso pelo regime comunista do próprio país. Já "Hearts Of Iron" versa sobre as forças alemãs, do 12° e 9° exércitos, que à época da batalha contra os soviéticos, já diante de uma derrota certa, criou um corredor do outro lado do Rio Elba a fim de proteger os refugiados e soldados que fugiam para escapar e se render ao Ocidente.
A versão nacional do trabalho conta com duas faixas bônus, "7734" e "Man Of War". Ambas se integram muito bem ao contexto geral da obra e possuem atributos de sobra, sendo que a primeira é uma regravação do sexto tema presente originalmente no álbum "Metalizer", lançado em 2007.
O Sabaton é uma das bandas que mais tem se destacado no cenário do Power Metal atual, com uma sonoridade sólida, honesta e bem genuína. Para os seus seguidores e fãs, "Heroes" é um verdadeiro deleite, por conter todos os elementos que fizeram o grupo aumentar o seu nível de popularidade cada vez mais. Todavia, aos que não se interessam muito pelo trabalho dos suecos, o álbum em análise provavelmente não mudará o conceito que fazem do conjunto. Independentemente dos gostos de cada um, temos aqui um trabalho relevante e muito bem esmerado, de uma banda que vem consolidando cada vez mais o seu nome no cenário mundial da música pesada! Ouça e tire as suas próprias conclusões!
Confira o videoclipe oficial do single "To Hell And Back":
Formação da banda:
Joakim Brodén - Vocal e teclados
Pär Sundström – Contrabaixo e backing vocals
Chris Rörland – Guitarra e backing vocals
Thobbe Englund – Guitarra e backing vocals
Hannes van Dahl – Bateria
Faixas:
1 – Night Witches
2 – No Bullets Fly
3 – Smoking Snakes
4 – Inmate 4859
5 – To Hell And Back
6 – The Ballad Of Bull
7 – Resist And Bite
8 – Soldier Of 3 Armies
9 – Far From The Fame
10 – Hearts Of Iron
11 – 7734 (Bonus Track)
12 – Man Of War (Bonus Track)
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