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Whitesnake: O maravilhoso e autobiográfico Restless Heart

Resenha - Restless Heart - Whitesnake

Por Ronaldo Celoto
Postado em 12 de janeiro de 2014

O ícone CHE GUEVARA uma vez disse, de forma brilhante: "Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros". Acredito que a sensação de quem ouve "Restless Heart", capitaneado de forma autobiográfica por DAVID COVERDALE, que preferiu chamá-lo de DAVID COVERDALE & WHITESNAKE (para, digamos, cumprir uma exigência contratual, em meio a um momento turbulento que enfrentava, emocionalmente, judicialmente – por direitos autoriais e desprendimento de algumas obrigações contratuais que insistiam para que ele ainda lançasse um trabalho sob a alcunha da banda, diante de diversas e equivocadas interpretações de alguns advogados), também é esta. Um disco poético, intimista, que traduz a solidão e a sensação de ingratidão do mainstream fonográfico diante de tudo que ele, enquanto vocalista de um passado glorioso e um presente muitíssimo glorioso (por sinal) viu-se obrigado a presenciar uma década onde o grunge ditou regras para todas as bandas, e, poucas conseguiram, eticamente, negar-se a seguir tendências mais "cruas" na produção de seus álbuns.

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Um dos poucos a negar-se a estes rótulos "undergrounds" foi DAVID, que se manteve em silêncio como um guerreiro solitário, e, obviamente, quando não suportava mais as árduas disputas contratuais e pressões dos "chefões", encontrou a supracitada solução meramente "nominal" para silenciar os tribunais, mas bem sabe ele que o álbum é todo seu com assessoria do sempre marcante ADRIAN VANDENBERG em algumas faixas. Talvez seja por este motivo, que os concertos da banda, renascida na década seguinte com toda força (como é comum na alma FÊNIX que DAVID sempre possuiu em meio às adversidades), as canções deste disco sejam deixadas de lado.

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Vamos então, ao menos fazer nossa parte, e, mesmo que sintamos certa elegia pelo esquecimento destas canções nos dias atuais, homenagear com todo coração, este trabalho maravilhoso, totalmente DAVID, e, não WHITESNAKE (e, que isto não seja mais segredo para ninguém). Afinal, todos nós temos um coração e uma alma totalmente impaciente, totalmente "restless", em muitos momentos de nossa existência.

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I – Todos os Meus Sonhos e Esperanças Não Se Esvaecem

A abertura do álbum fica por conta da lírica e suavemente deliciosa "Don’t Fade Away". É a música mais do que perfeita para fazer menção a um passado glorioso, de dez anos atrás, onde os elementos do pop, do folk-glam e do blues foram capazes de produzir a música que ditou o ritmo de todos os romances e beijos apaixonados: "Is This Love". A melodia, por sinal, tem esta mesma similaridade, e, a letra, diferente de ser uma confissão apaixonada, é a confissão de um homem de tantos e tantos anos de estrada, que trouxe em suas mãos apenas uma caneta e um papel em branco para escrever seus sonhos, e, uma garganta afiada e um microfone para servirem como sua espada.

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Sim, insisto em chamar DAVID de guerreiro solitário, por tudo que ele enfrentou, e, por nunca ter desistido, entre todos os modismos, de cantar blues e rock. Desafiando qualquer pretensão "underground", ele transformou o lirismo "blue" e o "pop" de "Don’t Fade Away", justamente numa canção de resistência. Imagine, por um momento, que "Don’t Fade Away" seja uma espécie de "Anarchy In The U.K." justamente por fazer oposição aos ruídos distorcidos e produções ruins, ao "grunge" em sua essência. Quer melhor resposta do que vencer a ruidosidade, do que vencê-la com amor?

Só uma pessoa conseguiu isto em todo o mundo. E ela se chama DAVID COVERDALE.

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Contando com a mencionada coautoria de ADRIAN VANDENBERG, a música critica o mainstream daquele momento e reforça o sentimento de paixão e integridade de um músico. Em suas primeiras palavras, DAVID já enuncia:

"Enquanto eu permaneço na encruzilhada,
Eu vejo o sol que se põe.
Com minha cruz de indecisão,
Eu não sei em qual caminho prosseguir.
Eu vi as sete maravilhas,
E eu velejei os sete mares,
Eu caminhei e falei com anjos,
E dancei toda a noite com rainhas ciganas.
E tudo isto tem sido uma estrada cheia de pedras,
Com curvas e voltas no caminho,
Mas, eu ainda rezo pelo amanhã,
Todas minhas esperanças, meus sonhos,
Não se esvaecem".

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E ele também não esconde as decepções que a vida lhe trouxe, quando transformou cada uma de suas canções em um verdadeiro retrato, uma obra de arte, e, de repente, viu-se diminuído pelo mundo ao seu redor, mas encontrou forças para se erguer novamente.

"Eu pintei muitos retratos,
Recordações de amor e dor,
Embora derrumado pelas decepções da vida
Eu achei a força para começar novamente".

Com todo o respeito a quem quer que discorde do que vou dizer, mas em termos sentimentos e em termos de relevância para definir a alma deste disco, "Don’t Fade Away" é a música mais significativa, e, a mais próxima, espiritualmente falando, do que DAVID passou naquele momento. É estaria numa lista das dez ou vinte melhores canções por ele escritas, na minha humilde opinião. É difícil fazer listas quando gostamos de uma banda, mas, ao menos é permitido tentar.

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II – O Amor Pede Passagem – E Tudo Se Torna Possível Em Seu Nome

Para muitas pessoas, o amor pode ser uma sombra sobre uma parede em branco. Um reflexo de algo que está colocado diante de si, e, que depende da interpretação que você dá e como recebe esta sensação, que, de sombra, pode tornar-se luz.

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A canção "All In The Name Of Love", segunda do álbum, segue a saga de passagens autobiográficas, trazendo uma melodia similar aos belos momentos de "The Deeper The Love", e, uma letra também de desprendimento, onde DAVID diz que o caminho para os seus próprios sonhos pode ser distorcido pelo mundo ao seu redor, e, você se verá espremido, esmagado, corrompido. E, a única solução para tal, é continuar a falar de amor.

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"À distancia
Todas as coisas parecem bem
Mas quanto mais perto você delas se aproximar,
Verá a maquiagem rachada e enrugada.
Em algum lugar há um arco-íris
Com um pote de ouro,
Mas, daqui até que você possa chegar lá,
Você já vai ter sido levado e vendido.
Então, eu continuo a falar
Tudo em nome do amor
É tudo em nome do amor, minha amiga,
Tudo em nome do amor
E no fim nós somos todos sofredores".

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Belo trabalho melódico de ADRIAN, acompanhado de um tímido e composto solo de guitarra, e, de uma levada "blue" que lembra muito alguns trabalhos de ERIC CLAPTON no início dos anos oitenta. É a canção que poderia servir como um dos singles para o álbum, evidentemente. Pode-se notar que DAVID ainda continua impaciente com o que enfrentou. Em suas duas primeiras ‘sinfonias’, ele ainda detém certo amargor, e, ao mesmo tempo, uma esperança de que tudo se transforme, pois só ele sabe o quanto teve de juntar forças para erguer sua cabeça e dizer: eu vou continuar a fazer o que gosto, do jeito que eu gosto e no momento que eu entender por necessário. Afinal, todo guerreiro solitário tem um coração inquieto, impaciente, palavras que em inglês, traduzem-se como "restless". E assim, "Restless Heart", a terceira canção, que também dá título ao álbum, pede passagem.

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III – Toda Forma de Impaciência Deve Se Transformar em Música

Não, o desprendimento e o lamento não diminuem ainda, nesta terceira canção. Ao contrário, nela eles estão mais afiados.

"Coração inquieto, mente inquieta,
Estou cansado de desperdiçar,
Meu precioso tempo.
Há momentos em minha vida,
Onde não sei qual caminho seguir,
Quando tudo que toco
Queima os meus dedos.
Sonhos a cinzas, cinzas a poeira,
Quando todo que reluz,
É manchado com a ferrugem".

E lá se vai mais um ataque à mídia, às gravadoras, à pressão contratual e aos executivos do grande mercado da música, que, naquele momento, para DAVID, não passava de uma farsa, e, ele tentava resistir bravamente com sua voz, tendo ela como que um elmo de ouro a protegê-lo.

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É uma canção muito parecida com o WHITESNAKE de épocas de "Lovehunter" e "Come And Get It", com elementos de um hard blues direto, e, inserções de voz falseteadas e ao mesmo tempo, graves, numa combinação perfeita, cuja letra, como vimos, contrasta com a proposta melódica. Se fosse uma letra de puro amor, beiraria o pop muito bem sentenciado ao hard que DAVID fez tão bem com músicas como "Slide It In" e "Standing In The Shadow", por exemplo. Mas ele queria mais. Ele queria dizer que é dele e de quem o acompanha, a iniciativa e a originalidade criativa de suas canções, e, de mais ninguém. E o fiel escudeiro ADRIAN conhece bem os atalhos da mente de DAVID, e, sabe como usar sua guitarra para criar epopeias.

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E, assim como ocorreu dez anos atrás no álbum homônimo "Whitesnke", a quarta canção a ser apresentada (como foi com "Is This Love", depois da trindade poderosa e energética de "Still Of The Night", "Give Me All Your Love" e "Bad Boys") alterava o ritmo e a tona do disco, para mergulhar o amor onde ele sempre deve estar: no coração de DAVID e de seus sonhos enquanto músico. Era hora de confessar, que muitas lágrimas caíam e continuavam a cair, também, porque o lado emocional do guerreiro solitário andava um tanto quanto desiludido.

IV – Que Venham as Lágrimas

Chegamos a uma das mais lindas canções românticas de DAVID COVERDALE. A fantástica "Too Many Tears". Linda em toda a sua essência, algemada por uma áurea despretensiosamente ‘bluesy’, não tinha, por exemplo, o clamor apelativo e a sonoridade mais pop da lindíssima "Now You’re Gone", mas a meu ver, é mais bela justamente por isso, por ter o clima dos copos destilados de uma melancolia direta de quem quer falar sobre amor e abandono, sem construir sonetos shakespearianos, mas, apenas cantar e transformar em doces memórias, a homenagem a alguém importante, sem ter medo de perguntar: "onde foi que eu errei"?

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Impressionante a simplicidade "blue" de toda a banda, de ADRIAN VANDENBERG e suas guitarras embebidas de um feeling diferente (não é a toa que ele utilizou em algumas faixas, um modelo ‘Les Paul Benson’ e, claro, a sua amada ‘Fender’), passando por GUY PRATT no baixo (aqui, num de seus melhores e mais discretos momentos) até a batida de DENNY CARMASSI bem encaixada e os teclados suaves de BRET TUGGLE, além de todo o time de vozes de apoio: TOMMY FUNDERBUNK, BETH ANDERSON, MAXINE WATERS, tudo está em perfeita sincronia nesta canção.

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Pois, vamos ouvi-la e acompanhar a sua letra, agora, em inglês, e, duas versões (vídeo original e ao vivo, esta última, mas despretensiosa e com participação calorosa do público e de uma capela maravilhosa de DAVID, além de um trabalho diferenciado de ADRIAN no solo).

"I used to be the man for you,
Did everything you wanted me to,
So, tell me, baby,
What did I do wrong...
...I told you what you wanted to know,
Precious secrets never spoken before.
All I'm asking,
Where did I go wrong...
...Some things are better left unsaid,
But, all I do is cry instead,
Now, I've cried me a river,
Thinking how it used to be...
...There've been too many tears falling,
And there've been too many hearts
Breaking in two...
...Remember what we had together,
Believing it would last forever.
So, tell me, baby,
Where did I go wrong...
...Everything I had was yours,
More than I have ever given before,
So, won't you tell me
Did I hurt you so bad...
...I guess I'm fooling myself,
'Cause I want you and no one else.
And I can't understand
Why you're doing these things to me...
...There've been too many tears falling,
And there've been too many hearts
Breaking in two...
...Remember what we had together,
Believing it would last forever.
So, tell me, baby,
Where did I go wrong, where did I go wrong...
...Now my heart is breaking,
My whole world is shaking,
'Cause I can't understand
Why you're doing these things to me...
...There've been too many tears falling,
And there've been too many hearts
Breaking in two...
...Remember what we had together,
Believing it would last forever...
So, tell me, baby,
Where did I go wrong".

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É preciso falar mais? Sim, é preciso, porque estamos apenas na quarta canção, mas o disco por si só, já é um clássico! Aliás, eu cometerei heresias muitas vezes em minha vida, então, talvez eu cometa novamente, ao dizer que os melhores álbuns de DAVID COVERDALE e do WHITESNAKE são: "Lovehunter", "Ready n’ Willing", "Saints and Sinners", "Slide It In", "Whitesnake" e "Restless Heart" e "Into The Light", vindo "Good To Be Bad" um pouco mais abaixo, talvez empatado com "Forevermore". E, só espero que esta afirmação não seja objeto dos comentários à resenha, pois a intenção é discutir "Restless Heart" e sua magnitude, e toda sensação que nós fãs, sentimos em relação a certo esquecimento destas canções nos concertos, que pretendi justificar aqui, o porquê isto acontece. Então, vamos continuar a falar do maravilhoso "Restless Heart"?

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V – Um Choro ‘Zeppeliniano’ em Meio ao Jardim das Serpentes. Ou seria Um Choro ‘Púrpura’?

Antes de adentrar neste questionamento, é preciso dizer: "Crying" é uma canção espetacular! Um blues rasgado e poderoso, com batidas fortes e um riff de guitarra que não é "zeppeliniano", ao contrário do que muitos críticos dizem. Ele é absolutamente similar ao de "Mistreated", do antológico DEEP PURPLE. E, contém vocalizações de um DAVID inspirado em sua melhor personalidade ‘soul’, lembrando ícones que, de tempos em tempos, passam pelo planeta, como JANIS JOPLIN, por exemplo. As vozes que o acompanham no refrão dão o tom ainda mais ‘soul’. E, de repente, quando nada mais se espera, os teclados similares a violinos e violoncelos mesclam-se à bateria pulsante, lembrando, sim, por alguns instantes, um pouco da "Kashmir" de PLANT/PAGE. Mas, com todo respeito a estes, eu prefiro escutar "Crying" dez vezes mais. E, enquanto o solo de ADRIAN se dissolve, a voz de DAVID alcança uma tonalidade grade magnífica, para dizer:

"I'm gonna finish what you started, baby,
Watch you burn little house down,
Burn it down, down, down...
Then I'll see you crying,
Crying... Crying...
Bitter tears falling like rain".

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Sim, esta é a canção do corte final, da carta que é rasgada e jogada à fogueira, do coração triste que de repente grita: "quer saber? Eu vou é viver minha vida! E fulano/fulana que morra!". É o blues em sua essência rasgada, ou seria uma cantiga de escárnio e maldizer, tão comum nos românticos lusitanos de muitos séculos atrás? Não importa. O que importa é que "Crying" é uma canção com requintes de quem vai à guerra com unhas e dentes, sem medo algum do futuro!

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VI – Um Brinde ao Blues em Forma de Carta de Amor

Quando JERRY RAGAVOY compôs a absolutamente linda "Stay With Me", e, permitiu que LORRAINE ELLISON fosse a primeira a grava-la, ele concebeu ali, uma das canções de despedida e de pedido de regresso mais perfeitas nos últimos cem anos.

Posteriormente, ela foi interpretada por grandes nomes da música, entre os quais, ROD STEWART e JANIS JOPLIN, além de BETTE MIDLER, no papel em homenagem a JANIS, no filme "A Rosa", MELISSA ETHERIDGE, SAM BROWN, DUFFY, e, tantos outros.

Imaginem o desafio de DAVID, e, mesmo sabendo de tudo isto, ele resolve gravar uma canção icônica, e, consegue arrancar alegria, comoção e coração de todos os seus fãs, certamente. Não é qualquer pessoa que consegue canta-la, e, quem a consegue, certamente, deixa alguns anos de sua vida em uma única atuação, pois tamanha é a alma que é ali despejada sobre a melodia.

Vamos então, ouvir um pouco deste clamoroso pedido de "não vá embora", que define toda e qualquer mensagem já escrita pelos corações abandonados.

Que belíssimo arranjo, além da magnífica voz de DAVID em diferentes tons, que ADRIAN VANDENBERG conseguiu para esta canção! Um primor! Um blues essencial em qualquer coletânea de blues do século! É difícil, evidentemente, comparar ao que fez a bela LORRAINE, que chora em cada nota da versão original. Mas diferenças à parte, nosso guerreiro solitário construiu um altar para si a partir de sua coragem em regravar algo que já era tão perfeito.

VII – E o Blues Permanece

DAVID COVERDALE prossegue o seu trabalho com mais uma canção semiacústica totalmente inspirada nos melhores momentos blues de sua carreira. Desde o belíssimo solo e o galgar de dedilhados da guitarra, até a concepção de uma letra, novamente, de abandono e de clamor (algo que ele vivia naquele momento, embora não revele exatamente quem seria esta pessoa, mas fontes dizem ser CINDY, sua terceira esposa, com quem ele oficializou a união desde 1997, exatamente, o ano de lançamento do disco).

Imaginem a situação de alguém em conflito com um romance recém-inaugurado (antes da união definitiva), e, tendo de suportar pressões das gravadoras para que seu álbum tivesse o nome WHITESNAKE, e, não DAVID COVERDALE, no título, além de disputas por percentuais de valores cabíveis entre ele e a gravadora. Não é a toa que no ano seguinte, ele teria anunciado a sua "Farewell Tour", e, acabou por produzir, numa destas brincadeiras, dois concertos acústicos, um para o canal VH1 e outro em Tokyo, que rendeu o ótimo "Starkers In Tokyo".

Foi preciso (e a partir do que aconteceu na época de "Restless Heart", é possível entender isto) retirar-se um pouco da vida cotidiana de rockstar e viver um pouco ao lado da nova mulher, constituir família, criar o filho (JASPER, nascido em 21 de agosto de 1996, um ano antes da crise em pessoal e profissional de DAVID).

Como curiosidade, CINDY é autora do livro The Food That Rocks, que mistura culinária e rock, e, participou de alguns programas e pilotos a respeito deste trabalho.

Mas, chega de conversa e vamos à letra e à canção, e sua versão original e na versão "Starkers".

"Eu tenho me sentido sentimental,
De um jeito melancólico,
Tristeza pesando nos meus ombros,
Aumentando a cada dia.

(...)
Então minha imaginação
Começa a tornar-se selvagem,
Estalo os meus dedos
E você está lá ao meu lado.
Não, não posso seguir em frente sem o seu amor,
Não há canção sem o seu amor,
Não há razão, não há rima,
Sem o seu amor,
Eu irei enlouquecer".

Nota-se, e, até podemos perceber, a luta de DAVID para desmascarar o passado e as pressões, o elogio a si mesmo através da resistência e do amor pela música, e, a vontade de se reconciliar e viver a partir do que realmente lhe importava naquele momento: CINDY, JASPER e a música, mas esta última estaria reduzida a terceiro plano, dentro de umas necessárias (como já dito) e prolongadas férias.

VIII – Chegue Mais Perto, Baby

Pois, qual a melhor maneira de, entre tantos suspiros e lamentos, entre tantas reclamações do mundo fonográfico, dar um basta e vestir-se novamente de Don Juan e partir para cantar, escrever e tentar atrair alguém, do que através da sua própria personalidade, sincera, crua, "blue" e selvagem?

A canção "You’re So Fine" é exatamente isto, uma segunda virada no disco, a partir do que ele já bem fizera com "Rock’n’Roll Women", "Lap Of Luxury", "Give Me More Time", enfim, através da alegria. Afinal, melhor oferecer um buquê de rosas e um sorriso, do que uma caixa de lenços e um email de lamentos. Não é mesmo, leitores?

"Você é tudo que eu quero,
Tudo que eu preciso
Saia do frio, mulher bonita
Passe a noite comigo"
.

Sim, de repente, DAVID, na pele do gatuno, do "bluesman", está de volta, soberbo e sem fazer reticências ao seu passado, mas sim, exclamação para o futuro! Pois vamos ouvir este grande rock, direto e sem pedido de desculpas!

IX – O Amor é Realmente Precioso

Feito o jogo de sedução, ou seja, preparada a mesa com um jantar a dois, um vinho escolhido por um cavaleiro britânico, e, uma confiança reconquistada, era preciso dizer, olhos nos olhos, sobre quão o amor é preciso. Afinal, viver uma vida em família, não é ruim como muitos pensam. A família, é antes de tudo, a base da solidificação de qualquer ser humano.

E foi o que DAVID fez, transformando o encontro a dois, numa canção, um verdadeiro e legítimo blues de quem saiu de Yorkshire e hoje vive em outras terras, mas ainda gosta de apreciar a chuva a cair pela janela, e, segurar nas mãos de uma bela mulher, sem ter medo de dizer o que pretende.

"Your precious love,
That's all I need,
Angel spread your wings
And bring it on home to me
Sometimes in my life
I don't know what to do,
Tho' I'm weak for myself
I try to be strong for you".

E, se a distância, de repente, atrapalhar esta saudade, uma carta também poderá ser transformada numa garrafa virtual de vinho tinto.

"So I send you this letter, baby,
Written in tears
'Cause it seems so long
Since I heard your song,
I'm coming home to you, baby, baby,
Back where I belong".

Não é preciso dizer que o trabalho harmonioso de ADRIAN está perfeito. Solos na medida de um belo, e, dançante blues, como que um foxtrote a pedir passagem na pista dos casais românticos.

X – Como é Bom Estar de Volta

E lá se vai mais um capítulo dedicado ao blues, agora com "Take Me Back Again", a repetir a fórmula muito presente neste álbum, e, que seria muito bem evoluída no trabalho solo de DAVID, chamado "Into The Light".

É o chamado blues do "ex-mentiroso", que de repente, acorda de um coma espiritual, e, percebe que desperdiçou muitas chances, mas ainda pode lutar pelo que acredita.

"Now I smoke a lot of cigarettes
And I've been drinking too much wine
You've been patient and understanding

(...)
Too late to say I'm sorry
It won't happen anymore
But, you don't believe a word I say
'Cause you've heard it all before".

Trata-se de uma canção poderosa, similar a hinos como "Still Got The Blues" (GARY MOORE) ou "Parisiense Walkways" (LYNNOT/MOORE), e, com um solo absolutamente dantesco, fenomenal, grandioso, de ADRIAN. E, certamente, um dos melhores trabalhos vocais de DAVID em todo o disco.

XI – E De Repente, o Blues Conhece a Palavra ‘Mulher’

"Woman Trouble Blues" é daquelas canções de Southern-blues que poderia caber desde no álbum "Physical Graffiti" do LED ZEPPELIN até o fantástico "Ready n’ Willing" do próprio WHITESNAKE. Canção poderosa, com diferentes entonações de voz de DAVIE em um momento muito inspirado, muito "PLANT", sem querer fazer comparações, porque há momentos em que DAVID já cantou muito mais do que o nosso querido ROBERT, e, vice-versa. A ‘slide-guitar’ de ADRIAN funciona muito bem, acompanhada com a harmônica de ELK THUNDER, um dos muitos músicos convidados para este trabalho.

Outro momento de pura magia e ressonância com o passado excepcional de DAVID COVERDALE, do WHITESNAKE e do próprio ‘Southern-blues’. Ótima canção! Energética! Frenética! E, com passagens da mais pura "negritude" dos grandes mestres, como ROBERT JOHNSON, WILLIE DIXON, entre tantos.

XII – Tudo é Permitido Desde Que se Queira

"Anything You Want" ressuscita "Slide It In" e seus hinos, com perfeição. É aquela canção em que você imagina, desde um clipe de ROBERT PALMER acompanhado de um time de belas mulheres a tocar todos os instrumentos (como em "Addicted to Love") até estar a dirigir um veículo em autoestrada, rumo a um encontro ou algum concerto no deserto de Nevada, onde lá estarão todos os teus amigos, e, você sente, por um momento, que aquele conversível que você está a conduzir poderia estar cheio de companhias agradáveis, mulheres lisérgicas, amigos e garrafas de vinho, enfim, o que você se permitir escolher.

Sim, neste instante, é possível ser tudo, mas a intenção é fazer tudo que a pessoa a quem você ama quiser, no exato momento em que você se imagina ao lado dela. Então, "let it roll, baby".

"Deixa rolar, deixa andar,
Vou ser seu cão se você estiver satisfeita
Vou ser o seu fantoche em uma corda
Cos' para uma colherada de seu açúcar
Eu faria qualquer coisa
Tudo o que você deseja,
Tudo o que você precisa
A qualquer momento".

Não é preciso dizer o quanto gosto desta sexualidade pungente nas canções de DAVID COVERDALE. Afinal, nós somos produtos do amor e do desejo em todos os momentos, podendo inverter a ordem de cada um em nossos corpos e corações, mas ambos estão lá. E não devemos fugir jamais, a eles. Então, um viva ao amor e ao desejo, para sempre!

XIII – Será Possível Parar o Futuro?

A resposta para esta pergunta é: não. E ninguém pretende parar o que DAVID COVERDALE retomou e realizou brilhantemente neste álbum. A necessária pausa (hoje compreendida, mas na época, não muito aceita pelos fãs) só pertenceu a DAVID e seus familiares. Nós, enquanto ouvintes, aguardamos, ano após ano, um novo trabalho do guerreiro solitário.

E então, chegamos ao clímax final, Estamos a falar da canção "Can’t Stop Now", mais um rock apaixonante, que remota aos ápices conseguidos nos discos "Lovehunter" e "Slide It In" com esta fórmula rápida e direta, galgada de riffs espetaculares e refrões pegajosos que não desgrudam dos ouvidos.

Afinal, estamos a falar de um coração ‘restless’, de uma alma impaciente, que aprendeu desde cedo, assim como dizem as primeiras duas frases da letra, a buscar depressa o que deseja.

"My mama always said
If you want you should get in fast"

DAVID COVERDALE queria e conseguiu em todo o desenvolver de "Restless Heart", dar uma resposta a si, ao mundo, ao capitalismo fonográfico, e, principalmente, àqueles a quem ele amava e confiava naquele momento.

Não, ele não vai parar. Sua alma nasceu para morrer dentro de um palco, até os seus últimos suspiros.

"Somebody stop me,
Tie me down
I tell you, baby,
I can't, I can't stop now".

E, em seguida, nada melhor do que ser tão despretensioso a ponto de fechar o álbum com uma bela e pesada instrumental chamada "Oi", de maneira monumental e com intenção de prestar homenagem ao mais puro ‘rockabilly’, inserindo metais e ‘bluesys’ magníficos com a guitarra ‘Les Paul’ tocada por ADRIAN VANDENBERG e os órgãos que caem como luva para esta preciosidade musical.

XIV – Uma Obra-Prima

ALBERT EINSTEIN, uma das mentes mais brilhantes do século passado, dizia que jamais devemos desistir. Em um de seus momentos mais duvidosos acerca de si mesmo, ele sancionou:

"Mesmo desacreditado e ignorado por todos, não posso desistir, pois para mim, vencer é nunca desistir".

DAVID COVERDALE, um pouco mais direto neste sentido, apenas uma vez declarou: "Eu não evito o confronto, as pessoas devem saber disso".

Pudera. Estamos diante de uma alma gladiadora. Um homem tímido que fazia da voz seu cartão de visitas. E, de repente, deixou de lado a timidez e enfrentou todas as épocas e momentos como um verdadeiro frontman. Enquanto o mundo era glam, ele foi um príncipe maduro para todas as jovens bandas da década de oitenta. Enquanto o mundo era grunge, ele foi reacionário contra o sistema e optou por ser romântico, contra tudo e contra todos.

Palmas para DAVID. Palmas para o único e maravilhoso: "Restless Heart". Afinal, quem disse que o amor algum dia, sairá de moda?

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Sobre Ronaldo Celoto

Natural do Estado de São Paulo, é escritor, professor, poeta e consultor em direito, política e gestão pública. Bacharel em Direito, com Mestrado em Ciência Política, atualmente cursa Doutorado em Direito, Justiça e Cidadania pela Universidade de Coimbra. Além destas atividades, dedica diariamente parte de seu tempo à pesquisa e produção de artigos científicos, contos, romances, matérias jornalísticas, biografias e resenhas. Seus interesses pessoais são: cinema, política, jornalismo, literatura, sociologia das resistências, ética, direitos humanos e música.
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