Queensryche: Se eu fosse músico, não queria meu nome no encarte
Resenha - Frequency Unknown - Queensryche
Por André Toral
Postado em 12 de dezembro de 2013
Nota: 2
Sendo bem franco, escutei Frequency Unknown com a maior boa vontade.
E para quem não sabe, Frequency Unknown é o álbum mais recente do "outro" Queensryche – aquele com Geoff Tate, Robert e Rudy Sarzo (respectivamente guitarrista, baixista e irmãos), Simon Right (bateria), Randy Gane (teclados)e inúmeros outros convidados,lançado em 2013.
É para lá de repetitivo e entediante ficar detalhando aqui as brigas envolvendo os dois Queensryche’s – o fajuto (com Geoff Tate) e o verdadeiro (que acaba de lançar seu mais recente trabalho com Todd La Torre nos vocais) - em torno do nome da banda.
Só que mais entediante do que isso é parar para ouvir Frequency Unknown, que em nada segue a linha e o estilo que consagrou uma banda que existiu até o Empire – e que depois disso morreu.
Inclusive, nem a presença de músicos maravilhosos como Rudy Sarzo e alguns convidados de peso da cena metálica fazem de Frequency Unknown algo que valha a pena ser escutado integralmente.
E digo mais. Eu, se fosse um músico consagrado, jamais toparia fazer parte de um trabalho desses sob o nome Queensryche. Ainda mais tendo-se em conta que foi Geoff Tate o grande responsável por acabar com o Queensryche após o álbum Empire, o que se agravou no último registro conduzido por ele com seus ex-companheiros de banda, Dedicated to Chaos.
Mas como se não bastasse, Geoff Tate vem desgraçar ainda mais a vida de toda e qualquer pessoa que espere no mínimo um trabalho razoável sob o rótulo do Queensryche.
E assim, música após música, Frequency Unknown se mostra um álbum quase que totalmente dispensável, como veremos.
"Cold" tem um bom riff e sua base principal lembra bastante aquela som obscuro que o Bruce Dickinson fez no The Chemical Wedding. O refrão tem uma boa sacada e quebra um pouco o peso da música com melodia e arranjos vocais bem interessantes. De fato, a ideia é boa, mas parece faltar uma lapidação maior no que poderia se tornar algo melhor do que ela o é.
Já "Dare" é totalmente dispensável. Geoff Tate canta com alguns efeitos em sua voz, e a impressão que se tem é que esta música está súper calcada no tipo alternativo de música pesada que vem sendo muito comum no momento. No entanto, qualquer banda de metal alternativo, por pior que seja, sabe fazer alguma coisa bem melhor que isso. Passe batido!
"Everything" começa com uns arranjos de piano muito legais, de onde surgem riffs de guitarra com algumas alavancas marcantes. A base da música em si é muito boa, bem como os arranjos vocais no contexto geral. A música não é um típico heavy metal, mas conserva bem o seus elementos numa linha mais melódica e melhor arranjada.
Já músicas como "Fall", "Give It To You" e "In the Hands of God" em nada contribuem com o andamento do álbum, afundando-o cada vez mais no limbo. E a razão disso é que estas músicas parecem ser de uma demo, e não de um álbum.
Já "Life Whitout You" é uma música razoável cujas algumas partes da guitarra remetem aos tempos do Operation Mindcrime, mas com algumas semelhanças com os últimos trabalhos de Geoff Tate com o "outro" Queensryche (aquele que agora é o "verdadeiro"). Vale a pena uma audição mais detalhada.
Não sei porque, mas novamente tenho a sensação de que estou a ouvir os últimos trabalhos do Bruce Dickinson em "Running Backwards". É uma música pesada, com um riff e bateria bem marcante, bem como um solo mais do que razoável. Torna-se uma música interessante com alguns bons momentos aqui e acolá. Pode ser que venha a agradar.
"Slave" parece até uma típica música do Robie Zombie, com todas aquelas características principais – a diferença é que Rob faz muito melhor que isto. Portanto, pule esta porcaria e nem ao menos se dê ao trabalho de escutar seus primeiros acordes – a não ser que você queira se aborrecer.
Em "The Wight of the World" podemos sentir uma espécie de balada furiosa com peso e melodias bem legais. Além disso, arranjos instrumentais e vocais bem colocados tornam essa música algo interessante de se ouvir dentro de um desfiladeiro impressionante. E de fato, ela pode ser indicada como um destaque deste álbum.
Diria também que seria menos desonesto e desrespeitoso da parte de Geoff Tate se ele tivesse terminado Frequency Unknown sem a regravação de alguns clássicos do verdadeiro Queensryche, dos álbuns Operation Mindcrime e Empire.
A regravação da música Empire, por exemplo, é quase a mesma coisa que a versão original. Ou seja, mais do mesmo. Situação que se repete com I Don’t Believe in Love do Operation Mindcrime, só que ainda pior porque Geoff Tate nem em estúdio demonstra capacidade de chegar naqueles tons maravilhosos da versão original. Enfim. E se quiser se decepcionar ainda mais, escute Jet City Woman numa versão sem nenhuma emoção e meramente burocrática. Mas o pior de tudo é a versão para lá de enfadonha de Silent Lucidity.
Sendo assim, de uma forma geral, diria que analisando tecnicamente as regravações dos clássicos acima, temos claramente uma situação aonde o foco principal de Geoff Tate só poder ter sido um: oferecer diploma de burro e idiota aos seus fãs –isto é, se é que ele ainda tem algum depois de seu papelão na saída do "outro" Queensryche.
E com toda certeza, a inclusão destas regravações de clássicos antigos acentua ainda mais a situação péssima na qual encontra-se Frequency Unknown – que diga-se de passagem, é seríssimo candidato a maior decepção do ano.
Como se não bastasse, em termos de produção, o álbum sem sombra de dúvidas parece ter sido feito às pressas apenas para ser lançado antes do "outro" Queensryche pensar em soltar alguma coisa no mercado. Digo isso porque é tamanha a falta de uma produção e mixagem descentes. E as músicas demonstram ideias que foram bruscamente interrompidas em algum ponto da criação.
Isso sem contar que o vocal de Geoff Tate está horrível, e a fraca produção e mixagem acabaram por prejudicar ainda mais o restinho de voz que sobrou para ele.
Assim sendo, se eu fosse um dos músicos deste álbum, teria vergonha de ter o meu nome estampado no encarte de Frequency Unknown.
Feito exatamente contrário, atingiu aquele que é o "verdadeiro" Queensryche com a adição do excelente vocalista Todd La Torre – seu álbum lançado recentemente é um trabalho muito melhor que Frequency Unknown.
E devido a tudo o que Frequency Unknown demonstrou em seu conteúdo, não tem como ser diferente.
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